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Partilha & Solidão tem nove faixas e já está disponível em todas as plataformas digitais
*Com Nane Pereira Comunicação e Arte
O cantor e compositor Léo Vieira gravou Partilha & Solidão, álbum de música pop folk brasileira, partilhas, tons, sons e reencontros já disponível em plataformas digitais. O disco é o primeiro da carreira do artista e conta com a produção musical de Felipe Câmara e as participações especiais de Ana Rafaela, finalista do The Voice Brasil 2012, e de Zé Geraldo, referência do folk brasileiro, além de Ricardo Vignini, Estevão Queiroga, Danilo Moura e Adriano Magoo, entre outros nomes consagrados da cena musical. Vieira contou que resolveu encarar a empreitada após vivenciar experiências em estúdios e texturas sonoras diferentes com onze singles lançados, entre 2017 e 2020. “Era preciso produzir um trabalho com conceito que amarrasse as canções do início ao fim e que me representasse musicalmente da melhor maneira possível”, explicou Léo Vieira.
Partilha & Solidão foi viabilizado pelo 2º Prêmio Herbert Holetz do Fundo Municipal de Apoio à Cultura de Blumenau, edital 004/2019. É composto por nove canções: Viajante (Léo Vieira/Felipe Câmara/Serginho Carvalho), Passarinho da Sorte (Léo Vieira), Medo de Amar (Léo Vieira/Felipe Delatorre), But I Know (Léo Vieira – participação de Ana Rafaela), O Som dos Meus Passos (Léo Vieira, com participação de Zé Geraldo), Você Parece o Mar (Léo Vieira/Felipe Câmara), Você Disse (Felipe Câmara/Rico Ayade), Amor-perfeito (Léo Vieira/Bryan Behr), Nova Noite (Léo Vieira), e mais duas faixas bônus em versão acústica: Passarinho da Sorte e Você Disse.
“Ter o Zé e a Ana como participações especiais no meu primeiro disco da carreira certamente é uma grande honra pra mim”, disse Léo Vieira. “O Zé Geraldo é um grande pai e referência folk no Brasil, o trovador dos trovadores”, emendou. “É um dos meus maiores ídolos e a estrada me deu a sorte de ter sua amizade nos últimos anos”, prossegui. “É lindo poder trabalhar, de igual pra igual, com um cara com a história dele e que tem a idade do meu avô”. A outra participação especial é a da Ana Rafaela, que Vieira considera como “incrível” e relembra que foi finalista da primeira edição do The Voice Brasil quando tinha apenas 18 anos. “É uma grande amiga que encontrei pelo caminho”, observou. “Ela vem pra compartilhar esse DNA da nossa geração, de uma arte comprometida e bem fundamentada do século XXI.”
Cantor e compositor natural de Blumenau (SC), Léo Vieira iniciou a carreira profissional lançando o primeiro epê em 2016. No período, aos 17 anos, estabeleceu uma ponte com a cidade de São Paulo e passou a integrar a cena musical folk paulistana e a conquistar participações com artistas consagrados e oportunidades em mídia e espaços renomados da arte no país. Com Zé Geraldo, recém estreou o single e minidocumentário O Som Dos Meus Passos. O encontro de gerações nos mostra a solidez do caminho do artista, que já teve a companhia de Sérgio Reis em Cata Versos (2018). Vieira faz o pop contemporâneo flertar com a linguagem simples do interior. Vestindo definitivamente a alcunha de trovador pop, segue incansável cantando o amor e a vida, partilha e solidão, viagem e café da manhã. Saiba mais sobre ele em http://www.instagram.com/leovieira.folk
De cantor romântico em festivais dos anos 1960 a compositor mais censurado do Brasil na década seguinte, exilado duas vezes pelos militares, o uruguaio deixou uma fita cassete com quatro gravações inéditas, agora recuperadas pelo colecionador Marcello Borghi; em uma delas, apresenta sua versão para Caminhando, de Geraldo Vandré, em outra, exalta o escritor negro Lima Barreto
A gravadora Kuarup e a Saravá Discos, do cantor e compositor Zeca Baleiro, lançaram em todas as plataformas digitais nesta sexta-feira, 18 de outubro, quatro gravações inéditas de Taiguara reunidas no EP Taiguara Como Lima Barreto, aproveitando o mês de nascimento do artista, que é de 9 de outubro. Os áudios foram recuperados de fitas cassetes do colecionador Marcello Pereira Borghi, que também assina a produção dessa raridade. Além da minuciosa recuperação do áudio das fitas originais, a direção artística de Zeca Baleiro envolveu a gravação por estrelas da MPB de novos instrumentos e de um coral.
Taiguara Chalar da Silva (1945-1996) nasceu em Montevidéu (Uruguai) e morreu precocemente, vítima de um câncer, em São Paulo. Depois de grandes sucessos românticos nos festivais dos anos da década de 1960, Taiguara se tornou o compositor mais censurado do Brasil na década seguinte. Perseguido pelo regime militar, foi para o exílio duas vezes. No segundo retorno, já nos anos 1980, Taiguara incluía as chamadas “canções de protesto” em seus shows.
Fábula escrita há quase 40 anos, que estava na gaveta do consagrado capista, é lançada por editora premiada no segmento de obras didáticas; antes de chegar às prateleiras das livrarias virou disco na voz do baiano tropicalista
O jornalista, artista gráfico e cenógrafo paranaense de Rolândia radicado em São Paulo Elifas Andreato, conhecido por conceber algumas das mais belas capas de discos de todos os tempos da música brasileira, muitas premiadas e expostas em mostras até fora do país ¹, acaba de estrear na literatura também como escritor de histórias infantis. Em 6 de outubro, em uma concorrida livraria da rua Fradique Coutinho, em São Paulo, seus amigos e fãs mais uma vez o prestigiaram, desta vez para o lançamento de A Maior Palavra do Mundo, uma Fábula Alfabética, que conta com 56 páginas ilustradas por Fê, considerado uma dos mais criativos ilustradores da atualidade.
A Maior Palavra do Mundo… é o abre-alas da nova fase da Palavras Projetos Editorias, liderada pelo editor Cândido Grangeiro e formada no segmento de didáticos, destacada por inúmeros títulos aprovados pelo Programa Nacional de Livros Didáticos (PNLD), e que, agora, aposta fichas também no segmento infanto-juvenil. Para Elifas Andreato levar o livro ao prelo, entretanto, demorou 37 anos, tempo no qual os originais ficaram na gaveta do autor. O trabalho teve origem a partir de uma das muitas histórias que Elifas contava para seus filhos quando eram pequenos: contos envolvendo as letras do abecedário.
Depois de pronta, Elifas Andreato enviou a obra para que um amigo especial a musicasse: Tom Zé. “Para mim, uma boa narrativa sempre vem acompanhada de música”, explicou o artista gráfico. Na época, Andreato gravou as composições feitas por Tom Zé em uma fita cassete, que os filhos acabaram levando à escola, fazendo com que toda a turma decorasse as canções e “cansassem” de brincar com as cantigas.
Capa e contracapa do disco de Tom Zé sobre as fábulas de Elifas Andreato
O projeto da fábula musical foi retomado no ano passado, dando origem, primeiramente, ao álbum para o público infantil Sem você não A, que Tom Zé lançou na semana do Dia das Crianças, em outubro de 2017. O livro e o CD, portanto, estão prontos, mas o projeto poderá ganhar, ainda um novo formato, agora como musical.
A Maior Palavra do Mundo, uma Fábula Alfabética envolve um mistério, que se inicia quando o ressentido Silêncio, habitante mais antigo daquelas terras, resolve sequestrar a Curiosidade, a regente de todas as letras. Para libertá-la, Silêncio propõe um enigma: descobrir qual a maior palavra do mundo: “Ela começa com E, tem pelo meio Amor, Alegria, Vontade, Amizade, Felicidade, Solidariedade, Respeito e acaba com as últimas das vogais”.
Antes de gravar o álbum Sem Você não A, Tom Zé ainda estava às voltas com a repercussão do disco de 2016, com temática sexual, Canções Eróticas de Ninar(2016). Guinou de um universo ao outro mostrando o quanto é eclético e sua obra abrangente em apenas 30 dias, após receber um convite do Sesc para apresentar algo novo como parte da programação da entidade para o Dia das Crianças de 2017, da qual ele seria atração. O baiano tropicalista tinha em seus armários a fita cassete que Elifas enviar e sacou que chegara a hora de , enfim, musicá-la. Recorreu a alguns amigos e na empreitada que arremataram em 30 dias buscou colocar elementos que são marcantes para a petizada, deixando com cara de gente miúda o disco que tem participações de Leandro Paccagnella (bateria), Daniel Maia (violões), Paulo Lepetit (baixo, guitarras), Jarbas Mariz (percussões), Adriano Magoo (sanfona, teclados), Luanda, Andreia Dias, Daniel Maia e Jarbas Mariz (coro).
“As repetições, por exemplo. Crianças gostam muito de repetições, por isso eu fiz algumas poucas alterações nas letras do Elifas para colocar um pouco mais desse recurso“, disse Tom, complementando: as letras seguiram a ideia central da fábula criada por Elifas Andreato, explicada minuciosamente no encarte. “Esta fábula não começa com ‘era uma vez…’ porque acontece no abecedário, terra onde vivem os habitantes do alfabeto”, explicou Elifas. A história em que “não há reis nem rainhas, nem princesas, sapos ou fadas” tem as letras como protagonistas. As maiúsculas precisam das minúsculas e as vogais, das consoantes. “Elas bem entendem que letra nenhuma escreve nada de fundamental sozinha.”
A música de Tom Zé para o episódio do enigma proposto pelo Silêncio (lembram dele?) mata a charada: “A maior palavra do mundo é eu / Eu, eu, eu, eu, digo eu / Simplesmente Eu / Eu, eu, eu, eu digo eu / Simplesmente eu.” A música continua: “O Eu é tão gorduchão / É tão gigante grandão / Que o mundo é um pigmeu / Diante de um simples Eu / E como, não se sabe como”.
Tom Zé recordou que em shows de lançamento do disco no ano passado, no Sesc Pinheiros, e a reação das crianças a músicas como esta foi das mais gratas, conforme disse em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo. “Resolvemos usar elementos que usamos em shows, mas trocando símbolos para o universo infantil”, contou Tom. O capacete dos integrantes da banda, um artifício incorporado em outros shows de Tom Zé, era golpeado por um martelo. “Mas, se eu colocasse isso no show de agora e elas fizessem isso em casa, iriam parar no hospital. Trocamos então o martelo por frutas”.
Mas e o Silêncio, esse esperto que cria o conflito na história ao sequestrar a Curiosidade? Tom Zé fala sobre ele na música A Praga do Silêncio, valendo-se à vontade das repetições. “Eu vou te rogar uma praga / Praga, praga / Abracadabra te pega / pega, pega / Assim como flor arrancada do chão / Murcha, murcha, ah ah ah / Estrela tirada do céu / Apaga, apaga, apaga, apaga, apaga.” “Isso (no show) foi uma grande felicidade. As crianças subiram no palco, contra a orientação do próprio Sesc. Olha, quando eu fui fazer esse disco, pedi ao espírito que ele fizesse uma música interessante, e ele respondeu. As crianças, como escreveu alguém, são o mundo a começar de novo.”
Curiosidade fica presa para sempre, mas as letras começam a se solidarizar. Elas se juntam e começam a pensar no enigma, até que o A se desespera e foge para tentar resolver o caso sozinho. E quem se desespera agora são as outras letras, que sentem a falta que um A faz no alfabeto. O mágico G dá uma solução para o problema, quando faz descer do céu algumas de suas amigas estrelas. Elas ocupam as lacunas deixadas pelo A e fazem a leitura ainda possível. Alivia, mas não cura. “Sem você não haverá luas / Nem teremos o azul do mar pra navegar / Ai ai, hum hum / Sem você não A / Sem você não haverá canção”, canta Tom Zé na faixa-título Sem Você Não A.
As letras e as palavras passam por uma revolução desde a chegada das novas tecnologias. Ao mesmo tempo em que as pessoas começaram a escrever mais, o tempo todo, nunca a língua portuguesa foi tão maltratada em abreviações de postagens em Twitter, Facebook e WhatsApp. Tom Zé acredita que o buraco é mais fundo. “Há mais de 20 anos que a universidade forma pessoas que não sabem ler, nem escrever. Antes da internet, a língua portuguesa já estava depreciada pelas autoridades públicas.”
O traço das ilustrações de Elifas Andreato não é conhecido apenas das capas de discos, como a antológica de Bebadosamba, de Paulinho da Viola: ele também é autor de cartazes que marcaram época como o da imagem central
¹Elifas Andreato nasceu em 1946. É jornalista, artista gráfico, capista e cenógrafo com carreira permeada de trabalhos artísticos e jornalísticos; às vezes, simultâneos. Como mostra do reconhecimento pela qualidade de sua obra, recebeu diversos prêmios, entre eles: em 1997, o Prêmio Sharp de Música pela capa do CD Bebadosamba, de Paulinho da Viola; em 1999, o Prêmio Aberje (Nacional e Regional) pela exposição itinerante O Brasil Encantado de Monteiro Lobato; em 2011, o Prêmio Especial Vladimir Herzog, concedido pelo Instituto Vladimir Herzog e outras entidades a pessoas que se destacam na defesa de valores éticos e democráticos e na luta pelos direitos humanos. Entre seus trabalhos mais conhecidos, vale mencionar o musical infantil Canção dos Direitos da Criança, em parceria com Toquinho, que ganhou os palcos em 2017.
Clique no linque abaixo para ler o livro de Elifas Andreato:
Guilherme Rondon é paulista, mas em carreira superior há 40 anos destaca-se como representante da música pantaneira, identificação que já rendeu dois Prêmios Sharp (Foto: Cláudia Medeiros)
O cantor e compositor Guilherme Rondon vai matar as saudades do público de São Paulo nesta quarta-feira, 21, quando a partir das 21 horas estará no palco da casa de shows Tom Jazz, com participações especiais de Rafael Altério e de Adriana Sanchez . O Tom Jazz fica na avenida Angélica, 2331, no bairro paulistano de Higienópolis, telefone 3255-3635. O ingresso, cotado em R$ 50,00, poderá ser reservado pelo endereço eletrônicohttp://www.tomjazz.com.br.
Guilherme Rondon (sentado, à direita), cantará no retorno a Sampa com Adriana Sanchez e Rafael Altério (Crédito: Divulgação)
Guilherme Rondon é paulista, mas em 40 anos de carreira destaca-se no país como representante da música pantaneira, identificação que já rendeu dois Prêmios Sharp (Foto: Cláudia Medeiros)
O Barulho d’Águaacaba de receber três álbuns da discografia do cantor e compositor Guilherme Rondon. Ele próprio enviou ao blog exemplares de “Três” (2007), “Claro que sim” (2001)e “Made in Pantanal”, que, agora, ficarão sempre à mão ao lado de “Piratininga” (1994), que já fazia parte do acervo e é primeiro da carreira. Com este disco, lançado também no Japão, em 2005, o paulista que adotou Corumbá (MS) para viver à beira do Paiaguás ganhou o Prêmio Sharp de 1995da categoria “Revelação”.
Capa do álbum mais recente, de 2007, dedicado aos filhos e aos netos
Guilherme Rondon é do núcleo pantaneiro da música brasileira, parceiro entre outros de Almir Sater, Paulo Simões, da talentosa família de Tetê, Alzira, Celito eGeraldo Espíndola, entre outros nomes consagrados da região Centro-Oeste. Em “Três”, Alexandre Lemos é coautor da maioria das faixas; Zé Edu Camargoassina “Hora Contada” e “Vazante do Castelo”. Entre os convidados, destaque para o saudoso Zé Rodrixem arranjos e vocais, além dos teclados e sanfona de Adriano Magoo e a guitarra de Luiz Waack, inseparável companheiro do paulistano Edvaldo Santana. O disco, todo em compasso ternário, é uma celebração aos três filhos e aos três netos na época do lançamento.
“Claro que sim” também reúne um timaço: Almir Sater (viola), Danilo Caymmi (flauta e voz), Jaques Morelenbaum (cello), Proveta (sax), Pedro Ivo (bateria) e, novamente, Waack. Caymmi canta a obra prima do pai, “Maracangalha”. Murilo Antunese Paulo Simões dividem com Rondon oito faixas, Iso Fischer outras duas e Danilo, uma.
Alexandre Lemos, Zé Edu Camargo, Paulo Simões, Consuelo de Paula, Tavito e Celito Espíndola gravaram com Rondon ou têm participação em “Made in Pantanal”. Lançado para marcar quatro décadas de carreira, o trabalho traz uma faixa bônus em vídeo com imagens do Pantanal. “La Negra” escrita com Consuelo de Paula homenageia Mercedes Sosa, enquanto“Tabuiaiá” é dedicada a Ivan Lins.
A estante de Guilherme Rondon guarda também o Prêmio Sharp de 1992, ano em que o disco “Rondon e Figar” teve 4 indicações e venceu na categoria “Música Regional” com a faixa “Paiaguás”, dele e de Paulo Simões. “Rondon e Figar” tem participações de Almir Sater, Papete(percussão), Mário Lúcio (flauta e sax), Dino Rocha (sanfona) e de Zé Gomes(cujo violino subiu com ele em 2009 para o Plano Superior) além de Renato Teixeira, que canta “Noturno de Prata”. Já com Celito Espíndola, Dino Rocha e Paulo Simões, Guilherme Rondon produziu dois títulos com a banda “Chalana de Prata”,respectivamente em 1996 e 2004. Em ambos, os parceiros buscaram promover um resgate da música pantaneira tradicional, como polca e chamamé, com todas as suas influências da Bacia do Prata.
O repertório do show do SESC Osasco teve 17 músicas, além do bis especial
A cantora Tetê Espíndolaesteve no SESC Osasco, cidade da Grande São Paulo, na noite de 14 de junho, para mais uma apresentação da turnê do álbum duplo formado por “Pássaros na garganta” (1982) e “Asas do etéreo“, lançamento do selo SESC.
Tetê Espíndola trouxe para Osasco um mapa dos estados do Mato Grosso e encantou com vários timbres
Tetê abriu o repertório com “Fio de Cabelo”, sozinha, no palco. Ao conversar pela primeira vez com o público, desejou boas vindas a um show de “tons e timbres”. Então, literalmente cumpriu o anunciado: interpretou as demais 16 canções ao seu consagrado estilo, explorando toda a virtualidade da voz campeã do Festival dos Festivais da Rede Globo, em 1985. A plateia, então, curtiu uma variação de pios, silvos, uivos, gramilvos, cricris, assovios, coachares e outros sons sibilantes ora intensos, ora suaves, vocalises que libertariam do âmago dela não apenas aves bem como sapos, pererecas, jacarés, grilos, borboletas, vagalumes, cigarras e outros seres e elementos característicos e presentes tanto em seu meio pantaneiro-cuiabano-diamantino, como no folclore nacional, gosto de amora brava, zum de abelha em voo de araras…
A plateia osasquense aplaudiu com entusiasmo à apresentação e mesmo depois do bis especial ficou pedindo “mais uma…”
Tetê tirou e soltou no SESC todos os bichos que tem em sua sala, têm sua cara, sua exuberante natureza. E abriu um mapa dos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul para reverenciar cidades de ambos, convite para uma viagem. Visceral sem deixar de ser doce, espontânea ou provocativa, com bailados e sua peculiar gestualidade, entoou desde cantigas habitadas por elfos, salamandras e orixás ao sertanejo lisérgico, tal qual ela mesma classificaria mais tarde “Diga não”, que compôs com Arrigo Barnabé. Nas letras dela e dos parceiros como Hermeto Pascoal, Marta Catunda, Carlos Rennó, o mano Geraldo Espíndolae Bené Fonteles, entre outros, cabem lugares como Ibiporã, a fauna e flora elementares e populares. Nesta alquimia se juntam tudo o que contiver uma galáxia ou se acolhe numa casca de noz; o amálgama faz-se de orquídeas, acácias, buritis, lisas brisas, palavras, palavretas, brisoletas, asalegres, pelepétalas, pacus, furrundus; em resumo, ela corporifica tudo isso: é triz que acende chamas e xamãs, seiva viva, rios de fartas águas e veios poéticos; volátil e cicatriz; motriz que emana em todas as cores; insólita lagarta que ao manejo da craviola transmuta-se mais do que em ponto de luz; crisálida da qual irrompe e ascende interestelar, atriz. Com as bênçãos de Tupã!
A filha ilustre de Campo Grande (MS), portanto, por si só já seria atração. A escala dela em Osasco, entretanto, ainda contou com as presenças de luminares cujos atributos já são sinônimo de escolas: Félix Wagner (piano e vibrafone), Bocato (trombone), Paulo Lepetit (baixo), Adriano Magoo(acordeon), Jaques Morelenbaum(cello), e Dani Black(voz). A direção do show coube a Arnaldo Black e à filha, Milene, para a qual dedicou “Menina”.
Aquele que talvez seja considerado o maior sucesso da carreira de Tetê Espíndola, da lavra do marido Arnaldo Black e de Carlos Rennó, por sinal, estava reservado ao bis de encerramento. “Escrito nas estrelas”, vencedora em 26 de outubro de 1985 daquela edição do Festival dos Festivais, bateu asas em uníssono das gargantas de todos os fãs, há pouco minutos imersos em um brejo para imitar a saparia em um exercício vocal para fazer fundo a uma das músicas: se nada mais ficou em falta para tornar o ambiente ainda mais efluvioso e o show marcante, restavam os merecidos aplausos. Em pé!
Tetê não apenas utiliza o recurso da versátil voz em apresentações: sabe unir a gestualidade às imagens que as letras evocam
O programa do show do SESC Osasco contem um texto de Tetê Espíndola sobre Pássaros na Garganta e “Asas do Etéreo”, que abaixo reproduzo:
“Todo mundo me conhece com a cantora de voz aguda. Realmente, em Pássaros na Garganta(1982), eu estava no auge de minha tessitura de soprano. As minhas composições tinham um ‘cheiro de mato’ quando comecei a explorar sons da natureza através das colagens.
E hoje, em Asas do Etéreo, sinto a maturidade do meu lado de instrumentista. Escolhi 12 músicas especiais e inéditas que compus durante estes anos* e convidei amigos que fazem parte da minha trajetória. Para cada composição um tom da escala musical, um timbre de instrumento diferente e uma emissão de voz única, onde a novidade é o contralto.”
Bocato, Félix Wagner, Tetê Espíndola, Jaques Morelenbaun, Adriano Magoo e Paulo Lepetit