#MPB #Samba #CulturaPopular
– Gabriel: tá ligado que o Germano Mathias, aqui, tem carta branca? Descola uma frigideira e uma latinha de graxa para ele e mostre o caminho do nosso barracão, a galera já tá em polvorosa por lá, tem até japonês na roda! Vamô deixar o samba comendo solto, sem hora para acabar, pois, aqui, a polícia não vem! Ah, se o Capeta pintar na área, tá liberado, véio: nem precisa estar de tamanco, cartola e casaca! Seria sacanagem barrar qualquer malandro ou quem quiser colar nesta festa. E se algo der ruim relaxa que eu me entendo com o Trio!
A cultura popular do país está mais uma vez de luto. Aos 88 anos, subiu ao Plano Maior na quarta-feira de Cinzas (!), 22 de fevereiro, Germano Mathias, cantor e sambista paulistano, nata da malandragem que veio ao mundo na rua Santa Rita, no bairro do Pari, em 2 de julho de 1934. A morte foi informada por Angélica Tobias, produtora do cantor, compositor e sambista, que sofria com pneumonia considerada severa e buscava se recuperar em um hospital da cidade de Franco da Rocha, na região metropolitana da cidade de São Paulo. Mathias é um dos ícones paulistanos ao lado de Adoniran Barbosa e Paulo Vanzolini e entre fãs e amigos era tratado por Catedrático do Samba, um dos seus muitos apelidos, admirado pelo modo único de interpretar sambas: de forma sincopada e com batidas em tampas de lata de graxa, herança dos engraxates da Praça da Sé com os quais conviveu no início da década dos anos de 1950.
Corintiano dos mais inveterados, Mathias era filho de imigrantes oriundos de Portugal, Zulmira e Júlio Matias. Com os avós, aprendeu fados e viras, mas aos 14 anos encontrou sua vocação ao entrar para ala das frigideiras da bateria da Escola de Samba Rosas Negras. Fora do barracão ralava como camelô, marreteiro. Também vendeu pomadas e sabão antes de tentar a sorte em outubro de 1955 no programa À Procura de um Astro, da Caravana da Alegria que J. Silvestre, Cláudio Luna e Élcio Álvares comandavam na Rádio Tupi da cidade de São Paulo. Diante do microfone, interpretou Minha Nega na Janela, composição própria em parceria com Firmo Jordão e que emplacou ao ser gravada pela Polydor. A tacada foi certeira: o rapaz deixou no chinelo todos os concorrentes da turma de 300 candidatos e voltou para casa com um contrato assinado com a emissora, por 14 meses.
Estavam abertas as portas do sucesso, que, no entanto, seria breve. Em 1957, Mathias arrebatou o Roquette Pinto, troféu reservado à revelação masculina, façanha que o colocou lado a lado com a cantora Maysa, a revelação feminina. Em ascensão, passou a se dedicar às interpretações de composições de Zé Keti, do qual se tornara mano ao frequentar a Estação Primeira de Mangueira, na cidade do Rio de Janeiro.
Mas a carreira entrou em marcha ré na década dos anos 1960. Esquecido, nem mesmo Gilberto Gil o considerou ao lançar a Antologia do Samba-Choro, no qual o baiano alternou gravações do paulistano, como intérprete. A gravadora optou por regravar as canções utilizando registros que mantinha em arquivo, mas como o bolachão caiu no gosto popular, permitiu regravações de álbuns antigos de Mathias, pela RGE e CID. Ele, contudo, sentiu o baque e, sabendo-se relegado, mais tarde abandonaria a carreira musical para atuar como oficial da justiça criminal.
Além de sambista, Germano Mathias fez pontas e atuações em novelas e em, filmes para o cinema — entre elas o folhetim Brasileiras e Brasileiros, que o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) exibiu em 1990. Em 2004, prestes a comemorar seu jubileu de ouro na estrada (50 anos de carreira), lançou Tributo a Caco Velho para homenagear o compositor gaúcho que o influenciara e morreu em 1971. No ano anterior, assinara Talento de Bamba.
Sambexplícito: As Vidas Desvairadas De Germano Mathias, escrito por Caio Silveira Ramos e publicado em 2008 pela A Girafa Editora, é a primeira e única biografia do icônico Catedrático do Samba, pelo menos é o que indica a pesquisa que fizemos em busca de informações sobre a obra dele. Com prefácio de Walnice Nogueira Galvão1, o livro aparece acompanhado da tarja “Esgotado” em várias livrarias online, mas há unidades disponíveis em plataformas digitais de vendas, novas ou usadas, a preços camaradas e ainda parcelados, mas que podem virar os olhos da cara a depender do frete para a entrega pelos Correios. Para o carteiro trazer o pacote onde atualmente me escondo com a patroa, meus discos, meus livros e meus bichos, por exemplo, a taxa seria exatamente a metade do preço pedido pelo vendedor.
Filmografia de Germano Mathias
1958 – Quem roubou meu samba?/ O preço da vitória/1997 – O Catedrático do Samba/2007 – Ginga no asfalto
Novelas: Brasileiras e Brasileiros, participação especial, em 1990, e Os Experientes, (Rede Globo, 2015), como Lucas
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