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Com produção da Kuarup, Um Copo De Veneno propõe reflexão, crítica poética e política a partir de canções consagradas por Eduardo Dussek, Tulipa Ruiz, Itamar Assumpção, Mamonas Assassinas e até a diva Tina Turner
Um Copo de Veneno é o novo álbum de Cida Moreira e traz a trilha sonora de um programa de dez capítulos veiculado pelo Canal Brasil dirigido por Murilo Alvesso e uma grande e jovem equipe estrelada pela cantora e atriz paulistana. A trilha musical quase completa masterizada por José Pedro Selistre ganha versão no formato final pela produtora e gravadora Kuarup. Cida Moreira a aguarda o momento de estrear como concerto, com todo o requinte do projeto original. “Um copo de veneno, uma reflexão, uma crítica poética com forte viés político e artístico, uma criação libertária, uma ousadia assumida nos tempos atuais. Um copo de veneno para beber num longo gole até o fundo do mesmo copo”, declarou neste momento pandêmico.
O mais irado do repertório é que Cida Moreira passeia por músicas de estilos e de autores diversos. De Eduardo Dussek, Tulipa Ruiz, Itamar Assumpção a Mamonas Assassinas e Siba, as faixas passam por Lana Del Rey, Rick Nowels, Baz Luhrmann e Mark Knopfler — ex-Dire Straits cuja canção para Um Copo de Veneno, Private Dancer, fez sucesso na voz de Tina Turner como faixa título do quinto álbum solo da auto proclamada diva suíça nascida em 1939 no Tennessee (Estados Unidos) e lançado em 1984.
Singapura: quando concebemos a ideia de um cabaré audiovisual sem melindres, a fábula da cantora medíocre Singapura já tinha perfeita interpretação na voz de Cida Moreira, em 1983. Mesmo assim, essa foi a única canção que eu fiz questão que fosse reencenada para o episódio A Voz, em que acompanhamos o apogeu e queda de uma diva da MPB. A narrativa ácida e brechtiana de Dussek coube perfeitamente no tablado de Um Copo de Veneno e a faixa foi única a ser gravada no Rhodes, evocando o tempo e o espaço da crooner que atende a pedidos na churrascaria.
Avisa: nesse projeto uma das nossas missões era dar luz à beleza e à poética das palavras nas canções. Em Avisa ouvimos o desabafo de uma artista no momento de o espetáculo deixar a cidade. Acho muito bonito que esse desabafo venha através de um forró de muito sucesso popular, que transformamos em balada. A crueza que a Cida Moreira alcançou nessa mensagem emocionou a todos no momento da gravação, e traz uma reflexão muito sincera sobre o momento de partir.
Private Dancer: a figura da prostituta no teatro fascina tanto à Cida quanto a mim, Jehnny, Geni e tantas outras potências femininas que marcam a dramaturgia do mundo. Fomos buscar no repertório dançante da Tina Turner a melancolia de uma dama de cabaré que sonha com uma vida normal. Ao piano, esse lamento ganha outras conotações ao refletir a submissão de uma mulher às normas e ferramentas do Mundo dos Homens.
O Verbo e a Verba/Money (1406): a tragédia entre o Verbo a Verba, obra do mestre Lenine se fundiram ao refrão genial dos Mamonas Assassinas como metonímia do dilema do artista brasileiro. A luta entre a poesia e o bom cachê, a maratona dos editais, o acúmulo dos boletos e o desmonte elaborado da cultura no país estão por trás desse relato farsesco.
Efêmera: a letargia das tardes de domingo e seus programas televisivos está no clima dessa versão, que ralenta diante dos fatos que se sucedem. A interpretação parte da sequência de catástrofes políticas no Brasil dos últimos anos como pano de fundo, ao passo que o senso comum se posiciona na inércia.
Prezadíssimos Ouvintes: na canção que celebra a chegada de um projeto tão às avessas quanto Um Copo de Veneno à TV, queríamos homenagear o grande Itamar Assumpção. Tanto Cida, quanto Assumpção, que, aliás, recusava-se a ser apontado por este rótulo, foram muito enquadrados sob a pecha de “malditos”, ao longo dos anos, justamente por serem o que havia de vivo e atento em meio aos enlatados e às posturas padronizadas. Os dois artistas são símbolos da vanguarda de São Paulo, interseccionando-se no tempo, a exemplo de Às Próprias Custas S/A e Summertime que foram gravados no Teatro Lira Paulistana em 1981.
Você Me Vira a Cabeça: o melodrama é o tônus da interpretação bem humorada desse clássico eternizado pela cantora Alcione. A figura da mulher abandonada pelo homem após uma briga vem à tona no arranjo voz e piano que remete a um telefonema desesperado. A dependência efetiva de uma mulher mais velha e a ausência do parceiro jovem e vigoroso, que são pontos de partida para personagens com Joana, em Gota D’Água, e Neusa Sueli, em Navalha na Carne, foram nossas inspirações.
Young And Beautiful: essa canção melancólica de Lana Del Rey ganha em Um Copo de Veneno um tom ainda mais soturno, na voz de uma figura apegada à imagem de um distante passado promissor. É no devaneio de personagens como Norma Desmond e Baby Jane Hudson que nos espelhamos para esse número que põe lupa na exigência de eterna juventude que cerca as mulheres.
Floradas de Amor: a fatia dominatrix de Cida Moreira domina o piano nessa canção que coube perfeitamente nesse cabaré. Na contramão das tendências de violência doméstica do Brasil, aqui Kiko Dinucci e Douglas Germano oferecem uma surra de flores.
Marcha Macia: a música Marcha Macia foi a primeira melodia escolhida para esse projeto. Siba soube traduzir o sentimento de todos nós no momento em que as movimentações sombrias tomaram vulto no Brasil. Gravada em dezembro de 2015, infelizmente foi profética e se torna mais atual a cada dia. O recado foi dado, e nós nos incluímos nessa marcha.
Eu Sou a Diva Que Você Quer Copiar: Um Copo de Veneno é exatamente sobre a liberdade de poder interpretar Brecht ao lado de Valesca Popozuda. As expressões artísticas são livres, e jogando fora as amarras de gênero foi possível criar esse coquetel de personagens contundentes e divertidos personificados pela Cida Moreira.
La Bala: originalmente um rap do Duo Calle 13, de Porto Rico, A Bala (La Bala) é uma epopeia sobre a cultura armamentista que cabe perfeitamente no Brasil de 2020. Na figura da morte, Cida Moreira apresenta uma narrativa de tirar o fôlego que dá conta da mazela diária das nossas comunidades, diante do militarismo e da guerra às drogas.
Cantora e pianista nascida na cidade de São Paulo, Cida Moreira é o nome artístico de Maria Aparecida Guimarães Campiolo. A carreira começou na década dos anos 1970, trabalhando em teatro e musicais. O primeiro disco, Summertime, gravado ao vivo, foi lançado em 1981 com clássicos do blues e do jazz norte-americano, além da versão censurada de Geni, de Chico Buarque. Desde então gravou outros discos bastante elogiados, alguns dedicados a compositores, como Cida Moreira Interpreta Brecht e Cida Canta Chico Buarque, disco de 1993,interpretando uma seleção de canções do compositor que incluiu Morte e Vida Severina, Soneto e Suburbano Coração entre outras.
Um Copo de Veneno – Uma Aventura Libertária, música a música
1 – Singapura, Eduardo Dussek/2 – Avisa, Tato/3 – Private Dancer, Mark Knoppler/4 – O Verbo e a Verba, Lenine e Lula Queiroga/Money, Mamonas Assassinas/5 – Efêmera, Tulipa Ruiz/6 – Prezadíssimos Ouvintes, Itamar Assumpção/7 – Você me vira a cabeça, Paulo Sérgio Valle e Chico Roque/8 – Young and Beautiful, Lana Del Rey, Rick Nowels e Baz Luhrmann/9 – Floradas do Amor, Douglas Germano e Kiko Dinucci/10 – Marcha Macia, Siba/11 – Eu Sou a Diva, André Vieira, Leandro Pardal e Wallace Vianna/12 – La Bala, Rene Perez, Eduardo Cabra e Rafael Ignacio Arcaut
Especializada em música brasileira de alta qualidade, o acervo da produtora e gravadora Kuarup concentra a maior coleção de Villa-Lobos em catálogo no país, além dos principais e mais importantes trabalhos de choro, música nordestina, caipira e sertaneja, MPB, samba e música instrumental em geral, com artistas como Baden Powell, Renato Teixeira, Ney Matogrosso, Wagner Tiso, Rolando Boldrin, Paulo Moura, Raphael Rabello, Geraldo Azevedo, Vital Farias, Elomar, Pena Branca & Xavantinho e Arthur Moreira Lima, entre outros.
Além desta eclética galeria de cantores e duplas cujos trabalhos já lançados formam o acervo de álbuns, também é possível ao internauta que visita o portal da Kuarup, entre outras atividades no campo da produção cultural, saber pela guia Notícias as novidades que estão chegando para reforçar este precioso catálogo e, ainda, ouvir seleções de músicas disponíveis na plataforma Spotify (playlists) apresentadas por temas e recortes dos mais diversificados, revelando a riqueza de sonoridades e de gêneros que a empresa guarda. Uma das sugeridas pela redação do Barulho d’água é bastante apropriada para este momento: Virada de Ano (clique no nome da lista para ouvi-la). O endereço eletrônico que leva ao botão que abre as playlists é http://www.kuarup.com.br/spotify/
Telefones: (11) 2389-8920 e (11) 99136-0577 Rodolfo Zanke rodolfo@kuarup.com.br