1632 – Cole no Parque Villas Lobos, em Sampa, curta a sonoridade universal da banda paulista e comece a seguir a eclética Nomade Orquestra

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Grupo da emblemática região onde se situa Santo André sobrevive ao coronavírus da mesmice e sem perder a identidade chega aos dez anos de estrada, celebrado pelo público e formando unanimidade entre críticos mundo afora. Inédita e arrojada fusão de ritmos, agora contemplada para uma concorrida turnê pelo ProAc, gerou uma sólida árvore em cujos galhos o quinto álbum já frutifica 

Uma das mais badaladas bandas do momento na cena paulista, que já faz sucesso também junto a plateias de outros estados brasileiros e de países do Exterior, a Nomade Orquestra completou 10 anos em janeiro, quando deu largada à concorrida turnê que faz parte do projeto contemplado pelo edital PROAC  14/2022 Circulação de Espetáculo e já passou por capitais como Rio de Janeiro (RJ), Curitiba (PR), Porto Alegre (RS) e municípios populosos como Ribeirão Preto (SP) e da região do ABC, onde despontou. O grupo também foi atração em espaços cobiçados como o Teatro Elis Regina (São Bernardo do Campo/SP), Blue Note e Casa Natura (São Paulo/SP) e o Parque do Ibirapuera — uma das áreas verdes mais frequentadas de Sampa. Acostumada a juntar e talhada para animar com música de excelente qualidade públicos numerosos, a Nomade agora será atração do Parque Villa Lobos, situado na zona Oeste paulistana, tão procurado como o Ibirapuera. Com entrada franca, a apresentação da Nomade está prevista para começar a partir das 16 horas, quando os portões que dão acesso ao entorno do palco serão abertos para o concerto.

Aqui na redação do Barulho d’água Música, no Solar do Barulho, em São Roque (SP), ouvir os discos da Nomade virou lei desde quando os trabalhos da orquestra, disponíveis no sítio cenaindie.com (https://cenaindie.com/?s=nomade+orquestra), foram descobertos. Para se ter uma medida da popularidade que ela já alcançou nesta década de estrada, embora estejam disponíveis nas plataformas digitais, alguns dos títulos da discografia para tristeza dos que ainda curtem álbuns físicos já estão com as tiragens esgotadas. Não é à toa. Nos veículos nos quais foi notícia, a crítica rasga elogios à pegada da rapaziada que inova e manda muitíssimo bem ao fazer convergirem vertentes e expressões musicais, oferecendo a arrojada proposta de música instrumental autoral que bebe nas fontes do funk, do jazz, do dub, do rock e do afrobeat, entre outras sonoridades cheias de atitude e nenhuma notinha sequer de manérismo/maneirismo.

 

Esta identidade, que começou a ser construída em 2012, reverbera a miscigenação cultural que tanto corre pelas veias de Pindorama, quanto anda em lombo de camelos por escaldantes desertos e coloridas aldeias africanas. E encontra ruidoso eco no ABC, região da Grande São Paulo que abriga — embora ele já esteja em vias de declínio e perdendo força com o recente fechamento de empresas automotivas como a Ford, por exemplo — um polo industrial dos maiores da América Latina. E neste emblemático cinturão, nem todo mundo vive de apertar parafusos, lambuzar-se de graxa, veste macacão, tira o sustento do chão da fábrica. No caldeirão das letrinhas (B, de São Bernardo do Campo; C, de São Caetano do Sul; e, ainda, D, de Diadema; e M, de Mauá), ferve(ra)m transformadoras manifestações do movimento sindical e de defensores de tradições da cultura popular de responsa, ações e iniciativas que já projetaram de líderes políticos a artistas, gente que vai para cima e dá a cara, sem arreglo. Neste mapa-território, o A de lutas renhidas e resistências equivale a Santo André, onde a Nomade deu os primeiros passos.

A formação atual da Nomade Orquestra reúne quase um time inteiro no qual pontificam: Ruy Rascassi (contrabaixo); Ana Elisa Colomar (sax e flauta: você já leu por aqui conteúdos relacionados a ela por participações em projetos dos queridos Neymar Dias, Levi Ramiro, Victor Mendes, Katya Teixeira, Socorro Lira e Ricardo Dutra e Quinteto Aralume, por exemplo); Beto Malfati (sax e flauta); Bio Bonato (sax); Guilherme Nakata (bateria); Luiz Galvão (guitarra); Marco Stoppa (trompete), Marcos Mauricio (teclados e sintetizadores), Rafael Coelho (percussão) e Victor Fão (trombone). Os álbuns lançados começam pelo homônimo Nomade Orquestra, de 2014.

CATÁLOGO GRINGOEste disco de estreia, dois anos depois de lançado, entrou para o catálogo do selo inglês FarOut Recordings (que tem entre outros brazucas a moçada do vanguardista e histórico Grupo Um), o que conferiu à Nomade reconhecimento popular por músicos de excelência, djs, imprensa e resultou no primeiro giro pela Europa, onde visitou Portugal, Espanha, Inglaterra, Bulgária, Dinamarca e Alemanha. Em 2017, saiu EntreMundos, já revelando o amadurecimento do grupo e seu DNA andarilho que expressa justamente sua alma nômade — perfil que permite à banda descortinar paisagens, texturas e experimentações inéditas e faz a cabeça dos amigos e fãs que curtem desbravar praias fora dos cadernos de turismo e catálogos de agências de viagem, algumas selvagens.

Em 2019 veio à tona deste mergulho Vox Populi/Vox Machina, batizando a série de encontros promovidos com cantores da música mundial. O primeiro volume, Vox Populi, de oito faixas inéditas, pôs na área Russo Passapusso (Baiana System), Juçara Marçal (da banda Metá Metá e de álbuns fodásticos como Padê e Encarnado), Siba (irrequieto recifense oriundo do Mestre Ambrósio, que sempre ao dar um passo faz o mundo mudar de lugar) e Edgar (o novíssimo Edgar). Na sequência, Vox Machina trouxe versões instrumentais dessas músicas.

Como a maioria dos artistas e mortais, a Nomade precisou tirar o pé e dar um tempo durante o auge da Covid-19. Mas retomou o fôlego com o mesmo gás, atenuada a pandemia, ao produzir o sugestivo Na Terra das Primaveras, no ano passado. O álbum antecedeu a comemoração pelos dez anos e é temperado por reggae em suas principais músicas. Já para este ano a Nomade planeja o quinto álbum, Terceiro Mundo (um conceito de bloco que abarcou nações pobres que a globalização não apenas desidratou, como fez sumir da mesa no concerto mundial desenvolvimentista) para dar continuidade à pesquisa instrumental que a nos aproxima de outros horizontes e mundos fora das caixinhas, onde a arrebentação lança garrafas com conteúdos e mensagens instigantes que precisam ser lidas e atendidas.

Vamos combinar que não é a onda do mainstream, né? E se eu te contar que para além da criação artístico musical o grupo desempenha também a difusão cultural e atua como arte-educador junto às massas periféricas (o que lembra, sem utilizar nenhuma palavra, os recados poéticos e as porradas do lobo solitário Edvaldo Santana), realizando oficinas, debates e apresentações que buscam estimular novos artistas e pensamentos decoloniais? O brasileiro tem essa mania de tirar leite de pedra, e nós não somos diferentes”, disse Ruy Rascassi. “Viemos de uma região periférica e polo industrial, subvertemos a lógica de ir trabalhar numa fábrica automotiva ou metalúrgica”, emendou o baixista. “Conseguir sobreviver de música e completar 10 anos é um ato de heroísmo. Estamos felizes de, mesmo após uma pandemia, celebrar 10 anos de banda, fazendo o que a gente ama.”

O GUETO PEDE PASSAGEM — Mais adiante, Rascassi soltou a mão e a fez estalar como um bofetão que deve ter deixado marca na cara de muitos: “No Brasil, a música instrumental sempre foi estigmatizada, assim como a cultura do jazz, como algo para a elite, mas é uma música do gueto”. Com esta receita, a Nomade Orquestra vem conseguido quebrar barreiras, na opinião do músico, que compara a música instrumental a um quadro que permite inúmeras interpretações, estimulando a imaginação do público.

Já ao comentar a discografia da banda, Rascassi trouxe à tona a imagem de uma árvore genealógica cujo tronco é primeiro álbum do grupo. Nestes galhos da Árvore-Mãe alimentada por seiva nômade já é possível ver um broto buscando a luz do sol. O fruto será, justamente, o Terceiro Mundo.  “Voltamos à batida dos ensaios semanais e retomamos a convivência. Estamos numa fase de imersão, compondo, gravando e mexendo em composições que já estão encaminhadas”, informou Rascassi, feliz com a retomada dos espetáculos e os novos trabalhos, após a piração da pandemia. “A primavera sempre há de vencer, ela sempre chega.

O Parque Villa Lobos fica nas Avenida Professor Fonseca Rodrigues, 2001 Alto dos Pinheiros, bairro da cidade de São Paulo. Um dos acessos possíveis é a Linha 9-Esmeralda (Osasco-Grajaú) da Via Mobilidade, com desembarque na Estação Villa Lobos Jaguaré.

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Leia mais sobre a Nomade Orquestra em:

https://www.bemparana.com.br/cultura/nomade-orquestra-traz-a-curitiba-nova-turne-para-comemorar-10-anos/

https://www.matinaljornalismo.com.br/rogerlerina/musica/nomade-orquestra-agulha/

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