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Em 23 de julho, ao publicarmos a atualização 1416, iniciamos aqui no Barulho d’água Música, com o perfil de Cláudia Morais, uma série dedicada às violeiras do Brasil como forma de apoiar e de reforçar a campanha que um grupo delas promove para que em âmbito nacional se articulem, por meio do canal Violeiras do Brasil. A meta é que consigam a valorização da produção cultural do segmento feminino da viola, da mulher musicista, produtora e gestora cultural. Nesta nova matéria, a destacada é Letícia Leal, mineira de Teófilo Otoni e uma das pontas de lança do movimento ao lado de Cláudia, da conterrânea Sol Bueno, da pernambucana Laís de Assis e da goiana Paula de Paula.
Letícia Leal atualmente reside em Belo Horizonte, Capital de Minas Gerais. É cantora, compositora, arranjadora, professora e instrumentista apaixonada por viola caipira, instrumento ao qual se dedica desde 2006 e com o qual se diferencia pelo arrojo na execução de músicas instrumentais ou cantadas. Letícia não se prende exclusivamente à tradição caipira à qual a viola está ainda mais fortemente inserida e identificada e busca demonstrar a versatilidade do instrumento em gêneros como o choro, o pop e outros ritmos da MPB. Esta proposta permeia Urutu, primeiro álbum da carreira, lançado em 2019 em parceria com o também violeiro Caio de Souza, paulista de Santa Rita do Passa Quatro. O disco reúne obras inspiradas em diferentes ritmos de regiões do Brasil e de compositores que marcaram a trajetória dos artistas.
Urutu saiu de forma independente, em parte com recursos enviados por internautas que colaboraram com uma vaquinha virtual (crowdfunding). No álbum, Letícia e Souza buscaram colocar a viola em lugares onde ela não é muito encontrada e resgataram ícones da música brasileira. “Queríamos apresentar um panorama do Brasil, então partimos para compositores que gostávamos”, disse Letícia na edição de 8 de agosto de 2019 do programa Revoredo de viola instrumental, apresentado pelo maestro José Gustavo Julião de Camargo nas emissoras de rádio FM da Universidade de São Paulo (USP) das cidades paulistas de São Paulo e de Ribeirão Preto (clique aqui e ouça). Entre as nove faixas de Urutu há releituras das músicas Choro bordado (Breno Ruiz e Paulo César Pinheiro), A lenda do Abaeté (Dorival Caymmi), Caçada (Fernando Sodré) e Forró da Penha, com a participação de Ricardo Herz no violino.
Derivado de projeto homônimo também de 2018, o álbum Urutu teve produção musical de Fernando Sodré e distribuição pela Tratore. O trabalho propõe uma nova linguagem e busca uma conversa entre duas violas, na qual as vozes transitam entre os dois instrumentos explorando timbres e paisagens sonoras tipicamente urbanas. O disco contou com as participações especiais de Ricardo Herz (violino), Fernando Sodré (viola de 14 cordas) e Mateus Marques (saxofone). Também tomaram parte nas gravações Aloísio Horta (contrabaixo acústico), Serginho Silva (percussão) e Sérgio Rabello (violoncelo)
“Quando começamos esta jornada tínhamos em mente fazer um disco com uma estética urbana, que saísse do imaginário rural, somente com duas violas”, afirmou Letícia. “Um instrumento tão arraigado em nossas belas tradições, onde esbanja protagonismo, se viraria de qual forma em um ambiente diferente com tantos contrastes?”, perguntou, emendando: “A viola, que já foi a principal voz das cidades, retoma então seu espaço de forma cosmopolita não distinguindo estilos, credos ou gênero”. Ao finalizar, observou que o disco nasceu da vontade de consolidar caminhos, com imagens sonoras que buscam de uma maneira particular retratar diferentes Brasis. “Urutu é cobra rastejante em solo árido, que aos poucos vai ganhando calos e força, é noturna à espreita e à espera do momento do voo.”
DE VETERINÁRIA A REGENTE
A violeira também contou ao maestro Julião de Camargo em uma edição anterior do programa Revoredo, levada ao ar 31 de maio de 2018 (clique pra ouvir o programa), que é formada em Medicina Veterinária, mas que já naquela época (há três anos) vivia só de música.
Seus primeiros contatos com a música foram ouvindo sucessos caipiras ao lado de uma das avós, no Interior de Minas Gerais. Quanto à viola, revelou que a paixão brotou de forma irresistível quando, prestes a sair de casa para estudar em Beagá, ganhou um dos álbuns gravados por Almir Sater. “Eu não parava de ouvir o disco do Almir Sater! Foi assim que decidi aprender a tocar viola. Em casa sempre tive contato com música, mas antes, no máximo, eu tocava campainha e saia correndo”, recorda-se, rindo. “Foi assim que tudo começou e decidi que queria aprender a tocar viola como meu primeiro instrumento”.
Em Teófilo Otoni, entretanto, não existiam lojas que vendiam violas, o que coloca o também violeiro Zeca Collares (conterrâneo dela de Grão Mogol, hoje radicado em Sorocaba/SP), na história. A mãe de Letícia entrou em contato com Collares após vê-lo em um show pela televisão e ele intermediou o envio de uma viola para Letícia alguns dias depois. De posse do instrumento, o passo seguinte foi contornar a falta de professor para ensiná-la a tocar, o que Letícia driblou aprendendo, sozinha, ao pegar as manhas com videoaulas ou dicas disponíveis na internet simultaneamente aos primeiros períodos na faculdade de Veterinária, já em BH.
Com o passar do tempo, Letícia deixou de lado o diploma universitário, aprimorou-se e se refinou na arte de tocar viola instrumental frequentando aulas com Renato Caetano e Fernando Sodré, dois amigos e violeiros também de Belo Horizonte. Hoje, além de exímia musicista, está à frente como regente e coordenadora da Orquestra Belorizontina de Viola Caipira. Integra ainda as diretorias do Instituto Viva Viola e da Associação Nacional dos Violeiros do Brasil, no setor de educação, e é professora de viola caipira desde 2010. Dentre 815 concorrentes do concurso de Melhor Violeiro, promovido pela TV Globo Minas, em 2012, conquistou o terceiro lugar.
Letícia Leal é também integrante do Dandô – Circuito de Música Dércio Marques e circulou com o Projeto Rabiola, em 2017, formando duo instrumental de viola e rabeca com o multi-instrumentista Rodrigo Salvador. No ano seguinte, 2018, foi a vez de levar ao público Profano, concerto autoral com composições próprias e de parceiros como Sol Bueno e Tiago Branco, acompanhada de piano, baixo e bateria. Em 2019 promoveu Brasilidades, no qual encaixa a viola caipira como principal instrumento em um quarteto composto por viola, violão 7 cordas, sanfona e pandeiro e com repertório que passeia por composições de Hermeto Pascoal, Guinga, Dominguinhos, Jacob do Bandolim, Pixinguinha entre outros, mostrando que a viola pode ser protagonista da música tanto instrumental, como cantada, e se destacar para além do universo caipira. Afora as turnês solo, já dividiu o palco em várias cidades do país com artistas como Dona Jandira, Pereira da Viola, Fernando Sodré, Celso Adolfo e Marcelo Veronez.
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Um comentário sobre “1422 – Série sobre violeiras do Brasil destaca Letícia Leal (MG), coautora de Urutu, autodidata e hoje regente de Orquestra”