1400 – Tavinho Limma (PE/SP) mergulha na obra de Fagner e lança homenagem em treze faixas ao cearense

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Com participação de Paulinho Pedra Azul, treze perolas do repertório do controvertido músico nordestino fazem parte do nono álbum do ex-integrante da Banda Pau e Corda

As audições matinais aos sábados aqui no Solar do Barulho, onde fica a redação do Barulho d’água Música, na Estância Turística de São Roque (SP), começaram neste dia 5 de junho com O Mundo de Raimundo, disco lançado em 2020 por Tavinho Limma e disponibilizado em plataformas digitais pela produtora e gravadora Kuarup. O álbum em homenagem ao cantor e compositor cearense que com voz rascante e timbre árabe tanto embalou este jornalista na juventude (e até hoje o admira) traz 13 canções do eclético repertório de Raimundo Fagner. Se hoje muitos na crítica torcem o nariz para Fagner e o riscaram do caderninho por conta de posições artísticas e políticas mais recentes, outros tantos zeram tais observações e, deixando de lado a patrulha ideológica, reconhecem com justiça — como este blogueiro — a inegável qualidade da sua contribuição à música e à cultura populares brasileiras, fazendo dele um dos mais luminosos astros entre os quais podem se citar, ainda, Milton Nascimento, Chico Buarque, Caetano Veloso, Alceu Valença, Geraldo Azevedo e, para ficarmos apenas nas vozes masculinas, já fora deste plano Gonzaguinha, Dominguinhos e Belchior.

Desde 1971 até 2020, Fagner já brindou os inúmeros fãs de ao menos três gerações com cerca de 40 álbuns solo — sem contar aqueles nos quais participa, por exemplo, ao lado de outras referências luminares como Ney Matogrosso, Zé Ramalho, Luiz Gonzaga, Zeca Baleiro e até o craque Zico, entre outros trabalhos que mesclam em uma primeira e inventiva fase desde a poesia e composições de Ferreira Gullar, Garcia Lorca, Pablo Milañes, Antonio Machado, Fernando Pessoa, Patativa do Assaré e Florbela Espanca ao rock rural e ritmos latinos e mouros às raízes nordestinas; duetos icônicos com Mercedes Sosa, Joan Manoel Serrat e Rafael Alberti, por exemplo, antes da bem sucedida guinada na década dos anos 1980, quando, para agradar um público menos intelectual e exigente, plateia pouco afeita a estéticas e linguagens inovadoras, assumiu perfil romântico, até explodir em trilhas sonoras de novelas da Rede Globo.  Muito mais do que uma borbulha de sabão que o vento dissolve como espuma, continua firme e dentro do seu atual estilo, formando o time daqueles que já emplacaram a casa dos 70 anos de vida nesta estrada que, atualmente, ninguém sabe onde nos levará, seja pela perseguição e pelo esvaziamento da cultura, seja pelo negacionismo da pandemia da Covid-19 em meio a retrocessos  de todas as ordens que, como cebola cortada, tanto nos fazem chorar.   

Nesta esteira que já chega aos 50 anos de história, Fagner perdeu a unanimidade entre quem lá atrás foi bicho-grilo, mas os “bregaldos” os amam e consagrou compositores como Abel Silva, Petrúcio Maia, Manassés, Sueli Costa, Clodo, Climério & Clésio e Fausto Nilo, mostrando que somos um celeiro inesgotável quando o assunto é música. E parte de seus álbuns arrebataram sucessivamente discos de ouro (vendas acima de 100 mil cópias) e platina (acima de 500 mil), superando em 1987, com Romance no Deserto (“eu tenho a boca que arde como sol, o rosto e a cabeça quente”…) mais de 1 milhão!. Joia rara, seu primeiro filho solo, Manera Fru Fru Manera (1973), incluiu em sua primeira versão Canteiros, sucesso baseado no poema A Marcha, de Cecilia Meireles, com música de Fagner, até hoje cantado em rodas de violões depois de ecoar por todo o Brasil — um verdadeiro “balaço” que vem riscando o tempo saído do disco produzido por Roberto Menescal e pelo próprio cantor, com arranjos de Ivan Lins e participações especiais de Nara Leão, Naná Vasconcelos e Bruce Henry. Dois anos depois, Fagner foi eleito por jornalistas paulistas o Cantor do Ano. Em 1990, o Prêmio Sharp de Música Popular o reconheceu como Melhor Cantor, autor do Melhor álbum (O Quinze), da Melhor canção (Amor Escondido, parceria com Abel Silva) e, de quebra, o quarto troféu: Melhor disco regional (Gonzagão e Fagner Vol. 2.)

Tavinho Limma pinçou cuidadosamente deste baú as pedras que resolveu polir e, apesar de um disco sintético/enxuto diante de tão copioso tesouro, conseguiu alinhavar as duas facetas do polêmico Fagner, deixando na boca de quem ouve um gosto de quero mais. Zeca Baleiro, junto com o mineiro Chico Lobo, tornou-se um dos padrinhos de O Mundo de Raimundo: ambos demonstraram que ao mirar, sabiam no que apostavam, que não errariam, que seria mesmo um tiro bem dado. O projeto que Tavinho Limma primeiro concretizou por meio de uma concorrida vaquinha virtual para produção dos discos físicos não deu nem para o cheiro: virou ouro em pó! Por sorte, a Kuarup topou disponibilizá-lo em versão eletrônica, já que as tiragens do cedê se esgotaram rapidamente e acessando ao linque logo abaixo desta linha será possível ouvir o disco na íntegra.

As 13 faixas começam com A canção brasileira, com participação do mineiro Paulinho Pedra Azul, depois rememoram clássicos como Mucuripe, parceria entre Fagner e o conterrâneo Belchior, que Roberto Carlos, Elis Regina e Amelinha também interpretam; Noturno e Pedras que Cantam, temas das novelas Coração Alado (1980) e Pedra Sobre Pedra (1992); Guerreiro Menino, de Gonzaguinha, também tocada em Voltei Pra Você (1983), todas da Rede Globo; mais perolas tais como Espumas ao Vento, Astro Vagabundo, Cebola Cortada, Ave Coração e Revelação.

Natural de Recife (PE), radicado em Ilha Solteira (SP), Tavinho Limma é cantor, compositor e produtor de eventos. Ex-integrante da Banda de Pau e Corda, apresentou-se em vários eventos tradicionais pernambucanos como carnavais (em O Galo da Madrugada) e Festas Juninas de Caruaru e Recife. Sua discografia possui nove discos solos, lançados desde o primeiro elepê em 1989 — Intenções, da Gravadora Continental/Colibri, em cujas faixas Tavinho Limma interpreta canções de Oswaldo Montenegro, Fátima Guedes e Beto Mi. Entre os parceiros musicais e artísticos ao longo da carreira, destacam-se nomes como Jane Duboc, Tetê Espíndola, Antonio Calonni, Martha Medeiros, Paulinho Pedra Azul, Chico Lobo, Oswaldinho do Acordeon e Ivan Vilela. Como produtor de shows, esteve também com Tetê Espíndola, além de Dani Black e Grupo Voz.

Por diversas vezes, Tavinho Limma se apresentou na Capital bandeirante, cidades da Grande São Paulo e do Interior paulista, seja como atração de edições da Virada Cultural, festivais, projetos culturais ou em concertos solo, passando por Osasco, Cunha (Festa do Pinhão), Concurso de Marchinhas de São Luiz do Paraitinga, Festival de Música de Avaré (Fampop), Festival de Música de Tatuí, Festival de MPB de Ilha Solteira, entre outros eventos. Em 2012, participou da trilha sonora da novela Carrossel, do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), com a canção Malfeito, dele e de Rita Altério, tema do personagem Firmino. Também esteve no palco do Bar Brahma para o Projeto Talento MPB, dirigido por Lenir Boldrin.

1382 – Ema Klabin oferece Mostra Lei Aldir Blanc, com cinco apresentações virtuais*

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Martha Galdos, Orquestra Mundana Refugi, Liv Moraes, Ricardo Baldacci Trio, Vanessa Moreno & Salomão Soares participarão do evento que será promovido entre 23 e 27 de abril

*Com Cristina Aguilera, Mídia Brazil Comunicação Integrada (cristina.aguilera@midiabrazil.com.br/@midiabrazilcomunicacao)

jornaslistas antifascistasA Casa Museu Ema Klabin, situada na cidade de São Paulo, oferecerá até 27 de abril a Mostra Lei Aldir Blanc, com cinco apresentações virtuais iniciadas na sexta-feira, 23, que serão transmitidas pelo canal YouTube da promotora, permitindo ao público assisti-los sem sair de casa e assim respeitar as restrições sanitárias em vigor por conta da pandemia de Covid-19.

A cantora peruana Martha Galdos abriu a série, com participação de Dante Ozzetti, e será seguida por Dedicado a Você, protagonizado por Liv Moraes (voz) e Cainã Cavalcanti (violão). A programação inclui o primeiro de seis episódios do projeto Foxtrot e a Música Brasileira: 1920 a 1960, interpretado pelo Ricardo Baldacci Trio. Os internautas também poderão passear por diversas vertentes da música brasileira em Chão de Flutuar, com Vanessa Moreno (voz) e Salomão Soares (piano), além de conhecer mais da música étnica que caracteriza o eclético repertório da Orquestra Mundana Refugi, formada por músicos brasileiros, imigrantes e refugiados.

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822 – Rodrigo Zanc (SP) estreia “Violas para Dominguinhos”, promove dois bis e ouve público pedir ainda por pelo menos mais um

O Barulho d’água Música mais uma vez pegou a estrada e baixou em São Carlos, no interior paulista, para acompanhar a estreia de Viola Para Dominguinhos, projeto por meio do qual o violeiro Rodrigo Zanc presta tributo a um dos maiores artistas de todos os tempos do Brasil. A apresentação rolou na sexta-feira, 26 de fevereiro, acompanhada por Ricieri Nascimento (baixo), Bruno Bernini (bateria e zabumba), Gustavo Camilo (teclados), Thiago Carreri (violão e guitarras) e Thadeu Romano (acordeon) e estava cercada de expectativas. Uma chuva forte caiu hora antes do show, mas ouvir Rodrigo Zanc cantar e tocar com este time de músicos, ainda mais interpretando Dominguinhos, quem os conhece não perde nem sob dilúvio. E o Galpão do Sesc São Carlos ficou pequeno, em alguns momentos ganhou ares de CTN (Centro de Tradições Nordestinas) e o público que ocupou todos os espaços, inclusive os jardins, pode ouvir (e dançar) um belíssimo repertório para o qual solicitou não apenas mais um bis, mas insistiu no pedido mesmo com os funcionários da entidade já desplugando os instrumentos.

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818 – Xangai, Ednardo, Tom Zé, Amelinha, Chico César: trilha sonora de Velho Chico embala novela que estreia em março

Velho Chico, mais uma telenovela com temática regionalizada com o dedo brilhante de Benedito Ruy Barbosa, escola que ganhou força no início dos anos 1990 quando ele produziu Pantanal para a extinta TV Manchete, já está sendo anunciada pela Rede Globo para suceder a inverossímil trama que atualmente ocupa o horário nobre da emissora e já deu com tanto maniqueísmo de feira, clichês, pancadões e regravações de gosto duvidoso de baladas românticas. Apoiada pela mesma fórmula de sucesso das histórias anteriores que o escritor assinou (desta, na verdade, será supervisor, pois a autoria cabe a Edmara Barbosa e Bruno Luperi, filha e neto, respectivamente de Benedito Ruy Barbosa) Velho Chico tem estreia prevista para março, quando na telinha passarão a comparecer atores consagrados do primeiro escalão da teledramaturgia de Pindorama contracenando com novatos (em sequências de tirar o fôlego, captadas em muitos planos abertos e apresentadas por fotografias dignas de Urso de Prata) e serão ouvidas músicas que compõem uma trilha sonora “recheada de brasilidade”, como indica o produtor musical Tim Rescala.

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Tarcísio Meira mais uma vez integra elencos convocados para as novelas que Benedito Ruy Barbosa escreve ou supervisiona e viverá Jacinto na trama que, em sua primeira fase, levará o telespectador para vários passeios pelo Rio São Francisco (Foto: Caiuá Franco/Globo; em destaque, imagem de Xangai, em uma das chamadas da emissora)

Os capítulos remontarão ao final da década dos anos 1960 e levarão o telespectador à cidade fictícia de Grotas de São Francisco, que se situaria em solo do Nordeste, às margens do majestoso e poético Rio São Francisco, desenrolando a novela em fases até a entrada nos dias atuais, outra das características do consagrado avohai. Para tanto, haverá compartilhamento de personagens, como Ruy Barbosa também já fez, por exemplo, na própria Pantanal e em O Rei do Gado. Tarcísio Meira, Antônio Fagundes, Rodrigo Santoro, Camila Pitanga, Selma Egrei, Christiane Torloni, Marcos Palmeira, Chico Diaz  atuarão ao lado de nomes menos tarimbados (o que não significa pouco talentosos em se tratando dos núcleos da Vênus Platinada!) tais como Julia Dalavia, Mariana Nery, Fabiula Nascimento e Pablo Morais, além do cantor e compositor baiano Xangai, que à pia batismal ganhou o nome de Eugênio Avelino.

Ao ser chamado para a trama, Xangai ganhou a mesma oportunidade (e reconhecimento) conferido a Almir Sater, Sérgio Reis, Yassír Chediak, Daniel, Rodrigo Sater e Gabriel Sater, por exemplo, que Ruy Barbosa já escalou em outras novelas de mesmo perfil. O parceiro, entre outros vates da música regional, de Elomar Figueira de Melo já protagoniza chamadas de Velho Chico (veja foto no destaque) e abrilhantará a trilha sonora para a qual a composição escolhida é Incelença pro amor retirante, que compôs com o mulungo criador de bodes de Vitória da Conquista (BA). O cearense Ednardo, que emplacou Pavão Misterioso (Pavão Mysteriozo) e decolou a partir da inclusão dela em Saramandaia (1976) ressurge com outro de seus grandes sucessos, Enquanto Engoma a Calça, que escreveu com Climério. O irreverente Tom Zé defenderá Senhor Cidadão dentro de um baú de joias que terá ainda pedras preciosas tais quais Amelinha, Marcelo Jeneci, Chico César, Renata Rosa, Alceu Valença, e Caetano Veloso cantando ou interpretando canções autorais ou de Robertinho do Recife, Capinam, Vital Farias, Thiago Pethit e Héli Flanders — dupla que contribuirá com L’Étranger (Forasteiro), com participação de Tiê, música que Cida Moreira gravou em seu álbum Soledade, de 2015.

“O Nordeste é o foco”, comentou Tim Rescala sobre o repertório, que, de acordo com ele, valoriza os toques de um sentimento nacional com características daquela região brasileira. A escolha das músicas coube a Luiz Fernando Carvalho – diretor da novela, “eu apenas dei uma assessoria”, complementou Rescala, que ainda assina o arranjo e a regência de Tropicália, canção gravada por Caetano Veloso e pela Orquestra Sinfônica de Heliópolis, que fará parte da abertura da novela.

Também o figurino de Velho Chico busca retratar com fidelidade a identidade brasileira que será a tônica dos demais recursos artísticos empregados para realçar a cenografia. Para ter as roupas ao gosto do projeto, recorreu-se a um processo inteiramente artesanal que de acordo com a figurinista Thanara Schonardie exigiu descoloração de tecidos e tingimentos até ser alcançada a cor definida. Nas primeiras fases, predominarão, por exemplo, tons pastéis para os personagens sertanejos, enquanto matizes saturadas vestirão os que habitam o meio urbano.

Repertório do primeiro álbum de Velho Chico

Tropicália
Intérprete: Caetano Veloso
Autor: Caetano Veloso

Gemedeira
Intérprete: Amelinha
Autores: Robertinho do Recife e Capinam

Me leva
Intérprete: Renata Rosa
Autora: Renata Rosa

Flor de tangerina
Intérprete: Alceu Valença
Autor: Alceu Valença

Enquanto engoma a calça
Intérprete: Ednardo
Autores: Ednardo e Climério

Veja Margarida
Intérprete: Marcelo Jeneci
Autor: Vital Farias

Como 2 e 2
Intérprete: Gal Costa
Autor: Caetano Veloso

L’Étranger (Forasteiro)
Intérpretes: Thiago Pethit part. Tiê
Autores: Thiago Pethit e Héli Flanders/ Versão: Dominique Pinto e Rafael Barion

I-Margem
Intérprete: Paulo Araújo
Autores: Paulo Araújo e João Filho

Incelença pro amor retirante
Intérpretes: Xangai participação Elomar
Autor: Elomar

Serenata (Standchen)
Intérprete: Chico César
Autor: Franz Schubert, Ludwig Rellstab e Arthur Nestrovski

Pot-pourri Suíte Correnteza – Barcarola do São Francisco, Talismã e Caravana
Intérpretes: Elomar, Geraldo Azevedo, Vital Farias e Xangai
Autores: Geraldo Azevedo e Carlos Fernando (Barcarola do São Francisco), Geraldo Azevedo e Alceu Valença (Talismã), Alceu Valença e Geraldo Azevedo (Caravana)

Triste Bahia
Intérprete: Caetano Veloso
Autores: Caetano Veloso e Gregório de Mattos

Senhor cidadão
Intérprete: Tom Zé
Autor: Tom Zé

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Tom Zé também está escalado para a trilha sonora de Velho Chico, álbum cujo repertório realça a brasilidade que os produtores da nova novela da Globo buscam imprimir à trama (Foto: Marcelino Lima/Arquivo Barulho d’água Música)

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