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Disco com capa de Elifas Andreato traz entre as faixas duas composições inéditas mescladas a composições consagradas do homenageado. E terá concerto para lançamento no Theatro Municipal do Rio de Janeiro
Em 12 de novembro Paulinho da Viola, consagrado personagem de nossa história musical, completará 80 anos de idade e para marcar a data a produtora e gravadora Kuarup já disponibilizou (exclusivamente nas plataformas digitais) Ouvindo Paulinho da Viola, disco com 12 choros que traz temas consagrados como Choro Negro e Sarau Para Radamés, apresenta obras com parceiros e duas inéditas, o choro Chuva Grossa Molha Mesmo e a valsa Carinhosa, compostas com Mário Sève, autor do álbum. Flautista, saxofonista e integrante do seleto grupo de Paulinho da Viola, Sève é também coautor do choro Vou-me Embora Pra Roça, lançado no álbum Sempre se Pode Sonhar, do compositor e sambista. O lançamento do álbum Ouvindo Paulinho da Viola terá direito a um concerto de Sève, programado para duas rodadas no Theatro Municipal do Rio de Janeiro (sala Mário Tavares) em 16 de novembro, às 17 e às 19 horas.
O que muitos pouco sabem é que o famoso sambista é legítimo herdeiro de mestres chorões da importância de Pixinguinha, Jacob do Bandolim, Canhoto da Paraíba e Radamés Gnattali. “O choro é o gênero musical que mais me comove”, já declarou Paulinho da Viola. Seus geniais choros e belíssimas valsas dão sentido à afirmação: Paulinho da Viola é aclamado como um dos principais compositores e intérpretes contemporâneos desses dois gêneros musicais brasileiros. Em 1976, após sua atuação diante dos clubes de choro pelo Brasil e a montagem do seu antológico espetáculo carioca Sarau, que marcou o ressurgimento do Conjunto Época de Ouro, criado por Jacob do Bandolim, Paulinho, por exemplo, lançou um bolachão que revolucionou a história do choro: Memórias Chorando.
Mário Sève conhece muito bem o homenageado. Escreveu Os Saraus de Paulinho da Viola: Choros, Valsas e Memórias. Indicada ao Prêmio CAPES 2020, a pesquisa de Doutorado relaciona a criação artística do cantor, instrumentista e compositor às suas experiências de infância e juventude, quando frequentava o ambiente dos chorões e seresteiros com o pai – o violonista César Faria – e quando conviveu com movimentos musicais que emergiam na música brasileira. Instrumentistas alinhados com a obra de Paulinho da Viola realizaram as gravações dos choros e das valsas deste projeto. Entre eles, estão Cristovão Bastos, Luciana Rabello, Luiz Otávio Braga, Kiko Horta, Hugo Pilger e integrantes do grupo de Paulinho da Viola, como Celsinho Silva, Dininho, Adriano Souza e Mário Sève.
As gravações articulam os sentidos da tradição e da modernidade, dicotomia que atravessa toda a obra de Paulinho da Viola. Os arranjos são de Sève e de Cristovão Bastos. O projeto gráfico da capa do álbum tem o traço de Bento Andreato sobre ilustração do pai, Elifas Andreato, também criador do título Ouvindo Paulinho da Viola. Grande entusiasta e apoiador deste projeto, Elifas Andreato nos deixou antes de vê-lo concluído. O saudoso ilustrador foi o autor da identidade visual dos elepês, cedês e vídeos em DVD de Paulinho durante quase toda sua carreira. Há muito tempo não havia um disco instrumental tão próximo do estilo criado na obra Paulinho da Viola.
Esses novos registros de seus choros e valsas são uma reverência às origens musicais do mestre e uma grande homenagem aos seus 80 anos. Gravado e editado por Paulo Delorenci no estúdio Radamés Gnattali, na UNIRIO (localizado no bairro carioca da Urca) entre fevereiro e junho de 2019, o disco de Sève foi mixado e masterizado por Sérgio Lima Netto no Studio Araras, localizado em Petrópolis (RJ), entre agosto e setembro.
Nascido no bairro Botafogo, na cidade do Rio de Janeiro, Paulo César Baptista de Faria viveu a infância e a juventude presenciando músicos de choro e de seresteiros em encontros musicais promovidos ora em sua própria casa, ora na casa do virtuoso Jacob do Bandolim, a quem seu pai, o violonista César Faria, acompanhava sistematicamente ao violão. Paulinho passou a estar próximo não só de Jacob, mas de uma infinidade de instrumentistas e compositores tais como Pixinguinha, Radamés Gnattali, Altamiro Carrilho, Jonas Silva, Dino Sete Cordas e Canhoto da Paraíba, entre muitos outros chorões.
Desde cedo, Paulinho da Viola também participou de blocos e de agremiações carnavalescas em seu bairro e pelos subúrbios cariocas. A partir de meados dos anos 1960, atuou como violonista no restaurante com música ao vivo no bar Zicartola, famoso ponto de encontro de artistas e intelectuais, de Cartola e da esposa Dona Zica, e a frequentar a Escola de Samba Portela. Recebeu o nome artístico de Paulinho da Viola e tornou-se amigo de Hermínio Bello de Carvalho, Cartola, Nelson Cavaquinho, Zé Kéti, Clementina de Jesus e, posteriormente, tornou-se integrante da ilustre ala dos compositores portelenses e chegou a vencer o Carnaval de 1967 com seu samba enredo Memórias de um Sargento de Milícias.
Por volta do mesmo período, entre 1966 e 1968, Paulinho da Viola frequentou o Teatro Jovem e morou na pensão Santa Teresinha (conhecida como Solar da Fossa), convivendo com diferentes profissionais da área cultural entre músicos, atores, diretores de teatro e de televisão, escritores e poetas. Após atuar no espetáculo Rosa de Ouro, participou dos festivais de música, sempre com muito sucesso, incluindo primeiros lugares com Sinal Fechado e seu megassucesso Foi um Rio que Passou em Minha Vida. Paulinho uniu e nomeou, em 1970, o lendário grupo A Velha Guarda da Portela para a produção de um disco, um coletivo de tradicionais sambistas dos terreiros da escola (como Manacéa, Casquinha, Alberto Nonato, Monarco etc.) que passou com frequência a integrar seus shows e registros fonográficos.
Junto a seu cavaquinho, seu violão e sua aveludada voz, Paulinho da Viola construiu uma das discografias mais íntegras no cenário da música brasileira, mesclando novas e antigas ideias, em obras autorais e de outros compositores, a partir dos universos aos quais foi sempre relacionado: o samba e o choro. Após ter gravado as instrumentais Abraçando Chico Soares e Choro Negro em seus primeiros álbuns de carreira, dirigido com o jornalista Sérgio Cabral, em 1973, o exitoso espetáculo Sarau (de seu grupo com o Conjunto Época de Ouro, integrado por seu pai, mas agora sem Jacob do Bandolim), Paulinho virou um dos pivôs na revitalização do choro por uma nova geração hoje atuante. Participou do movimento de criação dos chamados clubes de choro e, em 1976, lançou os antológicos álbuns Memórias 1 – Cantando e Memórias 2 – Chorando, em que gravou músicas tradicionais, ao lado de inéditas autorais, que se perpetuaram em suas interpretações.
Paulinho da Viola compôs e gravou, na sequência, em 1978, o paradigmático choro Sarau Pra Radamés. Herdeiro de consagrados mestres, pode-se afirmar que Paulinho da Viola é um dos mais respeitados músicos do nosso atual choro, gênero instrumental que ele não deixa de cultivar em suas novas composições, gravações e apresentações. Sempre acompanhado da peculiar sonoridade do seu grupo, o músico tem desenvolvido sua trajetória em discos, filmagens, depoimentos, documentários, em palcos do Brasil e do Exterior. E constrói desde cedo uma carreira brilhante, criativa e coerente, referindo-se costumeiramente, como compositor ou intérprete, às sólidas experiências vividas no universo do choro, da seresta e do samba, suas memórias musicais.

Sève, à esquerda, com os amigos do Nó em Pingo d’água, um dos conjuntos no qual o clarinetista atua no cenário do choro instrumental
Mário Sève é saxofonista, flautista, compositor e arranjador, é fundador dos quintetos Nó em Pingo D’água e Aquarela Carioca. Mestre e Doutor em Música, integra o grupo de Paulinho da Viola desde 1976. Sève dirigiu o Centro de Referência da Música Carioca e escreveu livros como Vocabulário do Choro, Songbook Choro e Choro Duetos. A discografia reúne Bach & Pixinguinha, Choros, Por Que Sax?, Pixinguinha + Benedito, Casa de Todo Mundo, Canción Necesaria, Mário Sève e o dvd Samba Errante. Suas obras já foram gravadas por Mônica Salmaso, Cecilia Stanzione, Clara Sandroni, Roberta Sá, Carol Saboya.
O saxofonista atuou com Ney Matogrosso, Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Guinga, Ivan Lins, Leila Pinheiro, Marisa Monte, Zeca Pagodinho, Moraes Moreira, entre outros, e idealizou e produziu A Paixão Segundo Catulo para o Selo SESC, mais as séries MP, A & B – Argentina e Brasil, Encontros Virtuais e A Paixão Segundo Catulo para os Centros Culturais Banco do Brasil das cidades do Rio de Janeiro, de Belo Horizonte (MG) e do Distrito Federal. Em 2021, idealizou e dirigiu o exitoso Festival 6º Rio Choro — Mostra Virtual Competitiva e lançou o livro Fraseado do Choro: Uma Análise de Estilo por Padrões de Recorrência (Editora Irmãos Vitale), e, ainda, o single autoral Justo Ahora (Mills Records), com Cecilia Stanzione e Ney Matogrosso. Recentemente, Sève foi premiado pelo CNPq para realizar (na UNIRIO, em 2022) uma pesquisa de Pós-doutorado sobre a memória e a criação artística na obra seresteira do violonista e compositor Guinga.
Ficha técnica das gravações
1. Choro Negro (Paulinho da Viola e Fernando Costa): Mário Sève, sax soprano e arranjo/Hugo Pilger, violoncelos/Jorge Filho, cavaquinho;
2. Abraçando Chico Soares (Paulinho da Viola): Mário Sève sax soprano, sax-tenor e arranjo/Kiko Horta, acordeão/Adriano Souza, piano/Luiz Otávio Braga, violão de 7 cordas (solo e acompanhamento)/Jorge Filho, cavaquinho/Dininho Silva, baixo/Celsinho Silva, pandeiro, caixeta e reco-reco;
3. Sarau Para Radamés (Paulinho da Viola):Mário Sève, flauta e adaptação/Rui Alvim, clarinete/Almir Côrtes, bandolim/Adriano Souza, piano/Luiz Otávio Braga, violão de 7 cordas/Jorge Filho, cavaquinho/Dininho Silva, baixo/Celsinho Silva, pandeiro, pratos, caixeta e reco-reco;
4. Carinhosa (Paulinho da Viola e Mário Sève): Mário Sève, sax soprano, flautas em sol e arranjo/Adriano Souza, piano/Luiz Otávio Braga, violão de 7 cordas/Jefferson Lescowich, baixo acústico;
5. Vou-me Embora Pra Roça (Paulinho da Viola e Mário Sève): Mário Sève, sax soprano e arranjo/Kiko Horta, acordeão/Adriano Souza, piano/Luiz Otávio Braga, violão de 7 cordas/Jorge Filho, cavaquinho/Dininho Silva, baixo/Celsinho Silva,pandeiro, caixeta e reco-reco;
6. Um Choro pro Waldir (Paulinho da Viola e Cristovão Bastos): Mário Sève, sax soprano/Luciana Rabello, cavaquinho (solo e acompanhamento)/Cristovão Bastos, piano e arranjo/Luiz Otávio Braga, violão de 7 cordas/Dininho Silva, baixo/Celsinho Silva, pandeiro
7. Eu e Minha Sogra (Paulinho da Viola)/Mário Sève flauta, flautim, sax tenor e arranjo/Adriano Souza, piano/Luiz Otávio Braga, violão de 7 cordas/Jorge Filho, cavaquinho/Dininho Silva, baixo/Celsinho Silva, pandeiro, tamborins e palmas;
8. Chuva Grossa Molha Mesmo (Paulinho da Viola)/Mário Sève, flauta, flautim, sax tenor, e arranjo/Rui Alvim, clarinete/Adriano Souza, piano/Luiz Otávio Braga, violão de 7 cordas (solo e acompanhamento)/Jorge Filho, cavaquinho/Dininho Silva, baixo/Celsinho Silva, pandeiro, atabaques e palmas;
9. Valsa da Vida (Paulinho da Viola)/Mário Sève, flauta e arranjo/Kiko Horta, acordeão/Adriano Souza, piano/Luiz Otávio Braga, violão de 7 cordas/Jorge Filho, cavaquinho/Dininho Silva, baixo
10. Itanhangá (Paulinho da Viola): Mário Sève, sax alto, flauta e arranjo/Kiko Horta, acordeão/Adriano Souza, piano/Luiz Otávio Braga, violão de 7 cordas/Jorge Filho, cavaquinho/Dininho Silva, baixo/Celsinho Silva, pandeiro, reco-reco e ganzá;
11. Beliscando (Paulinho da Viola): Mário Sève, sax soprano, sax tenor e arranjo/Luciana Rabello, cavaquinho (solo e acompanhamento)/Adriano Souza, piano/Luiz Otávio Braga, violão de 7 cordas/Dininho Silva, baixo/Celsinho Silva, pandeiro, caixeta e reco-reco;
12. Inesquecível (Paulinho da Viola): Mário Sève, sax alto/Cristovão Bastos, piano e arranjo.
Direção musical de Mário Sève
Serviço
Paulinho da Viola 80 Anos: Choros e Valsas/Show em homenagem aos 80 anos de Paulinho da Viola, com Mário Sève e Sexteto
Quarta-feira, 16 de novembro
Cenário: Bento Andreato/Luz: Djalma Amaral/Som: Fernando Capaão
Local: Sala Mário Tavares do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, 17 e 19 horas
Endereço: Avenida Almirante Barroso, 14/16, Centro, Rio de Janeiro.
Ingressos: R$5 e R$10
Venda: theatromunicipalrj.eleventickets.com
Capacidade: 160 lugares, com acessibilidade para cadeirantes
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