1494 – Conheça Concha Buika, cantora negra espanhola que como ode à liberdade canta o que corre em seu sangue

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Escrevo para não odiar e canto para não enlouquecer”, disse  a filha de imigrantes africanos que conquistou o mundo com voz incisiva, carregada de espiritualidade e um repertório que promove o casamento entre África e América Latina. Seus álbuns trazem o sentimento de orgulho de suas origens e o respeito pelos ancestrais.

O Barulho d’água Música pede aos amigos e seguidores licença para dedicar esta atualização não a algum álbum ou expoente da diversificada cena musical brasileira fora da caixa, mas a Concha Buika, espanhola que traz em seu repertório muito de nossas raízes, não apenas as africanas, mas ainda as latinas — o que, cá entre nós ainda nos deixará em casa. Para apresentá-la melhor, destacamos dois dos oito álbuns já gravados por Buika, estes lançados em 2009 e em 2013. Em sua poderosa e apaixonante voz, em algumas faixas ao som das palmas e do melhor violão flamenco, com pitadas saborosas de jazz, daremos um pulo, por exemplo, até a ilha de Cuba (conduzidos pelo maravilhoso piano de Chucho Valdés) e ao México, conhecendo de tabela um pouco da obra da não menos libertária ativista sexual e cultural Chavela Vargas, que morreu aos 93 anos tacando o terror no caretismo e no conservadorismo. E isto é muito Barulho d’água, portanto, reactionaries: take advantage of the fact that the Earth is flat, turn right and just stop in hell!

Os discos destacados da belíssima Concha Buika são El Ultimo Trago (traduzido livremente seria “a saideira”, o último gole, bebida ou drinque) e La Noche Más Larga (A noite mais longa). Para abordarmos ambos, vamos recorrer a textos dos portais Afreaka (cujos trechos publicaremos em azul, para marcar que não é de autoria deste blogueiro, talquêi?), assinado por Kauê Vieira, e do Portal Terra que neste caso não tem a autoria atribuída e virá entre aspas apenas em certos períodos –, além de excertos do portal GPS Sonoro. Espero, sinceramente, que seus autores não nos tirem por periodistas da GPA (Gilette Press Association), não nos enquadrem por isto e acabem obrigando a enciumada Dra. Beillo a sair em defesa do seu jornalista…

Concha Buika e Chucho Valdés apresentam neste primeiro trabalho conjunto, El Ultimo Trago, doze canções do repertório de Chavela Vargas (cantora mexicana que ganhou fama com o estilo ranchero), com produção de Javier Limón, conforme o GPS Sonoro. A ideia para o projeto surgiu em um dos aniversários de Bebo Valdés (pai de Chucho), quando este e Limón tiveram a ideia de fazer um disco com Buika, que é uma das intérpretes em espanhol com ancestrais africanos dos mais peculiares; Bebo morreu pouco tempo depois, em 2013.

CANTORA NA RAÇA, INSPIRADA POR TINA TURNER

Nascida em Palma de Mallorca, na Espanha, Concha Buika, filha de imigrantes africanos, conquistou o mundo com sua voz incisiva, carregada de espiritualidade e um repertório que promove um verdadeiro casamento entre África e América Latina. Com ascendência de Guiné Equatorial, um pequeno país do Oeste africano, ela só conheceu seu pai, um exilado político, aos 12 anos. A mãe, por sua vez, fazia parte de uma comunidade tradicional em Guiné, o que despertou em Buika o sentimento de orgulho de suas origens africanas e o respeito pelos ancestrais.

A vontade de ser cantora é algo que acompanha a espanhola desde os primeiros momentos da infância. O interesse em cantar é fruto de sua insistente paixão por sonhar. No entanto, Buika lutou e muito para chegar onde está. Mesmo sem dominar completamente o inglês ela partiu para Las Vegas, nos Estados Unidos da América, onde participou de uma audição para interpretar Tina Turner. Intimidada com a concorrência, Buika encontrou forças para seguir lembrando-se de seu tempo de infância na Espanha, quando era a única criança negra e não se identificava com o padrão caucasiano de beleza dominante no país e, coincidência ou não, via em Tina Turner um conforto e inspiração para ultrapassar tais barreiras. Superando o medo, marcou presença e foi escolhida para o emprego.

Tempos depois, no ano de 2000, Concha Buika debutou nas paradas oficialmente. A espanhola estreou com o álbum Mestizuo, que ao ser bem recebido por crítica e público, revelou para quem quisesse ver todo o talento desta mulher, que também é poeta, compositora e produtora musical. [Hoje, já são quase 15 anos de carreira, tempo suficiente para Buika, uma mulher de pouco mais de 40 anos, ter seu trabalho reconhecido por todos, inclusive pelo prestigiado prêmio musical Grammy, que a condecorou como melhor disco latino, Niña de Fuego, lançado em 2008. Atualmente em turnê para divulgar seu mais recente trabalho, o disco La Noche Más Larga, a afro-espanhola acumula shows em cerca de 20 países, com destaque para suas apresentações no Brasil e África]*.

*Este trecho italizado remete  à época na qual Kauê Vieira assinou o texto, sem a data mencionada, para o portal Afreaka.

Falar ou descrever sua sonoridade é uma tarefa das mais complicadas. Com mistura de ritmos latinos, flamenco, jazz, blues e influências africanas, Buika se recusa a sintetizar sua obra e explica que esta singularidade vem das origens estabelecidas na África, que também, segundo a mesma, foi responsável por sua afirmação como mulher e negra. Durante entrevista concedida para a BBC África, ela disse: “Minha ascendência africana está no meu sangue, na minha pele, cabelo, em tudo. Sem ela eu não sei se seria possível cantar do jeito que canto e compreender a música da mesma forma!

Com a maçã do rosto saliente, olhos amendoados e um sorriso, que somado ao pequeno espaço entre seus dentes tão brancos, fica ainda mais gracioso, Buika usa sua voz como uma ode à liberdade. Sua voz, grossa e singular, conquistou o coração dos bambas da música mundial e brindou o público com canções de interpretações ímpares como Mi Niña Lola e a releitura deliciosa do clássico Ne Me Quitte Pas. A história de Concha Buika é o exemplo perfeito da força das mulheres negras, que anônimas ou não, cultivam um sentimento em comum, o direito de sonhar. Que assim seja!

ROUCA, IMPERIOSA E SUTIL

Em matéria publica em 19 de outubro de 2009, ano de lançamento do disco, o portal Terra classificou El Ultimo Trago como “altamente elegante mesmo à distância, em seu latinismo que atravessa geração, fronteiras nacionais e estilos”. O autor do texto, não identificado, prossegue observando: é “um álbum conceitual que transcende o seu conceito”, valorizando um repertório que já tinha mais de meio século de idade à época.

Buika, antes de 2009, gravara outros três discos experimentais de flamenco com Limón. De acordo com o portal Terra, ela usou o estilo jondo de flamenco, dinâmico, microtonal, altamente emotivo e acrescentou elementos pessoais. “Sua voz é rouca, imperiosa e sutil, e lembra um pouco a de Nina Simone, mas com maior domínio técnico”, acrescentou o texto.

Chavela Vargas, que Buika reverenciou, morreu com 93 anos, em agosto de 2012. É considera heroína cultural dos anos 1950 e 1960 devido ao seu estilo vocal cáustico e volátil e à sua franqueza de ativista homossexual. O portal Terra apontou que a mexicana transformou as implicações das canções rancheras, que foram compostas para serem interpretadas por homens, e Buika e Valdés as transformam ainda mais, acrescentando elementos cubanos e espanhóis de rumba, cha-cha-cha e flamenco. “A sessão de gravação, em Havana, aparentemente levou apenas dois dias. É difícil acreditar, se considerarmos como é grande a mudança nessas músicas.”

Valdés, que em outubro emplacou 80 anos, à época da parceria com Concha, era acompanhado por uma banda básica formada por um baixista e dois percussionistas e mais a ajuda ocasional de um trompete e de um violão flamenco. Ele ditou a atmosfera harmônica da canção e faz solos floridos, mas curtos. Já Buika, atualmente na casa dos 50, apresenta-se admirável em cada verso. “As primeiras três palavras que canta em El Andariego [O irrequieto], uma canção de amor perdido e arrependimento, Yo que fui (eu que parti) estabelecem de imediato o impacto emocional e o ritmo balançado. Em certos momentos, ela estende sua poderosa voz até quase o limite de ruptura, como no refrão de Se Me Hizo Facil“.

Mas também há momentos explosivos em diversas faixas de El Ultimo Trago, entre os quais a faixa título, gravada apenas com voz e piano. “O canto de Buika pode se tornar tão intenso que, apesar de sua qualidade, o ouvinte ocasionalmente se sente obrigado a sentar e a fazer uma pausa para tomar fôlego”, lê-se no artigo. “Mas até isso representa fidelidade à fonte, porque o mesmo se aplica aos vocais de Vargas. O que distingue Buika é sua disciplina, sua capacidade de chegar bem perto do exagero emotivo sem tropeçar. E sempre que as canções parecem caminhar para um derrame emocional, os arranjos de Valdés servem como um sutil anteparo”, complementou o texto do portal Terra.

GRAMMY LATINO

El Ultimo Trago rendeu o Grammy Latino de 2010 de Melhor Álbum Tropical Tradicional e poderá ser baixado do GPS Sonoro, cujo linque estará ao final desta atualização. O GPS também traz La Noche Más Larga, sexto álbum de estúdio de Concha Buika, com canções clássicas de diferentes estilos mas que marcaram vários momentos da vida da cantora, reinventando-os e dotando-os de paixão e emoção na mesma medida.  As canções que Pedro Almodóvar escolheu para o filme A pele que habito acabaram por catapultar Buika internacionalmente. Em um artigo publicado em 2010, o portal npr.com a definiu como a “Voz da Liberdade”, agrupando-a com 50 outras vozes em uma lista chamada 50 Grandes Vozes.

Imagem de Concha Buika que está na capa de La noche más longa (Foto: Javi Rojo)

La Noche Más Larga contém doze canções, das quais Buika assina cinco, incluindo duas composições que gravou para a película de Almodóvar e que reaparecem em versões radicalmente diferentes, embebidas na força de uma artista que desafia as ditaduras dos estilos. Assim, How it was e Sueño con ella passam a fazer parte dessa viagem que atravessa as águas do jazz, do flamenco, da música africana e cubana, rumo a um estilo próprio, “muito Buika”, com companheiros de viagem como o violonista Pat Metheny, que a acompanha em No Lo Se

O álbum também conta com sete versões que definem o universo sonoro de Buika. Músicas de Roque Narvaja, Rodolfo Páez, Billie Holiday, Abbey Lincoln, Dino Ramos, Ernesto Lecuona e Jacques Brel, e padrões de jazz em inglês como Don´t explain e Throw it away, composições que a mallorquina leva para seu território da paixão. Na companhia de “seus dois pilares, seus filhos, duas grandes eminências”, como ela os chama, que são Iván “Melón” Lewis (piano, teclados, percussão, arranjos e direção musical) e Ramón Porrina (percussão, coros, arranjos), Buika produziu este disco com Eli Wolf, registrado entre BB&B Studios em Miami e Sear Sound Studios em New York. Também colaboraram John Benítez (baixo), Juan José Suárez “El Package” e Carlos de Motril (guitarras flamencas), Carlos Sarduy (trompete) e Dafnis Prieto, Israel Suárez “El Piraña” e Pedrito Martínez (percussão). 

Baixe os linques dos discos de Concha Buika do GPS Sonoro:

https://gps-sonoro.blogspot.com/2021/11/concha-buika-y-chucho-valdes-el-ultimo.html

https://gps-sonoro.blogspot.com/2014/08/buika-la-noche-mas-larga.html

Ouça programa da Rádio EBC dedicado a Concha Buika e a assista à entrevista que ela concedeu a Jô Soares pelos linques abaixo:

https://radios.ebc.com.br/jazz-livre/2021/05/ouca-cantora-espanhola-concha-buika-no-jazz-livre

https://globoplay.globo.com/v/3652464/

A íntegra da matéria sobre Concha Buika assinada por Kauê Silva está em

http://www.afreaka.com.br/notas/buika-voz-da-liberdade/

Leia mais sobre Chavela Vargas em:

https://operamundi.uol.com.br/politica-e-economia/23490/cantora-mexicana-chavela-vargas-morre-aos-93-anos

https://www.nytimes.com/2012/08/07/arts/music/chavela-vargas-mexican-ranchera-singer-dies-at-93.html

Outras matérias do Afreaka que o Barulho d’água recomenda e, em breve, compartilhará:

http://www.afreaka.com.br/notas/orquestra-humanacao-popular-lanca-o-album-e-espetaculo-terra-preta-volume-1/

http://www.afreaka.com.br/notas/musicaslusofonas/

http://www.afreaka.com.br/notas/berimbrown-lanca-disco-inspirado-nas-tradicoes-bantus-de-minas/

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