1532 – Samba de Bumbo, tradição nascida em Pirapora do Bom Jesus (SP), será destaque durante III Festival Cidade Musical

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Berço do Samba de Bumbo entre outras manifestações populares e da fé, a cidade de Pirapora do Bom Jesus, situada na Grande São Paulo a cerca de 60 quilômetros da Capital paulista, está gradativamente retomando suas atividades após o período mais crítico da pandemia de Covid-19. Fundada em 6 de agosto de 1725, hoje sob administração desde o começo do ano passado do prefeito Dany Floresti (PSD), Pirapora do Bom Jesus é conhecida, ainda, por atrativos naturais, o que leva ao município não apenas romeiros de várias partes do país que lá pagam promessas e renovam suas crenças em um ambiente de elevada espiritualidade, mas turistas e amantes de esportes de aventura ou radicais, de um modo geral. Floresti tem divulgado que em seu mandato desenvolverá uma gestão que não apenas possibilite atender às reais necessidades dos moradores, mas, para além desta meta, resgatar e potencializar eventos que tanto atendam aos costumes e às demandas locais, quanto integrem e encantem o visitante, oferecendo-lhes eventos e festejos dentro ou fora do calendário oficial municipal que revelem os potenciais que a cidade guarda – estratégia que deverá possibilitar, por exemplo, ao romeiro e aos seus acompanhantes ou mesmo àqueles só de passagem para uma saudável pedalada, desfrutarem por mais tempo (além do compromisso religioso ou de um rápido passeio) da hospitalidade com ares de Interior e das diversas tradições piraporanos nos mais diversos setores, do religioso ao gastronômico e aos esportivos e/ou culturais.

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1507- Compositor e violeiro Paulo Freire leva canções e causos de Selva, seu mais recente livro, a Londrina (PR)

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Alô amigos e seguidores de Londrina, Bela Vista do Paraíso, Cambé, Sertanópolis, Alvorada do Sul, Ibiporã, Apucarana e cidades paranaenses próximas, vão ouvindo, vão ouvindo: na quinta-feira, 3 de março, o compositor e escritor Paulo Freire promoverá o lançamento do seu mais recente livro, Selva, no restaurante situado na Rua Espírito Santo, 655, no centro de Londrina. A cantoria, como sempre entremeada pelos causos recolhidos dos sertões brasileiros que apenas o violeiro de Campinas (SP) sabe como contar, está marcada para começar às 20h30 e terá a participação especial do multi instrumentista André Siqueira. As reservas deverão ser efetuadas por meio do número de telefone 43 99151-3587 com o máximo de antecipação, pois o estabelecimento limitou o número de mesas à disposição devido às restrições sanitárias de prevenção e combate ao coronavírus (Covid-19). “Tô muito feliz e animado em voltar à Londrina, encontrar os amigos queridos, e poder sapecar na violinha a trilha sonora e contar os causos do novo romance”, disse Freire.

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1475- Humberto Zigler (RS) celebra 30 anos de carreira com The Fisherman, primeiro álbum solo

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Disco lançado pela Kuarup é inspirado em pesquisas sobre canções da África e ramificações pelo mundo que se identificam com a música brasileira e New Orleans

O álbum The Fisherman, primeiro trabalho solo do baterista e percussionista gaúcho Humberto Zigler, chegou às plataformas digitais e também em formato físico como mais um lançamento da gravadora e produtora Kuarup; um exemplar foi enviado ao Solar do Barulho pelo querido amigo Rodolfo Zanke, ao qual agradecemos mais uma vez pelo apoio, estendendo a gratidão a toda sua equipe.

Leia mais sobre álbuns da Kuarup ou conteúdos relacionados à produtora e gravadora ao visitar os linques abaixo:

https://barulhodeagua.com/tag/rodolfo-zanke/

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1305 – Luiz Gonzaga ganha homenagem em disco dos músicos Nino Karvan e Alberto Silveira

Cantor e violonista sergipanos resgatam clássicos do Rei do Baião em álbum com dez faixas lançado pela gravadora e produtora Kuarup

De Lua, Canções de Luiz Gonzaga é o título do projeto do cantor e compositor Nino Karvan e do violonista Alberto Silveira, artistas sergipanos com carreias consagradas, que fazem uma tocante homenagem ao Rei do Baião, O repertório escolhido reúne canções das décadas dos anos 1940/50/60, período de ouro do baião e de maior sucesso de Luiz Gonzaga. O disco é intimista, gravado e apresentado para salas de concerto: a voz e o violão dão destaque às melodias, tão presentes na memória afetiva do brasileiro e na rica poética das letras. O álbum é mais um belíssimo lançamento da gravadora e produtora Kuarup, que, gentilmente, enviou um exemplar à redação do Barulho d’água Música, pelo qual agradecemos ao diretor artístico Rodolfo Zanke e toda sua equipe.

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1281 – Disco Canteiro de Alumiá revisita o Movimento Armorial, com elogios de Antonio Madureira e Ivan Vilela

Dez canções de arranjos artesanais e sonoridade armorial compõem o álbum Canteiro de Alumiá, de Ricardo Dutra e Quinteto Aralume, lançado em agosto de 2019, no Teatro Martins Pena, na cidade de São Paulo, com participação da cantora Letícia Torança e apresentação do violeiro, pesquisador e compositor Ivan Vilela, professor da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP). O disco, disponível nas plataformas digitais, foi o escolhido para abrirmos neste dia 25 de janeiro mais uma rodada das audições matinais que promovemos aos sábados aqui no boteco do Barulho d’água Música. Chamado de “trovador contemporâneo”, o compositor, cantador e instrumentista Ricardo Dutra, com o Quinteto Aralume, de maneira poética e imbuídos de lirismo melódico, abordam nas faixas do álbum histórias do povo brasileiro e a natureza que os rodeia, unidas ao refinamento artesanal dos arranjos que bebem nas fontes do Quinteto Armorial.

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1253 – Caio Padilha (RJ/RN) lança segundo título dedicado à “santíssima trindade” dos instrumentos da música nordestina

OVERLAND: Violas e Veredas, de Caio Padilha, já está disponível nas plataformas digitais e pode ser encomendado, no formato físico, com o autor, carioca radicado em Natal e que abriu o projeto Aprendiz de Sertografias em 2016, quando saiu ARRIVALS: Rabecas e Arribaçãs; música potiguar também merece destaque pelo trabalho do flautista Carlos Zens. autor de sambas, frevos, cocos,  marchinhas, benditos, choros, entre outros ritmos 

A segunda etapa de uma trilogia nordestina que deverá estar pronta até 2022, o álbum OVERLAND: Violas e Veredas, de Caio Padilha, já está disponível nas plataformas digitais e pode ser encomendado, no formato físico, com o autor, carioca radicado desde 1994 em Natal (RN), capital do estado do Rio Grande do Norte. A trilogia, que Caio Padilha batizou de Aprendiz de Sertografias, já possui o título Rabecas e Arribaçãs (2016) e deverá ser fechada com Acordeons e Candeeiros. Músico tocador de rabeca, cientista social, ator e admirador da cultura popular, Caio Padilha também lançou, recentemente, Um Sonho de Rabeca No Meio da Bicharada, disco que saiu pela Kuarup, tema da atualização 1244 deste blogue, publicada em 8 de outubro.

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1237- Dez Cordas, disco raro de Ivan Vilela, chega às plataformas digitais

Já está esgotado no formato físico, álbum lançado em 2007 pelo mineiro de Itajubá que é uma das referências da viola no Brasil inova na maneira de tocar o instrumento e reúne no repertório Mário de Andrade, The Beatles, Chico Buarque e Pereira da Viola, entre outros

Dez Cordas, um dos álbuns da discografia do compositor, pesquisador e professor mineiro Ivan Vilela, de 2007, passou a estar disponível nas plataformas digitais a partir da sexta-feira, 27 de setembro. Com 14 faixas instrumentais, ao longo de sua trajetória Dez Cordas atravessou o Brasil pelas mãos de seus ouvintes, de outros violeiros e músicos, mas 12 anos se passaram e já teve sua tiragem do formato físico esgotada. Por isso, para quem não tinha um exemplar em mãos, recorrer ao streaming, agora, é a solução perfeita para, finalmente, ouvi-lo. O linque que dá acesso e permite salvar a playlist está em http://ffm.to/dezcordas.

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1225 – Instituto CPFL e produtora Kuarup lançam selo dedicado à música contemporânea brasileira 

Catálogo conversa com obra e conceitos do modernista Mário de Andrade e reúne gravações com André Mehmari, Renato Braz, Marília Vargas, Thibault Delor e Quarteto Camargo Guarnieri, entre outros expoentes da moderna música que o país e músicos estrangeiros vêm produzindo

O Instituto CPFL, ligado ao grupo CPFL Energia (Companhia Paulista de Força e Luz), em parceria com a Kuarup — premiada produtora cultural independente que tem em seu acervo obras de, entre outros, Villa-Lobos, Baden Powell, Renato Teixeira, Paulo Moura e Xangai está lançando um novo selo, dedicado à música contemporânea brasileira. Disponível nas plataformas digitais, o catálogo do selo Instituto CPFL & Kuarup possui, ao todo, 12 álbuns de concertos realizados no programa Música Contemporânea, única série brasileira regular de concertos que contemplam a música do nosso tempo, sempre aos sábados, na Sala Umuarama do Instituto CPFL, em Campinas, disponibilizados no sítio eletrônico e transmitidos aos domingos pela Rádio Cultura FM de São Paulo (FM 103,3 MHz).

Os álbuns reúnem apresentações de grandes intérpretes da música brasileira e mundial tais como os pianistas Paulo Henrique Almeida e André Mehmari, a soprano Marília Vargas, o contrabaixista Thibault Delor, o cantor Renato Braz e grupos como o Quinta Essentia Quarteto, o Quarteto Camargo Guarnieri, o Quaternaglia e a Camerata Latino-Americana. As gravações são de 2015.

Em mais de 16 anos de atividades, o Instituto CPFL, através de seu programa Música Contemporânea, promoveu diversos concertos e estreias mundiais de alguns dos maiores intérpretes da música de nosso tempo“, disse Mário Mazzilli, diretor-superintendente do Instituto CPFL. “Surgiu assim um dos raros e mais longevos programas regulares de música contemporânea, um espaço de experimentação e ampliação da experiência sensorial que só a canção é capaz de produzir”, emendou Mazzilli . Nada mais justo que o resultado de parte desses encontros, sempre gratuitos em nossa sede em Campinas, seja agora disponibilizado a todos nas plataformas de streaming.” 

Sobre os Álbuns:

Engenho Novo – Marília Vargas e André Mehmari

Gravado em 09/05/2015 na Sala Umuarama, Instituto CPFL. 

Marília Vargas: soprano, André Mehmari: piano. 

Em sua busca incessante pela essência da música brasileira, Mário de Andrade pesquisou os sons do país de Norte a Sul, construiu um arcabouço teórico justificando a opção nacionalista em arte e, em seu caso, sobretudo na música de invenção. Passados 70 anos da morte de Andrade, esta apresentação se debruçou sobre a realidade musical brasileira atual a partir de suas reflexões, mostrando a produção dos compositores que seguiram a cartilha do autor de Macunaíma. André Mehmari recria o texto musical dos acompanhamentos de canções muito conhecidas. O primado é da voz meta perseguida por Mário de Andrade, determinado a estabelecer as bases do canto em português.

Solista da Camerata Latino-Americana – Thibault Delor

Gravado em 12/09/2015 na Sala Umuarama, Instituto CPFL

Thibault Delor: contrabaixo 

Um concerto solo de piano ou mesmo de violino, seria usual. Entretanto, a proposta de um concerto solo para contrabaixo é inusitada. Neste contexto, Thibault Delor, um francês apaixonado pela música brasileira, conduz os ouvintes pelas praias nacionalistas por onde caminham Francisco Mignone e Claudio Santoro até chegar em John Contrate. Villa-Lobos e Fernando Pessoa são os anfitriões desta programação.

Canela: as Músicas da América Latina – Renato Braz e Quarteto de Violões Maogani

Gravado em 10/10/2015 na Sala Umuarama, Instituto CPFL 

Renato Braz: voz, violões: Carlos Chaves, Marcos Alves, Paulo Aragão e Sergio Valdeos 

A música popular da América Latina foi construída com ingredientes de diversas procedências, que misturados às cores e ao jeito de cada povo fizeram surgir uma infinidade de ritmos e gêneros. Um roteiro musical que sai do Brasil e passa pela Argentina, Chile, Paraguai, Peru, Colômbia, Venezuela e Cuba muitas destas canções e melodias constituem produtos das matrizes que encantaram Mário de Andrade, em seu ideário de construção de uma música nacional brasileira a partir da realidade latino-americano, distanciando-se das matrizes europeias.

Música Para Sopros de Nielsen – Quinteto de Sopros de São Paulo

Gravado em 14/03/2015 na Sala Umuarama, Instituto CPFL

Alexandre Silvério: fagote, Joel Gisiger: oboé, José Ananias Souza Lopes: flauta, Nikolay Alipiev: trompa, Sergio Burgani: clarinete.

Um concerto construído em torno da obra camerística mais famosa, e ainda assim raramente tocada, de Carl Nielsen: o seu quinteto de sopros, criação da sua plena maturidade. As demais obras gravitam no universo da música da primeira metade do século 20. Como as variações Sérias do carioca Ronaldo Miranda sobre uma melodia de Anacleto de Medeiros, o divertido Scherzo do francês Eugene Bozza, especialista na escrita para sopros ou as igualmente bem-humorada Three shanties do britânico Malcolm Arnold. Uma pequena gema do italiano Nino Rota, mundialmente conhecido pelas trilhas de cinema para Federico Fellini, antecede as duas peças finais assinadas por Nielsen: primeiro a encantadora Children are playing para flauta solo; e em seguida o quinteto, obra-prima da música para sopros no século 20.

Falando Brasileiro – Quinta Essentia Quarteto

Gravado em 24/10/2015 na Sala Umuarama, Instituto CPFL 

Flauta doce: Felipe Araújo, Fernanda de Castro, Gustavo de Francisco e Renata Pereira

Fazer música de câmara com flautas doces é transitar no velho e no novo mundo das expressões musicais. No Brasil, a relação com o antigo nos fascina pelo risco criativo que corremos em nossas interpretações de um texto musical: esta é a profissão de fé artística do Quinta Essentia. Em Falando Brasileiro há muitas criações originais para flautas doces e arranjos de melodias consagradas que fazem parte do imaginário popular brasileiro. Esta mistura entre a matriz europeia e as cores dos sons nacionais espalhados pelo país reflete-se nas suítes e quartetos do argentino Eduardo Escalante, que veio para São Paulo aos 12 anos, em 1949 e naturalizou-se brasileiro, sendo aqui aluno de Camargo Guarnieri; do gaúcho Bruno Kiefer; e do petropolitano César Guerra-Peixe, que transitou pela vanguarda experimental e também pelo nacionalismo preconizado por Mário de Andrade. 

Músicas do Brasil Para Quarteto de Sopros – Ensemble Brasileiro de Música Moderna

Gravado em 14/11/2015 na Sala Umuarama, Instituto CPFL 

Filipe de Castro: flautas, Eduardo Freitas: clarinetes, Douglas Braga: saxofones, Osvanilson Castro: fagote. 

Flauta, clarinete, saxofone e fagote são instrumentos que integram a orquestra sinfônica à europeia, mas também as bandinhas espalhadas pelos coretos dos quatro cantos do Brasil. É este Brasil multicolorido, filtrado pela criação de grandes compositores, de ontem e de hoje, que compõe o programa deste concerto. Entre os do passado, Heitor Villa-Lobos, o criador que mais personificou o ideal artístico perseguido por Mário de Andrade. A seu lado, César Guerra-Peixe, que num gesto corajoso mergulhou nas músicas populares do Recife (PE) e de lá saiu com uma nova agenda estética, a do nacionalismo tal como pregado por Mário de Andrade. Entre os criadores atuais, o saxofonista Douglas Braga, integrante do Ensemble Brasileiro de Música Moderna, assina duas composições de sabor bem brasileiro.

O Quaternaglia: solos de violão para o orixá da justiça, do trovão, dos raios e do fogo.  Foto: Gal Opido

Xangô – Quaternaglia

Gravado em 28/11/2015 na Sala Umuarama, Instituto CPFL 

Chrystian Dozza: (violão Sérgio Abreu, 2012, nº 621), Fábio Ramazzini: (violão Sérgio Abreu, 2002, nº 474), Thiago Abdalla: (violão Sérgio Abreu, 2002, nº 463), Sidney Molina: (violão 7 cordas Sérgio Abreu, 1997, nº 359). 

Um grande arco histórico da criação brasileira em sentido amplo, em arranjos especiais para quarteto de violões. O concerto Brasileira, em arranjo de João Luiz, e as Bachianas Brasileiras nº 9, arranjadas por Thiago Tavares e o Quaternaglia. A suíte de Ronaldo Miranda, Canção sem fim, de Sérgio, irmão de Sidney Molina, uma peça de um dos integrantes do quarteto, Chrystian Dozza (Sobre um tema de Egberto Gismonti), três criações de João Luiz dedicadas ao grupo e Maracatu da Pipa, de Paulo Bellinati, completam a apresentação de um dos mais destacados quartetos de violões brasileiros, com intensa atuação no exterior. Xangô remete a uma obra de Almeida Prado, um dos artistas mais interessantes da música clássica brasileira na segunda metade do século 20. Almeida Prado compôs Xangô para piano e utiliza o Canto de Xangô, breve tema transcrito por Mário de Andrade no Ensaio sobre a música brasileira. Na tradição iorubá, xangô é o orixá da justiça, do trovão, dos raios e do fogo. 

A Música Para Violino e Piano de Nielsen e Sibelius – Maria Fernanda Krug e Karin Fernandes

Gravado em 28/03/2015 na Sala Umuarama, Instituto CPFL

Maria Fernanda Krug: violino, Karin Fernandes: piano.

Sibelius, Nielsen e Richard Strauss são conhecidos por suas obras  sinfônicas. São raras as chances de se ouvir suas obras camerísticas. Sibelius gostaria de ter sido violinista; não se firmou como instrumentista, mas transformou o violino numa de suas preferências. Além de um belo concerto, ele compôs obras como esta densa sonatina. Já Nielsen era violista de profissão, conhecia profundamente as cordas. E sua escrita revela essa intimidade com o instrumento. Já a sonata de Richard Strauss, de 1888, foi uma espécie de adeus à música de câmara. Uma sonata de ambições orquestrais.

As Vozes Íntimas de Jean Sibelius – Quarteto Camargo Guarnieri

Gravado em 25/04/2015 na Sala Umuarama, Instituto CPFL 

Violinos: Elisa Fukuda e Ricardo Takahashi, Silvio Catto: viola, Joel de Souza: violoncelo. 

O quarteto Vozes Íntimas é a única obra de música de câmara de grandes ambições da maturidade de Sibelius. O Adagio di molto é seu centro de gravidade. Ele escreveu, sobre três acordes pianíssimo em mi menor, a expressão latina voces intimae, daí o título, confirmado em carta: “Estas vozes íntimas transportam para o além”. Seu biógrafo Tawaststjerna fala em longínquos murmúrios de um mundo remoto. De fato, Sibelius parece fazer um corpo-a-corpo no limite do silêncio.  O adagio também é o tempo escolhido por Anton Webern para o movimento de quarteto escrito em 1905, quando ele era aluno de Schoenberg. O quarteto número 2 de Guarnieri é um exemplo de sua maestria no gênero. 

O Piano de Carl Nielsen – Paulo Henrique Almeida

Gravado em 11/04/2015 na Sala Umuarama, Instituto CPFL

Paulo Henrique Almeida: piano

O dinamarquês Carl Nielsen era pianista amador. Fez sua fama como sinfonista, mestre das grandes formas. Mas, embora pequena, sua produção para piano é bastante significativa. A Chacona, o Tema e variações e a Suíte foram compostos entre 1916 e 1919; e as três peças, nove anos depois. São, portanto, peças da maturidade. O pesquisador francês Guy Sacre qualificou as três primeiras como “obras-primas da música para piano do século 20”. Até onde se sabe, não há notícia de que tenham sido publicamente tocadas no Brasil antes desta noite.

Câmara da Camerata Latino-Americana Convida Duo Palheta ao Piano – Jairo Wilkens e Clenice Ortigara

Gravado em 27/06/2015 na Sala Umuarama, Instituto CPFL 

Jairo Wilkens: clarinete, Clenice Ortigara: piano. 

O clarinete é um instrumento que está no ponto de fusão entre a música popular e erudita no Brasil. Desde a época dos chorões a figura do clarinetista impactou como instrumentista e liderança musical a produção da música erudita brasileiro, tornando-se um dos grandes divulgadores de novos compositores. Recentemente o pesquisador brasileiro Ricardo Dourado Freire publicou uma tese onde apontou o desenvolvimento da identidade do clarinetista brasileiro a partir da visão de Mário de Andrade. Na visão de Mário de Andrade, a música de uma sociedade é desenvolvida passando por três estágios: música universal (música religiosa), música internacional (música de concerto) e música nacional (música de influência popular e folclórica). Ricardo Dourado Freire aponta o papel fundamental que o clarinetista, como instrumentista e como liderança musical teve na etapa brasileira da formação da música nacional. O presente concerto aborda obras de compositores brasileiros que escrevem para clarinete dialogando sob esta influência da fusão popular e erudita.

Camerata Latino-Americana (Suite Contemporânea Brasileira) – Camerata Latino-Americana

Gravado em 13/06/2015 na Sala Umuarama, Instituto CPFL 

Simone Menezes: direção artística e regência. Violinos: Pablo de Léon, Ana de Oliveira, Maria Fernanda Krug e Pedro Della Rolle. Violas: Gabriel Marin e Wallas Pena. Violoncelos: Raïff Dantas Barreto e Moisés Ferreira. Thibault Delor: contrabaixo. Sarah Hornsby: flauta. Jairo Wilkens: clarinete. Peter Apps: oboé. Matthew Taylor: fagote. Rogério Zaghi: piano.

Mário de Andrade, embora um vanguardista, cunhava suas pesquisas não na erudição como um fim em si, mas tratava a vanguarda como uma forma necessária de expor suas novas descobertas, que estavam ligadas a pesquisas folclóricas e conexões com o povo. Assim, embora um vanguardista, ele não era um erudito desconectado em sua comunicação com o homem leigo. O concerto tem como obra central as Danças Características Africanas de Heitor Villa-Lobos, obra que prenuncia as ideias vanguardistas de Mário de Andrade e da Semana de Arte Moderna de 1922. A partir daí orbitam em torno deste centro estético obras de Pitombeira, Piccolotto, uma obra de juventude de Flô Menezes e uma estreia do compositor pernambucano Beetholven Cunha.

 Sobre o Instituto CPFL

Com 16 anos de atividades, o Instituto CPFL é a plataforma de investimento social privado do Grupo CPFL Energia, que tem sede em Campinas. A missão do Instituto CPFL é integrar os programas culturais, sociais e esportivos da companhia em uma única rede, transformando por meio do conhecimento as comunidades onde atua. Por meio do Circuito CPFL, o Instituto CPFL promove gratuitamente em diversas cidades sessões de cinema, concertos, corridas e passeios ciclísticos, além de ações sociais voltadas ao fortalecimento da cidadania. Em 2019, estão previstas iniciativas em cerca de 100 localidades, alcançando um público presencial estimado de milhares pessoas. O Instituto CPFL é responsável também pela difusão do conhecimento por meio das transmissões e do acervo online dos encontros do Café Filosófico CPFL, tradicional programa de debates que pode ser acompanhado pelo público no Youtube, no sítio eletrônico, no app institutocpflplay, no Facebook e na TV aberta. O programa editado é exibido aos domingos, às 21h, na TV Cultura.

Sobre o Grupo CPFL

O Grupo CPFL, ​​​​​​​​​​​​​​​com mais de 100 anos de história e atuação, tornou-se uma empresa de energia completa, com negócios em distribuição, geração, comercialização de energia elétrica e serviços, hoje considerado uma das maiores empresas do setor elétrico brasileiro. Leva energia a 9,6 milhões de clientes por meio de quatro distribuidoras¹ que abrangem cerca de 700 municípios dos estados de São PauloMinas Gerais, Rio Grande do Sul, e Paraná  e ao longo dos anos firmou-se entre as líderes no segmento de energias renováveis no Brasil com uma matriz diversificada: com atuação em fontes hidrelétricas, solar, eólica e biomassa. 

Mas não é apenas manter esta posição de liderança que estimula o grupo. “Nós sabemos, por exemplo, do papel. crucial que o setor energético desempenhará em relação ao futuro do planeta”, informa a CPFL em nota no portal da empresa. “Por isso, enquanto todos esperam que uma empresa de energia cumpra o seu papel, nós buscamos fazer mais do que isso: desenvolvemos programas de conservação e conscientização sobre o uso eficiente da energia elétrica, investimos em redes inteligentes, mobilidade urbana elétrica e muito mais. No ramo de geração, possui capacidade instalada no setor de 3.297 MW, sendo 95,6% de fontes renováveis

Sobre a Kuarup

Especializada em música brasileira de alta qualidade, o seu acervo concentra a maior coleção de Villa-Lobos em catálogo no país, além dos principais e mais importantes trabalhos de choro, música nordestina, caipira e sertaneja, MPB, samba e música instrumental em geral, com artistas como Baden Powell, Renato Teixeira, Ney Matogrosso, Wagner Tiso, Rolando Boldrin, Paulo Moura, Raphael Rabello, Geraldo Azevedo, Vital Farias, Elomar, Pena Branca & Xavantinho e Arthur Moreira Lima, entre outros.

Kuarup Música/Rádio, Imprensa e TV/www.kuarup.com.br

Telefones: (11) 2389-8920 e (11) 99136-0577 Rodolfo Zanke rodolfo@kuarup.com.br

¹ CPFL Paulista, CPFL Piratininga, CPFL Santa Cruz e RGE

1165- Kuarup lança “Canta Inezita”, álbum que homenageia Rainha da Música Caipira

Consuelo de Paula, Maria Alcina, As Galvão e Cláudio Lacerda interpretam 15 clássicos eternizados na voz da dama da viola,  a imortal Inezita Barroso

Ontem, 8 de março, data dedicada ao Dia Internacional da Mulher, completaram-se quatro anos da morte de Inezita Barroso — apenas quatro dias depois de ela ter completado 90 anos de vida.  Em homenagem à data global e para reverenciar a memória e a obra da Rainha da Música Caipira, o selo Kuarup lançou nas plataformas digitais e nas lojas Canta Inezita, aproveitando o espetáculo gravado ao vivo reunindo intérpretes de diferentes estilos e gerações no teatro do SESC Santo André, em São Paulo, nos dias 17 e 18 de agosto de 2018, com sucessos da apresentadora do programa Viola Minha Viola, cantora, atriz, violonista, professora e folclorista, uma das principais personagens da história da música popular brasileira. O álbum, gentilmente enviado à redação pela Kuarup, pelo qual mais uma vez agradecemos ao amigo Rodolfo Zanke e equipe, foi o escolhido para as tradicionais audições aos sábados pela manhã neste dia 9 de março aqui no Barulho d’água Música.

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1163 – Samba paulistano deve a Geraldo Filme, o “Geraldão da Barra Funda”, o respeito e a força que sepultaram o estigma de “túmulo” do gênero

O carnaval, mais uma vez, trouxe alegria e foi festejado em várias cidades brasileiras, com destaque maior da mídia para os desfiles das escolas de samba das cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, ainda consideradas, ambas, as mecas nacionais onde, por excelência, o gênero mais se afirmaria e seria popular, muito embora ocorra com igual força e movimente astronômicas cifras, também, em outros estados do país, entre os quais, sem sombra de dúvidas, Bahia e Pernambuco, onde Salvador e Recife, suas capitais, fervem nos dias de folia dedicados à festa de Momo.

São Paulo, entretanto, nem sempre foi reconhecida e considerada reduto desta manifestação que mescla elementos da cultura popular brasileira com valores de suas vigorosas raízes, a mãe África negra — haja vista que durante muito tempo ficou estigmatizada como suposto “túmulo do samba”, termo que se popularizou e pespegou após a  célebre frase do poeta e compositor Vinícius de Moraes. O devido reparo que corrige esta bobagem e erro histórico e os atiram à vala mais profunda da qual jamais deverá ressuscitar, revelando a grandeza e a riqueza do samba paulistano, ganham corpo com as obras de expoentes como Adoniran Barbosa, Paulo Vanzolini, Germano Mathias e Osvaldinho da Cuíca, mas além deles, enterrando a “atravessada” infeliz do Poetinha4um outro nome já se levantava como militante, cantor e compositor contra a propalada e suposta hegemonia carioca como única capaz de promover o ziriguidum e fazer reboar, sobretudo fora dos morros, os tamborins: Geraldo Filme.         

Nesta atualização que o Barulho d’água Música mais uma vez traz das páginas da Revista E do Sesc de São Paulo, reproduzindo, agora, matéria publicada em junho de 2015 em sua edição número 228, os amigos e seguidores poderão conhecer um pouco mais sobre Geraldo Filme, cuja biografia e feitos ainda hoje não recebem os devidos louros. Intitulada “Filme, prosa e samba”, a matéria da Revista E apresenta Filme como autêntico e incansável defensor “de uma matriz para o samba da pauliceia e estudioso da cultura negra”, que “fez de seu universo uma cartografia cultural da cidade”.

Linque para a matéria original da Revista E 228, de junho de 2015

Mano da Barra Funda

Geraldo Filme nasceu em 1927 e morreu em 5 de janeiro de 1995, na cidade de São Paulo, em decorrência de complicações de diabetes e pneumonia. Seu nome artístico é uma redução do completo, Geraldo Filme de Souza. Em seu registro de nascimento original, entretanto, consta que teria nascido em 1928, em São João da Boa Vista¹, no interior paulista, embora ele mesmo tenha declarado inúmeras vezes que a primeira data é a correta. Seja como for, cresceu no bairro paulistano da Barra Funda [onde também viveram Mário de Andrade e Inezita Barroso], o que lhe rendeu o apelido de “Geraldão da Barra Funda”. O menino entregava marmitas feitas pela mãe, Augusta, que era dona de pensão.

O pai, seu Sebastião, e a mãe eram filhos da última geração do sistema escravista e gostavam de música. O pai tocava violino e a mãe era uma das organizadoras da romaria nas festas do Bom Jesus de Pirapora [promovidas na cidade de Pirapora do Bom Jesus, na região Oeste da Grande São Paulo, a 54 quilômetros da Capital]. “Nesses eventos se praticavam diversos estilos de samba rural, samba de bumbo, samba de lenço, partido-alto, música caipira e jongo”, contou à Revista E a cantora, antropóloga e doutoranda em Música pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)Bruna Prado². “A formação musical do sambista se inicia ainda criança, ao frequentar as festas do Bom Jesus de Pirapora e as rodas de samba informais organizadas por trabalhadores braçais nas ruas do bairro da Barra Funda, onde ele entregava marmitas. Além disso, havia a influência do carnaval de rua, dos blocos carnavalescos e do samba veiculado pelas rádios”, relembrou Bruna.

Além do samba na memória de infância, outra relação a ser considerada é com a cultura caipira, apresentada ao menino pela avó, que o ensinava cantos negros de trabalho escravo. “Geraldo seria um defensor dessa matriz cultural para o samba rural paulista”, observou Bruna.

Dinâmica dos bairros

Junto à Barra Funda, outros bairros paulistanos formaram uma espécie de cartografia cultural necessária para mergulharmos no universo musical de Geraldo Filme – Campos Elíseos, Bixiga e Liberdade –, entre eles. Para o professor de História da África da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Amailton Magno Azevedo, estudioso da memória musical do sambista e sua relação com os grupos negros em São Paulo, a dinâmica dos bairros foi vital para essas agremiações.

“Neles percebi que havia uma rede e um circuito de informações, vivências, produção artística, religiosa e política na qual os negros demarcavam seus interesses e visões de mundo”, disse. “E Geraldo Filme percebeu isso ao se conectar numa rede negra. Essas experiências foram por mim chamadas de ‘microáfricas’, que foram sendo operadas de modo alheio aos projetos hegemônicos de cidade.Segundo Azevedo, as “microáfricas” são experiências de resistência cultural. “O samba, o carnaval e os costumes negros tiveram de produzir estratégias para persistir com seus valores e signos culturais”, reforçou.

Cordão carnavalesco em uma das ruas da Barra Funda, na década dos anos 1940, uma das influências da obra de Geraldo Filme (Crédito: Instituto Moreira Sales)

Universo particular

Gênio para uns, pioneiro para outros, Geraldo Filme constrói uma obra que se consolida com o passar dos anos. É difícil imaginar a configuração do samba paulistano sem suas ações, seu pensamento e valores, que revelam o artista atuante e consciente. Tanto que não é possível delimitar o alcance de suas composições. Era, de fato, uma cabeça pensante do samba na cidade. “Um sambista da melhor qualidade, que pensou a formação genética do samba, estabelecendo uma identidade cultural que ia além do gênero musical”, pontuou o compositor, produtor musical e fundador do Grêmio Recreativo de Resistência Cultural Kolombolo diá Piratininga, Ricardo Dias.

Geraldo Filme questionava um modelo predominante de samba, no caso, o carioca, entre os anos 1920 e 1940. “Por um tempo foi determinado o jeito carioca para o Brasil, como se o malandro do Rio de Janeiro fosse o ideal. Ele foi um cara diferenciado e lutava pela valorização do sambista. Por muito tempo as escolas de samba tiveram um crescimento midiático e o sambista ficava em segundo plano, e ele questionava esse cenário”, observou Dias.

A vontade de se destacar do sambista se mostrou cedo, aos 10 anos de idade, ao dar forma à primeira composição. Em 1937, o pai de Geraldo Filme voltava de uma viagem ao Rio de Janeiro exaltando as qualidades do samba carioca. O menino então, escreveu, inspirado pelo pai, Eu Vou Mostrar (Eu vou mostrar/Que o povo paulista também sabe sambar/Eu sou paulista, gosto de samba/Na Barra Funda, também tem gente bamba/ Somos paulistas e sambamos pra cachorro/Pra ser sambista não precisa ser do morro).

Já é possível notar a força do verbo que prevaleceu nas canções que despontariam durante sua vida. “As composições de Geraldo são carregadas de discurso social, étnico, cultural, político e sociológico”, qualifica-o o sambista, sociólogo e pesquisador do Instituto Cultural Samba Autêntico T. Kaçula. Para ele, o compositor conseguia dizer o que queria mesmo tendo a ditadura e a censura pela frente.

Com os bambas

O talento de Geraldo Filme não se limitava aos contornos do samba. Foi amigo do dramaturgo Plínio Marcos e teve um grande encontro com o poeta e folclorista Solano Trindade, que foi tema do samba-enredo vencedor do carnaval de 1976, pela escola Vai-Vai. Tendo Plínio Marcos como referência, Geraldo Filme conheceu atores, militantes de esquerda e intelectuais.

O escritor e dramaturgo Plínio Marcos foi um dos contemporâneos de Geraldo Filme

De acordo com Bruna Prado, esse movimento permitiu que ele adquirisse capital simbólico e pudesse atuar pela institucionalização das escolas de samba. “Além disso, promoveu a obra dos sambistas de São Paulo nacionalmente, fazendo com que saíssem de seus redutos e entrassem em contato com a televisão e a indústria fonográfica”

Ao promover o samba e discutir questões sociais – articulação complexa na época –, Geraldo Filme enfrentava a repressão. “As escolas de samba eram os quilombos urbanos”, comparou Dias. O sambista ajudou na organização dos cordões e blocos carnavalescos que se tornariam as escolas de samba; também foi presidente da União das Escolas de Samba de São Paulo. “A ligação dele com o Plínio Marcos não era à toa. Era momento de repressão e ele soube se posicionar com maestria. Deve ter sofrido muito, ainda hoje é difícil colocar em prática o seu pensamento”, comentou Dias.

Em trajetória consistente, atuou como compositor, diretor e conselheiro de escolas de samba. A empreitada tem resultado único. O disco que levava seu nome foi lançado nos anos 1980 pela gravadora Eldorado. Dois anos depois, gravou com Tia Doca da Portela e Clementina de Jesus um dos grandes álbuns da música popular, O Canto dos Escravos.

Mais do que sambista, Geraldo Filme é considerado um mediador, criando pontes, “uma comunicação entre os bairros paulistanos e entre São Paulo e o resto do Brasil”, opinou Bruna. Para ela, mesmo que outros sambistas, como Adoniran Barbosa, já tivessem atuado dessa maneira, a importância de Geraldo Filme também está no fato de ser negro e neto de escrava. “Portanto, era representante de um grupo étnico marginalizado que estava atuando politicamente e ganhando voz ao longo do século 20”, completou.

Dedo do gênio

Os pesquisadores Amailton Magno Azevedo, Bruna Prado e Ricardo Dias destacaram fatos e características que marcaram a vida de Geraldo Filme e ecoaram na história do samba:

Amizade com Plínio Marcos: O dramaturgo apresenta Geraldo como legítimo poeta do povo brasileiro no encarte de seu único disco solo, lançado em 1980. Antes, em 1974, Plínio Marcos deixou clara a sua admiração pelo sambista e pelo gênero, ao gravar Nas Quebradas do Mundaréu, reunindo Geraldo Filme, Toniquinho Batuqueiro e Zeca da Casa Verde, que tiveram as canções intermeadas pela voz do dramaturgo. O disco raro foi reeditado em CD pela gravadora Warner em 2012.

Sem essa de túmulo do samba: Geraldo Filme demoliu o clichê de ser São Paulo o túmulo do samba. Com ele, a cidade é libertada do silêncio inventado no túmulo. Instituiu um lugar ímpar para o samba, com memórias rurais e religiosas dos tambores de Pirapora do Bom Jesus. Driblou a narrativa que insiste em silenciar as memórias sonoras paulistas e valorizar apenas os ruídos de fábricas, automóveis e outros sons urbanos. Na memória dos sambistas, “Seu Geraldo”, ou “Geraldão da Barra Funda” [outros apelidos que teve são Tio Gê”, dado pelas crianças, “Corvão” e na infância de”Negrinho das Marmitas”] é sempre lembrado como o músico responsável pela instituição do samba paulistano.

Respeito é para quem tem: Última faixa de seu único disco solo, a canção Reencarnação fala da importância de o negro se assumir como indivíduo e como cultura, abordando os ancestrais, o sagrado e profano. Reencarnação está para o samba de São Paulo como Negro Drama, dos Racionais Mc’s, está para o rap e o hip-hop. O rap brasileiro deu sequência social e política iniciada pelo samba daquele período. O papel do grito do oprimido não é só música, mas cultura.

Foto gerada a partir de imagem captada por Rodrigo Gutiérrez em 2016 para o programa da Rede Globo Antena Paulista, que traz informações sobre o samba de bumbo, uma manifestação  típica de Pirapora do Bom Jesus, considerada o berço do samba paulista e lugar que ajudou a moldar tanto o talento, quanto a devoção de Geraldo Filme ao gênero mais popular do Brasil

Ainda na memória

O Centro de Pesquisa e Formação (CPF) do Sesc da cidade de São Paulo reuniu músicos e pesquisadores em ciclo de palestras para analisar o legado de Geraldo Filme motivado pelos 20 anos de ausência do cantor e compositor, no mês de maio de 2015. Promoveram um ciclo em homenagem ao compositor paulistano – Sambista Imortal da Pauliceia: 20 anos sem Geraldo Filme. Durante as palestras, a importância do compositor foi debatida em três mesas compostas por sambistas e pesquisadores da área: Kelly Adriano Oliveira, Fernando Penteado, T. Kaçula, Simone Tobias, Bruna Prado, Renato Dias e Amailton Magno Azevedo.

“Na primeira mesa foi abordada a herança africana de Geraldo Filme, no segundo dia foram trazidos à tona os aspectos rurais que permeiam a obra do compositor de Batuque de Pirapora, e o ciclo terminou debatendo o seu legado para o samba urbano paulista”, explicou Flávia Prando, pesquisadora do CPF responsável pela programação do ciclo em homenagem ao sambista. “É uma obra que possui caráter de crônica cotidiana calcada na crítica social, que denuncia os males do progresso e as discriminações étnico-raciais vividas pelas classes sociais menos privilegiadas, mas que não abre mão, em momento algum, da profundidade estética.

Anjo discriminado 

Tanto na infância,  quanto na vida adulta, Geraldo Filme participou da festa de Bom Jesus de Pirapora onde havia grande participação da população negra. Discriminados, durante essa festa os negros ficavam alojados em barracões fora da área urbana. Ali, após a parte religiosa do evento, eles se divertiam com samba de bumbo e outras danças então comuns à população negra do Sudeste. Certa vez, quando Geraldo Filme era menino, sua mãe, pagando uma promessa, o vestiu de anjo. No entanto, o organizador da festa o proibiu de andar na procissão com outras crianças vestidas de anjo, por ser negro. Revoltada sua mãe jogou fora as asas e o levou ao barracão onde os negros faziam suas festas, onde não eram discriminados. Essa ocorrência o teria marcado ao ponto de, na vida adulta, inspirá-lo a compor o samba Batuque de Pirapora.

Geraldo Filme foi testemunha participante das antigas manifestações culturais populares de São Paulo, sobretudo das, então reprimidas manifestações culturais da população negra. Em uma edição do programa Ensaio, falando sobre sua juventude ele relatou as rodas de tiriricas, cujos instrumentos improvisados eram as palmas das mãos, as latas de lixos e as caixas de engraxar sapato. Ele relatou os bailes que os negros promoviam nos porões, para driblar as repressões policiais, as Festas de Bom Jesus de Pirapora, os tamborins artesanais (não havia em São Paulo nenhuma loja especializada nesse tipo de instrumento) em formato quadrado cuja armação era de madeira e o coro feito com pele de gato e que era esticado numa fogueira improvisada com papel de jornal. Relatou uma época em que o carnaval acontecia nas ruas sem intervenção do Estado [da Globo e das marcas de cerveja] e era sustentado pelo gosto da própria população que, informalmente, organizava-se. Nos bairros, por exemplo, enquanto os negros cuidavam da parte musical, italianos se encarregavam de preparar as comidas.

Geraldo Filme tem o nome ligado à história do carnaval paulista. Respeitado e querido por todas as escolas, marcou presença na Unidos do Peruche, para quem compôs sambas-enredo, mas é lembrado principalmente por sua ligação com a Vai-Vai. O samba Vai no Bexiga pra Ver tornou-se um hino da escola, e Silêncio no Bexiga homenageia um célebre diretor de bateria da Vai-Vai, exímio capoeirista das antigas rodas de tiririca e chefe de torcida organizada do Corinthians — Pato Nágua, assassinado na cidade paulista de Suzano, pelo Esquadrão da Morte. Com o samba-enredo Solano Trindade, Moleque de Recife levou a escola ao título de campeã, em 1976.

Um grande conhecedor da história de São Paulo, Geraldo Filme pesquisou e compôs o samba Tebas, que conta a história da origem desse termo que significava “o bom” ou “o melhor” e era muito usado pelos paulistanos no século passado. A origem desse termo é atribuída a um escravo que conseguiu sua carta de alforria por ser um grande conhecedor de alvenaria e hidráulica, sendo o responsável pela construção das torres da Catedral da Sé e da canalização dos esgotos da região central da cidade. Foi dele o primeiro casamento na Catedral após a construção das torres. Ele construiu também um chafariz no centro da cidade. Ambas autorias não são lembradas pelas autoridades.

Nos últimos anos de vida, Geraldo trabalhou na organização do carnaval na cidade de São Paulo, tornando-se uma referência da cultura negra paulistana. Um aspecto pouco estudado de sua obra é a releitura do samba rural paulista (Batuque de Pirapora, Tradições e Festas de Pirapora), que trazem elementos dos jongos, vissungos e batuques ensinados por sua avó. Deixou poucas gravações, e boa parte de sua obra continua desconhecida. O álbum em formato LP Geraldo Filme, gravado em 1980, demorou 23 anos para ser lançado em formato digital (Eldorado, 2003).

Uma importante gravação de cunho documental e histórico, O Canto dos Escravos, com Clementina de Jesus e Doca da Portela (Eldorado, 1982), também já pode ser encontrada em CD. A gravação do programa Ensaio, realizada em 1982, é outro documento valioso sobre Geraldo Filme (SESC/ TV Cultura).

Suas composições podem ser ouvidas em gravações de Beth Carvalho (Beth Carvalho Canta o Samba de São Paulo), Osvaldinho da Cuíca (História do Samba Paulista), grupo A Barca, entre outros. Existe em vídeo um documentário sobre sua obra, realizado por Carlos Cortez, uma coprodução da TV Cultura, CPC-Umes e Birô da Criação. Ouça também o álbum de Plínio Marcos – Nas quebradas do Mundaréu – que mistura a prosa, contada por Plínio Marcos, e o samba, cantado por Geraldo Filme. ³

Conteúdo de qualidade

O Barulho d’água Música recebeu autorização para reproduzir na íntegra   matérias de conteúdo relacionados à música publicadas pela Revista E, que circula em versões impressa e digital. A revista é mantida pelo Sesc da cidade de São Paulo para divulgação da agenda cultural e de eventos de recreação e de lazer programados a cada mês nas unidades que a entidade mantém tanto na Capital, quanto em diversos municípios do estado de São Paulo. As matérias das variadas sessões trazem pautas relativas a temas do universo das artes e de suas personagens, agentes e autores — do cinema ao grafite, da literatura ao teatro –,  uma sessão de poesias, crônicas e muito mais para uma agradável e enriquecedora leitura.  

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Silêncio no Bixiga

Dois resultados inéditos marcaram os desfiles do carnaval da cidade de São Paulo em 2019 e pode-se dizer que o mais inesperado vitimou a Vai-Vai, a recordista de títulos da folia paulistana.

Com 15 taças, a tradicional agremiação sediada no Bixiga,  preferida de Geraldo Filme e popularizada como “a escola do povo”, pela primeira vez em 89 anos caiu para p Grupo de Acesso — a segunda divisão do samba na Capital. A passagem pelo sambódromo do Anhembi apresentando o samba-enredo Vai-Vai: o quilombo do futuro, no qual abordou a luta dos movimentos e de negros na sociedade — e ainda homenageou a vereadora carioca Marielle Franco (Psol), assassinada há um ano na cidade do Rio de Janeiro – rendeu apenas 268,8 pontos na avaliação dos jurados. O resultado deixou a Vai-Vai em último lugar e a escola caiu ao lado da Acadêmicos do Tucuruvi, que faturou 269,2.

Desfile da Escola de Samba Mancha Verde, campeã do carnaval da cidade de São Paulo (Foto: Marcelo Messina)

A derrocada e tristeza da Vai-Vai contrastou com a alegria da Mancha Verde — escola associada à torcida uniformizada do clube de futebol do Palmeiras, que despontou na avenida em 2013, e tem sede na Barra Funda, ironicamente, berço do homenageado desta atualização. Com 270 pontos, a Mancha Verde conquistou o primeiro lugar, apenas um décimo à frente da vice-campeã. Dragões da Real, também representante de torcida organizada, mas do time de futebol do São Paulo. O tema da Mancha Verde foi Oxalá, Salve a Princesa! A Saga de uma Guerreira Negra

 


¹ São João da Boa Vista foi o local onde Geraldo Filme foi registrado e batizado, por ser a terra natal de seus pais e familiares de ambos os lados. Na época era bastante comum, pelo menos entre as famílias negras, batizar e registrar os filhos na terra de origem da família como se a criança também fosse nativa daquela terra. Segundo ele a festa de seu batizado durou mais de um dia. O pai tocava violino, mas foi com a avó que conheceu os cantos de escravos que influenciaram sua formação musical.

² A doutoranda em Música Bruna  Queiroz Prado é autora da tese de Doutorado “A passagem de Geraldo Filme pelo ‘samba paulista’: narrativas de palavras e músicas”, que pode ser acessada e lida pelo linque www.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/279809/…/Prado_BrunaQueiroz_M.pd

³ O jornalista Mauro Ferreira destaca em matéria no blogue Pop&Arte  que Geraldo Filme foi “artista de forte consciência social” e compositor que deixou a assinatura firme em sambas como A morte de Chico Preto (1975)Batuque de Pirapora(1989)Garoto de pobre (1980),São Paulo menino grande (1968),Silêncio no Bixiga (1972) e Vai cuidar de sua vida (1980), entre outros.

4 Em seu livro 101 Canções que Tocam o Brasil  (Estação Brasil), à página 81, o jornalista e compositor Nelson Motta relata:  “Ficou célebre o palpite infeliz de Vinicius de que ‘São Paulo é o túmulo do samba’. Mas depois se esclareceu que foi apenas um desabafo do poeta, irritado com um bando de bebuns barulhentos que não o deixavam ouvir o samba que Johnny Alf tocava numa boate paulistana. Johnny havia se mudado do Rio para São Paulo, e a frase foi dita por Vinicius para consolá-lo, provocando o bairrismo paulista.”

5   Dona Augusta Geralda tinha uma pensão nos Campos Elísios e ficou conhecida como “negra da pensão”. Ela fazia marmitas que o menino Geraldo entregava em toda a região, ficando conhecido como “Negrinho da Marmita”. Antes de ser dona de pensão, a mãe de Geraldo Filme foi empregada doméstica de uma abastada família paulistana. Nessa época ela teve a oportunidade acompanhar essa família em uma viagem a Londres. Depois de observar os movimentos sindicais em Londres ela teve a ideia de fundar o sindicato das empregadas domesticas, classe trabalhista que em São Paulo era formada praticamente apenas por mulheres negras. Esse sindicato foi o embrião do grêmio recreativo que deu origem ao cordão carnavalesco que futuramente iria se transformar na Escola de Samba Paulistano da Glória