1633 – Rodrigo Delage e Ivan Pestana são as próximas atrações do 6º Viola de Feira, em Belo Horizonte (MG)

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Cantores vão embalar a hora do almoço com canções autorais em concerto do tradicional projeto elaborado pela  Picuá Produções, com entrada franca, marcado para o Centro Cultural da Lagoa, situado no bairro Itapoã

*Com Lilian Macedo

Preservar valores da cultura popular e das tradições do país se tornou cada vez mais importante à medida que desejamos manter sólidas conexões com as raízes que formam a diversificada identidade do brasileiro. Depois do distanciamento forçado no auge da pandemia da Covid-19, aos finais de semana resgatar a boa música entre familiares, ainda mais temperados com música de viola caipira, propicia a oportunidade de curtir um “calorzinho” a mais. E de graça é ainda melhor! Esta é a proposta da Picuá Produções Artísticas com as apresentações programadas para o 6º Viola de Feira Circulação nos Centros Culturais, projeto que conta com recursos da Lei Municipal de Belo Horizonte (MG) de Incentivo à Cultura nº 2194/2021 e patrocínio do Instituto Hermes Pardini S/A.

O Viola de Feira é idealizado por Nilce Gomes e Wilson Dias. Neste ano as rodadas, presenciais, sempre a partir das 11 horas, começaram em 26 de março. Violeiros de Minas Gerais e de outros estados convidados pelo casal embalam a hora do almoço com concertos de música raiz em ambiente de feira livre como farão os próximos a subirem ao palco: Rodrigo Delage e Ivan Pestana, escalados para entreter a plateia no Centro de Referência e Cultura Popular Tradicional Lagoa do Nado, no domingo, 28 de maio. Conforme o formato dos concertos, as atrações se revezarão no palco com o intuito de conectar gerações, estilos, pesquisas e estudos que revelam sob a ótica de cada uma a versatilidade e a riqueza da viola caipira — instrumento que recentemente foi alçado a patrimônio cultural e imaterial de Minas Gerais.

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1368 – III Mostra Internacional Violas D’Arame reúne brasileiros e portugueses

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Chico Lobo será idealizador do evento e curador do festival virtual que terá três dias de duração, concertos, oficinas e palestras 

Com recursos da Lei Emergencial Aldir Blanc, em edital aprovado pela Secretaria de Cultura de Minas Gerais (MG) e com a realização da Viola Brasil Produções, será promovida entre os dias 25 e 27 de março a III Mostra Internacional de Violas D’Arame do Brasil Edição Especial MG/Portugal , com transmissões das atrações pelo canal de YouTube do violeiro Chico Lobo, em http://youtube.com/chicolobooficial. A abertura, na quinta-feira, 25, está programada para as 19h30, com a presença de Leônidas Oliveira, secretário de Governo da Cultura e Turismo de Minas Gerais. Depois, na sexta-feira, 26, os violeiros convidados vão se revezar em cantorias a partir das 18 horas. O encerramento, no sábado, 27, a partir das 17 horas, prevê palestras e oficinas dos violeiros.

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1242 – João Bá: uma dádiva que não se apagará, uma facho de fogo que seguirá apontando os caminhos a seguirmos

Poeta, cantador, compositor, ator, violonista, homem de bondade e de sabedoria irrefutáveis, agora transmutado em estrela, o Bacurau Cantante sobe para o Plano Elevado deixando um legado que o aproxima de São Francisco de Assis e o transforma em em sinônimo de Humanidade

Lidar com e aceitar a morte costuma ser para a maioria das pessoas um desafio, doloroso, sobretudo no hemisfério católico-cristão, que a associa à perda, ausência, fim. Pessoalmente e à medida que envelheço e ficamos mais próximos, venho tentando me esforçar para Encará-la como São Francisco de Assis a considerava, uma Irmã redentora; ao mesmo tempo, exercito o esforço pra internalizar a convicção kardecista que preconiza a reencarnação — ou seja, a volta do espírito que um dia abrigou um corpo à matéria, credor de novas oportunidades de aprendizado que o levem à evolução até que, ao final de um ciclo, mereça residir em alto grau de felicidade e perfeição em planos mais elevados e sublimes.

Esta reflexão, mais uma vez, alcança-me nestas últimas horas em que tentamos aceitar que o querido amigo, cantor e compositor João Bá foi brincar no mar — justamente ele, o  menino que nós todos que o conhecemos (e o amaremos sempre) assim julgávamos, e, brincávamos, de fato, seria: eterno, invencível, resistente ao passar do tempo, á chegada do inexorável definhamento e do esgotamento dos órgãos e da mente, aos tombos do palco, uma espécie de alma de sete gatos, de entidade que pairaria acima deste desfecho pela força de sua personalidade risonha, generosa, poética, lúcida, abundante em luz e em sabedoria.

Fui acordado pela companheira Andreia Regina Beillo nas primeiras horas da manhã da sexta-feira, 4, com a notícia da passagem dele, lá em Caldas (MG), onde residia. Ainda estava meio imerso nas brumas do sono e demorei a processar e a apreender a informação, mas enquanto sob o impacto do anúncio tentava por meus circuitos para funcionar, a própria Andreia já se corrigia afirmando, com um tom de gratidão: “Notícia triste, na verdade, não totalmente, porque, claro, embora o João Bá nos fará falta, neste instante ele deve estar feliz pela vida que teve e pelo que nos legou, repleta de amigos, de encontros, de contribuições para o bem e para a nossa cultura, notadamente a popular”. Era o momento em que depois de alguns segundos e incredulidade a minha ficha caía. Eu até concordei com a Andreia quanto a sua sensata observação, mas no mesmo instante não consegui conter um suspiro profundo e soltei um “puta, que merda!”

Não encontramos informações sobre a causa do encantamento, mas, de fato, acredito que isto pouco interessa, olhando pelo prisma da Andreia. Melhor mesmo (não por amarga resignação, mas por fé e maturidade), é perceber que João Bá seguirá sendo uma dádiva inesgotável, um mimo enquanto por aqui estivermos arreunidos, um facho de fogo candeeiro a apontar o caminho que devemos seguir trilhando: pela música, pela cultura popular, por nossas tradições, pela humanidade. Agora que ele é todo passarinho, deixemos que os do Alto o aninhem no lugar em que merece, já plenamente completo, encantando com seu jeito de baiano-mineirim quem por ventura Lá também tenha merecido pousar. E como ele mesmo dizia que no Céu não há marmelada, vocês conseguem imaginar a festa que estão fazendo entre as nuvens Pixinguinha, John Lennon, Elis Regina, Beethoven, Tom Jobim, Bibi Ferreira, Ariano Suassuna, Mário Quintana, Manoel de Barros, Marília Pêra, Bach, Villa-Lobos, Gonzaguinha e Gonzagão? Posso até ver o comunicado que São Pedro mandou Dércio Marques ler:

Em virtude da superlotação do nosso Teatro Celestial para a apresentação de boas-vindas do Bacurau Cantante, Jesus pede para avisar que promoveremos mais quantas sessões do show forem necessárias até que todas as almas que Aqui no Mundo Perfeito se encontram e queiram aplaudir nosso companheiro consiga seu lugar na plateia.”

Lido o comunicado, até Deus voltará inúmeras vezes à fila de entrada e, mesmo Todo Poderoso, tentará descolar selfies e autógrafos da atração após cada cantoria, ô, se vai!

Amigo carinhoso, alegre e de coração humilde

Fato raro quando o artista que morre é um João, mas Bá, não Gilberto, pelo menos um veículo da grande mídia nacional, o Correio Braziliense, tirou o chapéu para repercutir a viagem astral do cantador. Também a versão online do Correio do Sul, de Poços de Caldas (MG), informou o fato aos seus leitores, lembrando que em julho recente ele e o seu pupilo João Arruda, de Campinas (SP), participaram do projeto Composição Ferroviária, promovido naquela cidade mineira pelo casal Jucilene Buosi e Wolf Borges, e que teve, ainda, Déo Lopes em cena.

Uma das mais tocantes homenagens e lembranças, entretanto, foi escrita pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), que publicou a seguinte nota de falecimento em sua página virtual:

João Bá foi um menino que dedicou toda sua vida à cultura popular e ao povo brasileiro. Nascido no sertão baiano, em Crisópolis, Bá é filho de lavradores. Ele contava que começou a trabalhar ainda criança, quando caiu o primeiro dente. Seu pai decidiu que ele estava pronto para ir à lavoura. Foi ajudando a família que ele começou a observar a natureza, grande motivo de inspiração para toda sua obra.

Aos 12 anos ele também já era cantor e compositor. Durante a trajetória, compôs mais de duzentas músicas, gravadas por artistas celebrados no cenário popular como Hermeto Pascoal, Almir Sater, Diana Pequeno, Dércio Marques, entre outros. Mas para o coração do povo Sem Terra a principal gravação é O menino e o mar, realizada junto com as crianças sem terrinha de Itapeva (SP), para o CD Plantando Ciranda 3.

João Bá esteve presente em muitos momentos de luta e de construção da cultura do MST. Ele participou dos Encontros de Violeiros, do II Festival Nacional de Arte e Cultura da Reforma Agrária, do Encontro com o Saci, em São Paulo, dos Festivais da Reforma Agrária em Minas Gerais, sempre alegrando e colocando as crianças mais adultas para brincar com suas canções.

Observado pelo olhar carinhoso e atento do filho Danilo Marques Oliveira, João Bá em abril de 2015, quando fez apresentação no Sesc Interlagos, da cidade de São Paulo, voltando á ativa depois de meses de internação e recuperação de problemas urinários (Foto: Marcelino Lima/Acervo Barulho d’água Música)

A música de João Bá é expressão de poesia, vida, natureza e luta. Ele foi o pioneiro na construção do lugar protagonista da cultura popular, do sujeito povo, que como criador de cultura e nas suas composições, que ele mesmo definia como orgânicas, por serem ligadas organicamente à natureza. A estética simples, mas intensa, despertava o senso crítico e retratava a luta de forma sensível e simples. João nos deixa um legado de humanidade, de fazer artístico e olhar sensível. De falar da luta como se fala da vida.”

Este texto do MST deixa de forma inequivocamente clara qual foi a opção preferencial de João Bá enquanto esteve encarnado: ao lado do povo, dos humildes, dos explorados de toda sorte.

Outro singelo tributo veio do violeiro natural de Salinas (MG) e radicado em Belo Horizonte Joaci Ornelas, um dos muitos músicos com quem João Bá conviveu. Ornelas escreveu, em forma de poema, o texto que segue:

O encantado se encantou!

Era menino feito de passarinhos
de anuns, araras, andorinhas e bacuraus
Era feito de rios e correntezas
Jequitinhonha e São Francisco
de barco e leme
calmaria do igarapé…
Era feito de areia, de mar e estrelas
de arvoredos e de matas
de uruçus e borboletas
Era feito de cerrado e sertão
de vales, sertanias!.

Era feito de brisa e ventania
de versos e melodias
de João, José e Hermeto
de Rosa e Severininha
Era feito de sonhos
de esperança
da mais pura alegria

João… o encantado se encantou!

Também mineiro e violeiro, Gustavo Guimarães comparou João Bá a São Francisco de Assis, santo cujos maiores louvores são promovidos justamente no dia em que João Bá torna-se luz:

Hoje é mesmo um dia especial, dia que é lembrado pela passagem de São Francisco de Assis e dia que o nosso querido João Bá também segue a sua viagem em direção a uma nova vida.

João foi uma espécie de São Francisco para nós e para nossa cultura, um amigo carinhoso, alegre e de coração humilde, poeta, sábio e professor. Um homem cheio da presença de Deus, que sempre procurava colocar o amor acima de tudo. Obrigado e siga em paz João, vá menino, brincar no mar do amor de Deus. No coração tudo permanece.”

Vale a pena, ainda, reproduzir o artigo do Correio do Sul, que observou

João Bá (…) reunia diversos talentos artísticos, como atuar, contar histórias, cantar e tocar violão. Como violeiro, começou a participar de shows e festivais em 1966, como o Festival da TV Tupi, no qual teve uma de suas músicas, Facho de Fogo, como destaque do evento. A canção foi composta em parceria com Vidal França. Seu primeiro disco, Carrancas, trouxe diversas participações especiais, como Hermeto Paschoal e Osvaldinho Acordeom. Sua discografia é composta também por Carrancas II, Ação dos Bacuraus Cantantes, Pica-Pau Amarelo (e o último, Cavaleiro Macunaíma, com o qual em 2014 ele festejava 80 anos] ¹.

Soma mais de 200 composições musicais. Teve seus trabalhos usados na trilha sonora de documentários como Entre o Mar e o Sertão, de 2007, sobre Gláuber Rocha, e Nas Terras do bem-virá, de Alexandre Rampezzo. Três músicas do disco Pica-Pau Amarelo foram inseridas na coletânea italiana Aruanã, sendo que a faixa Bicho-da-seda também foi usada no documentário Sindicato Operário Bolonha (Itália). Entre outras participações, João Bá também subiu ao palco do Conexão Vivo em 2009, como convidado do grupo Lavadeiras de Almenara.

Se o mundo precisa redescobrir o significado da palavra Humano, que estudem João Bá”, escreveu o produtor do programa Sr. Brasil, Lenir Boldrin, sobrinho do apresentador Rolando Boldrin. “João Bá, em um mundo em que ouvimos e conhecemos o poder e a destruição que pode causar o ego, sempre comentei que foi nele que aprendi o que pode ser a força e o poder da humildade, a riqueza de ser gente, de ligar o verdadeiro elo da humanidade.”

João Bá também atuou no cinema como autor e foi protagonista da sétima arte em um documentário de 60 minutos da Itoby Filmes há pouco mais de três anos.

Leia outros conteúdos sobre João Bá ou a ele relacionados aqui no Barulho d’água Música clicando no linque abaixo!

https://barulhodeagua.com/tag/joao-ba/


¹Também integram a discografia de João Bá: 50 Anos de Carreira (2004), Aruanã – Amigos da Orchestra do Mundo(2005) e Amigo Folharal (2010). Comprar os CDs do João Bá é possível enviando mensagem para Nanah Correia pelo endereço virtual nanahcorreia22@yahoo.com.br.

http://www.itobyfilmes.com.br/equipe-fitipaldi-1

https://quadradadoscanturis.blogspot.com/2014/01/joao-ba-discografia-para-download.html

https://www.mst.org.br/2019/10/04/joao-ba-foi-brincar-com-as-estrelas-do-mar.html

https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2019/10/04/

http://correiodosul.com/regiao/morre-aos-87-anos-o-cantor-e-compositor-joao-ba/

1146 – “Tardhi”, álbum autoral mais pop do músico das montanhas, completa trilogia de Bernardo do Espinhaço (MG)

Disco traz nove faixas  com arranjos e composições apuradas que  transitam entre a MPB, o indie e o folk, todas autorais, e está disponível para ser baixado juntamente com os dois primeiros no portal do cantor e compositor.

A tradicional audição matinal dos sábados aqui na redação/cafofo do Barulho d’água Música começou neste dia 19 com Tardhi, nome do terceiro álbum do cantor e compositor mineiro Bernardo Puhler, que adotou o nome artístico Bernardo do Espinhaço. As nove faixas do disco, todas de autoria de Bernardo, completam a trilogia que o caracteriza como autoridade da Música Popular da Montanha (MPM), conforme bem foi definido por um jornalista crítico musical. Os outros dois álbuns da trindade chamam-se  Manhã Sã (2015) e O Alumbramento  de um Guará Negro em uma Noite Escura (2014), temas da nossa atualização 981, e estão disponíveis para serem baixados, gratuitamente, junto com Tardhi, no portal do músico cujo endereço é http://www.bernardodoespinhaco.com.br.  

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1020- Wescley J. Gama, compositor e poeta potiguar, volta à lista dos melhores discos do sítio Embrulhador com “Campos Grandes Reunidos”

as noites de dezembro
têm a pele muito fina
como o sono dos velhos
ou os dedos de uma aranha.
das noites de dezembro
pode-se ver o azul sonolento
das veias tão frágeis
e o relevo de suas vísceras.
as noites de dezembro
caminham nuas
pela cidade aberta
e as velhas nas calçadas
sorriem
escandalosamente serenas.
As Noites de Dezembro, #4 de Campos Grandes Reunidos

Poeta, contista, cantor e compositor potiguar, Wescley J. Gama mais uma vez está entre os contemplados com a Menção Honrosa do conceituado sítio Embrulhador. Ed Felix, jornalista responsável pela indicação, anualmente aponta quais seriam em sua opinião os 100 melhores álbuns de cada temporada, mas como praticamente avalia discos de todo o país, de todos os gêneros musicais (tanto físicos como distribuídos pela internet), abre a lista suplementar, na qual seleciona outros trabalhos que, em meio a tantos, julga merecem destaque.  A amostra de 2017, na qual consta Campos Grandes Reunidos, o terceiro de Wescley, exigiu de Felix ouvir nada mais, nada menos do que 1.557 (!) discos, lançados entre 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2017.

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981 – Clareza, despretensão e singularidade são marcas de Bernardo do Espinhaço (MG), compositor das montanhas e dos sertões

O Barulho d’água Música volta os holofotes novamente para Minas Gerais e apresenta aos amigos e seguidores Bernardo Puhler, cantor e compositor atualmente morador de Belo Horizonte, oriundo de Santana do Riacho, cidade situada entre as serras do Cipó e do Espinhaço. Esta segunda cadeia montanhosa, localizada no Planalto Atlântico, estende-se por Minas Gerais e Bahia, é  formada por terrenos proterozóicos ricos em jazidas de ferro, manganês, bauxita e ouro e passou a compor não apenas o nome de cair na estrada, mas a identidade artística e a alma do trabalho do músico que assina como Bernardo do Espinhaço. Ainda menino, entre os oito e os nove anos, conforme puxa pela memória, Puhler já compunha e cantava, ensaindo, assim, os primeiros passos para a trajetória que já conta com seis álbuns inspirados nas montanhas e nos sertões — dos quais três autorais e os demais gravados com o grupo Músicas do Espinhaço. Pela ordem, os títulos são Um Disco pra Serra do Espinhaço (2003); O Encontro das Cordilheiras (2010); Jardim do Mundo (2011); Janelas (2013), O Alumbramento de um Guará negro numa noite escura (2014); e Manhã Sã (2015).

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951 – Carol Ladeira (RJ) lança Mar de Vento em apresentação no Sesc de Campinas (SP)

A cantora Carol Ladeira receberá amigos e admiradores na tarde de sábado, 20, no teatro da unidade da cidade de Campinas do Sesc do estado de  São Paulo para lançamento do segundo álbum da carreira, Mar de Vento, quando promete “soltar a voz  com a crueza ou a delicadeza que o momento exige”, além de extravasar a vontade de falar “sobre nosso tempo com tudo o que ele tem hoje de primavera e de valente esperança”. A apresentação marcada para começar às 16h30 também levará ao palco Edu Guimarães (sanfona e piano), Gustavo de Medeiros (violão de 7, bandolim e guitarra) e Gabriel Peregrino (percussão), parceiros de estrada de Carol Ladeira. Ela destaca neste novo trabalho a presença fundamental de Chico Santana (percussão) durante a gravação, ao vivo, aproveitando no calor do ambiente sutilezas e forças que despontam nas composições, na instrumentação e nas interpretações. Mar de Vento sucederá Quitanda com criações inéditas de Douglas Germano, Chico Santana, Déa Trancoso, Gustavo de Medeiros, Gustavo Infante, Diogo Nazareth, Guto Leite, Eduardo Klébis, Rafael Yasuda, Carlinho Campos, mais canções pouco conhecidas de Paulo César Pinheiro, Vicente Barreto e Nilson Chaves, com arranjos criados coletivamente, fruto da sintonia de quem toca junto há alguns anos.  Continuar lendo

889 – Jean e Joana Garfunkel cantam e interpretam poemas de Mário de Andrade no Imagens do Brasil Profundo (SP)

Em nova rodada da terceira temporada do  Imagens do Brasil Profundo, o curador Jair Marcatti receberá nesta quarta-feira, 15 de junho, a partir das 20 horas, Jean e Joana Garfunkel. Pai e filha conduzirão a plateia por uma viagem pela obra do patrono do projeto, o poeta e escritor Mário de Andrade a partir do palco do auditório Rubens Borba de Moraes da da Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo. A ida pelo universo do modernista se dará por meio da declamação e interpretação de poemas como Eu sou trezentos e outros textos  consagrados do autor de Paulicéia Desvairada.

 

Jean e Joana Garfunkel juntos coordenam o projeto Canto Livro desde 2006. Ele é poeta, escritor. letrista e compositor com obras gravadas por intérpretes como Elis Regina, Zizi Possi, Margareth Menezes e Maria Rita – foi convidado a cantar num projeto dedicado a Guimarães Rosa por conta de sua pesquisa e visitas à cidade Morro da Garça, próxima à terra natal do escritor, Cordisburgo (MG). Paralelamente ao trabalho com o Canto Livro, Jean Garfunkel tem quatro discos gravados em dupla com o irmão Paul, mais 13 Pares e Um Fado Solitário, no qual homenageia treze parceiros com os quais vem traçando sua trajetória musical.  Joana Garfunkel é narradora de histórias e psicóloga, autora de uma pesquisa acadêmica premiada sobre a obra Grande Sertão: Veredas. Trabalha desde 2005 com música e literatura, apresentando-se ao lado de artistas como Tavinho Moura, Natan Marques, Grupo Miguilins e Emiliano Castro.

Mergulho no Brasil de dentro

Dedos de prosa, boa conversa, música, imagens, artesanato e cultura popular. Essa é a receita de Imagens do Brasil Profundo projeto que desde 2014 oferece ao público da Biblioteca Mário de Andrade shows, debates, bate papos musicais e ações para crianças sempre às quartas-feiras, com entrada franca sob a batuta do historiador e sociólogo Jair Marcatti. A ideia é mostrar e trazer à luz manifestações populares e objetos que revelam o Brasil por dentro, aquele país que nas palavras do mestre Ariano Suassuna vive escondido em rincões considerados profundos, mas é muito vivo. Ao invés de promover abordagens tradicionais, Marcatti prefere convidar músicos, documentaristas, diretores de cinema, ativistas culturais e pesquisadores da cultura popular que em comum nutrem um modo de olhar aprofundado e amplo sobre o país e trabalhos de pesquisa e resgate das nossas mais entranhadas tradições.

Com cada um dos participantes, Marcatti aborda aspectos do universo cultural e musical  brasileiro, de nossas trajetórias, continuidades e rupturas; daquilo que, sem nenhuma pretensão definidora, poderíamos chamar de identidades brasileiras, no plural, com a vantagem dos exemplos serem pontuados no calor da prosa, ao vivo, pelo som dos instrumentos, muitos artesanais, e pela apresentação de outras formas de expressão cultural.

A Biblioteca Mário de Andrade fica na Rua da Consolação, 94, entre as estações República e Anhangabaú da linha 3 Vermelha do Metrô e para mais informações disponibiliza o número de telefone 11 3775-0002.

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872 – Sob o manto da delicadeza, Consuelo de Paula abre terceira temporada do Imagens do Brasil Profundo, em São Paulo

Consuelo de Paula vestiu-se do seus melhores sorrisos e cobriu com sonhos, arrepios e músicas o público que a prestigiou na noite de quarta-feira, 4 de abril, quando a convite do professor Jair Marcatti abriu em São Paulo a terceira temporada do projeto Imagens do Brasil Profundo. Do centro do acolhedor palco Rubens Borba de Moraes da Biblioteca Mário de Andrade, a cantora, compositora e poetisa conduziu ao violão e sob o manto da delicadeza, após a chegança ao toque de tambor, uma inesquecível navegação acústica pela Mantiqueira, passeio que cruzou também lilases, azuis, verdes, vermelhos, rios e oceanos para nos religar às nossas origens tanto em Portugal, quanto em África e onde o coração alcançou. Em meio a homenagens aos pais e a alguns dos seus mais amados mestres e parceiros (citou João Arruda, João Bá, os irmãos Dércio e Doroty Marques e Rubens Nogueira), quem a ouviu e também a acompanhou marcando a viagem com palmas ancorou ainda em cais que se abriram para feiras, quermesses e congadas vivenciadas desde menina em cidades do Sul de Minas vizinhas à terra natal, Pratápolis.

Em uma delas, Itamogi, contou ter avistado um certo capitão Donizete e que estabeleceu de imediato com ele, sem jamais ambos terem se visto antes, um afinado reconhecimento mútuo que se deu pela troca do primeiro olhar. Salve Maria: em sua sapiência e sensibilidade, o congadeiro intuía que em suas retinas pousava a imagem de uma nova rainha daqueles costumes e tradições, a qual, gentilmente, cedeu o cajado, bastão simbólico de majestade que em sua simplicidade com certeza deveria ser mais nobre que um cetro cravejado de diamantes. “A cidade inteira saia no congado, eu nunca tinha visto, que lindo! E todos comiam juntos no mesmo lugar, era uma delícia”.

“Fiquei pensando o dia todo que este Imagens do Brasil Profundo de hoje seria do começo ao fim para mim a relação que a gente tem com o nosso lugar, nossas terras, rezas e estranhezas, mas sobretudo de um imenso coração que une nós todos, nossos rios, nossas lutas, nossos sonhos”.

Do outro lado do Atlântico
Alguém ainda chora a dor da África sem América
Mãe roubada, barriga roubada
Do lado de cá respondo com o toque do meu tambor
No encontro do meu coração reúno as duas partes
Lado esquerdo e direito,
Artéria e veia:
Dou à luz um índio
Filho do negro que já fui!

Consuelo de Paula é assim, multiétnica; pluralista e universal,  palestina, judia, americana de todas as latinidades. Trilha de uma Folia de Reis, de tonalidades suaves, não perde a essência e o perfume, como um manacá. Jair Marcatti apresentou a porção brasileira dela como síntese entre Cecília Meirelles, Guimarães Rosa e Manoel de Barros: de fato, ela sabe como ninguém tanto do tratado das coisas e dos sentimentos, quanto da poesia dos cuidados diários, como encontrar rimas que soam como curativos ou flores que saram  descuidos e dores ocasionais e saudades ancestrais; Consuelo de Paula transforma o ínfimo em grandeza. A imensidão que existe em seu mar e que em seu íntimo também se configura sertão pede velejar sem pressa… uma, duas, três, quantas vezes soprar um vento de bonança ou um cavalo passar arriado, pois, embora intensa, em sua correnteza jamais se mareia e naufragam barcos, em seu solo jamais vingam estiagens: mesmo os que têm cascos frágeis como papel, mesmo as mais perdidas asas brancas, por fim ancoram e encontram o amor que ela nos dá! Entre uma batida ritmada no tambor e um ponteio do violão, não há negror que resista no horizonte. Mesmo que a gente tenha que seguir remando contra a maré, com Consuelo de Paula na proa, seja no palco ou entre nós, a viagem sempre será profunda e abençoada!

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Consuelo de Paula, mineira de Pratápolis, cantou sucessos de sua discografia, composta por seis álbuns, entre os quais parcerias com mestres como Rubens Nogueira e Mário Gil

Jair Marcatti afirmou que o Imagens do Brasil Profundo está sendo retomado em um momento no qual o país enfrenta polarizações que têm gerado várias formas de agressões e aguda desesperança — contexto que reafirma os propósitos do projeto como ele o pensou, há três anos, seguindo princípios e ideais de três dos nossos maiores expoentes culturais que são o patrono Mário de Andrade, Darcy Ribeiro e Ariano Suassuna, apoiado, ainda, em pensamentos de Machado de Assis. Conforme o entendimento do curador, estes propunham  “um reencontro do Brasil com ele mesmo”, mas não com o Brasil institucional, caricato e burlesco, e sim o mestiço, aquele que nos permite afirmar perante o mundo a originalidade da civilização tropical, revelador de nossos melhores instintos e mais arraigadas tradições.

Em 2016 a temporada se estenderá até 14 de dezembro. A próxima rodada, 22 de maio, um domingo, contemplará a partir das 11 horas o público infantil. O convidado é o grupo inserido no circuito mundial de contação de histórias Boca do Céu, cuja participação será finalizada pelo violeiro Paulo Freire (Campinas/SP). Depois, na quarta-feira, 25 de maio, Marcatti receberá para o primeiro bate-papo  deste ano o acordeonista Thadeu Romano (São Paulo/SP) com o mote “A geografia afetiva dos caminhos da sanfona no brasil”    

“Vá meu cavalo alado, vá cumprir sua sina,
Leve este recado, esta carta pendurada em seu dorso
Corra porque a paz tem pressa!”

Do livro A Poesia dos Descuidos, de Consuelo de Paula e Lúcia Arrais Morales. Consuelo o declamou motivada pela imagem que Marcatti escolheu para ilustrar o projeto, um viajante à cavalo, extraída dos Cadernos de Viagem de Guimarães Rosa.

Prestigiaram a apresentação de Consuelo vários expoentes da música de qualidade e da imprensa, alguns de primeira grandeza como ela: Katya Teixeira, Paulo César Nunes, Antônio João Galba, Sidnei de Oliveira, Amauri Falabella, Jean Garfunkel, Joana Garfunkel, Fábio Jorge, Betto Ponciano, Vitor Nuzzi, Mercedes Cumaru, Marco Aurélio Olímpio e Joel Emídio, do blogue Ser-tão Paulistano. O Barulho d’água Música também destaca o primoroso trabalho dos técnicos de som e de iluminação do teatro e a presença na plateia da supervisora de ações culturais da Biblioteca Mário de Andrade Tarsila Lucena.

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O violeiro e o sanfoneiro Paulo Freire e Thadeu Romano: o projeto Imagens do Brasil Profundo, ainda em maio, terá mais duas atrações imperdíveis (Foto: Arquivo Barulho d’água Música/Marcelino Lima)

707 – Fabrício Conde (MG) toca de ijexá a cateretê e encanta com viola “mágica” plateia do Sesc Pinheiros (SP)

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Fabrício Conde gosta de contar entre uma música e outra um “causo” que deixa a plateia arrepiada. Ele mesmo fica assustado e não toca a “sinistra” composição (e curioso: ninguém a pede, ao contrário!) que menciona nesta história, a qual aprendeu com uma anciã, Dona Alzira — moradora de retirada casinha situada em São Francisco (MG), cidade às margens do Velho Chico –, pois jura: não mexe com nada do outro mundo. Mas embora conte que procede de Juiz de Fora, cidade terrena da Zona da Mata mineira, o próprio não parece ser deste plano, não, vai ouvindo: com apenas as duas mãos, Fabrício Conde tira dos “instrumentos” sonoridades de outros mundos!

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