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Integrante de dois grupos nos quais toca o instrumento de dez cordas, musicista residente em Uberaba e também consultora está à frente de uma iniciativa que visa a conectar em rede nacional outros expoentes do universo feminino da viola e fomentar a devida valorização da mulher musicista, produtora e gestora
A musicista Cláudia Morais, mineira de Ituiutaba e atualmente residente em Uberaba, no Triângulo Mineiro, está à frente de uma iniciativa coliderada por expoentes como as conterrâneas Letícia Leal e Sol Bueno, a pernambucana Laís de Assis e a goiana Paula de Paula para conectar em rede o máximo possível de outras violeiras que estão Brasil afora. A iniciativa já conta com o blogue Violeiras do Brasil e está em processo de transição para se tornar Organização de Sociedade Civil (OSC). A meta é articularem em conjunto a produção cultural do segmento feminino da viola e fomentar a devida valorização da mulher musicista, produtora, gestora e, sobretudo, violeira.
Nascida em uma casinha de pau a pique na região do Córrego da Areia, zona rural de sua cidade natal, Cláudia Morais toca vários instrumentos. Pela viola recorda-se ter sido “picada” em 2004. A princípio, considerava o instrumento “um bicho de muitas cordas”, mas sua paixão por ele já era latente desde pequena quando sua admiração por música despontou ouvindo a radiola do avô e violonista Antônio Neves. Elementos e valores afetivos e culturais presentes neste universo contribuíram para moldar um perfil que hoje complementa a consultora e educadora de excelência que ela também se tornou: artista que carrega e incute suas raízes em todas as suas atividades. Deste broto, surgiu e cresceu a musicista que, aos 14 anos, já buscava a profissionalização também neste campo à medida que aprendeu a tocar piano erudito, violão, flautas barrocas, guitarra e contrabaixo.
Cláudia Morais encontrou terra fértil frequentando batuques dos ternos de congada e cantos das Folias de Reis. Depois buscou conhecimentos acadêmicos para seu aperfeiçoamento e, hoje, domina a arte de tocar as dez cordas. Assim, não apenas segue, com louvor, os passos da Rainha Inezita Barroso, mas como a saudosa apresentadora do Viola Minha Viola ajuda a ampliar a presença feminina nas rodas que ainda têm predomínio das mãos masculinas.
Quando toca, Cláudia Morais revela toda sua essência, mas demonstra que também mantém sintonia com outros estilos e gêneros musicais que, combinados com a viola, permitem ao instrumento atingir outros campos situados fora dos limites da roça ou do sertão, entretanto conservando o sotaque. Sua marca pode ser apreciada, por exemplo, no Duo Baru e nas cantorias do Grupo Viola em Flor.
O Duo Baru, que forma com Adão Monteiro¹ combina cordas, teclas e percussão. Busca uma sonoridade distinta que permita tecer um repertório amplo, desde música regional ao jazz. A identidade da dupla se faz presente não só nos arranjos, como nas músicas autorais. A alma ruralista de ambos os integrantes ainda aparece expressa na sonoridade e no nome “Baru”, árvore do cerrado usada para representar a alma deste trabalho.
Com uma proposta musical moderna, o Grupo Viola em Flor, idealizado por Cláudia, está na estrada desde 2010. Nesta trajetória, ao quebrar tabus, deixa registrada sua pegada, qualidade musical e irreverência em apresentações pelo Brasil. Cláudia Morais e mais três talentosas instrumentistas e donas de timbres vocais distintos trazem influências que passam pelo sertanejo de raiz, pela música regional mineira e nordestina, pela MPB, música erudita e pela música de fronteira — guarânias, polcas e chamamés. As quatro são também anfitriãs do projeto Violada – Circuito Autoral das Violas Brasileiras, do ponto do Triângulo Mineiro, em Uberaba.

Da esquerda para direita: Bruna Salgado, Cláudia Morais, Winnye Cintra, Carolina Emília Rodrigues
O Viola em Flor conta com Cláudia Morais (viola brasileira, violão e voz), Bruna Salgado (viola brasileira, violão e voz), Winnye Cintra (violão e voz) e Carolina Emília (percussão e voz). Em ocasiões especiais, também sobem ao palco Renata Ribeiro (contrabaixo e percussão), Tereza Gimenes (percussão) e Amanda Lourenço (percussão).
Mais sobre Cláudia Morais
Pós Graduada em Gestão Cultural e Pós Graduanda em Administração Pública e Gerência de Cidades, Cláudia Morais é Consultora e Gestora na Pro-Arte Consultoria e estuda MBA em Administração Pública e Gerência de Cidades no Grupo Uninter, de ensino à distância (EAD). Como consultora e professora, desenvolve projetos de orientação e de formação em cultura, patrimônio cultural, turismo e esporte, entre outros segmentos. Nesta atividade, por meio de modernas e inovadoras propostas, Cláudia e o pessoal com quem forma suas equipes ministram aulas e cursos para agentes públicos e do terceiro setor, conselheiros e artistas.
O currículo de violeira é enriquecido, ainda, por três prêmios Rozini de Excelência de Viola Caipira, dois na categoria Melhor Orquestra de Viola e mais um da categoria Melhor Trabalho Social. Cláudia Morais leciona Viola Caipira no Conservatório Estadual de Musica Renato Frateschi, em Uberaba (MG) e mantém o sítio eletrônico Viola de Arame, para divulgar a viola e colaborar no seu aprendizado; devido à pandemia da Covid-19, o blogue também atende de forma remota os alunos do curso de viola caipira do Renato Frateschi.
“Nasci em tempos rudes. Aceitei contradições, lutas e pedras como lições de vida e delas me sirvo. Aprendi a viver”
A frase da poetisa Cora Coralina resume o convite de Cláudia e demais companheiras do projeto para as violeiras de todo o país se articularem por meio do canal Violeiras do Brasil. Inezita Barroso não escondia que no começo da carreira sofreu preconceitos e enfrentou resistência até dentro da família ao anunciar que abraçaria a viola como seu instrumento de predileção. Os obstáculos impostos a Inezita e, com certeza, mais tarde a Helena Meirelles, “descoberta” já quando avançava em idade para 80 anos, refletiam uma das formas de misoginia das sociedades de antanho e contribuíram para instalar e legitimar culturas de comportamentos agressivos, depreciações, violência sexual, objetificação do corpo feminino e morte de mulheres, hoje caracterizada como feminicídio.
A coragem de Inezita e a de Helena as consagraram como marcantes personalidades femininas e ilustram a importância e o protagonismo das mulheres contra uma série de injustiças e violência de gênero cometidas ao longo dos séculos. As duas ajudaram, sim, a derrubar barreiras, mas ainda existem muitas a serem superadas pelo segmento feminino elas em pleno século XXI.
A desigualdade de gênero no mercado de trabalho, por exemplo, resiste ao tempo. Sobre esta mazela, em sua apresentação, o blogue das violeiras informa: segundo dados compilados e divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), por meio da Pnad Contínua, o salário das mulheres está, em média, 22% menor que o dos homens. A diferença sobe para 38% quando há nível superior completo envolvido no comparativo. “No universo da música não é diferente e nem tão pouco no meio dedicado à viola, muito embora a mulher esteja cada vez mais presente!”, aponta o texto, antes de finalizar com o convite: “Sejam todas bem-vindas e vamos construir um caminho juntas!”

Gráficos dos Estados onde moram 52 das 72 violeiras já cadastradas na rede Violeiras do Brasil
O blogue Violeiras do Brasil já tem um grupo de 72 inscritas, 52 das quais já responderam a perguntas sobre os Estados nos quais moram e quais afinações preferem para as cordas. Cláudia Morais compartilhou estas informações em gráficos que estarão ao longo desta atualização.
Viva Inezita Barroso, salve Helena Meirelles!
Para se cadastrar ao blogue Violeiras do Brasil o endereço é https://violeirasdobrasil.wordpress.com/

Gráficos das afinações de violas preferidas no universo feminino segundo a pesquisa do blogue Violeiras do Brasil
O Barulho d’água Música, agora com o apoio cultural do Instituto Çare — que entre os agentes que o formam conta no Núcleo de Música com o trabalho da antropóloga, produtora cultural e editorial Marcela Bertelli – surgiu há sete anos. Entre as principais metas do blogue, desde então, está justamente ajudar a divulgar a produção musical e demais projetos artísticos dos violeiros, além de outras manifestações populares que encontrem suporte no instrumento. Ao destacarmos a força da viola em nossa cultura hoje e ao longo da história, em suas mais diversas formas de fabricação e uso em concertos e shows e não apenas como estrela do segmento caipira, pretendemos alcançar o status de veículo de comunicação deste mágico universo e, pautado por rigorosos critérios profissionais, contribuir não apenas para manter, mas fortalecer valores de nossas tradições e ricas culturas regionais, bem como ajudar a revelar talentos, formar e perpetuar públicos.
Os objetivos do projeto Violeiras do Brasil, portanto, encaixam-se nesta pauta do Barulho d’água Música. Assim, a matéria com Cláudia Morais é a primeira de uma série para contribuir com este propósito. A lista que formam é grande, mas, doravante, vamos trabalhar para compartilhar com nossos amigos e seguidores a obra de um número cada vez maior de expoentes como Letícia Leal, Laís de Assis, Sol Bueno, Paula de Paula, Marina Ebbecke, Katya Teixeira, Adriana Farias, Jessica Soares, Fabíola Beni, Carol Carneiro, Dayane Reis, Gaby Viola, Irmãs Barbosa, Juliana Andrade, Jussimara Lins, Karen Parreira, Leyde e Laura, Flor Morena, Mayara Góis, Pâmela Viola, Priscilla & Geisa Helena, Lizandra Araújo, Karoline Violeira, Bip Paulinha…
¹ Nascido às margens do Rio Paranaíba na zona rural de Patos de Minas/MG em terras quilombolas, Adão Monteiro tem ricas influências do folclore brasileiro. É neto de um Capitão de Folia de Reis de quem herdou o nome e sua essência rural que depois de diversas atuações musicais acompanhando artistas de renome nacional, aflorou num trabalho autoral “De Virada” que o conduziu para a formação do Duo Baru.
https://proarteconsultoria.com.br/duo-baru
https://violeirasdobrasil.wordpress.com/
http://conteudo.som.vc/paula-de-paula-entrevista/
Um comentário sobre “1416 – Cláudia Morais, de Ituiutaba (MG), abre série especial sobre as violeiras do Brasil”