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Segundo disco do grupo liderado pelo compositor e multi-instrumentista de Beagá Bruno Maia interconecta nossas raízes e antenas ao passar por Guimarães Rosa e Clube da Esquina, temperado por gaitas de fole, rabecas e fraseados jigs e reels da terra de James Joyce e William Butler Yeats
Em sonoridades que interconectam nossas raízes e antenas, o espírito mineiro surge com personalidade em Braia…e o mundo de cá, segundo álbum da banda Braia, liderada pelo compositor e multi-instrumentista mineiro Bruno Maia. Nascido em Belo Horizonte, mas com família e forte tradição musical vinda do interior do Estado, o trabalho de Bruno Maia e amigos é um prazeroso jorro de música regional fresca com origens ancestrais e muita história. Em uma frase: este trem é um baita disco!
O álbum com 10 faixas, mais duas de bônus, celebra diálogos instrumentais entre música brasileira, cultura popular, tradição irlandesa e o rock progressivo. É acompanhado por um encarte cuidadoso que oferece a experiência de ouvir as canções com imaginação de cinema, explorando mais a fundo a riqueza dos ritmos brasileiros; os temas fazem referências a aspectos e fatos da memória e da história brasileira, principalmente do imaginário cultural mineiro, como a Guerra dos Emboabas, a corrida do ouro, a magia de Diadorim (um dos mais famosos personagens de Guimarães Rosa, de Grande Sertão: Veredas) dentre outros. A música deste novo disco se aprofunda em ritmos e expressões como samba, ijexá, baião, música mineira, moda de viola, sem deixar a “irlandesidade” de lado, o que se afirma em gaitas de fole, rabecas irlandesas e fraseados típicos das tradicionais jigs e reels ¹’².
Entre o navegar sem rumo nesse Rio das Mortes, proseando com Guimarães Rosa que ganha em Diadorina uma pequena homenagem a seu personagem gigante; pegar esse Trem do Rio e dar de cara com o Boitatá, que ginga em um “sambIrish”; ou lembrar o “doer e o lutar dos muitos que tombaram e sangraram aqui, desde as descobertas das minas”, na melancólica e amorosa Quebrando Cataguá, seguimos por uma trilha de diamantes e antigos amores.

Capa do segundo disco e os músicos da Braia
Bruno Maia, que produziu o disco e tocou violão, viola caipira, banjo, bouzouki, bandolim, flautas irlandesas, escaleta, guitarra e teclados, apaixonou-se pela cultura celta ainda na infância por conta de um desenho animado do Rei Arthur, no final dos anos 1980. Montou a banda Tuatha de Danann em Varginha (MG), em 1996, pioneira no estilo Folk Metal (heavy metal com música folclórica irlandesa) e já lançou no Brasil e na Europa (incluindo turnês) sete álbuns e um DVD. Também em Varginha, organizou por 19 anos o Roça’n’Roll, um dos mais resistentes e renomados festivais de rock pesado do interior do país – contam que até o famoso ET era visto batendo cabeça nestas vibes, todo de preto, calçando coturnão e mandando uns das qualé irados para a galera, yeah!
Com a Tuatha, Bruno Maia já havia explorado muitas possibilidades musicais dentro do rock. Desde 2006, com a Braia, o músico passou a valorizar ainda mais sua diversidade artística: “Na Braia me sinto mais livre, parece que as porteiras estão todas abertas e posso ir e voltar pela vereda que eu quiser que ainda estarei em casa”, afirmou. “Já na Tuatha de Danann, embora tenhamos total liberdade de criação e autonomia, estou inserido dentro de um universo categorizador que, querendo ou não, tem seus limites e uma origem mais bem delineada”, emendou. “Com a Braia posso fazer música celta, baião, moda de viola e mesmo rock, sem pertencer a qualquer um destes estilos.”

Bruno Maia , mineiro de Beagá, com os dois discos da banda
Formado em Letras e com mestrado em Literatura, Bruno Maia também é pesquisador da História Colonial e da cultura popular mineira. Por meio deste olhar curioso, já produziu um documentário sobre o folclórico personagem mineiro Sete Orelhas (lembrado na imponente faixa Tira-Couro), nome de uma figueira que vive há mais de 300 anos em São Bento Abade, no sul de Minas Gerais, cenário que encerra e enterra o fim da vingança do personagem. A “mineirice” também se apresenta com personalidade em Um besouro na Esquina que homenageia em um só fôlego a banda inglesa The Beatles e o importante movimento musical criado em Belo Horizonte, o Clube da Esquina, contando com a participação especial do baixista Felipe Andreoli, da banda Angra.
O primeiro disco da banda que turbina o café da canequinha de esmalte com baileys, boxty e broa de milho e pita cigarro de palha tomando Guinness, Braia…e o mundo de lá, foi lançado em 2007 no Brasil e na França e conquistou o Prêmio Mineiro de Música Independente. A turnê veio em seguida, o que rendeu um DVD ao vivo. Em português, as letras apresentavam motes da cultura celta: fadas, duendes, autores irlandeses como James Joyce e Willian Butler Yeats e magia em geral. Falalafada é um bom exemplo dessa produção, assim como Tempos Idos, que neste segundo disco é uma das faixas bônus, mas com viola caipira e percussão mineira. Uma pequena ponte separa esses dois universos, segundo Bruno: “Neste disco novo, embora a influência celta e da tradição musical irlandesa esteja talvez até mais presente que no primeiro trabalho, o enfoque foi maior na brasilidade, em ritmos e nuances da música brasileira e, por isso o título veio contrapor ao título do anterior”, explicou. “Se antes evidenciávamos o ‘‘mundo de lá’’, agora é a vez do ‘‘mundo de cá”
Tanto no disco físico quanto no site oficial, é possível ler os textos explicando o porquê das escolhas dos títulos das obras. O endereço virtual é https://www.braia.net.br/release/e-o-mundo-de-ca/
Braia…e o mundo de cá foi produzido com recursos de um grupo de apoiadores e por meio da Lei Aldir Blanc – Minas Gerais. Os músicos são Bruno Maia (violão, viola caipira, banjo, bouzouki, bandolim, flautas irlandesas, escaleta, guitarra e teclados); Alex Navar (gaita de fole irlandesa); Anderson Silvério (contrabaixo); Fabrício Altino (bateria) e Rafael Castro (teclados), com participações de Felipe Andreoli e Daiana Mazza (violino). As músicas do grupo são compartilhadas gratuitamente na internet, mas quem quiser incentivar e apoiar o grupo adquirindo os álbuns físicos e/ou digitais basta visitar a loja virtual em braia.net.br.
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¹ A música irlandesa tem suas origens na música céltica da Idade Média, comum também à região da Bretanha, Escócia e ao País de Gales. A maioria das músicas instrumentais irlandesas eram ouvidas apenas como acompanhamento das danças. A divisão dessas duas artes (música e dança) ocorreu, principalmente, a partir dos anos 60, quando começaram a surgir diversos pubs que se espalharam por toda a Irlanda e difundiram a música tradicional do país.
Três ritmos de dança se destacam na música irlandesa: a “jiga”, que tem suas raízes na Itália da Idade Média; a “reel”, na qual dois temas principais são entremeados por seções de improviso; e a “hornpipe”, que pode apresentar andamento tanto moderado como rápido, exigindo neste caso, maior habilidade de dançarinos e músicos.
A instrumentação utilizada na música irlandesa é diversa e conta com instrumentos das famílias dos sopros (como flautas, gaita de foles, acordeon, hornpipe e concertina), das cordas (como violão, banjo, bandolim, harpa e violino, este último chamado de Fiddle) e da percussão (bones, bodhán e etc).
Fonte:Caderno de Música, EBC Brasil de 18/06/2019
²Jig ou jiggs também é o nome genérico dado a uma pequena comédia burlesca, para de dois a cinco personagens, cantada em versos com melodias bem conhecidas, com números de danças animados; foi popular na Inglaterra e na Europa continental a partir de 1550.