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“Entrei nesses movimentos todos, nessas publicações, porque passei a fazer parte de um seleto time que tinha coragem para realizar aquilo. Muita gente hoje lê a história, mas não imagina o que era de fato (…) Nós éramos todos guerrilheiros, militantes, e toda vez que me chamaram para desenhar alguma coisa com a qual eu concordava, sempre fiz.”
Elifas Andreato, em entrevista para a revista Comunicação e Educação (2006)
O desenho maior, ao centro da imagem acima entre algumas das capas de disco que Elifas Andreato criou, é do ilustrador, compositor e violeiro paulistano Yuri Garfunkel, feito a pedido do Barulho d’água Música seguindo os traços do artista plástico paranaense. Obrigado, Yuri, sucesso sempre para você!
O Brasil amargou no dia 29 de março a perda em suas fileiras de resistência político-cultural do artista plástico, jornalista, escultor e militante de esquerda Elifas Andreato. Aos 76 anos, o mais consagrado ilustrador dos recentes tempos, incluindo os bicudos anos de chumbo, morreu na cidade de São Paulo, de complicações pós infarto que sofrera dias antes. Reconhecido na história do país como autor de mais de 350 capas produzidas desde a era dos elepês em vinil (suporte no qual ficaram mais conhecidos seus peculiares traços), Elifas Andreato também colaborou com vários jornais da imprensa alternativa de enfrentamento ao regime militar, que se estendeu entre 1964 e 1985.
Dias antes de precisar ser internado, Elifas ainda enviou, graciosamente, como era também de sua índole humanitária, uma de suas mais antigas ilustrações ao Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e Região, situada na Grande São Paulo, para ser capa do livroRosca Sem Fim,publicação na qual a entidade denunciará o descaso histórico nas empresas do setor quanto às normas de prevenção e de indenização às vítimas de acidentes de trabalho. Ainda na área da música, recentemente Elifas criara o troféu e todos os elementos gráficos do Prêmio Grão de Música, iniciativa da cantora e compositora Socorro Lira (PB) que, já há oito anos, com o apoio de vários colaboradores, distingue revelações do cenário nacional, contemplando nomes de praticamente todos os estados nacionais.
#Samba # Bossa Nova #Carnaval #MúsicaBrasileira #CulturaPopular
Renomados artistas nacionais vão se revezar no palco do CCBBB em shows presenciais que serão simultaneamente transmitidos por canal virtual nos mesmos dias do evento
O Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte (CCBBBH) apresentará entre 19 e 22 de agosto, sempre a partir das 20 horas, Zé Kéti – 100 Anos da Voz do Morro, realizado pela Duo Produções com idealização e curadoria da publicitária Stella Lima e patrocínio do Banco do Brasil . As quatro rodadas reunirão atrações de diferentes gerações, com o objetivo de enaltecer e perpetuar o legado do cantor e entre os convidados para interpretar as obras do saudoso carioca nascido José Flores de Jesus no bairro Inhaúma estão João Cavalcanti, Zé Renato, Cristóvão Bastos, Sururu na Roda, Casuarina, Fabiana Cozza, Moacyr Luz e Nilze Carvalho. O projeto integra a programação do mês do aniversário do CCBBBH, que completará em 17 de agosto oito anos de atividade. Simultaneamente, haverá sessões com transmissões virtuais grátis, programadas para os mesmos dias e horários das sessões presenciais pelo canal do Youtube do Banco do Brasil ( www.youtube.com/bancodobrasil)
A vida do músico carioca, ex-operário de uma fábrica de vidros, confunde-se com a própria história da Estação Primeira da Mangueira
Do original publicado no portal Brasil de Fato, em 2 de agosto, por Luiz Ricardo Leitão
Ilustração: MAM
Quando o menino Nelson Mattos nasceu, na Santa Casa do Rio de Janeiro, em 25 de julho de 1924, os negros já estavam “livres do açoite da senzala”, mas viviam presos “na miséria da favela”, como advertiram os versos [para o samba-enredo da Mangueira] de Hélio Turco, Jurandir e Alvinho no desfile carioca de 1988 (Cem Anos de Liberdade, Realidade ou Ilusão?). Àquela época, lutando contra o preconceito das elites e a repressão do regime oligárquico da Primeira República, o samba, sem renegar seu passado rural, buscava se afirmar como expressão musical dos negros humildes que habitavam os morros e cortiços da cidade.
Reedição da Kuarup atualiza os caminhos da MPB dos festivais à era digital, revisada pelo autor à luz do cenário cultural do Brasil e do mundo em 2018
Responsável pela existência da sigla MPB (Música Popular Brasileira) e revelação do elenco, resultado de sua iniciativa, o ex-ator, ex-roqueiro, diretor, produtor e realizador Solano Ribeiro atualizou a pedido da Editora Kuarup o livro Prepare seu Coração — Histórias da MPB, já à venda nas melhores livrarias e que terá noite de autógrafos na loja do Shopping Leblon da Livraria da Travessa, no Rio de Janeiro, em 2 de outubro, depois de ser lançado com a presença do autor em 18 de setembro na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo (veja guia Serviços)
Em 1982, nos últimos dias de novembro, a Funarte concluiu a gravação para o Discos Projeto Almirante do álbum Sidney Miller, disponível para audição, com apresentação de Hermínio Bello de Carvalho, no portal Brasil Memória das Artes. De acordo com Bello de Carvalho, o compromisso da Fundação era resgatar algumas das ideias que Miller esboçara antes de cometer suicídio, em 16 de julho de 1980, na cidade onde nasceu, Rio de Janeiro. Miller, filho legítimo do boêmio bairro carioca de Santa Teresa, estudou e publicou os primeiros versos ainda menino, estampando-os na revista da escola, o Colégio Santo Inácio. Prodigioso, com apenas 12 anos, escreveu um romance e o ilustrou com recortes de revista e, irrequieto, já compunha tocando violão “de ouvido”. Ao sair de cena antes do combinado, já contava com três álbuns gravados e planejava, após um breve hiato, lançar Longo Circuito.
Aquele que seria o quarto disco da curta discografia iria para as estantes dos amigos e fãs com selo independente, uma vez que, novamente conforme Bello de Carvalho, “o circuito comercial fizeram-lhe ouvidos moucos”. Para a produção do álbum póstumo, tema deste mês da sérieClássicos do MêsdoBarulho d’água Música, a Funarte convocou parceiros e amigos de MillercomoMaurício Tapajós, a quem confiou o paciente trabalho de recuperação de áudios de apresentações do carioca na Sala Funarte de Brasília e no programa de Bello de Carvalho, Água Viva, na TVE;Paulo Afonso Grisolli, por sua vez, colaborou com fitas que guardavam temas inéditos.
Com este tesouro em mãos, Tapajós montou o que seria um disco-documento. O material, no entanto, foi considerado insuficiente pelos produtores, que, então, escalaram Antonio Adolfo(que produziria o Longo Circuito), encarregando-o de dar corpo à ideia de forma que ficasse bem traçado o retrato de Sidney Miller. “O disco como Sidney o idealizara só ele poderia fazê-lo”, ponderou Bello de Carvalho. “Mas o carinho e obstinação que despejamos neste trabalho é a melhor prova do respeito que guardamos ao seu imenso talento e enorme integridade artística, reservas indestrutíveis que seu desaparecimento não apagou.”
Zezé Gonzaga, Zé Luiz Mazzioti e Alaíde Costa também participaram do tributo da Funarte a Sidney Miller, cujo talento como compositor despontara durante os festivais da década dos anos 1960, caminho comum a outros artistas em busca de consagração à época. Neste período, assim que começou a se destacar em âmbito nacional, muitos o comparavam ao igualmente estreanteChico Buarque, notadamente por conta da timidez de ambos, da escolha por temas urbanos e esmero na construção das letras.
Além destes três fatores, tanto Miller, quanto Buarque, sensibilizaramNara Leão, cantora famosa por revelar novos compositores e que teve grande importância na estreia dos dois – inclusive gravando, em 1967,Vento de Maio, disco no qual dividiam quase todo o repertório: Chico Buarque assinou quatro canções, enquanto Sidney Miller era o autor de outras cinco. Queixa, em parceria com Paulo ThiagoeZé Keti, interpretada porCyro Monteiro (Formigão), tirou o quarto lugar no I Festival de Música Popular Brasileira, promovido pelaTV Excelsior(SP). Queixa não consta em nenhum dos três discos que Miller lançou a partir de 1967, quando pelo selo Elenco, de Aloysio de Oliveira, assinou o primeiro disco, também batizadoSidney Miller e que apresentava temas populares e cantigas de roda comoO Circo, Passa Passa Gavião, Marré-de-Cy eMenina da Agulha. Neste mesmo ano, Sidney Miller juntou-se aThéo de Barros, Caetano VelosoeGilberto Gilpara escrever a trilha sonora da peça Arena contra Tiradentes, de Augusto BoaleGianfrancesco Guarnieri, além de, ao lado de Nara, interpretarA Estrada e o VioleironoIII Festival de Música Popular Brasileirada TV Record (SP), conquistando com esta música que abre o primeiro bolachão o prêmio de melhor letra.
Em1968, também pela Elenco, saiu Do Guarani ao Guaraná, com pegada tropicalista e as participações especiais dePaulinho da Viola, Gal Costa, Nara Leão, MPB-4, Gracinha Leporacee Jards Macalé, entre outros bambas. Pois é, Pra Quê, mais tarde escolhida para o repertório do MPB-4, a joia deste trabalho, levou Miller (que já abandonara a Sociologia e a Economia) a intensificar a carreira na área de produção. Assim, juntamente com Paulo Afonso Grisolli, ele organizou noTeatro Casa Grande (RJ) o espetáculoYes, Nós Temos Braguinha, com o compositorJoão de Barro. E, também com Grisolli, relançou a cantoraMarlene, estrela do concorrido show Carnavália. No ano seguinte, produziu e criou os arranjos de Coisas do Mundo, de Nara Leão, e ainda teve fôlego para, ao lado de Grisolli,Tite de Lemos, Luís Carlos Maciel, Sueli Costa, Marcos Flaksmanne Marlene organizar o espetáculo Alice no País do Divino Maravilhoso, além de compor a trilha sonora do filmeOs Senhores da Terra, do cineasta Paulo Thiago.
Nara Leão ajudou a impulsionar a carreira de Sidney Miller e com ele faturou com a cançãoA Estrada e o Violeiroo prêmio de melhor letra do Festival de 1967
(Também para cinema, Sidney Miller foi o autor da trilha dos filmesVida de Artista (1971) e Ovelha Negra (1974), ambos dirigidos porHaroldo Marinho Barbosa. Importantes peças teatrais contaram com trilhas sonoras assinadas por ele, entre as quaisPor mares nunca dantes navegados(1972), deOrlando Miranda, na qual musicou alguns sonetos deCamões, edo espetáculo aA torre em concurso(1974), deJoaquim Manuel de Macedo.)
O último disco de Sidney Miller, considerado pelos críticos o mais transgressor e com sonoridade que remete ao Clube da Esquina e ao Som Imaginário, coube à Som Livre e se chama Línguas de Fogo. É de 1974. Depois deste trabalho, rompido com as gravadoras, o cantor e compositor protagonizou raras apresentações pois, conforme confidenciava aos mais chegados, tinha aversão aos palcos. Tecia planos para sair do refúgio com o lançamento de Longo Circuito (chegou a entregar a Miltinho, do MPB 4, uma fita com cinco músicas inéditas), mas o encontraram morto em seu apartamento situado no bairro Laranjeiras naquele fatídico mês de julho de 1980. A sala em que trabalhava, na Funarte, no Departamento de Projetos Especiais, passou a se chamarSala Funarte Sidney Millere foi transformada num teatro.
* Parte desta matéria foi produzida a partir de textos sobre Sidney Miller disponíveis na internet escritos por Hermínio Bello de Carvalho e Mara L. Baraúna
Para ouvirSidney Miller, da Funarte (1982), visite: