1543 – Kuarup lança livro que resgata a história da gravadora carioca Forma

#MPB #CulturaPopular #CinemaNovo #EditoraKuarup

O jornalista Renato Vieira lança livro sobre a gravadora carioca que
lançou importantes discos da música brasileira como os Afro-Sambas,
de Baden Powell e Vinícius de Moraes, e a trilha sonora de Deus e o
Diabo na terra do Sol

Tempo Feliz A História da Gravadora Forma, do jornalista e escritor Renato Vieira, com distribuição pela editora Kuarup, já chegou às livrarias de todo o país, com preço a partir de R$50. O livro traz uma pesquisa completa sobre a gravadora Forma, um ousado selo carioca fundado pelos jovens Roberto Quartin e Wadi Gebara, que esteve em atividade entre 1964 e 1967 até fechar as portas por causa de dívidas. “Em 2014 conheci o Gebara, um dos donos da Forma, que tinha toda a documentação sobre a gravadora e queria contar sua história”, afirmou Renato Vieira sobre o início do processo. A Forma lançou importantes discos para a música brasileira como Os Afro­ Sambas, de Baden Powell e Vinícius de Moraes, Coisas, de Moacir Santos, Inútil Paisagem, de Eumir Deodato, e as trilhas sonoras dos filmes Deus e o Diabo na Terra do Sol e Esse Mundo é Meu, entre outros. “Trata-se da história de um sonho que deu errado financeiramente, mas em termos artísticos ficou e permanece até hoje, observou Vieira. “Eles eram dois jovens que gostavam de música e apostaram tudo nisso.”

Três anos, no entanto, foram o suficiente para deixar o nome da gravadora, até
hoje muito cultuada por colecionadores de discos, na história. Pelo texto também passeiam personagens como Tom Jobim, Stan Getz, Nara Leão e dois novatos que Quartin e Gebara tentaram contratar: Elis Regina e Chico Buarque. O prefácio do livro é do jornalista Julio Maria, autor das biografias de Elis Regina e Ney Matogrosso. O texto de quarta capa é do escritor Ruy Castro, padrinho deste livro. E a orelha é de Cacá Diegues, cineasta amigo de Quartin que acompanhou a história da Forma.

É mais que um livro sobre uma gravadora, é um livro sobre a cultura do Brasil. Porque passa pela música que era feita naquele momento, pelo Cinema Novo, por personagens importantes”, escreveu Vieira. “Espero que ele inspire outras Formas, de outras formas.”

Renato Vieira, jornalista e pesquisador musical, é nascido em Belo Horizonte (MG), com passagens pela TV Bandeirantes, pelos jornais O Tempo e O Estado de São Paulo. Fez a pesquisa e edição de Foi Assim, autobiografia de Wanderléa, e a produção de reedições e compilações para as gravadoras Universal e Warner. Hoje é editor-assistente do E-Investidor, do Estadão.

Wadi Gebara morreu em 1º de julho de 2019, na cidade no Rio de Janeiro, vítima de câncer, aos 81 anos. Sobre Roberto Quartin, que desencarnou aos 62, em abril de 2004, o cineasta Cacá Diegues escreveu:

Em meados de 1963, eu estava com a produção de Ganga Zumba, meu primeiro longa-metragem, paralisada por falta de recursos. Roberto Quartin me ofereceu um pedaço do dinheiro que faltava. Sempre achei que seu entusiasmo pelo filme vinha do que já ouvira da trilha musical escrita por Moacir Santos, um gênio então subestimado. Menos por ele.

Obrigado a correr para não perder o lançamento nacional e o Festival de Cannes, deleguei a diferentes técnicos a finalização do filme. Ganga Zumba estreou e só ai nos demos conta de que o nome de Roberto não estava nos créditos. Fizemos a correção, mas o grosso das cópias já estava circulando. Pedi-lhe muitas desculpas e ele me emocionou com generosa compreensão, dizendo que o importante era consolidar a colaboração entre cinema e música.

Os primeiros discos editados pela Forma, a gravadora que Roberto montara com Gebara, revelam o que ele admirava e o que queria. Além do primeiro registro completo da obra de Moacir Santos, a Forma editara a trilha sonora de Deus e o Diabo na Terra do Sol. Pensando naquela colaboração. Roberto me encomendou um texto para a contracapa de um próximo disco, com a trilha de Esse Mundo é Meu. Sofisticado como a música que curtia, Quartin foi um ser humano com o coração sempre aberto aos sentimentos que valiam a pena.

Esta é uma história que só poderia acontecer no Brasil”.

É com esta frase, que antecipa o relato de uma empreitada ousada que deixou dois visionários “na lona”, mas deu ao Brasil uma série dos seus melhores álbuns já gravados até hoje que o jornalista, escritor e crítico literário Ruy Castro inicia seu texto de contracapa O Lado B de uma grande história, sobre o legado da Forma. “Nos anos 1960, quando produzíamos e melhor música popular do mundo, um diretor artístico, Roberto Quartin, e um arquiteto e empresário, Wadi Gebara Neto, se associaram para criar o mais sofisticado selo discográfico do país – Forma. Os dois eram jovens, tremendamente musicais e se completavam: Quartin, delirante e pobre; Wadi, racional e rico. Não podia dar errado. Seduzidos pelo charme e pelas ideias da dupla, artistas como Eumir Deodato, Moacir Santos, Baden Powell, Vinicius de Moraes, o Tamba Trio, o Bossa Três, o Quarteto em Cy, o Quinteto Villa-Lobos, engenheiros de som, fotógrafos e capistas jogaram-se por amor na aventura da Forma. Não esperavam ganhar dinheiro. Só queriam fazer discos fabulosos.”

Baden Powell (ao violão), Roberto Quartin (centro) e Stan Getz gravam, em 1965, o disco que permanece inédito até hoje (Foto: Kuarup)

Guerra prosseguiu em seu relato pontuando que Quartin e Gebara fizeram 22 fabulosos discos e alguns compactos. “Só que, com apenas dois aninhos de vida, a Forma teve de fechar, asfixiada por seu próprio frenesi criativo e por monumentais dívidas”. Depois, Castro informa: “Quartin continuou pobre – e Wadi também ficou pobre! Como eu disse, só no Brasil”. Para o autor mineiro das autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, a saga contada por Renato Vieira em Tempo Feliz- A História da Gravadora Forma é “um livro pioneiro e único, que revela o lado B da nossa indústria musical- o que se passou nos bastidores dos LPs que ficaram para a História”.

Já Júlio Maria começa assim seu prefácio à página 7 da obra de Vieira:

Numa camada um pouco mais abaixo do sítio visitado mil vezes pelos arqueólogos da bossa nova existe a história da Forma. A gravadora não foi construída pela ganância nem contava com homens poderosos enviados por matrizes do exterior para oferecer barras de ouro a artistas de renome em troca de seus passes. Deitada em silêncio por tantos anos, mais precisamente desde 1967, quando foi comprada pela Companhia Brasileira de Discos, a Forma é reapresentada pelo jornalista Renato Vieira em um reviro meticuloso e confrontado de entrevistas, documentos, arquivos e todo o material de capa e de recheio dos álbuns lançados pelo selo, sobrepondo-se às burocracias que poderiam existir em um livro sobre uma gravadora por haver, aqui, a história de uma paixão.

Já no último parágrafo, duas páginas adiante, para não deixar dúvidas sobre a importância do livro do colega Vieira e sua colaboração para a história da Música Popular, Júlio Maria arrematou:

A experiência da viagem pela história da Forma durante essas páginas não depende da audição de cada um dos álbuns, mas, fica como dica, ela é potencializada quando se lê ouvindo cada um deles (e o YouTube dispõe de quase todos). Algo que naturalmente não é possível quando se chega ao capítulo Os Discos Perdidos [página 119], com nomes que poderiam estar na lista de artistas com ‘álbuns de luxo’ lançados pela Forma, mas não estão, como Chico Buarque e Elis Regina. Aqui não há músicas, mas há histórias. E histórias que, um dia, precisavam ser contadas.”

Um exemplar do livro Tempo Feliz- A História da Gravadora Forma foi enviado graciosamente ao Barulho d’água Música por Rodolfo Zanke, produtor cultural da Kuarup, ao qual agradecemos e em nome do qual cumprimentamos toda a sua equipe.

Leia mais sobre a gravadora Forma em:

https://farofafa.com.br/2022/05/27/quando-a-musica-brasileira-moderna-comecou-a-tomar-forma/

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