1627 – Recordista brasileiro de prêmios em festivais de viola caipira, Bilora lança quinto álbum da carreira

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Com 14 faixas, Viola Orgânica celebra várias parcerias, traz participações especiais e foi gravado com recursos próprios e do Fundo de Cultura de Contagem , cidade, onde será a apresentação

O cantor e compositor Bilora, um dos principais violeiros do país, será atração no domingo, 21 de maio, do Parque Ecológico do Eldorado, situado na cidade de Contagem (MG). Recordista na história dos festivais nacionais de viola caipira com mais de 150 prêmios, Bilora protagonizará a partir das 11 horas concerto de lançamento de Viola Orgânica, quinto álbum da carreira e que inclui entre as 14 faixas algumas já premiadas. Viola Orgânica traz parcerias e participações do cantador baiano Álison Menezes (Viola vai, Viola vem), do indígena maxakali Rogério Maxakali (Myn Yan Espinho) e do também violeiro e mineiro Wilson Dias (Estrela Guia). O autor destacou que o disco (em cuja capa do formato físico ele canta observado atentamente pelo simpático Chico, cão de estimação de uma sobrinha) propõe a necessidade de valorizar a simplicidade e a pureza dos universo pessoal e interpessoal, tanto no que diz respeito à saúde, por exemplo, como, ainda, à preservação do meio ambiente, passando pela relação com a cultura e as tradições que definem nossa identidade e se fundamentam como valores humanos.

Valmir Ribeiro de Carvalho/Bilora nasceu em Santa Helena de Minas, situada no Vale do Mucuri, próxima à divisa com o Sul da Bahia e do Vale do Jequitinhonha. Na região onde nasceu Bilora teve estreito contato com manifestações da cultura popular como folias, batuques, cantigas de roda, contradanças, festas juninas e cordéis, experiências que ajudaram a moldar seu perfil artístico. Atualmente, reside em Contagem, um dos mais importantes munícipios das Minas Gerais. Formado em Letras, fora dos palcos atuou como professor de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira no interior de Minas Gerais e Oficina de Música. É um dos criadores e ex-presidente da Associação Nacional dos Violeiros do Brasil (ANVB) em cujo posto colaborou Brasil afora com a promoção de encontros de violeiros e seminários em torno do instrumento de dez cordas. Em 2018 estreou como escritor ao publicar Certa Feita… Causos do Vale do Mucuri, que reúne histórias, costumes e lendas de sua região natal.

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1597- Blas Rivera, Chico Lobo e Ricardo Gomes lançam Vertentes, mais um álbum da eclética grife Kuarup

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Já disponível nas plataformas digitais, disco instrumental de composições autorais e clássicos da MPB forma caldeirão de sons e arranjos

Águas que transbordam, jorram, vertem pelas encostas, pelos declives. Assim três artistas com suas histórias, seus instrumentos, suas raízes e seus estilos formam, cada um, uma nascente de águas musicais que, ao escorrer, gera riachos de arranjos e de sons e dá vida a um rio fértil, de leito profundo. Essa é a descrição que mais bem pode definir o encontro de Chico Lobo (mineiro, natural de São João Del Rei), com Blas Rivera (natural de Córdoba, Argentina, radicado na cidade do Rio de Janeiro) e Ricardo Gomes (mineiro, de Belo Horizonte), um “power trio” universal que une viola caipira, sax e piano, e baixo elétrico, respectivamente. Formação inusitada, o talento do triunvirato ganhou liga e força com a presença do produtor musical Sérgio Lima Netto e resultou em Vertentes, disco gravado em parte no Estúdio Araras (encravado nas montanhas da região serrana da capital fluminense) e parte no estúdio RG, em Belo Horizonte) que apresenta composições de Rivera e de Chico Lobo mescladas a releituras de clássicos nacionais. São sons que têm raízes nas milongas argentinas, nos toques mágicos da viola dos sertões de Guimarães Rosa e também passam pela linha jazzística da fina flor da música popular brasileira e constituem o eclético mosaico de mais um ótimo disco lançado e distribuído pela Produtora e Gravadora Kuarup, estabelecida na cidade de São Paulo .

Vertentes é um caldeirão de músicas instrumentais e arranjos que emociona. Milonga Sudaca, Vazante, Réquiem, Agreste, O Mundo é Um Moinho vão se misturando às demais faixas executadas com a precisão comum aos três artistas. Cada qual com seu estilo, eles se juntaram e conseguiram produzir tons de cores sonoras mais quentes em músicas instrumentais que deslizam de forma leve. E os ouvintes ainda são brindados com as participações especiais de Walther Castro (bandoneon) e do inglês David Chew, ao violoncelo. O resultado é mesmo belíssimo, com alma tanto regional, quanto universal, tradicional e contemporânea.

1) Milonga Sudaca é uma composição de Blas Rivera, que tem forte rítmica e execução, reforçada pela participação de Walther Castro ao bandoneon, junção que confere ao álbum um início vigoroso;

2) Vazante: um dos principais temas instrumentais de Chico Lobo e que simboliza a vida, pois a vazante ocorre quando há cheia nos rios e formam-se lagoas adjacentes, nas quais os peixes procriam e a terra se torna mais fértil para o plantio;

3- Ave Maria no morro: um dos maiores sucessos do compositor e cantor Herivelto Martins em Vertentes ganhou versão inédita e inusitada, releitura que permitiu o encontro poético entre sax, viola caipira e baixo, um conjunto perfeito para emocionar e homenagear a música popular brasileira;

4- Córdoba: composição de Chico Lobo para o álbum, esta música homenageia a cidade natal de Blas Rivera. Com ares de guarânia e de milonga, nasceu a partir da vivência do violeiro mineiro com a música da América do Sul e de sua aproximação com o argentino. O baixo bem marcado de Ricardo Gomes contribui para criar o belo chão para o diálogo afinado entre viola caipira e sax;

5- Réquiem: Blas Rivera compôs para Osvaldo Bayer, querido, admirado, respeitado historiador, jornalista, pesquisador e escritor. O réquiem é uma missa com música e texto que celebra a memória de um falecido, mas aqui não existe luto, só emoção. Réquiem tem ritmo de milonga. Embora seja para a memória de Dom Osvaldo, mais que tudo, tem a intenção de fazer muito barulho para ele voltar, acordar ao invés de descansar! Por isso Rivera optou pela Milonga, não pelo Sanctus;

6- O mundo é um moinho é uma das mais clássicas composições do mestre carioca Cartola, apontado como o maior sambista que o Brasil já conheceu e ganha agora versão instrumental, com levada de jazz;

7- Alma perdida: balada em ritmo de zamba, uma dança (danza) folclórica argentina, composta por Rivera para recordar um ser querido. O lamento é completamente acolhido pelo trio para poder assim passear junto a uma alma que se foi;

8- Luar do sertão: joia de Catulo da Paixão Cearense vertida para violas e baixo que promove um diálogo de cordas em tributo ao sertão brasileiro;

9- Até a sua volta: mais uma música de Rivera, especialmente para o violoncelista inglês David Chew. No álbum promove conversa mágica entre os quatro instrumentos; além do ritmo, do tempo, do espaço e dos limites formais do som;

10- Agreste: assinada por Chico Lobo em uma de suas idas a Portugal. Ao ver o Alentejo amarelo seco, o mineiro fez um contraponto com o agreste brasileiro. É um tema dramático, que flerta com a música armorial nordestina.

Argentino de Córdoba, as origens de Rivera misturam ainda raízes francesas, italianas e espanholas e, atualmente, o multi-instrumentista mora na cidade do Rio de Janeiro (Foto: Arquivo do Facebook de Rivera)

Blas Rivera é saxofonista, pianista, compositor e arranjador nascido em Córdoba, na Argentina, cidade na qual estudou piano, sax e composição. Rivera cresceu sob a influência do rock e da música clássica, mas se apaixonou pelo jazz e pela bossa nova. Nos Estados Unidos da América estudou jazz, música para cinema e música étnica como aluno do conceituado Berklee College of Music e também no New England Conservatory. Depois de viver durante 15 anos no Brasil, mudou-se para a Espanha, mas já regressou ao nosso país.

As origens de Rivera misturam raízes francesas, italianas e espanholas. O multi-instrumentista levou seu tango-jazz por todo o continente americano, além da Nova Zelândia, da Indonésia e por vários países da Europa tais quais: França, Alemanha, Dinamarca, Inglaterra, Itália, Espanha, Grécia, Islândia e Suíça, onde, em 1999, foi reconhecido como músico revelação no Festival de Jazz de Montreux. Desde então já lançou oito álbuns, o mais recente em 2018, Jaque Mate, produzido entre as cidades do Rio de Janeiro, Buenos Aires, Córdoba, Madrid e Paris.

Suas apresentações variam desde solo (em sax tenor e piano), a duetos, passando por trios, quartetos (inclusive de cordas), quintetos e orquestra de cordas, entre outras formações. Rivera sempre turbina suas turnês com seminários e workshops não só para instrumentistas e compositores, mas também para bailarinos e coreógrafos. Na capital fluminense participa de projetos sociais de musicalização para jovens de comunidades carentes; já dividiu o palco com mestres como Fernando Suarez Paz e Pablo Ziegler, músicos do Quinteto de Astor Piazzolla, Paulo Moura, Marcos Suzano, Yamandu Costa, David Chew, Vitor Biglione e Carmen Paris, entre outros.

Apresentador de televisão, de rádio, produtor musical, escritor, cantor, o violeiro inquieto faz com que sua obra torne a aldeia global mais caipira (Foto: Ricardo Gomes)

Chico Lobo é natural de São João Del Rey e já completou mais de 40 anos de carreira. É considerado pela crítica um dos artistas mais atuantes no cenário nacional pela divulgação e valorização da cultura de raiz brasileira. Com 27 discos, dois DVDs e um livro lançados protagoniza shows por todo o Brasil e já encantou plateias em Portugal, Itália, China, Canadá, Argentina, Chile, Colômbia cantando suas raízes, mas sempre conectado à contemporaneidade.

Folias, catiras, modas, batuques, causos e toques de viola desfilam com alegria em seus concertos. Chico Lobo é tetracampeão (2015, 2016, 2017 e 2021) do Prêmio Profissionais da Música (PPM) como Melhor Artista Regional, troféus que recebeu em Brasília (DF). O violeiro mantém na cidade natal o Instituto Chico Lobo e por meio dele desenvolve projetos de ensino de viola e da cultura raiz para crianças das zonas rurais.

Desde 2006, Chico Lobo mantém relação artística com Portugal por meio do Encontro de Violas de Arame, em parceria com o músico e parceiro português Pedro Mestre, representante maior da viola campaniça da região do Alentejo. Esses encontros geraram o álbum Encontro de Violas e o DVD De Minas ao Alentejo e deu vida ao congraçamento de um projeto que caminha para o 11° Encontro de Violas de Arame. Chico Lobo já trouxe duas edições presenciais ao Brasil, além de uma virtual, fortalecendo a amizade e a partilha pelas cordas da viola que unem Brasil e Portugal. Em 2015 Maria Bethânia escolheu Criação, de autoria de Lobo, para compor o repertório do show e do DVD Abraçar e Agradecer, em comemoração aos 50 anos de sua carreira. Depois Bethânia gravou participação no álbum Viola de Mutirão, no qual canta a moda de viola Maria, que Chico Lobo fez em homenagem à baiana. Apresentador de televisão, de rádio, produtor musical, escritor, cantor, o violeiro inquieto faz com que sua obra torne a aldeia global mais caipira.

Autodidata e amante de MPB e jazz , Ricardo Gomes estreou na cena musical, em Belo Horizonte, há 30 anos (Foto: Ayra Mendes)

Ricardo Gomes é produtor musical e baixista de carreira e está em atividade desde 1992. Iniciou a carreira tocando em casas noturnas de Belo Horizonte, acompanhando cantores sertanejos e de música popular brasileira. Autodidata, sempre curtiu jazz e música brasileira até que em 1992 estreou no mercado de produções e gravações atuando em centenas de criações de músicas. Já trabalhou como produtor para Chico Lobo, Luiz Carlos Sá (parceiro de Guarabyra), Luís Kiari, Marcelo Kamargo e João de Ana, entre outros. Atualmente, mantém o Estúdio RG na capital mineira.

Especializada em música brasileira de alta qualidade, o acervo da Kuarup, que está prestes a alcançar a marca de 45 anos no mercado, concentra a maior coleção de Villa-Lobos em catálogo no país, além dos principais e mais importantes trabalhos de choro, música nordestina, caipira e sertaneja, MPB, samba e música instrumental em geral. Em seus discos pode-se encontrar o melhor de Baden Powell, Renato Teixeira, Ney Matogrosso, Wagner Tiso, Rolando Boldrin, Paulo Moura, Raphael Rabello, Geraldo Azevedo, Vital Farias, Elomar, Pena Branca & Xavantinho e Arthur Moreira Lima, entre outros.

1479 Renato Teixeira (SP) e Fagner (CE) gravam Naturezas, disco inédito registrado em estúdio inaugurado pela Kuarup

#MPB #Ceará #Ubatuba #Santos #SãoPauloSP #GravadoraKuarup #CulturaPopular

Artistas celebram  amizade de anos com lançamento de álbum e parceria de músicas captadas no porão onde fica o endereço atual da gravadora que, por coincidência, foi residência de Renato nos anos 1970.

A amizade entre Renato Teixeira e Raimundo Fagner vem de longa data. Os músicos compõem juntos há alguns anos e resolveram colocar como prioridade o desejo de lançar um álbum em dupla, ideia que surgiu com a troca de mensagens (e-mails) e tomou forma com o surgimento dos aplicativos de áudios e de textos que permitem e facilitam a troca de músicas e de letras. O projeto ganhou vida na Kuarup, gravadora com mais de 40 anos de estrada, que tem seis álbuns de Renato Teixeira em seu catálogo e que ele costuma chamar com carinho de sua casa fonográfica e sua antiga casa por uma inexplicável coincidência de endereços. Outro evento que tornou possível a realização de Naturezas, as gravações, ensaios e o lançamento do trabalho foi a inauguração do estúdio da Kuarup, espaço para atender artistas contratados e parceiros da gravadora.

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1452 – Consuelo de Paula (MG), com Adriana Holtz, canta ao vivo em transmissão virtual do Estúdio 185 Apodi, em São Paulo*

#MPB #CulturaPopular #Poesia #Moçambique #Congada #Pratápolis

* Com Eliane Verbena, Verbena Comunicação

Canções de vários álbuns e parcerias de Consuelo de Paula, de expoentes da Música Popular Brasileira e duas inéditas, ambas integrantes de um novo álbum em gestação, estarão no repertório que a cantora, compositora e poetisa apresentará no sábado, 16 de outubro, a partir das 21 horas, com transmissão ao vivo do Estúdio 185 Apodi, situado na cidade de São Paulo. Os fãs e amigos de Consuelo de Paula poderão sintonizar Consuelo Maryákoré de Paula pelo canal Youtube da mineira de Pratápolis que neste ano se dedicou intensamente ao trabalho de criação e vivenciou novidades e alegrias a começar por Maria Bethânia lançando Sete Trovas, canção dela com Rubens Nogueira e Etel Frota.

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1335 – Cecilia Concha Laborde lança Cancionera, álbum para marcar seus 10 anos de trajetória

A cantora e compositora chilena influenciada por Violeta Parra e Victor Jara, de voz e violão “poderosamente doces”, fará apresentação em anfiteatro de Santiago para apresentação do disco que reúne 17 canções 

A cantora chilena Cecilia Concha Laborde fez aniversário na terça-feira, 2 de dezembro, e o presente quem está ganhando são amigos e fãs, brindados com o álbum Cancionera, trabalho que marca seus 10 anos de carreira, já pode ser descarregado eletronicamente e será lançado em concerto presencial marcado para começar às 19 horas desta sexta-feira, 4, no Anfiteatro do Museu de Belas Artes, situado em Santiago, com transmissão via streaming; devido à necessidade de se evitar aglomerações que possam agravar a pandemia do coronavírus (Covid-19), a plateia será reduzida, terá de obedecer protocolos de segurança sanitária e só acessará o auditório quem fez reserva antecipada. Gravado no estúdio La Cuerda, em Buenos Aires, capital da Argentina, e produzido na cidade de São Paulo e na capital chilena, Cancionera reúne 17 faixas e é o segundo álbum de Cecília Concha Laborde. Ela estreou em 2013 com Te traigo mi versos, álbum +livro com canções a partir de suas próprias poesias.

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1282 – Do concreto armado ao horário nobre: como, após ser apresentado a Elis, Tunai ganhou notoriedade na MPB

Cantor e compositor que emplacou vários sucessos em trilhas de telenovelas e a exemplo de Belchior morreu dormindo, resolveu trocar o diploma de Engenheiro Civil pelo microfone e pelo violão depois de a Pimentinha gravar As aparências enganam, uma das mais de 200 criações da obra do autor de Frisson. E o projeto de um DVD, com algumas inéditas, pode, em breve, chegar para amenizar a dor dos amigos e fãs

O feeling de Elis Regina para sacar músicas de outros autores que ela podia interpretar com a graça e o talento que possuía se não ajudaram Belchior, Renato Teixeira, Adoniran Barbosa e Ivan Lins a chegarem aonde chegaram após ela dar voz a Como Nossos Pais, Romaria, Tiro ao Álvaro e Madalena, entre outros compositores e canções, no mínimo, deu um empurrãozinho. Entre eles os que por ventura já não estavam depois caíram no gosto do público, e pelos próprios méritos se tornaram ícones incontestáveis da MPB, construindo trajetórias de tamanha grandeza que as canções deles interpretadas pela Pimentinha hoje são “apenas” uma das pulsantes estrelas das próprias constelações que iluminam as respectivas carreiras. Para o mineiro Tunai, a influência de Elis Regina não foi menor; na verdade talvez, conforme ele mesmo chegara a declarar aos dar os primeiros passos rumo á fama, tenha sido decisiva, levando-o a trocar sem pestanejar projetos de engenharia civil pelos palcos, microfones e seu violão.

Para tristeza dos que gostam do perfil da música do qual estamos tratando aqui, na manhã do domingo, 26, Tunai foi encontrado pela esposa, morto, em sua casa, no bairro carioca de Santa Tereza. O atestado de óbito indica que ele sofreu parada cardíaca enquanto dormia — assim como Belchior em abril de 2016, entretanto no caso do cearense autor de Como Nossos Pais devido ao rompimento de uma parede da artéria aorta, conforme foi confirmado mais tarde pela autópsia. Tunai era José Antônio de Freitas Mucci, e estava com 69 anos, foi cremado na tarde da segunda-feira, 27, depois do velório no Memorial do Carmo, no bairro carioca do Caju, situado na zona portuária do Rio de Janeiro, para onde acorreram à despedida amigos, admiradores e familiares, dentre os quais o irmão, o sambista João Bosco, também natural de Ponte Nova, município da Zona da Mata mineira, mas quatro anos mais velho.

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1223 -Ivan Vilela faz concertos em Guarulhos e em São Paulo após lançar álbum com Benjamim Taubkin

Violeiro, um dos mais conceituados do país, tocará no Sesc de Guarulhos e no Instituto Tomie Othake

Professor, pesquisador, compositor e um dos mais destacados violeiros do país, Ivan Vilela, será atração o neste sábado, 24, da unidade Guarulhos do Sesc paulista, onde se apresentará a partir das 18h30, acompanhado por Filipe Massumi, ao violoncelo, e por Ari Colares, à percussão. A distribuição do começará a partir das 17h30, no Centro de Música, para o concerto que deverá ocupar o Auditório (sala 4) e durante o qual o público ouvirá composições e arranjos que se utilizam de elementos das culturas populares brasileiras, mesclando-as com sonoridades das músicas clássica e e popular. Vilela transitará por diferentes paisagens sonoras, explorando texturas e contrapontos, mesclando sutilezas melódicas, nas quais o tonal e o polimodal se fundem num misto de cruzamentos rítmicos.

Além de músicas consagradas dos vários álbuns – como Paisagens, A Força do Boi e Solidão -, destacam-se no programa obras como Sertão e Castelo dos Mouros,  do álbum Encontro, gravado por Vilela em parceria com o pianista Benjamim Taubkin e lançado no começo de agosto, na unidade 24 de maio do Sesc paulistano.

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1221- Forte, mas sem perder a ternura: Com “Maryákoré”, Consuelo de Paula (MG/SP) volta a erguer a voz frente aos desafios dos nossos tempos*

Sétimo álbum autoral inaugura uma nova assinatura para a cantora, compositora e escritora mineira por meio de dois movimentos que, expressos em dez faixas, traduzem uma arte guerreira e simultaneamente amorosa, que se alimenta da força das brisas e das tempestades em meio às batalhas cotidianas pela vida e pela arte

*Com Verbena Comunicação (Eliane Verbena/João Pedro)

A cantora e compositora Consuelo de Paula está lançando o sétimo disco da carreira, Maryákoré: uma obra provocadora naquilo que tem de mais feminina, mais negra, mais indígena e mais reveladora de nós mesmos. O título pode ser entendido como uma nova assinatura de Consuelo de Paula: maryá (Maria é o primeiro nome de Consuelo), koré (flecha na língua paresi-haliti, família Aruak), oré (nós em tupi-guarani), yakoré (nome próprio africano). Um exemplar do disco de 10 faixas já está rolando aqui na vitrolinha do boteco do Barulho d’água Música, em São Roque, cidade do Interior de São Paulo, pelo qual agradecemos às queridas amigas Consuelo e Eliane Verbena, da Verbena Comunicação, estabelecida na cidade de São Paulo (SP).

Além de assinar letras e músicas – tendo apenas duas parcerias, uma com Déa Trancoso e outra com Rafael Altério -, Consuelo é responsável pela direção, pelos arranjos, por todos os violões e por algumas percussões de Maryákoré (caixa do divino, cincerro, unhas de lhama, entre outros). A harmonia entre Consuelo e sua música, sua poesia, sua expressão e a estética apresentada é nítida nesse novo trabalho. Ao interpretar letras carregadas de imagens e sensações, ao dedilhar os ritmos que passam por Minas Gerais e pelos sons dos diversos “brasis”, notamos a artista imersa em sua história: ela traz a vida e a arte integrada às canções.

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1213 – Dante Ramon Ledesma, argentino naturalizado brasileiro, canta a liberdade, o amor e a igualdade em 19 poéticos álbuns ignorados no Sudeste

Nascido em Río Cuarto, na Córdoba, onde foi perseguido pela ditadura argentina pela militância católica, naturalizado brasileiro desde 1978, cantor admirado pelo carisma e pela coragem vive na região metropolitana de Porto Alegre (RS) e nem um derrame que paralisou parte do seu corpo o fez parar de cantar

Nos últimos dias, boas prosas com o amigo gaúcho de Caxias do Sul Valdir Verona — cantor, compositor, professor e pesquisador, um dos melhores violeiros do país na atualidade–, levaram minhas atenções a se concentrar em alguns expoentes da música do Sul do país, notadamente a produzida por alguns conterrâneos dele, de vários rincões do Rio Grande do Sul – ritmos e gênero, que, grosso modo, correndo o grande risco de cometermos gafes, tendemos a rotular por aqui de “nativistas”.

Claramente há preferências mercadológicas dos setores de entretenimento e radiodifusão aqui no Sudeste “maravilha”. Elas reduzem quase tudo — como se os tais fossem suprassumos — a Maiaras e Simarias, Sangalos e Anittas, Luccos e Safadões, Zezés e Santanas, Lucianos e outros quejandos e assim burlam de quem não se sintoniza em canais alternativos o acesso a outro estilo de música — apenas para ficarmos nesta forma de manifestação artística –, que não seja meramente comercial, rasa, descomprometida com nossos mais ancestrais e identitários valores. Numa avaliação (ainda que simplista) tal recorte nos achata a todos como se fossemos meros consumidores desprovidos de criticidade, apuro, tradições e de bandeiras. Nesta toada, às vezes até bate uma tristeza profunda: é como se a gente vivesse em um país pouco plural, encerrado nas suas mais, digamos assim, badaladas capitais e agitos delas, empurram-nos ouvidos abaixo melôs de cornos e mulheres irresistíveis, pancadões e pôperos como se o extenso continente Brasil e sua diversidade morasse e se reduzisse em uma redoma sem sotaques e, no máximo, pindorama que, dependendo da conveniência do momento, aceitasse fora do mainstream um baiano aqui, um pernambucano acolá, quem sabe? um goiano…

Agendas assim não só nos empobrecem como nação, deixa-nos ignorantes às nossas origens, riquezas e diversificado patrimônio multicultural. Se o futebol de quando em vez nos faz lembrar que existem no mundo da bola tupiniquim os simpáticos CSAe o Clube do Remo e que no Amapá e no Piauí também temos Santos e Flamengo, apenas a curiosidade e o pensar fora da caixinha nos pode revelar que entre nós também se ergue, literalmente falando, a voz de um cantor e intérprete com a força e o carisma de um Nelson Gonçalves, mas circunscrito à sua região, ainda que por lá seja tão adorado pelos seus fãs e amigos como sempre foi (talvez por que no Sul as visões sejam mais amplas e generosas) o inesquecível e saudoso boêmio Nelson Gonçalves: Dante Ramon Ledesma.

Quantas linhas, embora pertinentes, para chegarmos a este nome, Dante Ramon Ledesma, perfil que, agora, entretanto, resumirei em uma única frase: um arauto das liberdades, do amor, da igualdade, da fraternidade e da resistência do pueblo latino-americano — sejamos nós gaúchos, argentinos, portenhos, índios, negros, mamelucos, cafuzos– e, por extensão paulistas, mineiros, cariocas, baianos, alagoanos, piauienses, amapaenses; “yo tengo tantos hermanos que no lós puedo contar” já cantava Atahualpa Yupanqui, “en el valle, la montaña, en la pampa y en el mar/cada cual con sus trabajos, con sus sueños, cada cual, con la esperanza adelante…”

Escolhi Dante Ramon Ledesma para abrir as audições matinais de todos os sábados aqui no boteco do Barulho d’água Música, em São Roque(SP) neste sábado, 20, não apenas pela beleza, engajamento e construções poéticas das músicas do repertório que entoa em emblemática voz, começando a ouvi-lo pelas faixas de Alma e Vida, álbum de 1993, mas e, sobretudo, pelo que elas invocam e põem no ar: um brado, antes de nada mais, à resistência, à união, à luta por um país que não tenha donos e que neste momento sugere “não tem governo e nunca [mais] terá” e que não pode seguir tendo o tamanho tacanho que vem adquirindo à medida que há temos nos postos de comando quem afirme (e quem nele acredite), arrotando lautos cafés da manhã, que nem ao menos fome passaríamos.

Vista de Rio Cuarto, em Córdoba, terra natal de Dante Ramon Ledesma

Dante Ramon Ledesma nasceu em Río Cuarto, na província de Córdoba, a cerca de 580 quilômetros de Buenos Aires, Argentina, mas “naturalizou-se” brasileiro em 1978. Cantor desde os 5 anos de idade, formou-se em Sociologia pela Universidade de Córdoba. Ainda em seu país natal, quando jovem foi integrante da Organização Não governamental (ONG) Carismaticos, de perfil católico e já demonstrando imensa capacidade de cantar venceu o famoso Festival Nacional de Folklore  de Cosquín, na categoria juvenil, com a canção Memória del Che

No ano de sua naturalização, os argentinos sofriam sob as botas e a baioneta do general-presidente Jorge Rafael Videla e o governo perseguia quem militava na juventude carismática, por considera-la ajuntamento de “subversivos” — adjetivo e razão para perseguições, torturas, mortes e condenações ao desterro tão em moda no Cone Sul àquela época. Desde então, e naquele momento para escapar das perseguições (mesmo que fugindo da brasa, pudesse ter caído no espeto!), Dante Ramon Ledesma, que começava a despontar no canto popular argentino, escolheu viver no Rio Grande do Sul, estabelecendo-se em Canoas, cidade da Grande Porto Alegre, onde, alias, recentemente, a Câmara Municipal lhe outorgou um título de cidadania.

Em 1991, já “brazuca”, portanto, participando do Festival Acordes Cataratas, de Foz do Iguaçu (PR), Ledesma tornou-se finalista com A Vitória do Trigo (“basta um pedaço de terra/para a semente ser pão/enquanto a fome faz guerra/a paz espera no chão), hoje uma espécie de hino de sem-terras em países da Europa e latino-americanos. Outra das canções que compõem sua trajetória, de autoria de Fernando Alves e Alberto Zanatta, América Latina é invariavelmente pedida em todas as suas apresentações por ser um alerta à consciência crítica e à união entre os povos até hoje explorados, do México à Guiana, passando pelo Haiti, pela Nicarágua, por Honduras, pela Bolívia…

Ambas as músicas, diga-se de passagem, enchem 19 álbuns e três DVDs que renderam a Ledesma nove discos de ouro e a vendagem de mais de três milhões e meio de cópias! Em sua biografia consta, ainda, que decorridos já mais de 30 anos de carreira, protagonizou 7 mil espetáculos em todo o Brasil e América Latina, muitos de caráter beneficente.

Sobre Dante Ledesma escreveu Renan Bernardi para o blogue Tenho Mais Discos que Amigos ao vê-lo cantar e tocar no 10º Festival Pira Rural, realizado entre 19 e 21 de abril recentes, na cidade gaúcha de Ibarama, situada na região de Santa Maria: “Foi o mais emocionante e significativo show do Pira Rural”. Dante Ramon Ledesma, prosseguiu Bernardi, encantou “um público que parecia muito próximo do reconhecido artista: o folclore e o orgulho da cultura latino-americana, gaúcha, indígena e rural faziam parte dos discursos de Dante nos intervalos das canções, que bradava contra o imperialismo e a música de massa, pré-fabricada”. Para arrematar, o jornalista observou: Dante cantou e tocou “homenageando movimentos sociais, amor e o respeito” e “encantou todo o público acumulado em frente ao palco”.

A parte estas força e carisma, registre-se: Dante Ramon Ledesma, para manter se “cantor de ofício” assim como preconizou sua contemporânea Mercedes Sosa, tornou-se, ainda, símbolo de superação e de determinação: em maio de 2014, sofreu um sério Acidente Vascular Cerebral (AVC) que afetou seu corpo, paralisando o lado esquerdo e prejudicando a fala. A situação depois se agravaria quando ele foi diagnosticado com diabetes. Mesmo com todos os problemas e as limitações, Dante Ramon Ledesma conseguiu voltar à ativa em 2016 e segue a fazer o que mais sabe: cantar, como em 19 de maio no Centro Cultural de Constantina (RS), onde protagonizou o concerto O Recomeço. Atualmente, Ledesma se faz acompanhar nas apresentações com o filho Maximiliano e o neto Juanito.

Dante Ledesma (ao centro), entre o neto, Juanito, e o filho, Maximiliano

O TÍTULO EM CANOAS

A primeira vez que ouvi falar sobre e as canções de Dante Ramon Ledesma estava em Canoas, fraternalmente acolhido por uma família do bairro Nossa Senhora das Graças, em 1989.

Eu era um garoto que amava The Beatles, The Rolling Stones e Pink Floyd (tanto na ida, quanto na volta, viajei os pouco mais de 1.100 quilômetros entre SP/POA, pelas BR-116 e BR-101, ouvindo a bordo dos ônibus da Viação Penha fitas cassetes do Pink Floyd), mas também já curtia Clube da Esquina, Katya Teixeira, Fagner, 14 Bis etc. Meus anfitriões demonstravam forte admiração por Ledesma e lembro-me de ter ficado impressionado com o tom e os temas das canções dele que rodava no meu walkman, gravados em uma fita Basf da qual não deu para fazer cópia, sentado sobre a cama que me ofereceram e em cujas paredes do quarto havia uma bandeira do Rio Grande do Sul, outra do Internacional, agasalhado por um poncho (estava muito frio!) e sorvendo uma cuia de chimarrão.

Pois lá, em Canoas, em 19 de maio de 2016, Ledesma foi agraciado com o título de Cidadão Canoense pela contribuição à música nativista do Estado e por sua relação com o município, situado a 14 quilômetros de Porto Alegre.

Ledesma (sem óculos), no dia em que recebeu o título de cidadão de Canoas (Foto: Williyan Bertotto)

A homenagem partiu do então vereador Pedro Bueno (PT). Antes da perseguição na Argentina. Já asilado no RS, Dante primeiro morou no bairro Niterói e, depois, transferiu-se para o Rio Branco, ambos em Canoas. Na chegada ao Brasil, precisou vendeu livros e ministrou palestras para pais e mestres até conseguir retomar a carreira de cantor. Cinco anos depois, em 1983, atingiu o sucesso com Orelhano, um dos seus mais aclamados sucessos. Em 1984, ele participou pela primeira vez da Tertúlia de Santa Maria, do qual saiu consagrado como revelação. No mesmo ano, venceu a 14ª Califórnia da Canção, de Uruguaiana, com O Grito dos Livres.

É casado com Norma Beatriz Ledesma, com quem teve o filho, Maximiliano, hoje seu parceiro e ritmista. “Como poucos, Ledesma fez realmente de seu canto uma maneira de viver e cantar a vida”, disse Pedro Bueno, proponente do título outorgado pela Câmara Municipal de Canoas. “Gaúchos, argentinos, brasileiros, latino-americanos cresceram ao som de Orelhano, Negro da Gaita, O Grito dos Livres, A Vitória do Trigo e tantas canções que ultrapassam os sotaques, os idiomas, os ritmos e as fronteiras.”

As palavras seguintes também foram proferidas por Bueno durante aquela sessão solene: “Dante é um homem que luta por liberdade, sonho e esperança. É uma honra para a nossa cidade. Seu espírito revolucionário ultrapassou barreiras, inclusive as da censura”.

Ao utilizar a tribuna, Ledesma recordou o período de terror vivido durante a ditadura argentina e mencionou pessoas que o ajudaram no começo da vida no Brasil. Destacando a importância da família, comentou sobre a recuperação do AVC que sofrera dois anos antes: “O maior milagre da vida é o amor e fraternidade que Deus nos dá”. Em seguida, exaltou a defesa da democracia brasileira: “Em primeiro lugar deve vir a Pátria e, somente depois, os interesses políticos”, ponderou, dedicando o reconhecimento recebido da Câmara de Canoas à memória do pai, Rudecindo Ledesma.

O Portal Cegos Brasil disponibiliza para serem baixados, armazenados em formato ZIP, os arquivos em Mp3 de nove álbuns de Ledesma, dos quais quatro são duplos. O endereço para o linque é http://cegosbrasil.net/discografias/dante-ramon-ledesma-9-cds.

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