1366 – Está saindo do forno a lenha “De Joanópolis a Barbacena”, disco camisa 10 de Francis Rosa (SP)*

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Cantor e compositor, o violeiro percorreu 10 cidades aos pés da Serra da Mantiqueira e traduziu para as cordas caipiras os costumes dos povos com os quais interagiu

* Com Jefferson Bellodi

Sou caipira e moro no mato(…)/Toco viola nas tardezinhas (…)/Alguns me chamam de esquisito/saio da roça e já fico aflito/moro do lado de uma lagoa/pesco nas tardes que fico a toa/sou tão feliz aqui e não minto:/gosto de couve com ovo frito…

Sou, faixa 1 do álbum De Joanópolis a Barbacena

As tradicionais audições matinais que aos sábados animam o cafofo do Barulho d’água Música aqui em São Roque (SP) começaram neste dia 20 de março com De Joanópolis a Barbacena, que o violeiro, cantor e compositor Francis Rosa está tirando agorinha, mesmo, do forno do fogão a lenha, com lançamento físico programado para amanhã, 21 de março. Décimo álbum da trajetória de Rosa, De Joanópolis a Barbacena reúne onze canções inéditas e traz Francis Rosa (viola caipira/voz), Reginaldo Oliveira e Carlito Rodrigues (baixo), Rafael Schimidt (violão nylon), Daniel Blando(sanfona), Matheus Pedroso Ruíz (bateria), Rafael Beck (arranjo de cordas), Rafael Henrique (cello) e Rogério Romera (violino e viola clássica).

A ideia central do disco é mostrar os costumes, os dialetos, a gastronomia, as atividades e cultura da Serra da Mantiqueira, aos pés da qual Francis Rosa é nascido e criado, mais precisamente em Joanópolis. A partir do seu berço, o violeiro e uma equipe de cinegrafistas da a Wolf Connection, de Joanópolis, percorreram dez cidades emolduradas pela Mantiqueira para entrevistar o que ele considera “os verdadeiros heróis deste país” e são personagens como foiceiro, tiradô de leite, benzedô, roceiro. A viagem está registrada em um documentário que leva o mesmo nome do álbum e estará disponível em todas as plataformas digitais a partir de 18 de abril. Francis Rosa e comitiva apearam em Joanópolis; Monte Verde (distrito de Camanducaia/MG); São Francisco Xavier(SP); São Bento do Sapucaí (SP); Monteiro Lobato (SP); Gonçalves (MG); Delfim Moreira (MG); Baependi (MG), Ibertioga (MG) e Barbacena (MG), percorridas para contar um pouco da história desta serra que Francis Rosa tanto ama.

Nat King Cole de botina

Francis Rosa é natural de Atibaia (SP), mas a maior parte de sua vida tem levado entre Joanópolis  e o distrito de Monte Verde, situado em Camanducaia, município do Sul de Minas Gerais, onde tem residências, mora com a esposa Rebeca e gosta de tocar quando não está na estrada. Todos estes lugares pertencem à região formada por cidades dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro atravessadas pela monumental Serra da Mantiqueira, cujas belezas naturais, tradições e costumes dos moradores servem de inspiração para as poéticas letras do artista.

Nas cantorias e rodas informais que Francis Rosa promove esta receita revela e transporta quem o ouve até atmosferas bucólicas, permitindo desfrutar momentos acolhedores como se estivéssemos em torno de uma fogueira, iluminados pela luz do luar e de estrelas, saboreando rodas de viola em dueta com o mugido do gado ou o burburinho dos bichos do mato, acompanhadas por delicias típicas – ah, pinhão cozido, broa de milho, queijo e goiabada, café cuadin na hora e aquela santa pinguinha caseira, sem se esquecer do cigarro de palha, hábitos muito comuns nos terreirões das fazendas, sítios e lugarejos aos pés da Mantiqueira, ocasiões abençoadas e nos quais comungamos amores, reveses e sucessos da lida diária na roça, fechamos negócios, narramos os causos, renovamos a religiosidade, enfim, desfrutamos o desembrulhar e o correr da vida.

Este universo que costuma manter o público de Rosa permanentemente entretido e emocionado está fielmente presente, revela-se no lirismo dos versos que dão alma à obra dele – um músico que abdicou da Engenharia e talvez de maior conforto para fazer exatamente o que gosta, mas cujo ofício exerce com autenticidade, sabedoria e rigor profissional.

Em entrevista  ao apresentador Márcio Miguel, da revista Acesso Geral, que integra a programação da TV TEC de Jundiaí, o violeiro contou em 19 de novembro de 2019 que nasceu em família de eclético gosto musical na qual a mãe, Maria de Lourdes, é fã e ouve, por exemplo, Nelson Gonçalves, Nat King Cole e Frank Sinatra, enquanto as irmãs curtem rock’n roll dos finais das décadas de 1970 e 1980. A porção feminina dos Rosa, claro, acabou por influenciar o rapaz (tanto que Francis também tem banda de rock!), mas no bate bola com Miguel, ponderou: “O gosto pelo pé no barro, mesmo, herdei do meu pai [Sineval], ouvindo, por exemplo, Sulino e Marrueiro, Vieira e Vierinha e Tonico e Tinoco”.

Incentivado dentro do próprio teto, portanto, Francis Rosa já sabia tocar aos 14 anos e por quais riachos, desde então, correriam as águas que movem suas paixões. Por algum tempo, apenas tocou e cantou por hobby, aos finais de semana, devido aos compromissos do batente que cumpria durante os dias úteis. Já há quinze anos, entretanto, ouviu o coração e abraçou em definitivo a carreira artística. Descobri que sempre fui músico, que não teria mais tempo a perder fazendo outra coisa”, afirmou. “Já nasci desse jeito, não há como correr disso e fico desesperado por ai procurando músicas, completou, mas revelando a consciência de quem sabe que, por ser ao mesmo tempo o próprio patrão e se virar sozinho em gravações independentes, “precisa agarrar o trabalho com unhas e dentes”, pois, em sua visão, quem não adota uma rotina regida e disciplinada por horários, organização e logística para exercê-lo, “desanda”. (E é bom sempre lembrar: moramos em Pindorama, onde artista, de uma maneira geral, sobretudo se dedicado à cultura caipira, racha lenha e se não plantar a própria espiga, ainda mais em época de coronavírus…)

Francis Rosa, é certo, sabe, assim, o esforço que precisa empreender para gerir a própria carreira com relativo sucesso e arrancar aplausos neste contexto inimigo de quem é avesso ao mercado convencional (ou seja: com quantos paus se tenta fazer uma canoa!), mas observou: só obedece aos (mais de cem) caminhos que a música o ensinou e o chama a trilhar, entretanto, como eles só passam por onde está acostumado a palmilhar e a conviver, jamais dá as costas às origens, ao que e com quem está familiarizado e se acompadrou, pelos fios do bigode e em boa fé, desde piá que nadou em muito córgo, apanhou caqui orvalhado de prata, pescou lambari, conhece o pássaro pelo trinado e deu nó em rabos de vaca – não sem antes atolar deliciosamente os dedos dos pés descalços no quente estrume que há pouco cagaram por currais e trilhas, com certeza sob o olhar atento de uma juriti circunstante.

Embora também toque rock, pontear a viola caipira, confessa, é o que mais gosta. E o que realmente o inspira, conforme se nota à luz de suas composições, é sua verdade cotidiana, a simplicidade com a qual a vida frui no campo que o circunda e que ele capta nos modos de falar, de vestir, de comer, de ser dos vizinhos – entre os quais aponta um religioso entregador de leite de Joanópolis que até hoje exerce a atividade e vai, todos os dias, de port(eir)a em port(eir)a atender à clientela. “Como não vou cantar isso? Essa é minha realidade, vejo isso todos os dias”. E a despeito de se o que canta seria “sertanejo ou caipira”, ele resumiu, sem rodeios, mas primando pela sua marca, a autenticidade, em uma sentença: “O que faço é música brasileira, que só existe neste país.” 

Serviço: De Joanópolis a Barbacena — Disco físico em 21/3 – Vídeo em 18/4

 

Saiba mais sobre Francis Rosa ou leia conteúdos a ele relacionados aqui no Barulho d’água Música visitando https://barulhodeagua.com/tag/francis-rosa/

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