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Disco feito para refletir, mas também para dançar, traz a mistura das raízes rítmicas negras brasileiras, pelo selo Camará Records
*Com Chiara Carvalho, Carvalho Agência Cultural.
Está disponível nas plataformas digitais Nego Moura & Os Camarás, projeto do mineiro Nego Moura e seu time de produtores que formam os Camarás, lançado por meio do selo próprio Camará Records. As 12 faixas trazem crônicas cotidianas com temas que denunciam o racismo estrutural e religioso e tentam reforçar o empoderamento que o povo negro vem buscando ao longo do tempo, no país e mundo afora, com músicas baseadas em uma pauta densa, mas feitas para dançar, inspiradas na mistura das raízes rítmicas negras mundiais com o funk, o soul, o house, o hip hop e o trap. Com esta receita, sem perder a verve de protesto e de denúncia, o álbum permite curtir uma bem elaborada sonoridade afro pop, aliada ao batuque orgânico de tambores que ruflam em terreiros e da percussão de diversos ritmos brasileiros, que ainda se mesclam a beats eletrônicos, sintetizadores e guitarras.
Um dos objetivos do disco é, por exemplo, desmistificar preconceitos que ainda permeiam a sociedade, em especial, os que atacam religiões de matriz africana. “O álbum Camará, neste sentido, é uma homenagem aos mestres da cultura popular, aos mestres de capoeira, da congada, ao povo brasileiro, ao povo negro”, afirmou Nego Moura. “É um ato de resistência”, completou. Salve A Macumba e Reafricanizar são duas das músicas que dão o tom da homenagem que o disco pretende “de forma direta, sem meias palavras, abordando o respeito e a necessidade de assumirmos nossa diversidade enquanto seres humanos”, concluiu.
Camará também conta com participações especiais como a do multi-instrumentista Japasystem, do DJ e produtor Mista Luba, dos cantores Pedro Cézar e Mununu, da rapper mineira Tamara Franklin e da cantora Padú. O projeto conta com produção musical, mixagem e masterização de João Paulo Oliani (Fubá) e Breno Oliani, arranjos de Os Camarás e direção executiva de Priscilla Rennó e Chiara Carvalho, da Carvalho Agência Cultural.
Nego Moura é cantor, multi-instrumentista e compositor mineiro com 20 anos de carreira com atuação em Poços de Caldas e no Sul-mineiro, trajetória durante a qual lançou, em 2019, seu primeiro EP, Ladeira. Em 2020, Nego Moura iniciou parceria com Fubá, DJ e produtor com o qual disponibilizou três faixas remix: Ladeira, Tragédia Anunciada e Camará. Em 2021, Nego Moura & Os Camarás, com os irmãos Fubá e Breno Oliani, iniciaram a produção do disco Camará e lançaram os singles Okê Arô, Gradecê, Pra Sorte do Branco e Camarada Meu. Os Camarás reúnem Breno Oliani (baixo), Guilherme Dias (guitarra), Giuliano D’Onofrio (percussão), João Paulo Oliani – Fubá (voz e DJ) e Luis Felipe Cardillo – Lagunaz (guitarra).
Para acompanhar essa e outras ações de Nego Moura e Os Camarás siga as redes sociais @negomoura e @os.camaras.music.
Há vários recortes possíveis capazes de comprovar estatisticamente que o racismo contra negros no Brasil, é estruturado há séculos, sem precisamos voltar aos livros de histórias e recorrer a estudos sociológicos de grande profundidade, embora de acordo com pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), esta população já somasse 54% do total geral de moradores do país, ou seja, a maioria entre nós, em 2020. Empiricamente, à luz apenas das observações cotidianas, esta constatação já se cristaliza e torna-se cristalina diante de agressões, por exemplo, como a que sofreu em novembro daquele ano João Alberto Silveira Freitas, homem negro espancado até a morte em uma unidade do Carrefour, em Porto Alegre (RS).
A morte de João Alberto gerou comoção e indignação nacionais, alimentou a mídia e pautas da agenda Black Lives Matter (#BLM), mas não refreou o ímpeto que subsiste em parte de nossa sociedade para a qual “um preto parado é suspeito, correndo é ladrão” que deságua no ainda mais cruel bordão “bandido bom, é bandido morto”, E é ai que o bicho pega porque negros mais que brancos são comumente “confundidos” com criminosos (“quase todos pretos”) ao longo dos tempos em Pindorama. E diante deste adágio moral contra eles pesa sem dó um implícita ordem de execução, não assumida abertamente, mas que dados estatísticos escancaram.
E por execução, neste caso, não se entenda apenas os assassinatos de negros vítimas das forças de segurança institucionalizadas, por exemplo, posto que discrepâncias e desigualdades históricas no mercado de trabalho, nos graus de escolarização e no acesso à saúde acabam por precarizar a qualidade de vida dos negros, e, consequentemente, quando não levam à morte, impõem-lhes uma sobrevivência das mais sofridas. A letalidade presente nos números frios das vítimas de homicídio no país conforme a Agência Brasil revelou, em 2019, já bastaria para alarmar e gerar eficazes políticas públicas antirracistas, pois: os negros representaram 77% das vítimas de homicídios no Brasil, com uma taxa de 29,2 por 100 mil habitantes (em 2019]. Entre os não negros, a taxa foi de 11,2 para cada 100 mil, o que significa que o risco de um negro ser assassinado é 2,6 vezes superior ao de uma pessoa não negra.
Entre os anos de 2009 e 2019, prossegue a Agência Brasil, 623.439 pessoas foram vítimas de homicídio no Brasil. Destas, 333.330, ou 53% do total, eram adolescentes e jovens. Os dados constam da edição 2021 do Atlas da Violência, divulgado naquela ocasião. A publicação foi elaborada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN).
Os números apresentados pelo estudo foram obtidos a partir da análise dos dados do Sistema de Informações sobre a Mortalidade (SIM) e do Sistema de Informações de Agravos de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde, em período anterior à pandemia de Covid-19. Na análise dos dados da última década, os autores do levantamento observaram que a redução dos homicídios ocorrida no país esteve muito mais concentrada entre a população não negra do que entre a negra. Entre 2009 e 2019, o número de negros vítimas de homicídio cresceu 1,6%, passando de 33.929 vítimas em 2009 para 34.466 em 2019. Já as vítimas não negras passaram de 15.249 em 2009 para 10.217 em 2019, redução de 33%.
E essas estatísticas, é bom, mencionar, ainda não incluíam casos como o de João Alberto ou outro de repercussão além fronteiras, ocorrido em 18 de maio de 2020, para nos limitarmos apenas a dois exemplos de lá para cá. Naquele dia há quase dois anos, João Pedro Pinto, 14 anos, estava em casa brincando com um grupo de crianças quando policiais entraram em sua residência sem mandado e atirando, durante uma operação no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo (RJ), para alegadamente prender um traficante de drogas. O adolescente foi atingido nas costas por um dos 70 disparos feitos pelos fuzis dos agentes.

Esta tirinha, publicada no jornal Zero Hora, de Porto Alegre (RS), gerou indignação na Brigada Militar do Rio Grande do Sul em 2018. A corporação emitiu nota de repúdio contra o veículo; Alexandre Beck, o autor, publicou em suas redes sociais que sofreu ameaças e se sentiu intimidado. A Brigada afirmou que “mesmo respeitando a livre manifestação do pensamento e a liberdade de imprensa” lamentava “que tal veículo de comunicação, responsável em parte pela formação da opinião pública tenha se posicionado dessa forma”. Saiba mais sobre o episódio e leia a íntegra da nora da BM em https://ponte.org/me-senti-intimidado-diz-alexandre-beck-autor-de-tirinha-que-incomodou-a-pm/
HOMÍCIDIOS CONTRA AS NEGRAS
O Atlas da Violência aborda em detalhes, ainda, o perfil das principais vítimas de homicídios femininos. O estudo mostra que 50.056 mulheres foram assassinadas entre 2009 e 2019. Nessa década, o total de mulheres negras mortas cresceu 2%, ao passo que o número de mulheres não negras mortas caiu 26,9%.
Já para saber sobre racismo estrutural no país uma boa leitura é da do artigo Violência policial cresce mesmo na quarentena, e homens pobres e negros são principais vítimas no Brasil, que o Partido Socialista Brasileiro (PSB) publicou em 10 de junho de 2020, ainda, portanto, nos primeiros meses da pandemia de Covid-19, destacando entre outros pontos como colabora para esta triste realidade o discurso belicista do governo Jair Bolsonaro – que à época tinha à frente de um dos principais órgãos que deveriam ser de apoio e empoderamento do negro no Brasil, a Fundação Palmares, um “preto de alma branca”. Sérgio Camargo, o indigesto quase ministro em questão, como presidente da Palmares, naquele ano de 2020, referiu-se ao movimento negro como “escória maldita” e “vagabundos”, em uma reunião privada em 30 de abril. Ele ainda criticou Zumbi dos Palmares, símbolo da luta antiescravista que nomeia a instituição que ele chefiava. “Não tenho que admirar Zumbi dos Palmares, que também era um fdp que escravizava pretos”, disse antes de se desincompatibilizar no começo deste mês para concorrer nas eleições de novembro e não deixar saudade alguma. .
Clique aqui para abrir o linque que leva ao artigo do PSB, mas vale a pena destacar dele nesta atualização a íntegra de três parágrafos:

Imagem, sem atribuição do crédito ao fotógrafo, disponível no blogue Combate Racismo Ambiental e que ilustra a matéria “No Brasil e EUA: homens negros são mortos e mulheres negras lutam contra violência policial”, de 15/07 07/2016, de Stephanie Reist – RioOnWatch, conforme https://racismoambiental.net.br/2016/07/15/no-brasil-e-eua-homens-negros-sao-mortos-e-mulheres-negras-lutam-contra-violencia-policial/
OS MAIS POBRES, OS QUE MENOS VIVEM
“O Brasil compartilha com os Estados Unidos uma história marcada pela escravidão. Cinco milhões dos 12,5 milhões de africanos trazidos à força para as Américas pelos europeus vieram para cá. Embora nunca tenha tido leis de segregação como os Estados Unidos, há no país um racismo estrutural que faz com que os negros sejam sistematicamente mais pobres e vivam menos.
Em artigo intitulado I can’t breathe publicado na Folha de S. Paulo no dia 1º de junho [2020], a jornalista Cristina Serra destacou que nos anos 1960, nos Estados Unidos, o movimento pelos direitos civis e aplicação de ações afirmativas, como as políticas de cotas em universidades, alcançaram a população afrodescendente. Hoje, a população negra sabe cobrar os direitos que lhe são negados e, por isso, os protestos pela morte de George Floyd estão latentes. [Floyd foi covardemente morto, por asfixia, pelo policial branco Derek Chauvin, em Minneapolis, nos Estados Unidos da América, em 25 de maio de 2020, assassinato que gerou uma onda de protestos contra o racismo e a violência policial em todo o mundo. Floyd foi imobilizado sobre o chão, teve o pescoço comprimido pelo joelho de Chauvin por 8 minutos e 46 segundos e implorou “por favor, não consigo respirar”, mas os apelos foram em vão.]
“Aqui, muitos afirmam defender a igualdade entre brancos e negros, desde que estes continuem nas nossas cozinhas, recolhendo o nosso lixo, cuidando dos nossos filhos. Essa mesma gente ainda tem muita dificuldade de aceitá-los em lugares como as universidades”, afirmou Cristina Serra, com apoio da Assessoria de Comunicação/PSB Nacional e informações do El País, Super Interessante, Folha de S. Paulo, EBC e outros portais de notícias. I
ÍCONES MACABROS
Uma única imagem, de fato, pode valer e revelar mais do que mil palavras, como esta, contundente, que o premiado fotógrafo brasileiro Luiz Morier trouxe à público, em 1982, mas que choca até hoje, quase 40 anos depois.
A foto Todos Negros tornou-se um macabro ícone que revela a covardia imposta aos negros até hoje, rendeu a Morier o Prêmio Esso de Fotojornalismo em 1983 e foi tema de uma conversa sobre ele e a jornalista Milena Buarque, Huffpost, publicada em 13 de julho de 2018 pelo portal Pragmatismo Político (clique aqui e leia), que entre outros dados informou:
O racismo institucionalizado e cotidiano e a constante violação dos direitos humanos no Brasil podem ser contados e revelados em uma série de imagens emblemáticas, que vão do fim do século 19 ao período pós-redemocratização.
Do retrato do menino Augusto Gomes Leal com a ama de leite Mônica, de João Ferreira Villela (1860), ao rio sangrento do massacre do Carandiru, de Niels Andreas (1992), as fotografias dão conta de uma faceta de nossa identidade tantas vezes subestimada e negada. Uma delas recebeu o Esso de Fotografia. Todos Negros, como ficou conhecida, é de autoria do fotojornalista carioca Luiz Morier.
A imagem, que lhe rendeu o primeiro prêmio (o segundo viria em 1993, consagrando-o como único fotojornalista brasileiro a atingir essa marca) mostra uma blitz policial na estrada Grajaú-Jacarepaguá, na cidade do Rio de Janeiro. A cena remete diretamente aos tempos da escravidão no país, 94 anos após a conclusão de um longo e penoso processo que levou à abolição da escravatura, em 1888.
“Eu estava voltando de uma outra reportagem quando avistei um camburão da PM parado na beira da pista. Pedi ao motorista que parasse para ver o que estava acontecendo. Quando caminhei um pouco para dentro do mato, avistei pessoas sentadas e amarradas com cordas no pescoço“, contou Morier.
O cenário da imagem, de denso e alto capim colonião, denuncia a vida suburbana, mescla de resquícios do campo e da cidade que ainda não chegou por completo.
Na época, repórter-fotográfico no Jornal do Brasil, Morier viu o clique ir diretamente para a primeira página, em setembro de 1982, com a legenda “PM prende favelados pelo pescoço, um tipo inusitado de ‘algema‘”.
“Como sempre fiz, fui logo fotografando antes que dissessem que não. Em seguida, o tenente-comandante da operação mandou que os recolhessem para o camburão.“
“A sensação que tive quando os avistei era de que a Lei Áurea [sancionada em maio de 1888] não valeu de nada. Estavam sendo carregados pelo pescoço como escravos.”
A imagem, feita com lente grande-angular, é parte de uma sequência que, além de enquadrar o policial, apresenta também os sete presos no chão até o momento em que são colocados na viatura. Repare nesta foto citada, acima, o olhar assustado do terceiro negro, o único a mirar o policial.
As fotografias correram o mundo e renderam críticas das mais duras ao governo de Chagas Freitas, que comandava o estado do Rio de Janeiro à época, ainda sobre o governo militar de João Baptista de Figueiredo. Segundo Morier, depois de apertados no camburão, e no momento da prisão, todos estavam de carteira de trabalho na mão: foi descoberto que se tratavam de moradores e trabalhadores de uma comunidade próxima. Os sete homens amarrados seriam dispensados. “As pessoas humilhadas eram pessoas simples, todos negros.”
Todos Negros evidenciaria o estigma da população pobre e negra do País que permanece sempre à margem. Como tantas outras, retrata o Brasil que mata um jovem negro a cada 23 minutos, segundo dados da ONU de novembro de 2017
Consulte o Atlas da Violência em:
https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/nota_tecnica/131119_notatecnicadiest10.pdf
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