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A energia dos terreiros de Candomblé e a vibração dos atabaques em Gbó, disco do Selo SESC, convidam a um mergulho nas raízes espirituais que unem o Brasil à África das nações Angola, Ketu, Jêje e Ijexá, em 15 faixas que incluem clássico de Dorival Caymmi
Hoje, 8 de outubro, abrimos as tradicionais audições matinais dos sábados aqui na redação do Barulho d’água Música, no Solar do Barulho, na Estância Turística de São Roque (SP), com Gbó, palavra em yorubá que o autor escolheu para dar nome ao seu primeiro álbum solo. Ele é Sapopemba, cantor, compositor e percussionista e selecionou como repertório a musicalidade das tradições culturais afro-brasileiras. Lançado em 2020 pelo Selo Sesc, Gbó conta com a produção musical de André Magalhães, especialista na gravação audiovisual das culturas populares. Ari Colares, Leo Mendes, João Taubkin, Lula Alencar e Waldemar Pereira acompanham Sapopemba em 13 das 15 faixas do álbum que ainda tem a participação especial de Benjamin Taubkin, da cantora amapaense Patrícia Bastos e do cantor e violonista baiano Roberto Mendes.
“É impossível compreender a música popular brasileira sem passar pelo terreiro.” Ao abrir o encarte de Gbọ́ – termo em yorubá que significa ouça, logo de cara será possível dar com os olhos nessa frase, informa o texto de apresentação que consta na página virtual do Selo Sesc, que assim prossegue: “É nas batidas do candomblé que somos herdeiros de múltiplas áfricas, reelaboradas pelas pessoas escravizadas em solo nacional.”
Sapopemba, mestre da cultura popular, é de batismo José Silva dos Santos. Saiu de Penedo (AL), berço no qual nasceu em 1946, ainda aos 14 anos, e desembarcou em São Paulo para morar no populoso bairro da ZL paulistana Sapopemba, do qual deriva o nome artístico. Além de sua vivência na música, é hoje uma referência nas tradições do candomblé de várias nações, ritmos dos povos pretos e do nordeste e há pelo menos meio século cultua, pesquisa, divulga e assim preserva as influências africanas e suas contribuições que enriquecem e amalgama as tradições e a cultura popular brasileira.
O músico também é caminhoneiro e já trabalhou como mecânico, pintor de parede e taxista. Pelas estradas da vida, viu e ouviu de tudo. Guiado pela curiosidade de transportar, reinventar e descarregar o universo revelador de canções, pode-se, ainda, acrescentar que é também um griô. Sapopemba consegue unir dimensões sonoras ao popular contemporâneo e é tratado como merece por mestre Sapopemba entre seus maiores seguidores e amigos. “É um caso recorrente de musicalidade carregada na pele”, acrescentou o Selo SESC.

Ogã há mais de 50 anos, Mestre Sapopemba é caminhoneiro e já trabalhou como taxista. Seu nome artístico homenageia o bairro paulistano da Zona Leste (Foto: José Holanda)
Com nenhum estudo formal de música, Sapopemba acabou conquistando seu espaço ao carregar um tipo de sabedoria rara e não encontrada nos livros: as experiências de vida relacionadas à música. Do Nordeste para a Zona Leste da cidade de São Paulo, viajando o país como caminhoneiro, integrou o grupo de balé folclórico Abaçaí, visitou a Europa nove vezes para se apresentar em festivais e por lá passou em cidades como Berlim, Paris e Lisboa, respectivamente na Alemanha, na França e em Portugal. Entre outros palcos, cantou na cerimônia de encerramento dos Jogos Pan-Americanos de 2007 (que teve por sede a cidade do Rio de Janeiro), na maioria das ocasiões, entoando músicas de autores nordestinos tradicionais ou mostrando as cantigas de Orixás do Candomblé, no qual há mais de 50 anos (!) tem a função de ogã, o filho dos terreiros que toca atabaque.
Ao longo de 2019, o Selo SESC percorreu alguns desses caminhos ao lado de Sapo. E assim registrou encontros com quem o ajudou a levantar a carreira musical, o amadurecimento do repertório autoral, sua orixalidade e a transposição dum universo de matrizes africanas distintas para o álbum disponível para venda na Loja SESC e também nas plataformas digitais. O resultado também poderá ser conferido no documentário abaixo, O Canto Afro de Sapopemba.
https://www.youtube.com/watch?v=gnBzW45A7v0&t=15s
O cantor e percussionista que, enfim, apresenta seu primeiro disco solo, gravou Gbó como uma marca para representar seus 30 anos de carreira musical. O repertório mescla coco, samba de roda, composições próprias, cantigas do Candomblé das nações Ketu, Ijexá, Angola e Jêje, além de regravações do cancioneiro preto-baiano que mostram a sonoridade dos terreiros na base da música popular brasileira; há, por exemplo, uma releitura do clássico É doce morrer no mar, de Dorival Caymmi.
Sapopemba também gravou Agô: Cantos Sagrados do Brasil e de Cuba (agô é licença, em yorubá) com o grupo de balé folclórico Abaçaí (2003) e participou da trilha do espetáculo Milágrimas, de Ivaldo Bertazzo, além do álbum Guga Stroeter e HB convidam Sapopemba. Protagonizou os programas Provocações e Ensaio, ambos da TV Cultura, e integra o grupo Clareira, com Benjamin Taubkin, Mazeh Silva e outros. Sua trajetória guiou o documentário O Canto Afro de Sapopemba, lançado pelo SESC em 2019, e o documentário Sapopemba pelos Amigos, de Paula Rocha e Caio Csermak.
Para saber mais sobre Sapopemba consulte:
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Sapopemba. Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira.
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↑ Marzochi, Roger (2 de abril de 2020). «O Brasil de Sapopemba que muito brasileiro desconhece». Revista Safra.
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