1531 – Matheus Pezzotta mergulha na própria ancestralidade quilombola em espetáculo cênico musical em São Roque (SP)*

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*Com Samantha Zucas

O palco do projeto social Quilombo do Carmo, localizado na Estância Turística paulista de São Roque, na região de Sorocaba, estará reservado a partir das 17 horas do domingo, 15 de maio, para a apresentação com entrada franca, por meio da Divisão de Cultura da Prefeitura de São Roque, do espetáculo cênico musical Descendente, produção que, recentemente, esteve em turnê pela Bahia e narra experiências identitárias negras do artista local Matheus Pezzotta em contato com sua descendência quilombola por meio de uma das tataravós, dona Izabel do Carmo, cuja família calcula que tenha nascido entre 1850 e 1860 e de cujo sobrenome deriva o nome do bairro são-roquense. De acordo com o texto de divulgação da produção, movido pela investigação sobre memórias e reminiscências musicais no Quilombo do Carmo, Pezzotta remontou e busca reafirmar a presença negra e quilombola no Sudeste do Brasil, oferecendo ao público uma experiência artística atravessada por vozes negras; sonoridades afro-diaspóricas, como Samba de Bumbo, Jongo, Congadas e Capoeira; e a visualidade da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Descendente ainda remonta cenários históricos, geográficos e musicais e percorre paralelos entre a descendência de Pezzotta, o Quilombo do Carmo e episódios históricos silenciados, como a Insurreição Negra de 1854, liderada pelo Ngangá sorocabano José Cabinda.

A duração de Descendente é de 60 minutos. Durante este tempo, o espetáculo procurará pensar a ancestralidade enquanto tecnologia social de memória e ampliação dos imaginários sociais. O sujeito, em contato com sua descendência, reestabelece vínculos ancestrais com antigas lembranças e saberes subjetivos, intercontinentais. Em seu caráter estrutural, as políticas de esquecimento desterritorializam e privam sujeitos do contato com sua própria história, agindo na sofisticada manutenção estrutural racista sobre os corpos negros, enfatizou o autor do texto de divulgação. Desta forma, em um país que possui no qual 54% da população são negros de descendência afro, de acordo com levantamento de 2020 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), a reflexão sobre a construção identitária torna-se uma agenda emergente de formação e transformação social.

Descendente, portanto, dispõe-se enquanto prática antirracista de combate aos discursos hegemônicos, disseminando contranarrativas de pessoas negras, vítimas de apagamentos e de silenciamentos históricos, como, por exemplo, a experiência histórica de Cabinda — Ngangá também conhecido como Pai-Gavião que liderou a Insurreição Negra prevista para 16 de agosto de 1854, em São Roque. “Trabalhar esse passado é uma maneira também de reivindicar uma posição de dignidade no presente, […] é uma forma de afirmar a sua identidade afro-brasileira, então cada vez que a gente fala de uma identidade afro-brasileira, nós nos afirmarmos como brasileiros, mas também afirmamos nossas raízes ancestrais”, afirmou Maria da Conceição Evaristo de Brito, linguista e escritora mineira negra de Belo Horizonte (MF) que se dedicou durante a prolífica carreira à pesquisa e educação universitárias, considerada uma das mais influentes literatas do movimento pós-modernista no Brasil, escrevendo nos gêneros da poesia, romance, conto e ensaio.

Filho do músico, cantor e compositor Edson d’aísa e da educadora Isa Pezzotta, Matheus Pezzotta Gonçalves reside em São Roque e em seu currículo destaca-se que ingressou no Conservatório Dramático e Musical Doutor Carlos de Campos de Tatuí, em 2009, onde permaneceu até 2012, quando ingressou na Universidade do Estado de São Paulo. Pezzota é Mestre em Música (2020) e Bacharel (2017) pela mesma instituição. Desenvolveu a dissertação de mestrado A performance como território da memória: o esquecimento das práticas musicais da Comunidade do Carmo em São Roque, São Paulo, no trânsito das políticas públicas; esta pesquisa desencadeou o concerto Território da Memória e possibilitou a palestra Memória e Esquecimento, ambos contemplados pelo ProAc Lei Aldir Blanc (LAB) 2020.

Atualmente, Pezzota age na reconstrução de contranarrativas afro-diaspóricas do interior de São Paulo por meio de práticas musicais, memórias familiares e relatos e documentos da cidade sobre o Quilombo do Carmo. É autor de vasta produção bibliográfica e de artigos como o publicado pela Revista Post-ip’19 – Aveiro, Portugal, Em Busca de uma Metodologia: conflitos na definição de identidades. É integrante do grupo Os Cafumangos, que em 2021, lançou o single Boa Sorte e participa, entre outros de epês e de álbuns tais como Tanta Coisa (2021); Ensaios Sobre Nossas Coisas (2016); e Tua Obra, Teu PãoCanções para Darcy Penteado (2014), sempre com direção musical e arranjos; Tanta Coisa e Tua Obra, Teu Pão… foram lançados pelo pai, Edson d’aísa. Em 2021, o músico-ator assinou a produção audiovisual Canções em Movimento – Escutas Possíveis. Ele protagonizou, ainda, diversos concertos, turnês, ministrou cursos, palestras, vivências e oficinas e é membro da Confraria de Autores de Canções (Confaca) fundada em 2016 com o objetivo de aproximar os compositores da região de São Roque. Saiba mais sobre Matheus Pezzota em https://docs.google.com/document/d/1z-hpFxBfq3TYnuDfyyWtX-xJcimk_SsU/edit

O Quilombo do Carmo atende à comunidade quilombola remanescente, considerada desde agosto de 2.000 Patrimônio Cultural Brasileiro pela Fundação Palmares e fica na Estrada Municipal do Carmo, no Bairro do Carmo (Canguera), em São Roque, distante cerca de 60 quilômetros da Capital de São Paulo, com acessos pelas rodovias Raposo Tavares e Castello Branco. O bairro fica na zona rural de São Roque, a 25 km do centro do município, e, atualmente, concentra cerca de 220 famílias e aproximadamente 950 habitantes.

O processo de evolução do local que hoje enfrenta várias demandas para se manter passou por diversas conquistas, possíveis devido ao envolvimento da comunidade e da atuação comprometida da Sociedade Movimento dos Focolari (SMF), associação sem fins lucrativos de caráter educacional, cultural e de assistência social. Dentre os avanços, destacam-se o processo de construção e reconstrução das moradias, antes de pau-a-pique ou barracas e atualmente casas de alvenaria; iluminação elétrica; instalação de água potável pela Sabesp; ampliação e reativação da escola pública; implantação do ambulatório médico, incluindo o tratamento odontológico; e implantação da creche.

Na atualidade, a SMF mantém um Centro Social no Quilombo, que tem por objetivo contribuir para o desenvolvimento social e comunitário, por meio do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, resolução Nº 109/2009 do Conselho Nacional de Assistência Social, o CNAS). Também está em desenvolvimento um projeto com duração prevista de dois anos (2021/2022), chamado Quilombo do Carmo, voltado a famílias em situação de vulnerabilidade ou risco social e ao trabalho direto com 50 crianças e adolescentes dessas famílias por meio de oficinas socioeducativas.

O Quilombo do Carmo fica na zona rural de São Roque e concentra cerca de 220 famílias e aproximadamente 950 habitantes (Foto: Arquivos do Quilombo)

 

Entre as atividades desenvolvidas estão: Oficinas com foco na ampliação do universo informacional, educacional, artístico e cultural de crianças e adolescentes quem estimulem o desenvolvimento de potencialidades; Encontros intergeracionais que possibilitem a convivência familiar e comunitária; Rodas de conversas visando ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários,  um espaço de diálogo e interação, ampliando as percepções dos participantes sobre si e sobre o outro, bem como abordando direitos e deveres enquanto cidadãos.

Na década de 1970, o Movimento dos Focolares teve o primeiro contato com a comunidade quilombola são-roquense, encontrando-a em situação de vulnerabilidade social. Nesses 47 anos, a SMF proporcionou condições dignas de vida aos quilombolas com intervenções na área social, de educação, saúde e habitação. Atualmente, o Projeto Quilombo do Carmo oferece atendimento para 67 crianças, 19 adolescentes e para a comunidade em geral, disponibilizando espaço de convivência e fortalecimento de vínculos baseados em valores que promovem uma cultura de paz e fraternidade. Para as crianças e os adolescentes de 4 a 16 anos são oferecidas oficinas de esportes, música, capoeira, atividades lúdicas e desenvolvimento criativo, contando com a participação de voluntários educativos e palestrantes.

O projeto depende de doações, colaborações e conta com patrocínios de entidades que possam colaborar de alguma forma. Doações a partir de qualquer valor podem ser feitas por depósitos ou transferências por TED, DOC ou PIX; após a doação, envie o comprovante para o e-mail: smf@smf.org.br

Transferência ou depósito: Sociedade Movimento dos Focolari/CNPJ 44.245.488/0001-92 – Banco do Brasil: AG: 3583-1/CC: 18807-7

Chave PIX: CNPJ 44.245.488/0001-92

COVARDIA EM PRAÇA PÚBLICA

Conforme publicado nas páginas sociais do vereador local Paulinho Juventude e também no portal da Câmara Municipal de São Roque, o professor de História na Estância Turística de São Roque, Julio Schneider, conta que Mestre José Cabinda foi um sorocabano liberto protagonista da mais importante insurreição de escravizados de São Roque e região. De acordo com ele, o plano da sedição foi deflagrado pela polícia em 18 de julho de 1854 quando o mestre e envolvidos foram presos em uma cerimônia da Cabula, religião de matriz africana, da qual era a autoridade máxima. “Na cosmologia centro-africana, a liderança política e religiosa é indissociável”, escreveu Schneider. Interrogado, José Cabinda revelou as intenções religiosas e também políticas das reuniões. Suas atividades abrangiam os atuais municípios de Sorocaba, Araçariguama, Araçoiaba da Serra, Ibiúna, Itu, além de São Roque, centro principal do levante, marcado para ocorrer no dia 16 de agosto, feriado municipal, por ser Dia do Padroeiro. “O movimento contava com escravizados e libertos de toda a região, além de 300 espingardas escondidas estrategicamente no Morro do Saboó”, prosseguiu o professor. “Após o interrogatório, foi severamente açoitado em praça pública, durante dias. Mestre José Cabinda tornou-se um dos sujeitos históricos mais importantes no combate à escravização africana do estado de São Paulo”.

A Associação do Território Quilombola do Bairro do Carmo, anualmente, outorga a Moção Mestre José Cabinda a um colaborador das lutas da entidade e seu povo. Em 2021, o agraciado foi o vereador Paulinho Juventude, em 20 de novembro, Dia da Consciência Negra. Juventude também entregara uma placa a lideres da entidade.

A apresentação será na Estrada Agussai, 450, no Bairro do Carmo/Canguera, em São Roque, a cerca de 60 km da Capital paulista (Foto: Bruno Martorelli)

Links de referência

Concerto Território da Memória – https://www.youtube.com/watch?v=_zsfDGa7rIo

Canções Movimento – Escutas possíveis (LIBRAS) – https://www.youtube.com/watch?v=IH8MCI4zHgE&t=1191s

Leia mais sobre o Quilombo do Carmo em https://jornalistaslivres.org/resistencia-do-quilombo-do-carmo-em-sao-roque-por-direitos-e-justica/

Leia mais sobre Matheus Pezzotta, Edson D’aisa e outros artistas e movimentos culturais de São Roque aqui no Barulho d’água Música em:

https://barulhodeagua.com/tag/edson-disa/

https://barulhodeagua.com/tag/edson-daisa/

3 comentários sobre “1531 – Matheus Pezzotta mergulha na própria ancestralidade quilombola em espetáculo cênico musical em São Roque (SP)*

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