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*Com Franco Mathson
Quarteto expoente do punk horror, liderado por um artista plástico e professor da rede pública, faz músicas nas quais mistura ocorrências funestas e violentas, pitadas de humor e histórias narradas pela mãe do vocalista, formador do grupo em 2014
A banda potiguar Derrame Verbal está lançando nas plataformas digitais, com apoio da Frika Records, Bang Bang!, novo trabalho em que histórias funestas do cotidiano são apresentadas equilibrando pitadas de horror, alusão a fatos violentos e humor, por meio de composições nas quais predominam gêneros como punk horror e o heavy metal. Entre as quatro faixas do epê o grupo faz referências a Lili Carabina (assaltante de bancos que fez fama nos anos 1970 e 1980), crítica o excesso do uso da tecnologia em Macumba Digital (com participação da conterrânea Thazya Regina), e apresenta, ainda Boa noite Cinderela e Amigo inimigo meu.
A Derrame Verbal reúne o quarteto composto atualmente pelo precursor da formação inicial, Arandi Sales (vocais), Kiko Mosca (guitarra), Ramon (baixo) e Atilla Smith (bateria). Há menos de um ano, em maio de 2020, lançara o segundo epê da trajetória, O Horror da Vida Real, influenciado pelo cotidiano violento e histórias contadas pela mãe de Sales. Artista plástico e professor da rede pública, o vocalista disse na ocasião, em entrevista a Hugo Moraes, da fanzine eletrônica de música Inimigo, de Natal (RN) que, além de fundador da banda, é quem escreve as letras e bola as capas dos discos e dos clipes da banda. Entre os gurus de Sales, Iggy Pop o instigou “com aquela idade e já meio manco, dando aqueles pulos” a resolver montar a banda e concretizar um antigo sonho. A Derrame Verbal também busca energia em ícones como Ratos de Porão, Camisa de Vênus, Garotos Podres, sem contar as influência de GG Allin e The Murders Junkies, e The Runaways.
Lili Carabina era a alcunha da carioca Djanira Ramos Suzano, que também ficou conhecida por Djanira Metralha ou Djanira da Metralhadora e que se notabilizou como assaltante nas décadas dos anos 1970 e 1980. Os membros da quadrilha da qual fazia parte costumavam atacar bancos fantasiados para tentarem dificultar a sua identificação. Djanira usava peruca, loira, óculos escuros e carregava na maquiagem, trajada sempre por roupas justas, artimanha para deixar seguranças das agências babando enquanto seus comparsas limpavam caixas e cofres. Ganhou o apelido dos próprios cúmplices, apesar de utilizar sempre pistola 9mm, e não carabina, durante as fitas.
Djanira inspirou duas biografias do até então repórter de editorias de Polícia, o hoje escritor de novelas Aguinaldo Silva: Lili Carabina – retrato de uma obsessão e A História de Lili Carabina. Posteriormente, ambas foram adaptados para o cinema, em 1989, quando a atriz Betty Faria interpretou a meliante em Lili, a estrela do crime. Betty Faria também interpretou a assaltante em episódios do seriado Plantão de Polícia, produzido e exibida pela Rede Globo semanalmente entre 1979 e 1981, e com Hugo Carvana protagonizando o “herói” Waldomiro Pena, um repórter do mundo cão. A também global Viviane Araújo deu vida a Carabina em montagem teatral que estreou em São Paulo no mês de agosto de 2017, com direção de Daniel Lopes e adaptação a partir dos textos de Silva, assinada por Júlio Kadetti.

Viviane Araújo, em 2017, e Betty Farias, em 1989, tiraram Lili Carabina dos livros para os palcos e telas de cinema, glamourizando a vida da assaltante Djanira Ramos Suzano
Em uma entrevista à Revista Veja, Djanira disse ter sido “roceira de Minas” que se casou por imposição dos pais, mas caiu de amores por um traficante com o qual deu linha e teve os primeiros dois filhos. Calcula que estaria com 20 anos quando seu companheiro foi assassinado e ela cobrou a bronca “subindo” também os dois responsáveis, delitos que a jogaram na criminalidade. Em 1975, passou tacar o terror contra bancos.
Lili Carabina “perdeu” no final dos anos 1980 e condenada, ao todo, pegou mais de 100 anos de tranca, mas conseguiu fugir seis vezes da cadeia. Em 1988, foragida, ao tentar furar uma barreira (carregada com armas e portando cocadas), foi baleada e os ferimentos a deixaram 33 dias em coma. Um dos projeteis ficou alojado na cabeça dela e, sem poder ser retirado, Djanira ficou com parte do lado esquerdo paralisada, obrigando-a a usar muletas. Ao se recuperar, foi reconduzida à Penitenciária Feminina Talavera Bruce, na cidade do Rio de Janeiro, e tornou-se evangélica. A pena deveria ser cumprida até 2019, mas vinte anos antes recebeu indulto de Natal, conferido pelo então presidente da República Fernando Henrique Cardoso por ser portadora de diabete aguda. Em liberdade, aos 56 anos, morreu de infarto um ano depois, em 5 de abril, deixando além dos dois filhos, uma filha.