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Já há mais de dois meses partiu para um plano mais elevado o querido Rolando Boldrin, que se notabilizou como ator, cantor, compositor, escritor, contador de causos como convém aos melhores violeiros e que, pilotando o Sr. Brasil, programa que é inda é sucesso na TV Cultura, celebrizou mais do que uma frase, um compromisso: tirar o Brasil da gaveta. Boldrin sempre se esforçou para assim como Marcus Pereira e Dércio Marques colocar luz sobre trabalhos musicais de excelente qualidade e reveladores da nossa múltipla e diversificada cultura popular assinados pelo país adentro, mas jamais valorizados e, quando muito, pouco divulgados na mídia comercial.
Sim, é preciso que se guarde as devidas proporções. Mas influenciado pelo moço de São Joaquim da Barra, há oito anos este Barulho d’água Música também tenta dar sua contribuição à causa de abraçar e de abrir espaço à moçada que não tem vez com Faustão e quejandos, calderolas nas quais o Brasil Profundo e suas peculiaridades passam bem longe das pautas.
Neste trampo, garimpar é a regra! Fuçar, escavar, sair a campo, encontrar o que estaria perdido por aí, baixar, correr atrás do disco, de contatos e de entrevistas é lida quase que diária! Estaria porque, felizmente, alguns outros doidos doídos como nós aqui no Solar do Barulho também levantaram esta bandeira e, cada um ao seu modo, geralmente heroico e nada recompensador em se falando de “cascalho”, também produzem blogues e portais de combate, teimosia e resistência, os quais possibilitam acesso a material farto, incluindo raridades já fora de qualquer catálogo, tanto de gravadoras ainda na ativa, quanto de ilustres desconhecidas e independentes. Aqui batemos cartão, por exemplo, entre outros, no Em Canto Sagrado da Terra e no Terra Brasilis (que deram um tempo nas atualizações e espero que voltem logo!), no Música do Nordeste, no Quadrada dos Canturis, no Música Eleva a Alma, no Forró em Vinil, no Embrulhador, na Revista Ritmo Melodia, no Ser tão Paulistano e, mais recentemente, no Cenaindie – este de pirar o cabeção, pois oferece um catálogo de endoidecer e que, automaticamente, vicia o “seu vizinho” na tecla de daunloude, liberando álbuns dos mais bem produzidos projetos de gêneros diversos, geralmente, lançados fora das casinhas do caolho mainstream.
O Cenaindie (cenaindie – Download de Música Independente – Baixar MP3 do Brasil e do Mundo) arrebenta com qualquer rótulo, é para quem curte mergulhar em águas nas quais a criatividade, o talento e a independência são regras básicas a serem seguidas para a qualidade musical desde a capa dos projetos. Traz maravilhas de vários cantos do país que vão do metal e do rock alternativo, progressivo e psicodélico (de hoje e de ontem) ao folk e ao hardcore, passando, generosa e copiosamente, pela música eletrônica, indie, instrumental, lo-fi, pop, samba, MPB e ritmos como rap, reggae e jazz brazuca. Já passam de cinquenta os álbuns que baixei de lá salvos em uma pasta especifica só para reunir os arquivos do Cenaindie, todos devidamente apresentados por brilhantes textos jornalísticos com informações completas sobre os autores extraídos de revistas, jornais, programas de rádio e de televisão, mídias virtuais e apoiados por vídeos, por exemplo.

Capa do disco dedicado à primeira obra de João Antonio
Um destes álbuns baixados é Malagueta, Perus e Bacanaço, de Thiago França, compositor que o Cenaindie apresenta como “uma das figuras mais ativas do independente nacional no momento”. O Cenaindie vai além e conta que França integra o grupo Metá Metá, tem vários projetos próprios (como o Sambanzo e o trio de improviso MarginalS). Inspirado em Malagueta, Perus e Bacanaço, do livro homônimo do escritor João Antônio, o disco nasceu em homenagem aos 50 anos do lançamento do famoso conto — um dos meus preferidos desde antes da faculdade de Jornalismo na PUC-SP e de foca dedicado e esforçado no combativo jornal Primeira Hora, em Osasco, Grande São Paulo. No livro, entre causos, códigos e personagens, João Antônio nos apresenta a três malandros que varam as noites paulistanas pelos salões de sinuca em busca de encaçapar, bolas e minas. É um relato tipicamente paulistano, cru, cinzento e pouco esperançoso, em que Sampa é pano de fundo e personagem da trama que envolve seus protagonistas.
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