1373- Conheça Gileno Foinquinos, guitarrista de jazz do Pará, e seu novo álbum, Voo do Carapanã

Dedicado à música desde os 6 anos, o autor do álbum, já tocou com nomes da cena belenense como Sebastião Tapajós e Nego Nelson, além de integrar várias bandas e dividir palcos no Brasil e no mundo com Proveta, Bocato, Filó Machado, Elza Soares e Maria Rita, entre outros

jornaslistas antifascistasAs tradicionais audições dos sábados pela manhã aqui no Solar do Barulho, sede do Barulho d’água Música em São Roque (SP), começaram neste dia 10 de abril com Voo do Carapanã, oitavo álbum do paraense de Cametá Gileno Foinquinos, músico, compositor e arranjador considerado referência da guitarra jazzística para além da região Norte do país. Voo do Carapanã, cujo nome alude a um inseto semelhante a um pernilongo, mas “do bem”, contém oito faixas instrumentais e pode ser ouvido na íntegra visitando o linque que estará ao final desta atualização, com participações de César Augusto “Gugu” (bateria); Wesley Jardim (baixo); Willian Jardim (guitarra), além de Márcio Jardim, Wendel Brandão e Joelson Lopes. Foinquinos toca guitarra acústica.

O interesse pela música despertou em Gileno Foinquinos aos 6 anos de idade, quando ele começou a tocar violão, influenciado pelo pai, Lucimar Foinquinos, à época integrante da banda Os Populares de Cametá. Sete anos mais tarde,  aos 13 anos, Foinquinos já tocava profissionalmente em bandas de baile e, posteriormente, entrou para a banda Fazendo Arte. Em sua trajetória estadual já tocou com diversos artistas do cenário da Capital do Pará, Belém, entre os quais Sebastião Tapajós, Nego Nelson, os mestres Cupijó e Vieira, Mini Paulo, Sagica, Adelbert Carneiro, Kzam Gama, Mahrco Monteiro. O talento de Foinquinos também chamou a atenção de Proveta, Bocato, Filó Machado, Elza Soares, Maria Rita, Simoninha, Lia Soares, Leo Maia, Lia Sophia, entre tantos outros nomes do cenário nacional com quem ele já dividiu palcos.

Na década dos anos 1990, Gileno Foinquinos participou do frenesi pelo qual passou a música instrumental paraense. As praças belenenses ficavam lotadas por conta das várias apresentações que ocorriam pautadas por este gênero. Em 1994, o guitarrista integrava a bandas Amazônia Jazz Band e, ainda passou pelas bandas Pandora e Estado de Espírito, grupos importantes por incentivarem a propagação da música instrumental entre os conterrâneos. Em 1998, após gravar Cacique Camutá, seu primeiro disco, instrumental, em parceria com seu amigo o baixista Adelbert Carneiro, Foinquinos resolveu expandir e desbravar nova atmosfera musical na cidade de São Paulo, sem, no entanto, cortar as raízes com Belém.

O álbum seguinte, de 2002, Cacique Muaná, também foi gravado em duo com Carneiro. Desde então, Foinquinos segue desenvolvendo trabalhos autorais mesclando em suas composições a identidade musical paraense e a música do mundo, revelando influências em de expoentes como Tapajós, Nego Nelson, Bola Sete, Victor Biglione, Wes Montgomery, Joe Pass, Jim Hall, Pat Metheny, George Benson, Mike Stern, entre tantos outros.

Em 2009, o cametaense integrou o grupo de música instrumental do trombonista Bocato, participando de Hidrogênio, disco considerado pela crítica brasileira o melhor instrumental do ano. Já em 2011, quando gravou o instrumental da Banda Funk Brasil e fez parte da Orquestra Filarmônica Africana do Brasil (Filafro). Atualmente, Foinquinos é o guitarrista da banda paulistana de jazz brasileiro Silibrina, comandada pelo pianista Gabriel Nóbrega, com a qual já viajou para vários lugares do mundo participando de apresentações e festivais internacionais tais como Babel Sound Jazz Festival  (Balaton, Hungria), Sala Clamores (Madrid, Espanha), Sala Ritarosa (Uruguai), Montreal Jazz Festival (Canadá), Prulcek  (Liublina, Eslovênia), Cine Incrível (Almada, Portugal), Casa da Música Cidade do Porto (Portugal), Salão Brasil (Coimbra, Portugal), Sala Impacto Plasencia (Espanha), Toronto Jazz Festival (Toronto, Canadá), Sunfest (London, Canadá), Fanialive (Viena, Áustria), Club Flex (Arad, Romênia) e Festival SXSW (Austin, Texas). 

capa voo

Assim, com currículo extenso e seus mais de 30 anos de trajetória, tem vários trabalhos nos diferentes ramos da música, como  jazz instrumental, guitarrada, samba, carimbó, entre outros. Em seus oito discos desenvolve trabalho musical baseado em músicas autorais e em parceria com compositores e poetas paraenses, como Eduardo Neves e Jorge Andrade. Diante desse cenário de pandemia e incertezas o guitarrista, como tantos outros artistas, precisou se reinventar e se adequar aos novos formatos de apresentações musicais nos meios digitais, Foi assimilando essa nova forma de fazer música que lançou O Voo do Carapanã, projeto aprovado no edital música da Lei Aldir Blanc, cujas faixas, desenvolve de forma mais madura o estilo jazz amazônico, com atmosfera universal, mas mantendo as texturas da música nortista. 

Trata-se da reunião de duas gerações da música instrumental paraense: a minha e do baterista César Augusto (Gugu), dois quase cinquentões, com dois meninos, os irmãos  Willian e Wesley, talentos que estão em plena ascensão no cenário musical paraense”, disse Foinquinos. “É importante para a sociedade valorizar e reverenciar nossos mestres da música e ao mesmo tempo oportunizar novos talentosos produzidos no Pará, passando conhecimentos, direcionando, fomentando o conhecimento e saberes culturais locais e concebendo a música como chave também de transformação social”, completou.

As faixas são: Marilda (homenagem à mãe), Lua Juando (homenagem ao violonista Sebastião Tapajós), Chama Vento, Nós tudo, Cacique Camutá, Carimboteando, Sambailha e Voo do Carapanã, que dá nome ao título do trabalho, composta em 2014, considerada pelo guitarrista como uma “composição-desafio”, pois ao longo de muito tempo vem estudando-a para executá-la com primazia e sem escorregar no dedilhado, que começa lento, mas depois termina literalmente voando, fazendo alusão ao voo rápido e frenético do carapanã. Desta maneiraVoo do Carapanã é fruto de um processo de formação-aprendizagem da música em diferentes vertentes, trabalho que reflete a experiência de longos anos de carreira, revelando as influências e trocas culturais no eixo Belém/São Paulo/mundo que resultou nessa construção de uma identidade musical multifacetada do artista.

carapanã 2Gigante inofensivo

A pandemia do coronavírus vem assustando o mundo há mais de um ano e, aqui no Brasil, onde já contamos mais de 350 mil mortos pela Covid-19, não se fala em outro assunto quando a pauta é doença. Diante da gravidade e do poder de letalidade desta moléstia, logicamente, o assunto tem de estar na ordem do dia, mas ele ocupa de tal forma os noticiários e tornou-se o centro das atenções ao ponto de “deixarmos de lado” outro combate que deve ser travado contra outro inimigo não menos agressivo: o vírus transmitido pelo Aedes aegypti, causador de dengue, chikungunya e zica, que se não quando não levam o infectado a óbito, deixam sequelas das mais graves.

Pode-se argumentar que controlar a dengue, por exemplo, é bem mais fácil, pois bastaria manter o Aedes aegypti longe de nossas casas, matando, por exemplo, um destes mosquitos que ousar voar em nosso caminho. Se tapas e inseticidas resolvem, além de eliminar os criadouros do pernilongo, há, na natureza, outra maneira natural de controlar sua proliferação: o carapanã, um inseto, também semelhante a um pernilongo, predador do Aedes, e muito comum na região Amazônica.

O portal Roma News, do Pará, publicou em setembro de 2020 um texto muito interessante sobre o carapanã, que inspirou Foinquinos. A íntegra do artigo segue abaixo:

Se deparar com um ‘carapanã’ [inseto] quase dez vezes maior do que você está acostumado a ver, pode ser assustador, principalmente quando sabemos das taxas de transmissão de doenças por mosquitos. A diferença é que esse gigante de voo lento e patas muito longas e frágeis, não causa mal algum aos seres humanos.

Apesar da semelhança física com os mosquitos, esses insetos pertencem à família Tipulidae e não são hematófogos, ou seja, não se alimentam de sangue, enquanto que os mosquitos pertencem à família Culicidae e são hematófogos. ‘Os Tipulidae apresentam aparelho bucal desenvolvido como um rosto ou focinho’, que não tem a função de picar, por isso, tecnicamente, é errôneo chamá-los de mosquitos’, diz o professor Anderson Gonçalves da Silva, entomologista da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), campus Paragominas.

Os Tipulidae também são conhecidos como típulas e moscas-grua. De acordo com o pesquisador, apesar do tamanho e do receio que causam, as típulas são bichos inofensivos. ‘Esses insetos se alimentam de seiva ou néctar e são benéficos aos seres humanos, pois fazem o controle de espécies como o Aedes, por exemplo’.

A fase larval do Tipulidade ocorre na água e nesse ambiente suas larvas são predadoras, se alimentando de outros insetos, dentre esses os do grupo Culicidae, que são os mosquitos, como o Aedes. Ou seja, as larvas do Tipulidae são predadoras da larva do Aedes, o que acaba atuando como um controle natural’.

Outros estudos relatam que os Tipulidade podem atuar inclusive na polinização. Mas não é tão comum encontrar esses gigantes em ambiente urbano. “Eles estão associados a temperaturas amenas e ambientes úmidos, local que suas larvas se desenvolvem, por isso não os vemos muito, comparado aos mosquitos comuns, já mais habituados e adaptados ao meio urbano’, explica Silva.”

Discografia:

Cacique Camutá (1998)/Cacique Muaná (2003)/Trio Cuíra (2007)/Sangue das Águas (2009)/Curimã (2013)/Só Samba (2017)/Sr. Maxixe (2019)/Voo do Carapanã (2021)

Clique aqui para ouvir Voo do Carapanã Ou

Ouça outros álbuns de Gileno Floinquinos no Spotify

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995 – Para além do boto-cor-de-rosa: conheça o Imbaúba, grupo fundado pelo poeta Celdo Braga que canta o universo da Amazônia

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6 comentários sobre “1373- Conheça Gileno Foinquinos, guitarrista de jazz do Pará, e seu novo álbum, Voo do Carapanã

  1. Olá, muito interessante este espaço que você desenvolveu para falar de arte. Matérias muito boas. Temos a possibilidade de conhecer o trabalho de tantos artistas geniais do nosso Brasil. Parabéns ao barulho de água música. abraço.

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  2. Bom dia, Paulo, e obrigado pelo contato. O teu comentário me deixa muito feliz, pois é justamente esta a minha meta: abrir a possibilidade de serem conhecidos tantos trabalhos de artistas geniais, como o Gileno Foinquinos! Que ele tenha mais portas abertas e novos seguidores! Abraços!

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