1566 – Pandemia enverga, mas não dobra Levi Ramiro (SP): violeiro se reconecta à companheira de estrada e da solidão e do medo tira oito canções inéditas

#MPB #ViolaBrasileira #ViolaCaipira #ViolaInstrumental #CulturaPopular

Já nas plataformas digitais, Luz oculta tem, ao todo, dez faixas. Apenas duas são regravações. Décimo segundo disco do músico, traz parcerias com Bené Fonteles, Consuelo de Paula, Fernando Guimarães e Paulim Amorim,

O cantor, compositor, luthier e violeiro paulista Levi Ramiro está lançando mais um álbum para deleite dos amigos e seguidores, o 12º da profícua carreira: Luz Oculta. O disco, segundo o próprio Ramiro, foi “gravado de prima” somente com voz e viola, depois, em algumas faixas, o músico acrescentou uma linha de viola e em Miração um trecho recitativo. Do total de dez faixas, há oito inéditas e duas são regravações. Sempre cercado de bons espíritos, amizades mundo afora e da natureza que o inspiram, “isolado”, ele sentiu em casa o baque do isolamento forçado pelo coronavírus. Mas Levi Ramiro é irrequieto, tem força de bambuzal e  não deixou os laços com os parceiros esfriarem: a seu modo afável os requisitou ao trabalho como se estivessem compartilhados ao pé do fogão de lenha ou à beira de um córgo pescando. A lista tem Bené Fonteles e Consuelo de Paula (que assinam textos primorosos no encarte, publicados abaixo), Fernando Guimarães e o agora saudoso Paulim Amorim (RJ).

(À época dos preparativos e do arremate de Luz Oculta, Amorim acabara de partir, antes do combinado, na noite de Natal: dele, em breve, vamos publicar uma matéria exclusiva. Dois meses depois, Vidal França (BA) também encantou. Ao fluminense e ao baiano vai a dedicatória carinhosa de Levi Ramiro.)

Luz Oculta já está disponível nas plataformas digitais e em versão física, com capa que traz uma poética fotografia de Tereza Ludgero, a Teka, e encarte gráfico de Rebeca Freitas, companheira e sobrinha de Levi. Sem mais delongas, com a palavra e a viola, Levi Ramiro, que inicia o texto de apresentação com agradecimentos

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1500 – Contribua para a gravação do novo álbum do “artivista” paraense Bené Fonteles

#MPB #ArtesPlásticas #Literatura #Poesia #BragançaPA

Artista plástico, jornalista, editor, escritor, poeta, cantor, compositor e xamã, entre outras formas de expressão que formam as várias facetas do incansável “artivista” que, conforme a própria definição, ele encarna, Bené Fonteles disparou campanha na internet para coletar contribuições entre amigos e tirar do papel o disco D’Alegria. Em formato físico e digital, D’Alegria será gravado no Sítio Arvoredo, em Pocinhos do Rio Verde, distrito de Caldas (MG) e onde fica o estúdio Venta Moinho “debaixo de um pé de jequitibá” do amigo, violeiro cantor e vizinho de porta João Arruda. O trabalho reforçará uma discografia que, fora a participação em outras gravações¹, inclui os autorais Benditos, coletânea de 2003 que mescla Benedito (1983), Silencioso (1987) e (1991); Silencioso tem apenas capa, já que sua proposta conceitual é a de que seja ouvido o silêncio.

Em 2019, em parceria com Lucina, Fonteles gravou Canções para Pescar Almas (Foto: Patrícia Ferraz)

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SESC Osasco pulsa iluminado por Tetê Espíndola e convidados

O repertório do show do SESC Osasco teve 17 músicas, além do bis especial

A cantora Tetê Espíndola esteve no SESC Osasco, cidade da Grande São Paulo, na noite de 14 de junho, para mais uma apresentação da turnê do álbum duplo formado por “Pássaros na garganta” (1982) e “Asas do etéreo“, lançamento do selo SESC.

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Tetê Espíndola trouxe para Osasco um mapa dos estados do Mato Grosso e encantou com vários timbres

Tetê abriu o repertório com “Fio de Cabelo”, sozinha, no palco. Ao conversar pela primeira vez com o público, desejou boas vindas a um show de “tons e timbres”. Então, literalmente cumpriu o anunciado: interpretou as demais 16 canções ao seu consagrado estilo, explorando toda a virtualidade da voz campeã do Festival dos Festivais da Rede Globo, em 1985. A plateia, então, curtiu uma variação de pios, silvos, uivos, gramilvos, cricris, assovios, coachares e outros sons sibilantes ora intensos, ora suaves, vocalises que libertariam do âmago dela não apenas aves bem como sapos, pererecas, jacarés, grilos, borboletas, vagalumes, cigarras e outros seres e elementos característicos e presentes tanto em seu meio pantaneiro-cuiabano-diamantino, como no folclore nacional, gosto de amora brava, zum de abelha em voo de araras…

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A plateia osasquense aplaudiu com entusiasmo à apresentação e mesmo depois do bis especial ficou pedindo “mais uma…”

Tetê tirou e soltou no SESC todos os bichos que tem em sua sala, têm sua cara, sua exuberante natureza. E abriu um mapa dos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul para reverenciar cidades de ambos, convite para uma viagem. Visceral sem deixar de ser doce, espontânea ou provocativa, com bailados e sua peculiar gestualidade, entoou desde cantigas habitadas por elfos, salamandras e orixás ao sertanejo lisérgico, tal qual ela mesma classificaria mais tarde “Diga não”, que compôs com Arrigo Barnabé. Nas letras dela e dos parceiros como Hermeto Pascoal, Marta Catunda, Carlos Rennó, o mano Geraldo Espíndola e Bené Fonteles, entre outros, cabem lugares como Ibiporã, a fauna e flora elementares e populares. Nesta alquimia se juntam tudo o que contiver uma galáxia ou se acolhe numa casca de noz; o amálgama faz-se de orquídeas, acácias, buritis, lisas brisas, palavras, palavretas, brisoletas, asalegres, pelepétalas, pacus, furrundus; em resumo, ela corporifica tudo isso: é triz que acende chamas e xamãs, seiva viva, rios de fartas águas e veios poéticos; volátil e cicatriz; motriz que emana em todas as cores; insólita lagarta que ao manejo da craviola transmuta-se mais do que em ponto de luz; crisálida da qual irrompe e ascende interestelar, atriz. Com as bênçãos de Tupã!

A filha ilustre de Campo Grande (MS), portanto, por si só já seria atração. A escala dela em Osasco, entretanto, ainda contou com as presenças de luminares cujos atributos já são sinônimo de escolas: Félix Wagner (piano e vibrafone), Bocato (trombone), Paulo Lepetit (baixo), Adriano Magoo (acordeon), Jaques Morelenbaum (cello), e Dani Black (voz). A direção do show coube a Arnaldo Black e à filha, Milene, para a qual dedicou “Menina”.

Aquele que talvez seja considerado o maior sucesso da carreira de Tetê Espíndola, da lavra do marido Arnaldo Black e de Carlos Rennó, por sinal, estava reservado ao bis de encerramento. “Escrito nas estrelas”, vencedora em 26 de outubro de 1985 daquela edição do Festival dos Festivais, bateu asas em uníssono das gargantas de todos os fãs, há pouco minutos imersos em um brejo para imitar a saparia em um exercício vocal para fazer fundo a uma das músicas: se nada mais ficou em falta para tornar o ambiente ainda mais efluvioso e o show marcante, restavam os merecidos aplausos. Em pé!

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Tetê não apenas utiliza o recurso da versátil voz em apresentações: sabe unir a gestualidade às imagens que as letras evocam

O programa do show do SESC Osasco contem um texto de Tetê Espíndola sobre Pássaros na Garganta e “Asas do Etéreo”, que abaixo reproduzo:

“Todo mundo me conhece com a cantora de voz aguda. Realmente, em Pássaros na Garganta (1982), eu estava no auge de minha tessitura de soprano. As minhas composições tinham um ‘cheiro de mato’ quando comecei a explorar sons da natureza através das colagens.

E hoje, em Asas do Etéreo, sinto a maturidade do meu lado de instrumentista. Escolhi 12 músicas especiais e inéditas que compus durante estes anos* e convidei amigos que fazem parte da minha trajetória. Para cada composição um tom da escala musical, um timbre de instrumento diferente e uma emissão de voz única, onde a novidade é o contralto.”

Bocato, Félix Wagner, Tetê Espíndola, Jaques Morelenbaun, Adriano Magoo e Paulo Lepetit

* Os amigos mencionados por Tetê Espíndola, além dos já citados no texto acima, são: Egberto Gismonti, Duofel, Almir SaterTeco Cardoso e Trio Coroa.

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Capa do álbum duplo de Tetê Espíndola já é uma obra de arte