1440 – Fábio Porte mergulha com a viola caipira no Choro e garimpa raridades de Ernesto Nazareth

#ViolaCaipira #MPB #Choro #Xote #Maxixe #Guarânia #Toada #RasqueadoPaulista #ErnestoNazareth

Álbum de 2017 traz releitura de Brejeiro, mas maioria das faixas passeia por composições menos afamadas do carioca

As tradicionais audições que promovemos aos sábados pela manhã aqui no boteco do Barulho d’água Música, no Solar do Barulho, em São Roque (SP), começaram neste dia 18 de setembro com Choro Caipira: Fabio Porte interpreta Ernesto Nazareth, um álbum de 10 faixas instrumentais lançado em 2017 e que pode ser ouvido clicando o ponteiro do mouse sobre o nome do disco. Porte é natural da cidade de São Paulo e mora em Jundiaí, cidade do interior paulista, onde protagoniza a carreira de músico como um dos melhores violeiros da atualidade. É autor, também, de Caboclo Folgado (2012), Jacarandá do Brasil (2013) e Trilhos da Vida (2015). Choro caipira… foi gravado com as participações de Fábio Mandika (violão de 7 cordas), Cássio Soares (percuteria) e Isaías Amorim (contrabaixo). É possível ouvir a homenagem de Porte a Nazareth também no sítio virtual do programa Revoredo, apresentado em 22/12/2017 pelo maestro José Gustavo Julião de Camargo nas emissoras de rádio da Universidade de São Paulo (USP) cujo linque estará disponível ao final desta atualização.

O pianeiro¹ Ernesto Nazareth, carioca nascido em 20 de março de 1863 na cidade do Rio de Janeiro (RJ), onde também faleceu em 1 de fevereiro de 1934, é um dos principais compositores brasileiros e o trabalho de Porte é o primeiro do gênero dedicado à obra do carioca com adaptações das composições na viola caipira. Desde que foi lançado, o álbum vem colecionando elogios da crítica especializada pelo seu aspecto inovador. Em suas apresentações fora do período de pandemia da Covid-19, o público que pode ouvi-lo tocando as músicas também aplaudiu efusivamente o trabalho no qual Porte comprova a originalidade e a versatilidade da viola caipira como instrumento de composição, execução e acompanhamento.

Ernesto Nazareth é um dos principais compositores brasileiros e o trabalho de Porte é o primeiro do gênero dedicado à obra do carioca com adaptações das composições na viola caipira.

Apaixonado por viola caipira, o músico jundiaense iniciou a carreira influenciado pelo pai, Luiz Porte. A obra de Nazareth é uma de suas preferidas. Em suas palavras, “Ernesto Nazareth revolucionou a forma de tocar piano e é um compositor virtuoso, de uma grandeza musical admirável e talento reconhecido no mundo todo”. Choro Caipira… mistura viola de dez cordas com baixo acústico e percussão, capturando a essência do regionalismo e da música de Ernesto que vai do erudito ao popular; para tanto, Fabio Porte fez profunda imersão no mundo do Choro, na compressão de suas estruturas harmônicas e melódicas visando a introduzir a viola caipira como uma nova protagonista, remodelando estes dois universos musicais. “Encontramos uma sonoridade para o projeto que é uma vertente diferente da viola introduzida no Choro, que é o primeiro movimento brasileiro urbano”, observou Porte.

Além do sucesso mais conhecidos de Nazareth, Brejeiro, o repertório do álbum de Porte traz canções menos conhecidas que incluem maxixes, choros, lundus, sambas e valsas, tais quais Ouro Sobre Azul, Catrapus, Furinga, Nenê, Brejeiro, Escovado, Primorosa, Matuto e Suculento. “O Ernesto Nazareth levou o ritmo amaxixado do morro carioca para os salões da cidade. Este ‘Choro Caipira’ recupera as joias do primeiro movimento musical urbano genuinamente brasileiro, permitindo ao público conhecê-lo melhor por meio do elemento tradicional da viola.”


Profissionalmente, o projeto marca uma nova etapa na carreira artística do violeiro — em entrevista ao portal Acontece Jundiaí ele revelou que, inclusive, tem projetos semelhantes em mente para dedicar, por exemplo, às memórias de Pixinguinha, João Pernambuco e Zequinha de Abreu, entre outros. Antes de Choro Caipira…, Porte (SP) já se afirmara como um dos melhores da nova safra de violeiros paulistas com Trilhos da Vida, disco que lhe rendeu sucessivos elogios no meio regional e motivou diversos convites para ida a programas de rádio — entre os quais o Siga bem Caminhoneiro, durante o qual foi entrevistado por Sergio Reis.

Trilhos da Vida também mereceu um programa exclusivo em emissora de Amparo (SP) e mostra bem as dimensões que a viola caipira possui: além de folclore e sertão, o instrumento contem MPB em seu DNA. Ritmos como guarânia, xote, toada e rasqueado paulista estão presentes nas dez faixas do disco e dão forma a inspiradas canções e melodias que retratam o Centro-Oeste do Brasil, o Pantanal mato-grossense, os casarões antigos da Avenida Paulista e as riquezas da literatura mineira, além da história do Tropeirismo — movimento dos Bandeirantes que viajavam com seus muares de Viamão a Sorocaba, no interior de São Paulo, trilhando e desbravando o caminho do ouro. Com a tessitura da viola caipira mesclada com flauta transversal, gaita, ukulelê, violoncelo e acordeon, entre outros instrumentos, Fábio Porte também recorre à linguagem da música nordestina para reverenciar o poeta cearense Patativa do Assaré em Patativa e os olhos da Alma. E arremata a obra com Oração do Sertanejo, dele e de Pedro Campos.

O álbum ainda soa como um brado em defesa do meio ambiente, bandeira que os artistas regionais vêm empunhando com afinco, repercutindo mensagens como a da preservação dos nossos mananciais, posto que as águas são nossa maior fonte da vida, mas se tornaram recurso cada vez mais escasso; meteorologistas têm alertado que o regime de chuvas durante a Primavera que chegará dia 22 de setembro será abaixo da média na maioria das regiões do país, o que poderá dificultar a recuperação da maioria das represas a níveis ao menos próximo dos satisfatórios para o abastecimento das maiores cidades sem alguma forma de restrição. Recanto das Águas, por exemplo, retratando a Serra do Japi (considerada o “Castelo das Águas” na região Sudeste de São Paulo), acentua poeticamente este recado, enquanto descreve particularidades como a fauna e a flora do bioma.

Porte é nascido na cidade em São Paulo, mas desde criança alimenta-se com raízes sertanejas. Ainda menino, teve contatos com consagrados violeiros durante noites de cantorias das quais participava levado pela sua grande inspiração, com a qual aprendeu os primeiros acordes e o caminho para o universo musical: o pai. Também violeiro e luthier, o artesão Luís Porte conviveu, entre outros, com o mestre Bambico. Foi o senhor Porte quem fez a primeira viola em que o filho começou a “arranhar” as cordas. À medida que cresceu, Fábio Porte também recebeu influências de elementos das culturas dos estados de origem dos seus pais, Minas Gerais e Paraná.

Já experiente no trato das dez cordas, Fabio Porte passou a se dedicar entre outros instrumentos ao violão e ao cavaquinho, tornando-se cantador não apenas de música caipira, mas também de MPB e de choros, habilitando-se para ministrar aulas em conservatórios de São Paulo e de Jundiaí. E desenvolveu métodos musicais de sua própria autoria, além de jingles e de trilhas para programas de televisão, com arranjos e produção. Participou como baixista e guitarrista convidado do projeto Tem Viola no Forró, do violeiro mato-grossense João Ormond, nascido da reunião de amigos e cantadores que em suas apresentações relembram clássicos do autêntico forró de raiz. Fábio Porte também toca violão, bandolim e guitarrinha baiana no álbum de Ormond.

A trajetória solo de Fábio Porte começou em 2012, com o disco que marcou sua inserção como cantor de música regional e de raiz. Caboclo Folgado contém músicas inéditas e releituras de sucessos da MPB, com destaque para a faixa título, de Luiz Porte e Gedeão da Viola. O segundo trabalho, Jacarandá do Brasil, completamente instrumental, destaca a intimidade que Fabio Porte desenvolveu com a viola caipira após dar os primeiros passos em suas incursões com o pai e a evolução obtida após anos de estudos, hábito que jamais abandonou e o levou, inclusive, a buscar aprimoramento com João Paulo Amaral, regente da Orquestra Filarmônica de Violas (Campinas).

As faixas de Jacarandá do Brasil são homenagens ao país e à pluralidade da nossa cultura. Como a riqueza rítmica do Brasil é diferente de um estado para outro, para mostrar com fidelidade estas particularidades presentes em cada região, às composições ganham cuidadosa maneira de serem interpretadas por Fabio Porte.

#CULTURAEMCASA

Choro Caipira: Ernesto Nazareth por Fabio Porte, também pode ser conferido em formato de vídeo de 36 minutos, recentemente para a série Choro Caipira da plataforma #CulturaEmCasa, do Ministério do Turismo, Secretaria Especial da Cultura, por meio do ProAcLAB (Lei Aldir Blanc) e Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa.

Ficha técnica do vídeo: Fabio Porte: direção, arranjos e viola caipira/Fabio Mandika: violão 7 cordas/Jonatan Carvalho Goes: percussão/Josi Correia: Produção executiva/Gustavo Diniz: Produção/Fagner Valilo: Cenografia/João Hsia: Gravação,  mixagem e  masterização/Gravação: Estúdio Juá, em São Paulo/Edu Luz/ Fotografia, edição e finalização de vídeos/Design gráfico: Thiago Reis/Fotografia: Mário de Almeida

Clique aqui e assista ao vídeo

¹ O termo “pianeiro” é assim definido pelo Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira:

Pianista popular que ganhava a vida tocando em cinemas, festas familiares, bailes, casamentos, batizados, festas de aniversário, agremiações musicais (ranchos, sociedades dançantes e etc.) e lojas de música. O termo “pianeiro” muitas vezes era pejorativo (vindo dos meios eruditos), pois muitos desses instrumentistas não liam partituras, embora improvisassem e demonstrassem técnica (nem sempre aquela ensinada nos conservatórios). Os “pianeiros” cumpriam um papel social importante, pois, além de animar a maioria das festas sociais da época, também ditavam, de certa maneira, os sucessos musicais daquele tempo. Isso porque os “pianeiros” eram contratados para tocar as novas músicas editadas nas casas especializadas em venda de partituras, onde os fregueses iam buscar as novidades musicais.

Um de nossos ilustres “pianeiros” foi Sinhô, o Rei do Samba, que, na opinião de Augusto Vasseur (ilustre professor de piano no século XX), era exímio pianista, dono de técnica original e grande musicalidade. Muitos pianeiros eram também pianistas formados em conservatórios, como é o caso de Aurélio Cavalcanti (exímio pianista e modinheiro preferido de D. Pedro II) e Chiquinha Gonzaga, primeira maestrina brasileira e compositora de inúmeras obras em gêneros brasileiros. Brasílio Itiberê acredita que as características principais do “pianeiro” eram o dengo, a maciez, o espírito frajola, o humor e a graça ágil no tocar. Segundo Edinha Diniz, o pianista de choro passou à história como “pianeiro”, por conta de sua formação técnica precária (no sentido da erudição). Esses “pianeiros”, no entanto, conseguiam criar interpretações cheias de bossa, já que o principal era o balanço exigido. Dentre outros “pianeiros” famosos, além de Chiquinha Gonzaga e Aurélio Cavalcanti, podemos citar: Porfírio da Alfândega, J. Garcia Cristo, Xandico, Bequinho e os Cardoso de Menezes, família que legou grandes “pianeiros” à música popular brasileira, representados em três gerações de talento e virtuosismo pianístico (Antônio Frederico, Osvaldo e Carolina Cardoso de Menezes).

Clique nos linques abaixo e ouça dois programas Revoredo dedicados a trabalhos de Fabio Porte:

https://jornal.usp.br/radio-usp/radioagencia-usp/violeiro-paulistano-fabio-porte-homenageia-a-cultura-brasileira/

https://jornal.usp.br/radio-usp/radioagencia-usp/obras-de-ernesto-nazareth-interpretadas-por-fabio-porte/
 

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