1621 – Eduardo Machado (SP) homenageia João Donato com composições autorais em novo disco, com versão em vinil e nas plataformas digitais*

Álbum resgata o samba jazz, com marcante harmonia da Bossa Nova e fusão ao jazz, à música latina e caribenha, com participação especial do pianista 

*Com Fernanda Martins, Benu Comunicações

fernanda@benucomunicacao.com.br

O compositor e baixista Eduardo Machado lançou nas plataformas digitais Do Nato Samba Jazz, álbum que homenageia o compositor João Donato, atualmente com 88 anos. Machado é um dos mais respeitados contrabaixistas do país e neste projeto que se tornou o décimo álbum da carreira dedicou-se a resgatar o samba jazz, subgênero do samba que emergiu no âmbito da Bossa Nova, com repertório autoral inédito. A proposta além do tributo a Donato é apresentar a riqueza e pureza da música instrumental brasileira, revelando uma maneira jazzística moderna de tocar o samba. Do Nato Samba Jazz também chega ao público em versão vinil dotada de códigos QR com vídeos exclusivos, mais a participação especial do pianista de Rio Branco, cidade que é a Capital do estado do Acre.

Machado reúne a marcante harmonia da Bossa Nova com músicas que se entretecem com a sensibilidade e o pensamento musical de Donato, além de elementos da fusão entre o jazz, a música latina e uma pitada dos ritmos caribenhos, bem como da reincorporação afro-cubana ao jazz. No álbum toca acompanhado de Daniel D’Alcantara (trompete); Vitor Alcântara (sax tenor); Marcio Bahia (bateria) e Eron Guarnieri (piano/teclado), todos reconhecidos internacionalmente. Juntos, os músicos exploram instrumentos além de sua forma tradicional e criam uma atmosfera com hibridismo de estilos como o samba, porém, com a harmonia da Bossa Nova e a melodia que remete ao blues. O ouvinte desfruta de um jogo dinâmico que só a música brasileira propicia, momentos durante os quais os prazeres de ouvir e fazer música se misturam.

Diferentemente da Bossa Nova, que é um estilo de samba, porém com um espírito intimista, o samba jazz pode ser considerado mais enérgico com a desenvoltura da improvisação”, observou o contrabaixista. “Por isso, neste álbum apresentamos o que há de mais nato deste subgênero musical, trazendo à tona as vertentes e as experimentações elaboradas pelo nosso mestre João Donato e ressoando o que de mais contemporâneo se faz hoje”, completou Eduardo.

Do Nato Samba Jazz disponibiliza sete faixas nas plataformas digitais, uma a mais que no formato bolachão produzido pela selo Microgrooves Records em edição limitada de apenas 300 cópias. Os códigos QR abrem vídeos exclusivos das sessões originais de gravação e um vídeo bônus com Pro Baden, de Thiago Carreri, que homenageia o violonista e compositor Baden Powell.

Ura, de Eduardo Machado, é apontada pelos divulgadores de Do Nato Samba Jazz como destaque do disco porque Machado tem por ela um carinho especial. Ele revelou que esta foi a primeira música que compôs, no início da pandemia de Covid-19. Donato a recebeu e, por meio da sua esposa, fez contato com Machado não só para revelar que a aprovara, mas que gostaria de participar do disco. “A partir daí surgiu a ideia desse novo trabalho e a composição das demais faixas”, comentou o autor. Donato, que toca piano em Ura, declarou:Me senti muito à vontade nesta gravação, porque o jazz é a minha casa. A música do Eduardo é uma obra que eu poderia ter escrito, é a minha cara. E os músicos são os melhores do instrumental, que afinal é o paraíso para mim. Ser homenageado num álbum que traz tanto de mim, me faz muito feliz”.

João Donato é uma das maiores referências da música popular brasileira e, portanto, é importante prestar uma homenagem a ele ainda em vida”, disse Eduardo Machado. “Para mim, ele é simplicidade e sofisticação.”

O homenageado João Donato e o compositor Eduardo Machado celebram no álbum do contrabaixista paulista amizade e admiração mútua (Foto: Ismael Derruci)

 

Eduardo Machado, nascido em Andradina e residente em Franca, ambas no Interior do estado de São Paulo, estudou no Musicians Institute (Londres) e é formado no Conservatório de Tatuí (SP). Os críticos o elogiam por expressar ao contrabaixo, destreza e versatilidade, características preservadas em 33 anos de carreira como músico e professor. Além dos dez álbuns, gravou cinco dvds. Ele já ministrou dezenas de workshops de contrabaixo e de música brasileira por todo o Brasil e participou de concorridos festivais, dentre os quais Hong Kong Jazz Festival (China), Jarasum Jazz Festival (Coréia do Sul) e Rio Montreux Jazz Festival (Rio de Janeiro). Ao lado grupo protagonizou cinco turnês na Europa em visitas a Paris (França), Berlim (Alemanha), Amsterdã (Holanda), Zurique e Basel (Suíça) e Cracóvia (Polônia), entre outros, sem contar concertos na Ásia e nas América do Norte e Latina. Em 2009, Machado foi premiado no concurso Novos Talentos do Jazz Savassi Festival, promovido em Belo Horizonte (MG).

O time de renomados da música brasileira com os quais gravou e dividiu palcos apresenta entre outros Zeca Baleiro, Roberto Menescal, Toquinho, Renato Teixeira, Sérgio Reis, João Donato, Jair Rodrigues, Sandra de Sá, Paula Lima, Margareth Menezes, Dinho Ouro Preto, Luiz Caldas, Zé Geraldo, Diego Figueiredo, Larry Coryell, Cyrille Aimée, Arthur Maia, Hamilton de Holanda, Robertinho Silva, Toninho Ferragutti, Victor Biglione, Toninho Horta, Ricardo Silveira, Gabriel Grossi, Marku Ribas, Arthur Maia, Celso Pixinga, Edu Ribeiro, Carlos Bala, Alegre Corrêa, Derico, David Garfield e Roberto Sion.

VALSA PRECOCE

Músico pioneiro da Bossa Nova, João Donato é um dos responsáveis por popularizar a música brasileira no Exterior onde atuou ao lado de renomados expoentes do jazz internacional como Mongo Santamaría, Chet Baker, e Bud Shank. Nascido em Rio Branco, a capital do Acre, João Donato desenvolveu um amor pela música desde muito cedo. Seu primeiro instrumento musical foi o acordeom de papel, que o incentivou a experimentar e a sentir os sons que o cercavam. “Eu saí tocando. Tocava Tatu subiu no pau, Ciranda cirandinha. Se impressionaram com aquilo e foram me dando acordeons melhores”, contou ao Jornal Musical.

O treino de escalas ao piano realizado pela irmã Eneyda e as classes do sargento da banda militar da polícia contribuíram na formação musical do jovem. Aos 8 anos, ele compôs sua primeira peça, uma valsa intitulada Nini. Em 1945, o pai de João Donato foi transferido para o Rio de Janeiro, com a família. Ao chegar à então capital federal, Donato, que havia completado 11 anos, já possuía habilidade no acordeom de 120 baixos, com o qual animava festas e bailes de colégio. Profissionalizou-se quatro anos depois, mas antes já era conhecido no circuito musical. Havia participado de jam sessions na casa de Dick Farney, das quais participavam  Johnny AlfPaulo MouraNora Ney e Jô Soares.

João Donato, que sonhava em ser piloto da Aeronáutica como o pai, foi demovido pelo daltonismo, do qual é portador. Foi a partir daí que se lançou com mais ímpeto em voos repletos de cores que só ele podia nomear. Nas teclas do piano, encontrou um novo refúgio que proporcionou a formação de novos grupos musicais: Donato e seu Conjunto, Donato Trio, e o grupo Os Namorados. Segundo ele, novamente ao falar para o Jornal da Música, “o piano te dá a liberdade. Não é aquele trambolho pendurado no pescoço”

O primeiro disco, Chá Dançante, lançado pela Odeon em 1956, saiu com direção musical do estreante Tom Jobim. Dois anos mais tarde, Donato gravou com João Gilberto Minha Saudade e Mambinho. Neste ano o movimento musical do qual foi um dos pioneiros se fortaleceu e conquista o público como Bossa Nova.

Inquieto e curioso, João Donato partiu para uma temporada nos Estados Unidos da América e atuou sobretudo em cassinos. Lá se aproximou da música caribenha e de seus desdobramentos sobre o jazz e integrou importantes orquestras como as de Cal Tjader, Mongo Santamaría, Tito Puente e Johnny Martinez. Donato também acompanhou o parceiro e amigo João Gilberto em suas turnês europeias.

No início da década dos anos 1960 com a popularidade cada vez maior da Bossa Nova, o nome do compositor se transformou em elemento de culto. João Donato, segundo o jornalista Ruy Castro, “era uma lenda entre os músicos mais novos – para alguns, pelas histórias que ouviam, ele devia ser algo assim como o Curupira ou a Cobra d’água”. Neste período lançou dois discos clássicos da música instrumental: Muito à Vontade (1962) e A Bossa Muito Moderna de João Donato (1963). No final da década, ele retornou aos Estados Unidos da América para trabalhar entre outros com Chet Baker, Nelson Riddle, Herbie Mann e Bud Shank. Ao lado de músicos como Tom Jobim, João Gilberto e Eumir Deodato, ajudou a popularizar definitivamente a música brasileira para além-mar.

Na década de 1970 Donato começou a escrever letras para suas composições instrumentais por incentivo do cantor Agostinho dos Santos. Mais tarde veio novas parcerias ao lado de compositores do calibre de Chico Buarque, Aldir Blanc, Arnaldo Antunes, Cazuza, Gilberto Gil e o do poeta Haroldo de Campos. Depois de um hiato de lançamentos de duas décadas, João Donato regressou em 1996 com Coisas tão Simples. E, em 2017, produziu um trabalho com sintetizadores ao lado do filho, Donatinho. Reverenciado por gerações de músicos, o livre e multifacetado compositor procura estar sempre aberto aos novos voos e paisagens. Seu ecletismo pode ser visto no DVD Donatural (2005), no qual recebe variados músicos que vão de Leila Pinheiro e Joyce Moreno a Marcelo D2 e o DJ Marcelinho da Lua. Recentemente, em 2021 lançou Síntese do Lance em parceria com Jards Macalé. 

Este compositor apaixonado certa vez afirmou que “não se pode viver sem música e sem água” e trouxe infinitas contribuições para a música brasileira. Foi premiado com o Grammy Latino (2010), na categoria Excelência Musical e faturou o Prêmio da Música Brasileira (2018) na categoria de Melhor Álbum Eletrônico, por exemplo.

O portal cenaindie.com disponibiliza em MP3 o álbum Donatural, de 2009, pelo link https://www.srzd.com/entretenimento/cd-donatural-joao-donato-uma-retrospectiva-cheia-de-convidados/

Curta a discografia de Eduardo Machado, incluindo Do Nato Samba Jazz pelo link abaixo:

https://open.spotify.com/artist/0yJHJnd1IgAkkMANcWR501

SANTA AJUDA! Ajude o Barulho d’agua Música a se manter ativo: colabore, a partir de R$ 20, com nossa campanha pela Catarse em busca de assinantes! Ou envie um PIX de acordo com suas possibilidades!

Link da campanha:

https://www.catarse.me/barulhodeaguamusica

Repertório do álbum Ura (Eduardo Machado)/Samblues (Eduardo Machado)/Do Nato Samba Jazz (Eduardo Machado)/Canastra (Eduardo Machado, Diego Figueiredo e Eron/Guarnieri)/Brasileto (Eduardo Machado)/Tapete Azul (Alegre Correa)/Bônus: Pro Baden (Thiago Carreri)

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.