1538 – Chico Lobo lança O Tempo É Seu Irmão e celebra mais de 40 anos de carreira com convidados especiais

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27º álbum do violeiro mais atuante da cena brasileira tem participações especiais de Luiz Caldas, da dupla Kleiton & Kledir, da cantora Tetê Espíndola e do cantor Sérgio Andrade

Segundo especialistas em inovação, a necessidade de se reinventar existe há muito tempo, faz parte da história da humanidade. Tanto quanto mudar é questão de sobrevivência. Assim o violeiro mineiro, compositor e cantador Chico Lobo, em 2021 consagrado com o quarto troféu do Prêmio Profissionais da Música (PPM) na categoria Melhor Artista Raiz Regional e com a Medalha de Honra da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) pela sua relevante atuação na cultura e sociedade, colocou em prática justamente isso, em plena pandemia de Covid-19. Após lançar Alma e Coração, em 2020, já nesse processo de ousar e criar, tornar-se outro, Chico Lobo não parou e no ano passado produziu, em parceria com a Kuarup, mais um álbum nesses tempos difíceis.

O Tempo é Seu Irmão, 27º disco da sua carreira, ganhou lançamento em formato físico e digital neste mês de maio, pela gravadora e produtora Kuarup. O novo álbum que tem texto de apresentação no formato físico assinado pelo prestigiado jornalista Chico Pinheiro, traz músicas inéditas e autorais. Além de assinar a maioria das composições, Chico Lobo também apresenta parcerias com Edmundo Bandinelle, Eudes Fraga, Jorge Nelson, Carlos Di Jaguarão e Thales Martinez. O trabalho tem ainda participações muito especiais, todas referências para Chico Lobo, e que fazem parte da história da música brasileira: Luiz Caldas, Kleiton & Kledir, Tetê Espíndola e Sérgio Andrade, da Banda de Pau e Corda. Produzido por Ricardo Gomes, parceiro musical de Chico Lobo, fundamental para o resultado sonoro do álbum e que também toca baixos, violões e teclados, O Tempo É seu Irmão tem ainda as presenças marcantes de Leo Pires (bateria), Marcello Sylvah (violão), Sérgio Rabelo (violoncelo), Gih Saldanha (vocais), Delano (steall), Cristiano Caldas (piano), Clevin Moreira (acordeon), Marcelo Fonseca (violino) e como músico convidado o percussionista Carlinhos Ferreira.

A temática do disco parte de reconhecer que o tempo é essencialmente parceiro fundamental e, dentro dessa perspectiva, até mesmo e sobretudo esta situação difícil enfrentada mundialmente pela Covid-19, o tempo cuidará de trazer de volta a tão almejada e merecida serenidade. Pai de três filhos: Mateus (25 anos), graduado em Cinema; Luísa (21 anos), universitária em Propaganda e Publicidade; e o colegial Tomás (18 anos), Chico Lobo percebeu o difícil momento que seus filhos enfrentavam e enfrentam (o mesmo de tantos jovens): sem perspectivas de trabalho, afastados do convívio dos amigos e dos relacionamentos sociais. Assim, em diálogo junto a outros pais amigos ficou perceptível como um acontecimento, quase geral, esse sofrimento entre os jovens. O fato gerou inspiração para a música O Tempo é Seu Irmão, ponto de partida do álbum. Então vieram em sequência Lua e Sol, Sementeira e Pagode do Tempo.

O Tempo é Seu Irmão propõe ser a celebração desse novo período que chega com esperança, positividade, resiliência, emoções e sentimentos que marcam esse novo trabalho. A música é a fiel companheira do violeiro mineiro que, ao compor compulsivamente, renova-se e brinda-nos com o retorno da cultura, dos concertos presenciais com um disco recheado de luxuosas participações. Chico Lobo, aliás, vai além: tem uma compreensão de que a pandemia não é dissociada das mudanças climáticas, catástrofes ambientais, revela a conexão com o relacionamento insano do homem com a natureza e o meio ambiente. Deste raciocínio surgem cantigas como Madeira, Rio e Mar e Ave Maria das Matas.

Bem relacionado e respeitado por inúmeros artistas da música popular brasileira, como Maria Bethânia, que gravou duas músicas de seu repertório, Chico Lobo retoma sua musicalidade da raiz caipira com toadas, pagodes, cateretês e revisita o Nordeste em Se A Noite Apaga a Luz e Indagorinhahomenagem ao sogro Mestre André e a todos os retirantes que vieram para o Sul em busca dos sonhos. Mas também não deixa de dialogar com ritmos universais, como o folk e o country. Sem dúvida uma riqueza sonora, O Tempo é Seu Irmão traduz-se em uma viagem lírica ao nosso coração carregada de cheiro, som, sabor e cor da nossa brasilidade, retrata o amadurecimento de Chico Lobo como compositor e violeiro desde 1981 quando decidiu abandonar tudo para mergulhar na vida artística, alcançando nestes mais de 40 anos uma carreira grata e promissora.

FAIXA A FAIXA

1) Madeira: totalmente conectada à necessidade de se preservar o meio ambiente. Música que nasce após o desastre ecológico das queimadas no Pantanal, no cerrado de Minas Gerais e o desmatamento da floresta amazônica. Denuncia os maus tratos com nosso meio ambiente. Destaque para a pulsante bateria de Léo Pires e o piano de Cristiano Caldas;

2) Sementeira: parceria do violeiro mineiro com o músico cearense de Quixadá, Eudes Fraga: a canção tem a participação especial do cantor baiano Luiz Caldas. É um batuque mineiro com temperos de samba de roda do Recôncavo Baiano, música para balancear, tocada pelo lado festivo da viola;

3) Rio e Mar: Chico Lobo manifesta o seu desejo de ser feliz, que corresponde ao seu coração; “é rio que corre para o mar” e mesmo que nesse percurso venham as enchentes e as dificuldades, elas existem para serem vencidas. A cantiga tem a participação especial da dupla gaúcha Kleiton & Kledir. “Temos grandes referências de você amigo Chico Lobo”, disse Kledir ao telefone. É uma levada de viola que junta Minas Gerais ao Rio Grande do Sul, um sotaque que mescla uai e tchê;

4) Se a Noite Apaga a Luz: letra forte do parceiro Jorge Nelson que ganha ritmo de um genuíno galope nordestino, com destaque do diálogo da viola de Chico Lobo com o acordeon do mineiro Clevin Moreira. “Se a noite apaga a luz, o céu acende as estrelas”;

5) Ave Maria das Matas: parceria de Chico Lobo com o amigo de juventude e de inicio de carreira, Edmundo Bandinelle, que nasceu após uma ida do violeiro à sua região em Campo das Vertentes, Minas Gerais, para renovar as energias. Região com muitas cachoeiras e de natureza exuberante. A mataria que cobre o entorno das cachoeiras, tão importantes, ganha simbologia sacra “Eh, salve manto sagrado, na cachoeira encostado”. Uma bela levada folk na viola e nos violões;

6) Lua e Sol: música de Chico Lobo com uma melodia que emociona. É construída com arranjos delicados e soa como uma balada rural existencial. E para que a mensagem fosse ainda mais forte, o violeiro convidou para participar a cantora mato-grossense Tetê Espíndola, que, ele mesmo define, tem a voz de pássaros, a voz das estrelas. E o resultado é de rara beleza. Destaque para o violão aço de Marcello Sylvah e o steall de Delano;

7) O Tempo é Seu Irmão: ponto de partida do álbum, a música foi feita para o filho Mateus, que como tantos jovens sofreram com o isolamento social provocado pela pandemia de Covid-19. “O tempo é seu irmão, não corre além das horas que se tem para viver, então esperar que a noite então se vá é ver o dia amanhecer”. Chico Lobo se aventura em visitar com a viola o country norte-americano. Destaque para o belo violino de Marcelo Fonseca e vocais de Marcelo Kamargo e João de Ana, dois artistas lançados pelo selo Lobo Kuarup do qual Chico Lobo é o curador;

8) Indagorinha: parceria de Chico Lobo com Carlos Di Jaguarão. A cantiga que se transformou em videoclipe é homenagem ao povo nordestino e ao mestre André, sogro de Chico Lobo, que nos anos de 1940 desceu do Rio Grande do Norte, em caminhão de pau de arara com dezenas de retirantes, para ganhar a vida em Minas Gerais. A cantiga tem a participação especial de Sérgio Andrade, vocalista e fundador da Banda de Pau e Corda. Encontro da viola mineira e o canto de sotaque nordestino. Destaque para os vocais de Gih Saldanha e a riquíssima percussão de Carlinhos Ferreira, que utiliza elementos sonoros, que nos remetem ao som armorial, como a rabeca de lata, os guizos e aboios. Marca a presença também de mestre André recitando uma quadra de cordel. “É uma águia de aço o traço do nordestino, gigante de vir a ser, jeito de homem menino”;

9) Faca de Talho: Autêntica toada caipira clássica que nos conta história de aventuras e amores. Parceria de Chico Lobo com o mineiro Thales Martinez. Chico Lobo escolheu cantar em uma região mais grave de sua voz, dando dramaticidade à cantiga, Destaque para o violoncelo de Sérgio Rabello;

10) Pagode do Tempo: A composição de Chico Lobo que fecha o álbum é um genuíno pagode de viola, gênero criado pelo saudoso mestre Tião Carreiro. A viola se mostra ladina, atrevida, e a letra brinca com o tempo, inclusive ressalta a estrada e o tempo nos quais Chico Lobo vem construindo sua carreira. Ótima forma de fechar o álbum: “Assim eu sigo minha lida nas barbas que o tempo faz, uma sina iniciada há muito tempo atrás.”

SOBRE CHICO LOBO

Natural de São João Del Rey (MG) e residente em Belo Horizonte, o violeiro Chico Lobo tem mais de 40 anos de carreira e é considerado pela critica um dos artistas mais atuantes no cenário nacional na divulgação e valorização da cultura de raiz brasileira. Com 27 álbuns lançados, dois DVDs, livro e shows por todo o Brasil e diversos países como Portugal, Itália, China, Canadá, Argentina, Chile. Colômbia –, o músico canta suas raízes e as conecta com nossa contemporaneidade, Folias, cabras, modas, batuques, causos e toques de viola desfilam com alegria em suas apresentações. Chico Lobo já venceu por quatro vezes o Prêmio Profissionais da Música como Melhor Artista Regional (2015, 2016, 2017 e 2021) e mantém em sua cidade natal o Instituto Chico Lobo, que desenvolve projeto de ensino de viola e cultura raiz para as crianças das zonas rurais na cidade mineira de São João Del Rey. Chico Lobo mantém relação artística com Portugal desde 2006 por meio do Encontro de Violas, em parceria com o português Pedro Mestre, representante maior da viola Campaniça da região do Alentejo. Essa amizade gerou o disco Encontro de Violas e o DVD De Minas ao Alentejo, que deram vida ao evento ainda maior e que já vai para a 11º edição, o Encontro de Violas de Arame. Chico Lobo, o representante brasileiro, já trouxe o Encontro para o Brasil duas vezes em formatos presenciais e em uma ocasião virtual. Amizade e partilha pelas cordas da viola que unem Brasil e Portugal.

Em 2015, Maria Bethânia escolheu a cantiga de Lobo Criação para compor o repertório do show e do DVD Abraçar e Agradecer, com os quais ela marcou 60 anos de carreira. Depois, Bethânia gravou participação no álbum Viola de Mutirão, cantando a moda de viola Maria, que Chico Lobo fez em sua homenagem. Apresentador de TV, de rádio, produtor musical, escritor, cantor, o violeiro inquieto faz com que sua obra torne a aldeia global mais caipira.

Texto Chico Pinheiro

Este não é um Lobo qualquer. Chico é o Lobo que corre livre no Campo das Vertentes, ali na centenária São João Del Rey. As águas puras das nuvens desabam sobre esses campos e correm em várias direções. Ora viajam para os riachos que vão formar o Rio Grande, ora seguem seu curso para formar o grande Velho Chico, ora serpenteiam para o Leste, para o Rio Doce. Correm sem pressa pelos caminhos do campo, sem tempo de relógio: afinal o tempo é seu irmão. A viola encantada de Chico Lobo faz chover notas e versos que também vão formar belos rios da música brasileira. Melodias e poemas que nascem do fundo da terra mineira, logo banhados de luares e de estrelas, às vezes brilhando ao sol daquelas plagas, semeando cuidadosas histórias de tempos e gentes, de amores e revoluções, de delicadezas várias. Falam de sementeiras do coração que florescem no canto do amor derramado. Cantigas, estórias, cirandas, tudo gira na música de Chico Lobo, quando o sol se apaga e em meio a luas novas e cheias, e surgem os vagalumes nos olhos da pessoa amada Só Lobos como o Chico podem vê-los e transformá-los em canções. Indagorinha eu ouvia as faixas deste belíssimo disco O Tempo é seu irmão e viajava em busca desse Espírito de Minas, tão distante dos gritos, barulhos e buzinas. Espírito invocado por nosso poeta maior, Drummond, na “confusão dessa cidade”, para salvá-lo do caos com seu “claro raio ordenador”. Eu, pequeno Pinheiro (nem posso ser chamada de madeira de lei), recomendo aos muitos que estamos imersos em águas poluídas das canções nascidas para saciar a fome de consumo do mercado que busquem a música que brota nessas minas do Campo das Vertentes. E vamos reencontrar o canto de pássaro de Tetê Espíndola, a harmonia dos irmãos Kleiton & Kledir, a alegria baiana de Luiz Caldas, e o nordeste de Sérgio Andrade da Banda de Pau e Corda. Obrigado xará Lobo. E tudo Mistério!

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