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Com novos arranjos e elementos, Transando o Transa estádisponível nas plataformas digitais eapresenta as canções originais do “discobjeto” Transa, que o baiano concebeu durante o exílio na década dos anos 1970
A cantora paulistana Graziela Medori está lançando Transando o Transa, uma releitura do célebre Transa, que Caetano Veloso gravou em 1971 e chegou ao mercado nacional em 1972 – um álbum, portanto, que já tem meio século, mas conserva-se clássico. O projeto é da Produtora e Gravadora Kuarup, que já trouxera Graziela ao final de 2020, ao lado de Alexandre Vianna, reinterpretando canções do Clube da Esquina em Nossas Esquinas.
As plataformas digitais já oferecem a quem gosta de boa música a versão completa do álbumCataia, da Folha ao Chá, lançado no final do ano passado por Arismar do Espírito Santo. O multi-instrumentista e compositor paulista de Santos, litoral Sul do Estado, inspirou-se em uma planta nativa cujo nome cientifico éDrimys brasiliensis e que ocorre mais comumente na Mata Atlântica, em especial no Vale do Ribeira, onde também é conhecida por casca d’anta. Além do uso medicinal, das folhas da cataia provem a cachaça conhecida por “uísque caiçara”.
O álbum tem 14 faixas, todas de Arismar, executadas por ele ao piano e ao violão, ao lado de Glauco Solter (baixo) e Mauro Martins (bateria). De acordo com o autor, o álbum pode ser considerado “uma infusão sonora que homenageia o ideário rico em sotaques melódicos e humores do vivencial caiçara de São Paulo e do Paraná, em composições marcadas pelo sotaque musical dos boas praças”.
Nossas Esquinas, que a Kuarup já disponibiliza nas plataformas virtuais e também sairá no formato físico, revisita composições dos dois antológicos álbuns do grupo musical mineiro, um dos mais famosos de todos os tempos no país
O Clube da Esquina nasceu de um encontro de artistas que agitava a confluência das ruas Divinópolis com Paraisópolis, no bairro de Santa Tereza, em Belo Horizonte.(MG), promovendo forte junção entre músicos e compositores mineiros, mas acima de tudo, da amizade entre eles, que foi o maior dessa geração de artistas que descobria a música uma forma de se expressar. Milton Nascimento, Lô e Márcio Borges, Fernando Brant, Nelson Ângelo, Ronaldo Bastos, Beto Guedes, Toninho Horta e Wagner Tiso, dentre outros, contribuíram para a criação de uma sonoridade única que reúne influências forte da banda britânica The Beatles, da música latino-americana, dos negros e dos índios com o canto das igrejas, com letras cujos temas abordam a importância da amizade genuína e revelam momentos políticos vividos na década dos anos de 1970, fincadas em raízes ancestrais e no sentimento coletivo de amor e perseverança.
O Barulho d’água Música começa a publicar a partir desta atualização a série Clássico do Mês, que, mensalmente, compartilhará com amigos e seguidores matéria especial sobre determinado álbum que marcou época na história da música brasileira. Para abrir os trabalhos o escolhido é Extra, joia do catálogo da Lua Music que reúne as 19 músicas gravadas pela dupla Luiz Guedes e Thomas Rothem Extra (um vinil pop de 1982, eficiente e bem elaborado, com melodias e harmonias refinadas e vocais bem apurados) e Jornal do Planeta (produzido com requinte, em 1983, destacando arranjos sofisticados e inventivos, a faixa-título e Ela Sabe Demais), mais duas faixas bônus, de 1981. Mais do que resgatar os dois únicos lançamentos que resumem a obra de ambos os amigos, a compilação Extrafoi a maneira que o carioca e fundador da Lua Nova Discos, Roth, encontrou para reverenciar o parceiro Guedes (carinhosamente tratado por Lulu), mineiro de Montes Claros que desencarnou em 25 de novembro de 1997, três anos depois de descobrir que estava com câncer.
A dupla esteve ativa apenas entre 1979 e 1984. Apesar do curto período em que percorreu a estrada, protagonizou nestes concorridos cinco anos apresentações em várias cidades do país e atingiu sucesso de público e de crítica cantando composições próprias que embalaram jovens daquela geração e também enriqueceram o repertório de expoentes como Emílio Santiago, Ronnie Von, Beto Guedes(primo de Luiz Guedes, professor de violão do autor de Contos da Lua Vaga), Peninha, Angela Maria, Roupa Nova e Elis Regina; a “Pimentinha”, por exemplo, tornou nacionalmente conhecida Nova Estação, cujos versos proclamavam Nova esperança/nova estação / renascer cada dia / com a luz da manhã.
Em Extra é possível se deliciar recordando, por exemplo, as canções Milagre da Criaçãoe Chuva de Vento, marca registrada das vozes e do estilo de compor de Luiz Guedes e Thomas Roth. Canção de Verão, Voo Livre, Clube do Coração, Ela Sabe Demais, Jornal do Planeta, Amoramar, Angra, Estradas (Dentro da Cabeça) e Milagre do Amor (ambas campeãs de execução em FMs) também estão na lista do álbum cuja renda obtida com a venda de exemplares foi toda revertida para Lenita, esposa de Guedes, e as filhas do casal, Bárbara e Débora.
“Conheci Luiz Guedes [de batismo Luiz MacArthur Costa Guedes] num daqueles encontros que a vida nos proporciona e que a gente chama, apesar de eu não acreditar, de coincidência”, escreveu Roth no encarte de Extra. “Com Luiz Guedes aprendi a garimpar a melodia, cada palavra, até a exaustão. Assim era o nosso processo de trabalho. Diuturno. Obsessivo. Ficou, além das canções, a lembrança de um artista puro, intuitivo e sensível. E por quem sempre guardarei a mais profunda admiração. Eternamente.”