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Uma das cinco filhas para as quais a mãe entoava cantigas como forma de tentar amainar a barra de criá-las sozinha, cantora africana com passagem por Portugal e por Salvador (hoje radicada na França, ao lado do parceiro Edouard Heilbronn, também músico), traz em seu novo álbum um grito de resistência que reafirma sua ancestralidade e mestiçagem
O Barulho d’água Música volta a navegar por águas fora do Brasil para trazer de além-mar e apresentar aos amigos e seguidores o Pwanga, terceiro disco da carreira de Lúcia Carvalho, angolana de Luanda, maior cidade e capital do país lusófono da África Central. Com 13 faixas e participação do paraibano Chico César em Desperta (#2), Pwanga está disponível nas plataformas digitais e saiu em formato laser e vinil no final de 2021, pela produtora francesa Zamora. O B’aM o encontrou disponível para ser baixado em formato MP3 pelo blogue La Uva y La Parra, cujo endereço estará ao final desta atualização, mas fica a dica para que a equipe de Lúcia seja contada por suas redes sociais e o álbum comprado diretamente dos produtores, não apenas pelas composições e para apoiar o trabalho dos artistas, mas ainda porque tem um encarte de belíssima identidade visual.
E quem é a autora de Pwanga? Conforme o texto de apresentação do trabalho Lúcia de Carvalho é uma alquimista, uma pesquisadora de sentido e despertadora de essência. Sua voz transmite vibrações que curam e transformam, ao passo que seu tambor faz ecoar as vozes dos antepassados, convidando a nos conectarmos com nosso eu mais profundo. Vozes e ritmos se unem ao serviço da beleza: aquela que vive em nós e aquela que nos rodeia. Para as almas prontas para soltar as amarras, o universo miscigenado de Lúcia de Carvalho atua como um farol que nos convida a manter a direção, apesar dos ventos e marés. Está tudo ali, resta apenas se deixar levar.
A menina nascida em Luanda certamente não suspeitava dos desvios improváveis que o seu destino iria tomar quando ela ouvia sua mãe cantando para aliviar o fardo dos longos dias passados criando suas cinco filhas, sozinha! Ao partir para Portugal, levou consigo as três mais novas e as colocou num centro que acolhia crianças, perto de Lisboa. Lúcia viveu lá por alguns anos, rodeada de brincadeiras, músicas e das mulheres que cuidavam delas. Ela tinha 12 anos quando foi informada de que uma família iria recebê-las, ela e suas duas irmãs, na França. As garotas chegaram, então, a Meistratzheim, pequena vila da Alsácia onde se adaptariam rapidamente, embora sentissem saudades da mãe que ficara em Portugal e de suas raízes africanas, as quais não quer esquecer.
As raízes reaparecem de forma inesperada quando um grupo de música brasileira, o Som Brasil, apresentou-se na pequena vila francesa. Foi com a banda brazuca que Lúcia caiu na estrada. De corista a vocalista principal, ela se banhou por dez anos nos ritmos tradicionais brasileiros, incluindo dança e tambor na sua expressão artística.
Em 2008, decidiu lançar-se em carreira solo escrevendo as próprias canções. Três anos depois, seu primeiro epê Ao descobrir o mundo revelava toda sua paixão pelo ritmo, seus amores brasileiros e seu desejo de fazer essa herança viajar, dando-lhe toques de rock ou reggae. Quem Sou? ela se pergunta em uma das canções. A questão atormenta a nossa aventureira que navega entre a França, as raízes angolanas e o Brasil, a terra prometida. É quando Lúcia conhece Edouard Heilbronn, jovem baixista francês que acabara de passar quase três anos do outro lado do mundo, encerrando sua jornada com uma longa estadia na cidade de Todos os Santos e Todos os Ritmos: Salvador, capital da nossa Bahia. E o que tinha de acontecer, aconteceu. Eles compartilham, hoje, as vidas e a música, trabalham juntos nas composições e percorrem os palcos oferecendo ao público toda a energia solar e radiante de Lúcia Carvalho.
Em seguida, com a maquete de um novo disco em mãos, os dois embarcaram em uma longa jornada, tão musical quanto iniciática, pelo Brasil e por Angola. Kuzola (amar, em Kimbundo) batizou o disco de 2016 e também de um documentário, sensível e comovente, que retrata a busca de Lúcia Carvalho por suas origens, oferecendo as respostas às perguntas sobre sua identidade: “As raízes são Angola, o caule Portugal, a flor Brasil, e a França é o solo que permite que esta flor cresça.” Depois da busca de sentido de Kuzola, ela parte em busca da essência.

Heilbronn (de chapéu) é parceiro de vida e de carreira de Lúcia Carvalho (Foto do Facebook da cantora)
Sempre em simbiose com Heilbronn, começou a aventura que gerou Pwanga, gravado e mixado por Jean Lamoot, no Studios Ferber, em Paris. A África e o Brasil, claro, ainda estão lá, como o coração de quem vive e compõe batidas de tambores, encontrando palavras, melodias e ritmo simultaneamente. Um diamante bruto que seu parceiro lapidou, enriquecendo-o com harmonias e imagens sonoras que fazem das músicas do disco verdadeiros filmes de viagens sublimados pela participação de artistas internacionais vindos do Brasil e de Angola.
Pwanga ni Puy? Luz ou escuridão? Pwanga! Luz é o título do álbum de Lúcia de Carvalho que alia a suavidade ao poder, o sentido à essência, a luz às as raízes profundas de uma árvore nascida na África, cujos ramos abraçam o mundo e florescem em 13 canções brilhantes e comoventes. Ela demorou para perceber, mas na verdade seu nome anunciava sua vocação desde o início. Lúcia significa luz, do Carvalho (árvore): a força da árvore. O que resume sua busca poética e humana: “Enraizar a luz”.
Saiba mais sobre Lúcia, que já é mãe de dois carvalinhos, ao ler a entrevista que poderá ser visitada pelo link abaixo ao final desta atualização, concedida em Portugal. Já em https://www.luciadecarvalho.com há os contatos nos quais ela e a equipe poderá ser contatada e Pwanga adquirido para a sua discoteca! Cola lá e boas viagens!