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Os músicos e parceiros Cacala Carvalho, Felipe Radicetti, Marianna Leporace e Rômulo Gomes acabaram de lançar o selo Zênitha Música (clique na palavra sublinhada e visite a página do selo), um desdobramento da Zênitha Produções, fundada e liderada por Marianna Leporace e Sandra De Paoli, em 2001. Os 20 anos de atuação da Zênitha em produção cultural, no mercado de shows, gravações e editais, trouxeram a experiência e a história, para que a empresa agora criasse novos braços de ação na área de produção fonográfica com o selo Zênitha Música. Com foco inicialmente na produção musical dos quatro artistas, a Zênitha Música tem por objetivo criar uma forma mais orgânica de produção e distribuição de música, promovendo diálogo aberto e direto com o público e com uma proposta mais justa de venda de músicas e produtos.
O sítio virtual da Zênitha Música nasceu junto com a nova empresa, em 23 de setembro de 2021, para disponibilizar todos os singles e álbuns produzidos pelo selo para a venda digital (downloads) e de produtos físicos como álbuns e livros, entre outros itens. O sítio oferecerá, também, uma rádio virtual (online) que funcionará como uma playlist, com as músicas dos artistas do selo e, de tempos em tempos, novas músicas serão acrescentadas. A ideia é concentrar todos os esforços nessa proposta mais direta onde a música vai “do produtor, ao consumidor”.
Uma definição do selo pelos quatro artistas:
“Zênitha Música é o primeiro selo musical 100% orgânico e livre de audiotóxicos. Na Zênitha fazemos música do nosso jeito desde a fase de produção, passando pela distribuição até a divulgação. Convidamos vocês a consumirem nossa música artesanal, feita de forma a fortalecer os vínculos emocionais que geram conexões reais entre nós. Valorizamos o ofício dos artistas, trabalhadores da música, em todas as suas etapas. Criamos com zelo, compromisso, paixão, senso de coletividade, afeto e honestidade.”
Caminhos da Canção é a pedra fundamental dessa nova construção. Uma parceria de Cacala, Felipe, Marianna e Rômulo, a canção fala justamente sobre o que os quatro esperam realizar com o novo projeto. Uma música com ar benfazejo, exatamente o que eles desejam para a Zênitha Música, a partir deste que será o primeiro de muitos lançamentos que virão!
BORBOLETAS NO ESTÔMAGO
Por Marianna Leporace
Como todo mundo da minha geração, me atirei na aventura musical sem saber muito sobre os “perigos dessa vida” e deixei que a estrada e o tempo se encarregassem de me ensinar. E como são numerosos esses perigos!!! Passei por muitas ciladas nas mãos de produtores sem noção, ouvi muito galo cantar sem saber exatamente onde e fiquei muitas vezes “a ver navios”, com contratos descumpridos, entre outras falcatruas.
Em alguma curva do caminho, descobri que sabia fazer produção e que podia me virar. Mas estar nos palcos e nos bastidores ao mesmo tempo não é tarefa fácil e com o tempo isso foi se tornando inviável pra mim.
Foi aí que me dei conta de que minha cunhada, a então farmacêutica, Sandra De Paoli, tinha perfil de produtora: adora música e os ambientes musicais, organizada, boa vendedora, boa pra calcular riscos, entre outras características essenciais pro ofício. Então falei: “Você será uma ótima produtora!” e a resposta foi algo como: “Não sei quem é mais doida, você de pensar nisso ou eu de considerar a hipótese, mas você sabe que gostei?”
Iniciamos essa parceria e, encurtando a história, criamos a Zênitha Produções em 2001! Inicialmente uma produtora para cuidar de minha carreira e meus projetos, mas que com o tempo e a experiência acumulada, também abraçou projetos de outros artistas. Foram muitos shows, editais, viagens, parcerias e muita história pra contar, vinte anos que passaram num sopro!
Com todas as dificuldades que o mercado da música já vinha nos “ofertando”, nesses tempos áridos de pouco investimento em cultura, resgatei um sonho muito antigo, de fazer da Zênitha também um selo musical, uma gravadora que pudesse abrigar a música que eu faço, a obra de minha família e de meus pares.
Para esta nova etapa eu convidei três grandes parceiros que estão exatamente no mesmo ponto que estou, na investigação de novas formas sobre o “agir e pensar o mercado da música”. São eles: Cacala Carvalho, Felipe Radicetti e Rômulo Gomes. Amigos há muitos anos, estamos todos na mesma sintonia e com os mesmos questionamentos, procurando novas maneiras de exercer nosso ofício com dignidade.
Nosso selo, Zênitha Música, chega num momento de nossas vidas em que já experimentamos de tudo muito e temos a noção exata do tamanho do desafio que teremos pela frente para produzir e distribuir a nossa música da forma artesanal que acreditamos ser a melhor para nós! As dúvidas são muitas, mas nosso desejo fala muito mais alto! Então, lá vamos nós, cheios de borboletas no estômago, com uma animação juvenil típica dos primeiros tempos, com um single a quatro mãos, Caminhos da Canção, marcando nossa data de estreia nesse mundo novo! Só alegria!!!!
Sinto que dei uma volta quântica no tempo e seguirei enfrentando os “perigos dessa vida”, mas dessa vez com mais ferramentas para encarar a aventura e seguramente em excelente companhia!
Saravá!
ZÊNITHA MÚSICA E O TEMPO QUE É – OU DE COMO ANDAR PRA TRÁS E PRA FRENTE AO MESMO TEMPO
Por Cacala Carvalho
No meio dessa loucura de pandemia e tal, estamos, eu, Felipe Radicetti, Marianna Leporace e Rômulo Gomes, lançando um selo! Um feito desses não é pra ser um projeto secreto. É um passo enorme pra frente! É pra ser comunicado, né! Mas…como? Aqui é que está o cerne da coisa. É do NOSSO JEITO.
Este selo é um projeto anti-fórmulas, que está se iniciando hoje, dia 23 de setembro de 2021. E ele vai acontecer como um desvio do que temos percebido habitualmente nas estratégias de distribuição de música digital.
Você pode me achar maluca, ou ingênua, até mesmo boba, mas na minha cabeça o melhor jeito de fazer as coisas é andando pra frente e pra trás ao mesmo tempo!
Venho trabalhando pesado todos os dias, pensando em como andar pra frente com meu trabalho como artista, cantora, compositora, professora de canto, DO MEU JEITO. Não raramente me sinto sufocada e perdida de mim mesma por “ter que fazer as coisas assim ou assado” para ter visibilidade, cliques, seguidores, plays, em busca de todas essas grifes numéricas que mais engolem uma artista como eu do que me expandem, e de fato não me representam. E olha que eu sou super permeável às novidades e aos cenários que vão mudando o tempo todo. Mas sinto em mim que devo seguir firme andando pra trás (voltando várias casas) nesse jogo digital e globalizado, na busca do sentido presente na minha história, do que é único, singular, e aí encontrar como fazer o que é legítimo pra mim mesma. Só sentindo e olhando o “pra trás” aqui da frente, me encontro com o presente e posso sonhar um futuro. E encontrei os pares perfeitos pra isso.
Vou contar tudo melhor pra você. Eu tenho poucas certezas, muito poucas, mas sei que o que me constrói especialmente, hoje, não mora no passado. Meu ancestrais não são passado; meu pai, minha mãe, não são passado; meus tombos, alegrias, as memórias de tudo que vivi, não são passado. Meu tempão dedicado a cantar, compor, estudar e ensinar canto não é passado, muito pelo contrário…tudo isso é o que afirma meu PRESENTE, quem eu sou AGORA, no único tempo que é. Talvez algumas coisas que eu tenha esquecido pareçam viver em um lugar do passado, mas creio que sigam por aqui comigo, hoje, sem que eu as perceba bem. Sinto sinceramente que o tempo me atravessa e me expande, não me achata. E me abre as portas do sonho.
Então, o Selo Zênitha Música é um sonho começando a se realizar hoje, lançando seu primeiro single, Caminhos da Canção, num formato bem diferente do que você tem visto tantos outros sendo lançados por aí. O selo hospedará música num espaço de singularidade, do que é especial, sincero e único. Não faremos mil anúncios pagos. Sim, faremos conexão e contato intenso com nosso público. Não teremos intermediários. Nossas vendas serão diretas. Quem curte a nossa música poderá fazer downloads, acessar as fichas técnicas e ouvir trechos das músicas nos players. O Selo Zênitha Música resgata, a partir da experiência vivida pelos quatro artistas agora unidos, todo afeto que permeia o caminho entre a canção e o ouvinte, ainda que por uma conexão digital, que seja da forma mais direta e sustentável, sem intermediários. Nada será comum. Vamos seguir em frente e pra trás, andando ao mesmo tempo no caminho único que chamamos de nosso! O tempo é essa espiral que se traduz no HOJE!
O tempo nos expande em valor. Esse tempo nos faz crer que os interessados em música queiram saber o que e como temos a dizer, queiram conhecer nossa música feita artesanalmente, muito bem cuidada em todas as etapas de produção, e queiram contar isso pra amigos e amigas que podem ter esse mesmo interesse!
É nisso que eu confio e é isso que eu e meus parceiros entregamos a você, com muita alegria, nesse dia em que damos mais um passo à frente: nosso passado e nosso futuro hoje, no tempo que é!
SOBRE OS MÚSICOS, INTÉRPRETES E O STREAMING
Por Felipe Radicetti
Acho que já li uma meia dúzia de artigos com o título “precisamos falar de streaming”, de diversos autores, com títulos bem assemelhados, como variações sobre o tema. Não precisamos de outro, mas muitos músicos precisam conhecer os fatos e as distorções que envolvem os pagamentos decorrentes da exploração de seus direitos patrimoniais e conexos.
A música nunca foi um negócio como outro qualquer. Trata-se de obra, de valor formativo para a sociedade, mas claro, como tudo o que está sob o sol, pode tornar-se mercadoria. O desenvolvimento da música como prática social sempre foi mediado por tecnologia, aquela disponível nos diversos tempos históricos. Hoje, o processo de convergência tecnológica e de mídias deslocou o centro de difusão da música para a internet e são as plataformas de streaming que constituem o centro difusor e de comercialização mundial de música. As contradições de ordem financeira a que somos submetidos para comercializar nossa produção independente foram a motivação maior que nos fez decidir por um modelo alternativo que ora se consubstancia no selo Zênitha Música.
A legislação consagrou na modalidade de comunicação ao público – que inclui a radiodifusão, a execução pública, entre outras formas, o que permitiu a arrecadação e distribuição pelo ECAD de direitos conexos para os titulares, como músicos, intérpretes e produtores fonográficos. Acontece que no streaming, uma lógica perversa se impôs à revelia da legislação brasileira para Direitos Autorais: essa se consubstancia na interpretação de que não há execução pública no streaming (!).
Se assim é, músicos e intérpretes não recebem mais direitos conexos. Músicos e intérpretes somos nós e todos aqueles que integram nosso círculo de relações profissionais e afetivas. Esses profissionais são a nossa família estendida, e não desejamos que sofram esse processo de precarização profissional. Se todos começarem a repetir a mesma narrativa, a de que não há execução pública no streaming, é ela que será instituída, mesmo em contradição com a lei vigente. É o que está ocorrendo agora.
E aqui um parêntese: o streaming é um sistema que contém um complexo de operações de distribuição, reprodução e execução pública. É por isso que você, músico e intérprete, faz jus ao direito conexo. E essa questão já foi pacificada pelo STJ e pelo STF! Os defensores dessa interpretação alternativa afirmam que esse dispositivo legal não é Lei, mas “apenas” instruções normativas. Há instruções normativas vigentes na legislação fiscal que, se você descumprir, será preso. Então, por que as instruções normativas que reconhecem a execução pública no streaming que estão vigentes não devem ser cumpridas?
Mas o problema não é só esse. Apesar do streaming ser um ótimo e moderno sistema, a repartição do faturamento é profundamente injusta não apenas aqui no Brasil e vem despertando a reação de artistas de todo o mundo. Os valores arrecadados no streaming são distribuídos da seguinte forma: 30% da plataforma, 58% para as companhias discográficas e os 12% restantes divididos em 9% para as editoras e os 3% restantes para o ECAD que não repassa os direitos conexos que deveriam ser cobrados e distribuídos, porque essa cobrança foi interditada pelas discográficas. (Há um acordo operacional imposto ao ECAD pelos editores da UBEM, que antes ficavam com os 12% integrais e resolveram doar essa esmolinha ao ECAD por pressão das sociedades ASCAP, BMI e PRS que não estavam recebendo execução pública no streaming). Voltando à divisão do bolo, por quê as gravadoras ficam com 58%? Porque foram as discográficas que negociaram os repertórios através dos chamados Global Deals, contratos de vigência mundial dos quais você não participou. Parafraseando o compositor Dudu Falcão, já que você não participou, você foi participado. Então não há mais nada aqui para você, músico e intérprete. E agora, você, que está sozinho nessa: qual o seu poder de negociação?
Na época das rádios de grande audiência, havia o jabá, lembra? Paga para tocar e para fazer sucesso: o jabaculê! Hoje temos a compra de espaço em playlists, a compra de likes e de audições em massa. A lógica se reproduz ad nauseum et ad eternum.
A quem interessa instituir esse desregramento todo na economia da música? O que interessa é a quem cabe lutar por mudanças? O dramaturgo alemão Bertolt Brecht nos sugere uma pista no filme Kuhle Wampe ou A Quem Pertence o Mundo, de 1932. Nas cenas finais, há uma discussão entre passageiros em um trem, e um rapaz diz: “- este cavalheiro não vai mudar o mundo, ele está satisfeito!” O cavalheiro então retruca, “- e quem quer mudar o mundo?” Uma jovem operária que a tudo assistiu responde: “- os que não estão satisfeitos”.
SOBRE A MÚSICA CAMINHOS DA CANÇÃO
Caminhos da Canção foi composta a quatro mãos por Cacala Carvalho, Felipe Radicetti, Marianna Leporace e Rômulo Gomes. Rômulo trouxe um verso, os outros foram colaborando com música e letra e fecharam a canção que representa a “pedra fundamental” do lançamento do selo. A letra diz exatamente o que eles sentem e esperam da Zênitha Música, o que torna a canção significativa e emblemática para a história do quarteto.
Caminhos da Canção
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