1591 – Doce. Bárbara. Legal. Fatal. Gal: mais do que um nome, adjetivos. Substantiva, com intensidade.

#MPB #Salvador #Bahia #SãoPaulo #LGBTQIA+ #CulturaPopular

Artista atuante com sorriso de gata, de interior doce sob a pele de bárbara, que jamais se rendeu ao bem bom do mainstream e por quem, agora, o céu está em festa. Fora dos palcos ou longe dos holofotes, Gal encarnou de mais legal as manhas de jamais falar pelas costas. Ao contrário: foi de peito aberto que mostrou a cara e, intrépida como uma Alice, ousou não apenas cantar as maravilhas do país, mas, quando precisou, vestiu nossa camisa, soube escancarar dentes, caras e bocas e denunciar as mazelas de uma sociedade que, de maneira estratosférica, escandalosa e estruturada, despreza o plural, desrespeita e explora minorias. Gente que jamais chegará a brilhar, pois já vem marcada antes de nascer. E esta sina, pelo jeito, perdurará e ainda será seletiva, fatal, em pleno século XXX.

Mais do que uma baby, honey, por que não ser a profana que não se curva às forças estranhas? Sim, Gerald Thomas, ela tinha a voz de Deus! Mas, se não fosse para cantar como o diabo gosta e provocar demônios: para os que sentem na pele o medo do futuro, de que serviria o manancial de esperança e credos que formavam as águas do seu canto, fosse bossa nova ou tropical, frevo ou axé, brega ou romântico, xote ou xaxado, ateu ou candomblé? Vamos combinar? Mais vale ser a ponta de uma agulha do que o enganoso calor de uma fagulha na hora de por os pingos nos is e doar-se, inteira, à arte de tentar ressuscitar tantos corações já destroçados por mesquinharias, oferecer mais do que simplesmente pão, poesia, a irmãos que têm de se sacrificar por uma casa, um buraco, vidas a fio, inteiras e inumeráveis, lutando contra as misérias do cotidiano, mas que também querem liberdade, diversão. E não só pela metade, em qualquer parte!

Ah, Gal de tantos amores, que acalantou nossas fantasias! Ah, Índia, negra, nordestina, sangue tupi, raça, que sempre esteve de corpo e alma mais do que um passo à frente do nosso tempo! Sem jamais ter sido careta, sem necessidade de ser a correta, ainda que sob a forte concorrência de Helôs, Naras, Ângelas, Marias, Bethânias, Cidas, Elis, Dalvas, Simones, Beths, Leilas, Marisas, Ritas, Kátyas, Consuelos, Liras, Inezitas, Jucilenes, Sarahs, Alcinas, Vânias, Patrícias, Ruths, Chiquinhas, Andreias, Marielles, Beneditas, Mônicas, Marlenes, Conceições, Martas, Mirahs, Cistinas, Zélias, Claras, Mirians, Terezas, Catarinas, Márcias, Madalenas, Mércias, Isabel, fica a pergunta: seria você e não aquela a autêntica namoradinha do Brasil, terra que apesar das belezas que enchem aquarelas, ainda insiste e tende ao salgado, ao cruel?

Obrigado, e descanse em paz, Gal. Mais do que uma garota, mais do que uma cantora e intérprete, foste uma Mulher da porra. E fantástica!

A morte de Gal Costa em 9 de novembro, menos de dois meses depois de completar 77 anos, entristeceu familiares, amigos e fãs, do recém-eleito presidente da República, Lula, à esposa dele, Janja, e ainda hoje repercute Brasil afora em veículos de imprensa, mídias sociais e blogues, especializados ou não em cultura e em música. Maria da Graça Penna Burgos Costa, nascida em Salvador Maria da Graça Costa Penna Burgos, subiu ao Plano Maior coroada como uma das mais emblemáticas cantoras, compositoras e multi-instrumentistas do país, a quem em 2012, a revista Rolling Stone Brasil lhe outorgou a classificação de dona da sétima maior voz da música brasileira, marca inconfundível de sua trajetória eternizada em 44 álbuns, gravados entre 1967 e 2021.

Gal Costa partiu no mesmo dia que o mundo artístico também começou a chorar a passagem deste rio de outro ícone da cultura nacional, também em São Paulo, algumas horas depois de o óbito dela ser confirmado: Rolando Boldrin, o querido Sr. Brasil, cantor, compositor, ator, escritor e violeiro sobre quem o Barulho d’água Música escreverá em breve. Antes da fama planetária, conhecida entre os familiares por Gracinha, Gal crescera no bairro soteropolitano da Graça e um de seus hábitos prediletos era ouvir rádio, atiçando em seu interior o desejo de cantar. Seus 57 anos de trajetória remontam a 1965, quando subiu ao palco pela primeira vez e intepretou músicas inéditas de Caetano Veloso e Gilberto Gil em Eu vim da Bahia – samba de Gil sobre a origem da cantora e de ambos os compositores.

Em sua última apresentação, ocorrida no Memorial da América Latina, na cidade de São Paulo, no dia 17 de setembro, como atração do Coala Festival, relembrou 20 sucessos de estilos e gerações diferentes da música brasileira – entre as quais composições de Milton Nascimento, Caetano, Tom Jobim, Djavan e Lulu Santos. A turnê, por sinal, era uma homenagem a Bituca e se chamava As várias pontas de uma estrela. Em 13 de novembro, ao encerrar sua carreira com um show no estádio do Mineirão, em Belo Horizonte (MG), Milton não conteve a emoção e retribuiu o tributo com imagens de Gal Costa, projetadas em um telão, e vários elogios à amiga de estrada.

A discografia de Gal Costa como cantora, intérprete, musa do Tropicalismo e integrante do quarteto Os Doces Bárbaros (formado por ela, a idealizadora Maria Bethânia, Gil e Caetano, em 1976, para comemorar dez anos das carreiras individuais, batizado com o nome da música de Caetano Os Mais Doces Bárbaros em resposta ao jornal Pasquim, que se referia pejorativamente aos baianos como baihunos, numa referência aos povos bárbaros unos) é impecável. E não poucos causaram polêmica.

Sexto álbum de estúdio da carreira de Gal Costa, Índia, lançado em 1973, por exemplo, enfureceu os censores da ditadura militar. Produzido por Gil, inicialmente só podia ser vendido coberto por plástico azul, assim exigiram os “recatados” então donos da tesoura a serviço dos alegados e supostos bons costumes, tios e tias que se escandalizaram com as imagens sensuais escolhidas pela cantora para a capa na qual sobressai uma sensual tanga vermelha (ainda por cima, vermelha!), e contracapa do projeto; em 1994, durante show que protagonizou na casa Imperator, na zona Norte carioca, sob direção der Gerald Thomas, Gal viveu um dos momentos mais emblemáticos da carreira e fez história ao surgir diante da plateia de camisa aberta com os seios à mostra interpretando Brasil, de Cazuza, um de seus mais consagradas sucessos ao lado de Festa do Interior, Baby ou Chuva de Prata, entre tantos.

O álbum de Gal Costa que escolhemos para ouvir enquanto produzíamos esta matéria, no entanto, é o Legal, de 1970. O bolachão trouxe canções conhecidas na voz de outros compositores e intérpretes relacionados à carreira de Gal, como Eu Sou Terrível; London, London; Hotel das Estrelas; e Falsa Baiana, além de Love, Try and Die, primeira composição dela com Jards Macalé e o guitarrista Lanny Gordin. Legal está disponível para ser baixado, entre outros sítios virtuais, no imperdível blogue Cenaindie (https://cenaindie.com/album/gal-costa-legal/), do qual compartilhamos a partir do parágrafo seguinte o artigo, na íntegra, assinado pela cantora Assucena e publicado em 26 de julho de 2020 (quando o Legal comemorava meio século) na versão eletrônica da revista Vogue, do Grupo Globo. A maioria dos demais títulos também pode ser baixada de blogues como Música Eleva a Alma, acompanhada por uma generosa biografia da eterna doce e progressista bárbara (https://musicaelvaaalma.blogspot.com/2014/10/gal-costa-discografia.html), e Música do Nordeste (https://www.musicasdonordeste.net/search/label/Gal%20Costa)

Genial, contemporâneo e perturbador: Legal, de Gal Costa, completa 50 anos

Me perguntaram essa semana: “Como é possível alimentar a criatividade em meio ao caos sociopolítico que o país está enfrentando?” Eu respondi que tudo é matéria prima para um artista, até mesmo os tempos sombrios. Em 1970, enquanto seus parceiros Gil e Caetano estavam exilados em Londres, Gal Costa lançou seu terceiro disco, Legal, em um dos períodos mais obscuros da tenebrosa Ditadura Militar brasileira.

O álbum faz 50 anos em 2020, e chama atenção por sua narrativa perspicaz e por seu teor de atualidade assustador. “Eu te entendo Migliaccio… Agora, quando sentimos o hálito putrefato de 64 e o bafio terrível de 68…” disse Lima Duarte, recentemente em um vídeo dedicado ao seu amado e falecido amigo, denunciando os fantasmas que assombram, hoje, a tão jovem democracia brasileira. É por essas e outras que é preciso chamar a atenção para essa arrojada e atual obra-prima de Gal Costa.

Não quero aqui fazer uma análise musical do álbum, mas tão somente apresentar uma leitura possível, sob um panorama histórico de uma obra que tem a intenção de burlar, com muita ironia, a censura, para denunciar a ditadura e cantar com resistência o seu tempo. Legal foi um dos discos mais deslumbrantes que ouvi em minha vida. Em um desses rituais apaixonados de escuta notei que o nome do álbum expressava uma certa ingenuidade que não combinava com a ousadia do todo: a brincadeira sonora à la française aludindo ao nome da intérprete(Le Gal) e a gíria que habitava a boca dos jovens da época, não davam conta de batizar aquela narrativa contestadora; a não ser que a expressão conotasse mais que o sentido da gíria e da sonoridade. Polissemia. Eureka!!! Mais que “interessante”, mais que o sentido de “bom”, mais que jogos sonoros; Legal traz em seu comboio semântico sua pretensão dura, seu denotativo jurídico, Gal está contestando o conceito de legalidade na Ditadura Militar brasileira, ao mesmo tempo em que zomba da censura, auto intitulando-se legalizada.

Pretensiosamente, o disco começa dizendo a que veio. A capa é do grande Hélio Oiticica. A arte visual traz, lindamente, uma expressão de contracultura. Uma foto 3×4 de Gal, ampliada e partida simetricamente ao meio remete a fotos de presos e desaparecidos políticos. Os cabelos volumosos da cantora são tomados por colagens de fotografias, as quais se alinham à “rebeldia” de suas ondas. Dizem as boas línguas que Hélio camuflou fotografias de um preso político, junto à de ícones da indústria cultural da época e de uma manifestação política; isso em plena capa de um disco chamado Legal.

Deixemos a capa e coloquemos o disco na vitrola. Gal abre os trabalhos com o vigor de uma roqueira setentista, trazendo uma versão da irreverente “Eu Sou Terrível” dos populares Erasmo e Roberto Carlos. Eis um poderoso apelo: começar o álbum por uma canção popular, porém irreverente do iê-iê-iê, a qual já passara pelo crivo dos censores. Entretanto seu canto rasgado – como quem desafia – sua impostação visceral, junto ao arranjo de metais de Chiquinho de Moraes dão à canção outras determinações que não às da Jovem Guarda.

Eu sou terrível e é bom parar/De desse jeito me provocar”

Uma vez chancelada com irreverência, Gal dá um golpe de aparente ingenuidade e apresenta “Língua do P” de Gilberto Gil. Quem nunca na adolescência quis se comunicar por um código que lhe conferisse autonomia linguística? Quem nunca na juventude quis aparentar uma certa clandestinidade na interlocução com seus colegas? Eu tinha uns 8 anos quando ouvi tia Karla e sua amiga Kiu, ainda adolescentes, se comunicando pela língua do P e fiquei fascinada, querendo desvendar aquele mistério. Aquilo que era na superfície ingênuo, era uma metáfora da clandestinidade, uma ode aos ilegais, os quais caçoavam com maestria dos censores: “Garanto que você não vai entender bulhufas”.

Ga-pa-ran-pan-to-po que-pe vo-po-cê-pê/Garanto que você/Não-pão vai-pai, não vai, não-pão vai-pai, não vai/Com-pom-pre-pre-en-pen-der-per ulhufas, bulhufas”

Depois de zombar da censura, vem uma convocação alto-astral, agora de fato, numa língua estrangeira, não clandestina, cheia de hegemonia, mas também cheia de exílio:

Come on, come on, come on and love/Come on, come on, come on and try/Come on, come on, come on and die”

A primeira canção em inglês do álbum traz a esperança e a morte como possíveis consequências dessa convocação. Composta por Jards Macalé, Lanny Gordin e Gal Costa; os três formam o centro criativo-musical da obra. Jards e Lanny assinam genialmente os arranjos de base do disco. Quem faz coro à convocação é, nada mais nada menos, que Tim Maia, Erasmo Carlos, Nana Caymmi e Jards. Mas os tempos são também de silêncios e autoanálises:

Compre, olhe/ Vire e mexa Talvez no embrulho/Você ache o que precisa/Compre, olhe/ Vire e mexa/Não custa nada/ Só lhe custa a vida”

Minimistério, canção de Gilberto Gil, traz a iminência da morte, a alienação sistêmica e o terrorismo de Estado como cenário; por isso a necessidade da atenção redobrada e da reflexão profunda:

Procure conhecer melhor/Sobre a Santíssima Trindade/Procure conhecer melhor/Becos da tristíssima cidade/Procure compreender melhor/Filmes de suspense e de terror”

É com esse terror que Gal anuncia a chegada de Acauã, o pássaro maldito que ao cantar, evoca o sofrimento. A seca que assola o sertão do baião de Zé Dantas, aqui ganha as dimensões continentais do território brasileiro. A promulgação do Ato Institucional Número 5 (AI-5), em dezembro de 1968, pelo general Artur da Costa e Silva, confere à Ditadura sua face mais totalitária: o fechamento do Congresso Nacional e das Assembleias Legislativas Estaduais; a suspensão de garantias constitucionais e o exílio de artistas, jornalistas e intelectuais, os quais eram considerados uma ameaça à “ordem”. O AI-5 institucionaliza a tortura.

Acauã, teu canto é penoso e faz medo/Te cala acauã/Que é pra chuva voltar cedo”

O Lado B de Legal nos apresenta um refúgio solitário, um esconderijo triste, porém tranquilo, no qual a ilegalidade se aloja. Hotel das Estrelas, de Jards Macalé e Duda Machado, é uma canção forte e carregada de melancolia. Quando as ideias assumem o posto da clandestinidade, perde-se o endereço, o emprego, o abraço de quem se ama. No Hotel das Estrelas, só, o indivíduo reconhece sua impotência:

Dessa janela sozinha/Olhar a cidade me acalma/Estrela vulgar a vagar/Rio e também posso chorar”/ … No fundo do peito esse fruto Apodrecendo a cada dentada”

A segunda canção do lado B parece querer expulsar o clima de melancolia do espaço privado. A narrativa se encaminha para o espaço público com um frevo de Caetano Veloso. É carnaval! Porém, essa folia tem um quê de gosto amargo na boca. A guitarra de Lanny traz um timbre agudo e acordes que incomodam e rasgam, a música parece feliz, entretanto suas metáforas são trágicas. O nome da canção? Deixa Sangrar. A ilegalidade não descansa, nem camuflada entre os foliões.

Procurando por você/Meu amor, onde está?/Meu Deus, mas que felicidade/Te encontrar pela cidade/ Com essa cara linda ao sol do meio dia/Rebolando na avenida/Pra desgraça e glória dessa vida”

A canção expressa um diálogo, em um encontro que parece casual e surpreendente, por seu caráter clandestino. Mas o lirismo do poeta não perdoa o instante e a canção sangra em passos de frevo:

Deixa o mar ferver, deixa o sol despencar/Deixa o coração bater, se despedaçar/Chora depois, mas agora deixa sangrar/Deixa o carnaval passar”

O surpreendente encontro casual, em plena avenida, trouxe consigo a promessa de um reencontro. The Archaic Lonely Star Blues, de Jards Macalé e Duda Machado, é tocante, é misteriosa, emocionante e muito bonita. A dinâmica da voz de Gal se transforma ao longo da canção, de um lugar “joão-gilbertiniano”, a interprete se desloca com o arranjo para um rock and roll setentista. A poesia se alterna entre o inglês e a flor do Lácio, numa alusão ao exílio.

Tell me, tell me/ Oh please tell me/Who among friends and even strangers/Who could say that you might?/Eu sei, não me diga/ Esquecer as promessas e mantê-las vivas”. A poesia é uma mina, quando me diz: “Até logo”/ Eu olho e me calo/ Eu nunca sei quem está ao meu lado/Você sabe, continuo o mesmo/Eu ainda preciso me olhar no espelho/Amanhã ou depois
Você sabe onde me encontrar/ Eu vou ficar aqui mesmo/Brincando, dançando, chorando, gritando, morrendo”

O exílio é o refúgio mais seguro para os clandestinos. Nesse caso, o exílio tem o nome de uma cidade fria e distante. London, London é a penúltima canção do disco, escrita em inglês por Caetano Veloso, quase num tom de epístola. A musicalidade traz consigo os trejeitos dos garotos de Liverpool, enquanto a gaita se encarrega em evocar a melancolia. Apesar do alívio por poder viver, o eu-lírico expressa suas angustias, seu cotidiano solitário e um vazio que parece não caber no peito. É que a liberdade no exílio vai até onde a saudade chega.

I’m wandering round and round, nowhere to go/I’m lonely in London, London is lovely so/I cross the streets without fear/Everybody keeps the way clear/I know I know no one here to say hello”

Chegamos ao gran finale! Gal, irreverentemente termina sua obra com um trunfo, a falsidade ideológica. Esse trunfo, além de evocar a ilegalidade, consagra o disco como um dos mais ecléticos e inventivos de sua época. O grande samba de Geraldo Pereira de 1944, é um deboche dos bons:

A falsa baiana quando entra no samba/Ninguém se incomoda/Ninguém bate palma/Ninguém abre a roda/ Ninguém grita:/“Oba, oba, salve a Bahia, senhor do Bonfim!”

Cantado à la bossa nova, Gal homenageia o mestre João Gilberto, reproduzindo o solfejo de Meditação. Um disco sobre ilegalidade, feito por uma migrante nordestina em pleno Sudeste, não poderia ter final melhor, se não com um clássico, Falsa Baiana.

Gal Costa é uma das artistas brasileiras mais inventivas e versáteis de todos os tempos. Quem conhece a grandiosidade de sua discografia sabe do que eu estou falando. Intérprete incomum, esteta arrojada e dona de uma das vozes mais belas de nossa música. Gal inaugura a década de 70, década de ouro de sua carreira, com banca de consagrada. E já não era? Porém há um incômodo aqui que não se trata propriamente da grandiosidade da artista, mas de uma consciência da contemporaneidade narrativa de Legal. Essa atualidade, me angustia profundamente e me deixa em náuseas.

Que tipo de país exilaria seus poetas grandiosos, deixando-os órfãos? Que tipo de país financiaria uma guerra ideológica contra seus artistas e intelectuais? Que tipo de país decretaria suas preciosas canções à condição da clandestinidade? Que tipo de país institucionalizaria a tortura com a falácia de estabelecimento da “ordem”? Que tipo de país atentaria contra a liberdade de imprensa e contra a própria democracia? Que tipo de país teria vivido todas essas tragédias e não teria aprendido com a sua história? Ainda bem que a beleza da obra-prima, supera a intensidade da angústia. Viva Gal!

Assucena é outra talentosa filha da Boa Terra, da cidade de Vitória da Conquista. Já foi duas vezes indicada ao Grammy Latino e ao Prêmio da Música Brasileira e estreou nos palcos com show em homenagem a Gal Costa. Hoje residente em São Paulo, é uma das mais combativas representantes do movimento LGBTQIA+ na MPB. Mulher trans, vem construindo sua carreira artística como cantora e também atriz levantando bem alto a bandeira em defesa dos direitos e inclusão das pessoas trans, que não se identificam com o gênero que lhe foi designado ao nascer.

Nesta sexta-feira, 18 de novembro, Assucena lança Menino Pele Cor de Jambo, em todas as plataformas digitais. O link está em https://links.altafonte.com/pnbp8wp. O álbum conta com direção de Arte e Design do estúdio Oitentaedois; fotografia de Natalia Mitie, com assistência de Renan Martins.

ttps://vogue.globo.com/Vogue-Gente/noticia/2020/07/genial-contemporaneo-e-perturbador-legal-de-gal-costa-completa-50-anos.html

https://cenaindie.com/album/gal-costa-legal/

https://www.cartacapital.com.br/cultura/ousada-e-afinada-gal-costa-se-firmou-como-interprete-soberana-desde-o-inicio-da-carreira/

https://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2022/11/09/janja-lamenta-morte-de-gal-costa-nao-pode-ser.ghtml

https://www.cinematorio.com.br/2022/11/homenagem-gal-costa-e-o-cinema/

https://www.ibahia.com/colunistas/pop-bahia/conheca-assucena-cantora-baiana-que-fez-carreira-em-sao-paulo#:~:text=Assucena%20aparece%20na%20cena%20musical,atividade%20entre%202011%20e%202021.

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