1553 – Mônica Salmaso e Dori Caymmi lançam Canto Sedutor, álbum com a profundidade do Brasil plural

#MPB #ViolaBrasileira #Xilogravura #CulturaPopular

 Os cantores e intérpretes Dori Caymmi e Mônica Salmaso, duas das vozes mais consagradas do país, acabam de lançar Canto Sedutor, álbum do selo Biscoito Fino que faz jus ao sugestivo nome da gravadora. Teco Cardoso está à frente como produtor do projeto (que reúne 14 composições de autoria de Dori e do inseparável parceiro dele, Paulo César Pinheiro) e, além de tocar flauta, convidou para também entrarem no estúdio Tiago Costa (piano), Sidiel Vieira (baixo acústico), Neymar Dias (viola caipira), Lulinha Alencar (acordeon), Bré Rosário (percussão) e o Duo Imaginário, formado por Adriana Holtz e Vana Bock (cellos); o disco conta ainda com a participação da Saint Petersburg Studio Orchestra e Caymmi nos arranjos de base e nas cordas do violão.

E por falar em cordas, antes de prosseguir, vale aqui um destaque: todo o time convocado por Cardoso é afinadíssimo. Lulinha Alencar e Neymar Dias, por exemplo, tocaram com Mônica em Caipira, portanto, eles estão entrosados, há tempos. Mas ah, a viola de Neymar! Só ela tem um toque inconfundível, personalíssimo, fala por si. Como no antigo programa Qual é a Música, basta uma nota para saber: é ele quem tange o instrumento, dá sotaque de roça e ao mesmo tempo clássico às faixas. E cá entre nós, que os demais me deem licença para a deferência, pois aqui a opinião é pessoal: Neymar Dias tem nome de craque, mas como não é soberbo como o xará, confere ainda maior excelência a Canto Sedutor, do início ao fim do novelo!

O show de lançamento de Canto Sedutor, na cidade de São Paulo, transcorreu nos dias 11 e 12 de junho, em São Paulo, no Teatro Paulo Autran, do Sesc Pinheiros. O disco chegou ao Solar do Barulho enviado pelo querido amigo Luís Pires Moraes (Varinha), que estava na plateia com sua querida esposa Miriam. O casal Moraes é um dos maiores entusiastas e colaboradores do blogue desde seu início. Com o exemplar que nos deram, abrimos neste dia 2 de julho as tradicionais audições matinais aos sábados aqui em São Roque, estância turística do Interior paulista. No texto de divulgação oficial da Biscoito Fino, o selo informa que “há um Brasil profundo que brota da obra de Dori Caymmi e Mônica Salmaso”. Pássaros, rios, mar, sertão, céu estrelado. Guimarães, Jobins, Arys, Caymmis, Pinheiros. Dos longínquos recônditos à poesia das cidades. O povo brasileiro. O amor à música. E pontua: “em algum momento, o curso dessas águas haveria de se cruzar em um disco.”

 

Dori declarou que o disco é o Brasil ao afirmar que “nossa obra tem tradição, novidade, mas é sempre o Brasil”. E reforça este perfil os desenhos de luz de Silvestre Júnior, na cenografia do concerto (também um dos elementos visuais de Caipira) e a xilogravura feita especialmente para o projeto pelo artista pernambucano Marcelo Soares. Antes da estreia em Sampa, Mônica Salmaso não escondia o entusiasmo e convidava o público para as duas noites de gala que coroariam o encontro entre ela, Dori com e o corpo de músicos, “todos convictos da importância da música na nossa sanidade e organização emocional, como diz o lindo verso ‘todo canto mesmo triste, ameniza a dor do mundo’, de Paulo César Pinheiro, em Voz de Mágoa”.

A ideia de realizar Canto Sedutor foi gestada na pandemia, quando Mônica convidou Dori para participar de Ô de Casas, dividindo História Antiga. O resultado foi tão satisfatório que levou à realização de mais três números para a série. Era o impulso necessário para Mônica expressar seu desejo de realizar esse projeto. “Ver nossas vozes juntas é um sonho meu, antigo. A música do Dori é referência para algumas gerações de músicos e cantores. Eu, entre eles. Fiz esta proposta, de fazermos um disco juntos, com a condição de que ele cantasse também”, lembrou Mônica. Convite aceito, a realização foi bastante rápida: as gravações ocorreram entre 8 e 12 de outubro de 2021, na cidade de São Paulo, no estúdio Monteverdi.

O trabalho é centrado na parceria de Dori Caymmi com Paulo César Pinheiro e reúne as inéditas Raça Morena, A Água do Rio Doce, além da faixa título. Apresenta clássicos como Velho Piano, Desenredo, Estrela de Terra e História Antiga, canção nascedouro do projeto. Por fim, debruça-se também sobre a safra mais recente, em Vereda, Voz de Mágoa, Delicadeza, Quebra-mar e À Toa, além de composições que nasceram instrumentais e posteriormente ganharam letras, como O Passo da Dança e Flauta, Sanfona e Viola.

O foco no encontro de Dori com Paulo César Pinheiro foi uma escolha natural. “Ele é meu parceiro desde 1969, há mais de 50 anos. Então, era ele ou não tinha outro”, explicou Dori. “A parceria dos dois é muito produtiva e ficou mais delineada nos últimos anos. Escolher 14 canções do Dori para gravar é tarefa muito difícil. Centralizar nesta parceria ajudou. Eles têm um casamento musical importante”, complementou a intérprete.

Mônica conheceu a música de Dori Caymmi quando este morava em Los Angeles (Estados Unidos da América), nos anos 1990. Nesta mesma época, Teco Cardoso se mudou para lá e acabou fazendo parte do grupo de Dori por alguns anos, o que selou a amizade. “Dori escreveu os arranjos para o disco (arranjos de base e de cordas), mas confiou ao Teco a escolha dos músicos maravilhosos com quem gravamos – na maioria, músicos com quem o Dori nunca tinha trabalhado –  e deixou que, no estúdio, acontecessem ideias colaborativas sobre os arranjos”, prosseguiu Mônica. “O Teco, além de tudo, é um amigo querido. Eu sou arranjador, conheço as músicas, mas tem uma parceria, tem as ideias da Mônica, do Teco. Tudo foi feito em conjunto. É um trabalho muito bonito e nós três participamos dessa história”, enalteceu Dori.

 O encontro de Dori e Mônica celebra a admiração mútua que nutrem um pelo outro. “Eu me sentiria muito feliz se alguém me reconhecesse como uma folha da árvore que é Dorival e Dori Caymmi. Dori é um mestre. Cada nota composta ou escrita em um arranjo está ali de forma certeira e sábia. Além disso, tem o violão completamente pessoal e a voz de pai e de terra. A música mora dentro dele e ele a oferece com imensa seriedade e beleza. Sou profundamente tocada por isso”, exaltou Mônica. “O que realmente me instigou e vem acontecendo há algum tempo é a beleza do canto da Monica Salmaso. O que me chamou para esse tipo de trabalho é a maravilhosa cantora que ela é”, respondeu Dori.

 Canto Sedutor é uma declaração de amor ao país. “O Brasil que está na música do Dori é o que me emociona. É o Brasil que, neste momento, está mais quebrado e que, por este mesmo motivo, é imperativo cantá-lo e reafirmá-lo”, opinou Mônica. “É um disco extremamente brasileiro. É esse Brasil que vem da tradição de uma música popular do nosso país. Nem bem música popular, mas música brasileira. Que vem da geração do Ary [Barroso], do Noel [Rosa], do Pixinguinha, que vem da Chiquinha Gonzaga, que vem de tanta gente. É o Brasil que eu sempre pensei e vou morrer pensando nele”, finalizou Dori.

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