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Cantiga do verso avesso, engavetado desde 1992, com participações de Alain Pierre e Jaques Morelenbaum, agora está nas plataformas digitais ao lado de outros quatro trabalhos anteriores da filha de Janete Clair e Dias Gomes. Ela lançou, também, em vídeo, o single Setembro Antigo
*Com Julinho Bittencourt, da Revista Fórum (1 out 2021 – 12:57), em https://revistaforum.com.br/cultura/cantora-denise-emmer-comemora-40-anos-de-carreira-com-album-inedito/
Há um pouco mais de quatro décadas a poetisa, compositora, cantora e instrumentista carioca Denise Emmer conquistou o Brasil com Alouette, canção tema da novela Pai Herói (1979), da Rede Globo. Tocada em emissoras de rádio de todo o país e lançada no ano seguinte em compacto simples, a canção romântica, em francês, alcançou 300 mil cópias vendidas e rendeu à autora um Disco de Ouro e participações em programas de televisão como o Fantástico, também da Rede Globo.
Física de formação superior, nascida em uma família de artistas — seus pais são os escritores novelistas Janete Clair e Dias Gomes, seus irmãos os músicos Alfredo e Guilherme Dias Gomes –, Denise Emmer Dias Gomes Gerhardt já despontava precocemente, na adolescência, também na literatura com seu primeiro livro Geração estrela (Paz e Terra, 1976), com prefácio de Moacyr Félix e preparando seu sucessor, Flor do milênio (Civilização Brasileira, 1981), com texto de orelha assinado também pelo saudoso poeta.
Naquele momento, Denise Emmer se negou a trilhar o fácil caminho do sucesso imediato — gravadoras, produtores e empresários insistiam na carreira de intérprete em francês nos moldes de Alouette – e decidiu criar identidade própria, tanto na música quanto na literatura, publicando, até os dias de hoje, 22 livros e lançando uma discografia robusta que chegou às plataformas digitais a partir de setembro, assim como o single inédito Setembro Antigo. Os discos já disponíveis são: Pelos caminhos da América (1980); Canto Lunar (1983)¹; a novidade Cantiga do verso avesso (1992); Cinco movimentos e um soneto (1995), com poemas de Ivan Junqueira musicados pela artista; e Mapa das Horas (2004). Cantiga do verso avesso, então inédito, estava guardado por ela em uma gaveta. Reúne os próprios poemas publicados no livro Canções de acender a noite e para as plataformas ganhou arranjos de Alain Pierre e o violoncelo de Jaques Morelenbaum – ambos parceiros constantes em toda a discografia de Denise – além da participação da própria artista na flauta doce, teclado e vocais.³
Com forte influência da música renascentista e ibérica, o disco de 1992 traz letras autorais e uma faixa escrita em Português antigo do século XV: Aquestas manhãnas frias, em cujo instrumental se destacam a viola da gamba, a flauta doce, o alaúde, violões e vocais que remetem a madrigais. “Ao escutá-lo hoje, tive uma grata surpresa por redescobrir, naquele disco, aquelas canções gravadas há quase três décadas, mas que não perderam o valor melódico e poético”, revelou Denise. Também merecem destaque as faixas Casa da infância, Cantiga da estrela barca, Cantiga da noite mágica, Canção do inverno, Gira noite e Cavaleiro do Rio Seco, na qual homenageia o compositor e cantor Elomar.

O álbum Canto Lunar traz a música homônima, uma das mais regravadas do repertório da autora que nasceu em berço de artistas e também é premiada poetisa
O ímpeto em revisar tantos anos de carreira musical – Denise também integra, desde 2001, como violoncelista, a Orquestra Rio Camerata, bem como quartetos de cordas, trios e outras formações camerísticas – rendeu novos frutos, como o single Setembro Antigo, composto a partir do poema de Álvaro A. de Faria, com a participação de Pierre (arranjo, violões, teorba, vocais) e Morelenbaum (violoncelo). Trata-se de uma canção em tom maior, que remete ao final a um grande coro e fala de uma busca por si mesma. “É uma canção mágica que surgiu de uma inspiração pura e espontânea”, disse. “A melodia surgia em minha mente de tal forma que corri para o piano para escrevê-la”. Nas palavras da artista, a música “sugere alguma alegria e esperança em meio a todo esse momento sombrio de tanto desalento e perdas. O Setembro como uma metáfora de bonança e jardins, após um grande período de escuridão e descrença”, completou, referindo-se à pandemia de Covid-19 que no Brasil já ceifou mais de 600 mil vidas. O single ganhou também versão em videoclipe, já disponível no YouTube, e despertou a artista para novas composições e novos trabalhos.
Atividade sempre desempenhada em paralelo às canções, a literatura² alçou Denise Emmer aos mais elevados patamares da profissão e ela recebeu muitos prêmios com publicações também em Portugal, traduções na Espanha, Turquia e Estados Unidos da América. Seu quarto livro, A equação da noite, é um divisor especial para a poetisa quando assume a própria dicção e cria poesias sobre as grandezas maiores do amor e da morte, como consequência de grandes perdas. Seu livro Invenção para uma velha musa (Editora José Olympio) rendeu dois importantes prêmios: o da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) e o Olavo Bilac da Academia Brasileira de Letras. Além destes, abrilhantaram ainda o seu currículo os prêmios José Marti de Literatura (conferido pela Casa Cuba Brasil-UNESCO); o Prêmio Nacional de Literatura do Pen Clube do Brasil (Poesia e romance); e o Prêmio ABL de Poesia 2009 com o livro “Lampadário” (Editora 7 Letras), dentre outros.
¹ Canto Lunar, canção que batiza o disco de 1983, tornou-se conhecida, ainda, em regravações nos álbuns Mama Hueé (1988) e Vuelvo para vivir (1999), do grupo Tarancón; Madregaia (2007), duplo, de Daniela Lasalvia; e Cantariar (2016), de Katya Teixeira.
² Assim que a pandemia de Covid-19 estiver sob controle, a filha de Janete Clair e Dias Gomes pretende percorrer os palcos do país com um novo concerto, com algumas de suas músicas e Setembro Antigo. Denise Emmer também adiantou que pretende em 2022 publicar um novo livro de poemas e um romance para o qual já escolheu o título: O barulho do fim do mundo, que será publicado pela Editora Record em março de 2023.
A discografia de Denise Emmer conta ainda com o álbum independente, de 1982, Toda cidade é um pássaro.
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