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Na minha terra, as estradas são tortuosas e tristes/Como o destino de seu povo errante/
Viajou?/Se ardes em sede/Bate sem susto ao primeiro pouso e terás/Água fresca para a tua sede/Rede cheirosa e branca para teu sono/
Na minha terra o cangaceiro é leal e valente/Jura que vai matar e mata/Jura que morre por alguém e morre/
Nasci nos tabuleiros mansos do Quixadá/Me criei nos canaviais do Cariri/Entre caboclos belicosos e ágeis/
Eu sou o seringueiro que foi destravar a selva virgem do Amazonas/
Eu sou o sertanejo que planta de sol a sol o algodão para vestir o Brasil/
Brasil onde mais energia?/Nas águas de um só destino do teu Salto de Sete Quedas/Ou na vida de mil destinos do teu jagunço?/Aventureiro e nômade/Filho de gleba/Fruto em sazão ao sol dos trópicos!/
Eu sou o índice de um povo:/Se o homem é bom, eu o respeito/Se gostar de mim, morro por ele/Se no entanto, por ser forte, entender de humilhar-me:/Ai, sertão, viverei o teu drama selvagem/Te acordarei ao tropel de meu cavalo errante/Como antes te acordava/Ao choro de minha viola.
Terra Bárbara, faixa do álbum Fazenda, de Vidal França, que interpreta texto de Jader de Carvalho
Da minha parte, continuo com o meu compromisso com a arte, e os meus parceiros têm essa mesma visão: de não se deixar levar pelo sistema, pela falsa democracia, lutando contra a correnteza, preservando a cultura e o povo (Vidal França)
O cantor, compositor e instrumentista Vidal França morreu de causas naturais no sábado, 12 de fevereiro, na cidade de São Paulo, onde foi velado e sepultado no Cemitério de Vila Alpina no dia seguinte. Filho do cantor, compositor e repentista Venâncio (da dupla Venâncio e Corumba), o pai há 76 anos o batizara como José Calixto de Souza, após nascer em Aporá, no sertão da Bahia, em 7 de outubro de 1946. Venâncio queria seguir a carreira artística e com o garoto ainda com 7 anos veio com a família para a cidade de São Paulo, em 1953. Na terra que o acolheu e onde dezenas de pessoas entre familiares e amigos durante a despedida prestaram a Vidal França as últimas homenagens cantando sucessos de sua discografia, o músico cursou a Faculdade Superior de Música São Paulo, onde se formou maestro arranjador, outra de suas habilidades.
Composições do mestre maestro Vidal França são tocadas em meus aparelhos de som desde o começo da juventude, em sua própria voz, por João Bá e Dércio Marques (estes dois dos seus principais parceiros, também já chamados ao Plano Maior) ou Diana Pequeno eKatya Teixeira, por exemplo. Em maio de 2015, muito honrado, estive com ele em um dos saraus que o Instituto Juca de Cultura (IJC) costumava promover, no bairro paulistano Sumarezinho, sob a batuta do anfitrião poeta e compositor Paulo Nunes, suspensos há já quase dois anos por conta do flagelo da Covid-19.
A morte de Vidal França nos pegou todos de surpresa e ocorreu no mesmo dia em que partiu – bem antes do combinado – também minha ex-esposa, Rosa Barna, fechando uma semana em que já haviam nos deixado outro amigo querido, aqui de São Roque (SP), e um tio de minha atual companheira, Andreia Beillo. Quatro pauladas para lutos que ainda me abatem, fases para as quais jamais estaremos totalmente prontos para experienciar e compreender, ainda mais quando nos privam de pessoas que se dedicaram ao bem comum e promoveram a cultura do amor e da paz entre seus valores.
A única faixa do disco em francês é La Mamma, em homenagem à mãe francesa que faleceu de Covid-19
Já está disponível em todas as plataformas digitais O Tempo, novo álbum do cantor franco-brasileiro Fábio Jorge. Quinto projeto da carreira de Fábio Jorge, o disco possui 10 faixas e contou com a consultoria artística de Thiago Marques Luiz, que lançou o cantor há 17 anos, e arranjos de base a cargo do multi-instrumentista Joan Barros. A gravação, mixagem e masterização são de Rovilson Pascoal, do Estúdio Parede e Meia. O repertório reúne canções de diversos músicos e compositores consagrados como: Cuide-se bem e Nosso fim, nosso começo (Guilherme Arantes), A paz (João Donato e Gilberto Gil), Pra fazer o sol adormecer (Gonzaguinha), Canção do Medo (Gianfrancesco Guarnieri e Toquinho), Porta estandarte (Geraldo Vandré e Fernando Lona), que conta com participação especial da cantora mineira Consuelo de Paula, entre outras. “Escolhi as canções para esse disco pensando muito seriamente sobre um tema específico, que foi a turbulência que aconteceu na vida das pessoas mundialmente, em todos os aspectos, a partir do início da pandemia”, contou o autor.
Cantor e compositor potiguar residente em Olinda (PE) dá sequência à missão que também Zé Gomes (RS) abraçou e outros músicos em atividade que se dedicam ao instrumento promovem para enobrecê-lo fora de quermesses no sertão,, comprovando em palcos nacionais sua versatilidade e marcante polifônia
O Brasil, fecundo em vários setores da arte, tem o gaúcho Zé Gomes entre os gênios da rabeca, instrumento mais comumente associado aos ritmos populares e do Nordeste como o repente e o forró, fora ao menos dois outros incontestáveis nomes que se destacaram com a “prima do violino”, como o mineiro Zé Coco do Riachão (Beethoven do Sertão) e o pernambucano Manoel Salustiano Soares (Mestre Salu). Também violinista e hoje em companhia de Zé Coco e Mestre Salu causando inveja aos anjos harpistas do andar de cima, Zé Gomes rodou o país, inclusive em lombo de cavalo, em parcerias que somam mais de 200 gravações ao lado de Chico Buarque, Heraldo do Monte, Arthur Moreira Lima, Diana Pequeno, Tarancón, Renato Teixeira, Elomar, Pena Branca e Xavantinho, Paulinho Pedra Azul, Marlui Miranda, Alzira Espíndola e João do Valle, entre muitos outros. Com Almir Sater, Geraldo Espíndola e Paulo Simões percorreu mais de 1.000 quilômetros pelo Pantanal formando a Comitiva Esperança — grupo que também batiza a canção de Sater e Simões que integrou a trilha sonora da novela Pantanal, de Benedito Ruy Barbosa, levada ao ar pela extinta TV Manchete no início da década dos anos 1990.
O 18° álbum do mineiro de Juiz de Fora traz safra singular de canções de um dos mais originais e sofisticados compositores do Brasil
Marcelino Lima, com Dubas Música
O cantor, compositor, escritor e fotógrafo Tavinho Moura, um dos mais aclamados violonistas e violeiros do país, lançou no dia 10 de março o décimo-oitavo álbum da carreira em apresentação concorrida que levou amigos e fãs ao templo sagrado da música mineira, o Museu do Clube da Esquina, em Belo Horizonte (MG). O Anjo na Varanda, lançado pelo selo Dubas, dá sequência à premiada carreira iniciada com Como Vai Minha Aldeia, há 40 anos.
Em 1982, nos últimos dias de novembro, a Funarte concluiu a gravação para o Discos Projeto Almirante do álbum Sidney Miller, disponível para audição, com apresentação de Hermínio Bello de Carvalho, no portal Brasil Memória das Artes. De acordo com Bello de Carvalho, o compromisso da Fundação era resgatar algumas das ideias que Miller esboçara antes de cometer suicídio, em 16 de julho de 1980, na cidade onde nasceu, Rio de Janeiro. Miller, filho legítimo do boêmio bairro carioca de Santa Teresa, estudou e publicou os primeiros versos ainda menino, estampando-os na revista da escola, o Colégio Santo Inácio. Prodigioso, com apenas 12 anos, escreveu um romance e o ilustrou com recortes de revista e, irrequieto, já compunha tocando violão “de ouvido”. Ao sair de cena antes do combinado, já contava com três álbuns gravados e planejava, após um breve hiato, lançar Longo Circuito.
Aquele que seria o quarto disco da curta discografia iria para as estantes dos amigos e fãs com selo independente, uma vez que, novamente conforme Bello de Carvalho, “o circuito comercial fizeram-lhe ouvidos moucos”. Para a produção do álbum póstumo, tema deste mês da sérieClássicos do MêsdoBarulho d’água Música, a Funarte convocou parceiros e amigos de MillercomoMaurício Tapajós, a quem confiou o paciente trabalho de recuperação de áudios de apresentações do carioca na Sala Funarte de Brasília e no programa de Bello de Carvalho, Água Viva, na TVE;Paulo Afonso Grisolli, por sua vez, colaborou com fitas que guardavam temas inéditos.
Com este tesouro em mãos, Tapajós montou o que seria um disco-documento. O material, no entanto, foi considerado insuficiente pelos produtores, que, então, escalaram Antonio Adolfo(que produziria o Longo Circuito), encarregando-o de dar corpo à ideia de forma que ficasse bem traçado o retrato de Sidney Miller. “O disco como Sidney o idealizara só ele poderia fazê-lo”, ponderou Bello de Carvalho. “Mas o carinho e obstinação que despejamos neste trabalho é a melhor prova do respeito que guardamos ao seu imenso talento e enorme integridade artística, reservas indestrutíveis que seu desaparecimento não apagou.”
Zezé Gonzaga, Zé Luiz Mazzioti e Alaíde Costa também participaram do tributo da Funarte a Sidney Miller, cujo talento como compositor despontara durante os festivais da década dos anos 1960, caminho comum a outros artistas em busca de consagração à época. Neste período, assim que começou a se destacar em âmbito nacional, muitos o comparavam ao igualmente estreanteChico Buarque, notadamente por conta da timidez de ambos, da escolha por temas urbanos e esmero na construção das letras.
Além destes três fatores, tanto Miller, quanto Buarque, sensibilizaramNara Leão, cantora famosa por revelar novos compositores e que teve grande importância na estreia dos dois – inclusive gravando, em 1967,Vento de Maio, disco no qual dividiam quase todo o repertório: Chico Buarque assinou quatro canções, enquanto Sidney Miller era o autor de outras cinco. Queixa, em parceria com Paulo ThiagoeZé Keti, interpretada porCyro Monteiro (Formigão), tirou o quarto lugar no I Festival de Música Popular Brasileira, promovido pelaTV Excelsior(SP). Queixa não consta em nenhum dos três discos que Miller lançou a partir de 1967, quando pelo selo Elenco, de Aloysio de Oliveira, assinou o primeiro disco, também batizadoSidney Miller e que apresentava temas populares e cantigas de roda comoO Circo, Passa Passa Gavião, Marré-de-Cy eMenina da Agulha. Neste mesmo ano, Sidney Miller juntou-se aThéo de Barros, Caetano VelosoeGilberto Gilpara escrever a trilha sonora da peça Arena contra Tiradentes, de Augusto BoaleGianfrancesco Guarnieri, além de, ao lado de Nara, interpretarA Estrada e o VioleironoIII Festival de Música Popular Brasileirada TV Record (SP), conquistando com esta música que abre o primeiro bolachão o prêmio de melhor letra.
Em1968, também pela Elenco, saiu Do Guarani ao Guaraná, com pegada tropicalista e as participações especiais dePaulinho da Viola, Gal Costa, Nara Leão, MPB-4, Gracinha Leporacee Jards Macalé, entre outros bambas. Pois é, Pra Quê, mais tarde escolhida para o repertório do MPB-4, a joia deste trabalho, levou Miller (que já abandonara a Sociologia e a Economia) a intensificar a carreira na área de produção. Assim, juntamente com Paulo Afonso Grisolli, ele organizou noTeatro Casa Grande (RJ) o espetáculoYes, Nós Temos Braguinha, com o compositorJoão de Barro. E, também com Grisolli, relançou a cantoraMarlene, estrela do concorrido show Carnavália. No ano seguinte, produziu e criou os arranjos de Coisas do Mundo, de Nara Leão, e ainda teve fôlego para, ao lado de Grisolli,Tite de Lemos, Luís Carlos Maciel, Sueli Costa, Marcos Flaksmanne Marlene organizar o espetáculo Alice no País do Divino Maravilhoso, além de compor a trilha sonora do filmeOs Senhores da Terra, do cineasta Paulo Thiago.
Nara Leão ajudou a impulsionar a carreira de Sidney Miller e com ele faturou com a cançãoA Estrada e o Violeiroo prêmio de melhor letra do Festival de 1967
(Também para cinema, Sidney Miller foi o autor da trilha dos filmesVida de Artista (1971) e Ovelha Negra (1974), ambos dirigidos porHaroldo Marinho Barbosa. Importantes peças teatrais contaram com trilhas sonoras assinadas por ele, entre as quaisPor mares nunca dantes navegados(1972), deOrlando Miranda, na qual musicou alguns sonetos deCamões, edo espetáculo aA torre em concurso(1974), deJoaquim Manuel de Macedo.)
O último disco de Sidney Miller, considerado pelos críticos o mais transgressor e com sonoridade que remete ao Clube da Esquina e ao Som Imaginário, coube à Som Livre e se chama Línguas de Fogo. É de 1974. Depois deste trabalho, rompido com as gravadoras, o cantor e compositor protagonizou raras apresentações pois, conforme confidenciava aos mais chegados, tinha aversão aos palcos. Tecia planos para sair do refúgio com o lançamento de Longo Circuito (chegou a entregar a Miltinho, do MPB 4, uma fita com cinco músicas inéditas), mas o encontraram morto em seu apartamento situado no bairro Laranjeiras naquele fatídico mês de julho de 1980. A sala em que trabalhava, na Funarte, no Departamento de Projetos Especiais, passou a se chamarSala Funarte Sidney Millere foi transformada num teatro.
* Parte desta matéria foi produzida a partir de textos sobre Sidney Miller disponíveis na internet escritos por Hermínio Bello de Carvalho e Mara L. Baraúna
Para ouvirSidney Miller, da Funarte (1982), visite:
Rolando Boldrin cantou clássicos como Vide Vida Marvada e fez tributo a vários amigos de São Joaquim da Barra entre os causos que contou no teatro do Sesc Belenzinho (Foto: Roberto Aso)
O mais novo programa da TV Cultura, Persona em foco, no ar desde junho, terá entre suas atrações o Sr. BrasilRolando Boldrin, que contará vários causos sobre o começo de sua carreira de ator premiado tanto do cinema, quanto da telinha, e que já conta com mais de 30 novelas em seu currículo. Atílio Bari, que coordena o Persona em Foco, conta que o programa possibilita aos artistas narrarem suas trajetórias e fazerem revelações inéditas de momentos emocionantes ou cômicos. Vídeos históricos, fotos e material de arquivos pessoais dos biografados, além de depoimentos de amigos e de colegas de trabalho enriquecem as entrevistas.Continuar lendo →
Joana Garfunkel, Jean Garfunkel, Natan Marques, Pichu Borreli, Sergio Bello e Pratinha Saraiva durante a apresentação em São Paulo
Poeta, publicitário, ator, cantor e compositor. Jean Garfunkel é um nome não apenas para o qual amantes da boa música e seguidores deste Barulho d’Água Música devem ficar sempre atentos, mas guardar com carinho, sem deixar, é claro, de procurar conhecer e curtir sua obra de diversificada trajetória. Paulistano da gema, boêmio inspirado que até de suas voltas por praças e parques tira maravilhas, Jean Garfunkel é craque de um timaço de músicos de Sampa em cuja escalação consta, entre outros, Paulo Vanzolini, Adoniran Lula Barbosa, Júlio Medaglia, Eduardo Gudin, o mano Paul Garfunkel, Natan Marques, Pratinha Saraiva, Cláudio Lacerda, Léa Freire, Renato Braz; Elis Regina, embora fosse gaúcha de berço, também não ficaria sem uma camisa no escrete da MPP (Música Popular Paulista).