1598 – Fabio Bergamini (SP) mescla música étnica, world music e improvisos do jazz em seu álbum de estreia

#MPB #MúsicaÉtnica #WordMusic #Escolados7Portões #Campinas #Belic

As oito faixas instrumentais de Nandri estão gravadas no primeiro disco do selo Belic Music com a participação de vários músicos brasileiros e de renome internacional

O instrumentista e compositor Fabio Bergamini, paulista de Campinas, lançará Nandri, primeiro álbum de sua carreira e que inaugurará o portifólio do selo Belic Music na quinta-feira, 8 de dezembro, data na qual as oito faixas já estarão disponíveis em todas as plataformas digitais e, também, do concerto de lançamento, a partir das 19 horas, na Escola dos 7 Portões (E7P Urbana), situada no bairro paulistano Sumaré. O evento incluirá apresentações de Bergamini para audição ao vivo do repertório de Nandri, espaço livre para os músicos presentes tocarem ou cantarem (jam session) e videoclipes.

Nandri é todo instrumental, bebe nas fontes da world music e da música étnica e prima por arranjos que conduzem a paisagens sonoras e visuais, em total harmonia com a complexidade de improvisos do jazz. Com três décadas de carreira, Bergamini já protagonizou turnês pelo mundo com o grupo português de projeção global Madredeus e outros renomados músicos. Em seu álbum de estreia, ele insere instrumentos que para os leigos ocidentais seriam exóticos, dos mais diversos cantos do planeta, promovendo um trabalho original e sem fronteiras, ao mesmo tempo brasileiro e universal.

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1586- Regina Machado convida Mário Manga, grava Enquanto o Tempo Para e faz três apresentações em São Paulo

#MPB #CulturaPopular

Disco  gravado “ao vivo” no estúdio, com a autora munida do seu violão e cantando simultaneamente enquanto tocava, traz parcerias com as mineiras Consuelo de Paula e Déa Trancoso. Shows serão em três domingos de novembro, todos no Teatro Maria Dudé, situado no Itaim Bibi

A cantora, compositora e violonista Regina Machado gravou e já lançou nas plataformas digitais Enquanto o Tempo Para (Canto Discos e plataformas digitais), álbum com distribuição pela Tratore para o qual convidou o multi-instrumentista Mário Manga. De modo diferente do seu trabalho anterior, Regina Machado entrou no estúdio e, com o violão e a voz, gravou, na hora, algumas de suas parcerias com as mineiras Consuelo de Paula e Déa Trancoso. Um detalhe é que o violão, sempre presente em sua trajetória, dessa vez protagonizou o processo. A partir do resultado, Manga entrou com violoncelo, guitarra e violão de aço e deu singularidade ao álbum, de cinco faixas.

A cooperação entre Regina e Manga é antiga e se apoia em ideias que se complementam. Ele propõe soluções originais para arranjos das composições dela – que, observa ele, já vêm bem prontas. Por sua vez, Regina enfatizou que entre ambos “há aquela química que funciona” e gera “musicalidade e diversão”. E ainda destacou que “trabalhar com Manga é um acontecimento sempre alimentado pela alegria, e isso é necessário, principalmente no momento que estamos vivendo no Brasil. E preciso graça e coragem para transformar, com nossa força criativa, o estado de coisas.

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1477- Concha Acústica do Taquaral, em Campinas (SP), recebe música caipira no dia 27 de novembro

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Apresentação do Projeto Oficinas de Música Caipira terá participação especial de João Paulo Amaral Trio

 Os alunos do projeto Oficinas de Música Caipira, realizado na Escola Estadual Francisco Barreto Leme, situada no distrito de Joaquim Egídio, em Campinas (SP), realizarão apresentação gratuita na Concha Acústica do Taquaral neste sábado, 27 de novembro, a partir das 17 horas. O público poderá ouvir clássicos como O Menino da Porteira, Chico Mineiro, Romaria, e conhecer também o trabalho do João Paulo Amaral Trio. João Paulo Amaral é professor de viola caipira e coordenador artístico do projeto Oficinas de Música Caipira. Neste concerto levará ao palco algumas músicas do seu álbum mais recente, Aço da Terra, gravado com seu trio formado por Alberto Luccas (baixo acústico) e Cleber Almeida (bateria), além de receber outros convidados. O músico natural de Mogi das Cruzes (SP) está completando 20 anos de carreira dedicados à viola caipira (viola de 10 cordas) e possui experiência nacional e em palcos de Portugal, Espanha, México, Inglaterra e Estados Unidos. É pesquisador e compositor que se destaca por propor novos caminhos musicais para esse instrumento centenário. Pós-graduado em Música pela Universidade de Campinas, defendeu o primeiro mestrado sobre a viola caipira do país, com pesquisa sobre o violeiro Tião Carreiro.

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1470 – José Gustavo Julião de Camargo (SP) toca Garota de Ipanema, Correnteza e Dindi em Revoredo

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Gravado em uma área rural da Itália, primeiro álbum do maestro e compositor é homônimo ao programa dedicado à viola caipira que ele apresenta pela Rádio USP FM, mescla composições próprias e de Tom Jobim e Vinicius de Moraes e chegará às plataformas digitais em 19/11

O paulista José Gustavo Julião de Camargo lançará em 19 de novembro em todas as plataformas digitais, com distribuição pelo selo Vitafone, seu primeiro álbum solo, Revoredo, homônimo ao programa dedicado à viola caipira instrumental que ele apresenta todas às quintas-feiras a partir das 17 horas, com reprises às 8 horas aos sábados, pelas emissoras FM das cidades de São Paulo e de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP).

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1455- Heraldo do Monte (PE) ganha publicação com sua história, obras em partituras e coletânea em disco

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O músico pernambucano Heraldo do Monte tem uma carreira tão extensa quanto importante para a história da música popular brasileira instrumental.  Aos 85 anos, o músico ganha agora uma publicação dedicada à sua obra: As cordas livres de Heraldo do Monte. O livro traz a sua história e a maneira como ela se confunde com a própria história da guitarra elétrica no Brasil. Traz também o conjunto completo de sua obra em partituras, além de um álbum coletânea que esboça sua trajetória musical. A publicação é a primeira da série Brasil de Dentro, criada pelo Instituto Çarê para sistematizar, editar e difundir obras de compositores brasileiros, e conta com a parceria da editora Contraponto. 

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1447 – Tramas Culturais da Casa Museu Ema Klabin aborda a obra de Heraldo do Monte (PE)*

#MPB #CulturaPopular #Jazz #Baião #Forró #LiteraturaMusical #Recife #PE #CasaMuseuEmaKlabin

*Com Cristina Aguilera, Mídia Brazil Comunicação Integrada

A Casa Museu Ema Klabin, situada em São Paulo, promoverá nesta quinta-feira, 30 de setembro, das 17h às 18h30, a série Tramas Culturais com o tema Música fora dos cânones: Heraldo do Monte. O encontro proporá refletir a trajetória e a obra do musicista pernambucano, reconhecido por sua valiosa contribuição à música instrumental e será ministrado pelos músicos e pesquisadores  Ivan Vilela e Budi Garcia, com transmissão pela plataforma Zoom. A inscrição é gratuita e está aberta em https://emaklabin.org.br/tramasculturais/musica-fora-dos-canones-heraldo-do-monte.

Natural de Recife, Heraldo do Monte é considerado um dos primeiros a introduzir a viola de dez cordas na música popular brasileira instrumental, além de desenvolver sua própria estética de improviso com a guitarra. Em sua trajetória  integrou diversos grupos, entre eles o Quarteto Novo (1966), que criou ao lado de Hermeto Pascoal, Théo de Barros (violonista) e Airto Moreira (percussionista) e mesclava jazz, baião e forró.

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1399 – João Paulo Amaral (SP) comemora 20 anos de carreira com álbum que une sonoridade contemporânea às raízes*

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Aço da Terra já está disponível nas principais plataformas digitais com faixas que unem sonoridade contemporânea e inventiva sem abrir mão das raízes tradicionais

*Com Rafael Bittencourt, Tempo D Comunicação e Cultura

Como forma de celebrar seus 20 anos de carreira dedicados à viola caipira e na busca por ampliar seus horizontes sonoros, o músico e compositor João Paulo Amaral, que mora em Campinas (SP), lança hoje, 4 de junho, nas principais plataformas digitais, Aço da Terra. O álbum sintetiza a proposta de buscar uma sonoridade contemporânea e inventiva (Aço), mas sem abrir mão das raízes tradicionais (Terra). O projeto foi financiado com recursos do ProAC Edital (SP) e conta com participação de Alberto Luccas (contrabaixo), Ana Luiza (voz), Cleber Almeida (bateria), Ricardo Herz (violino) e Valdo Amaral, pai de João Paulo, que tem 82 anos. Aço da Terra traz em seu repertório composições instrumentais do violeiro e seus arranjos para canções como Clube da Esquina no 2 (Milton Nascimento, Lô e Márcio Borges) e Cuitelinho (Domínio Público).

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1378 – Single “Clube da Esquina nº 2” abre alas para a chegada de novo álbum de João Paulo Amaral

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Aço da Terra está em produção e trará 11 faixas com músicas inéditas do cantor e compositor que dirige uma orquestra filarmônica, levou a viola caipira para a universidade e é unanimidade no meio, mas se destaca, também, pela capacidade de levar o instrumento para além das porteiras da roça  

jornaslistas antifascistasO cantor e compositor paulista João Paulo Amaral, um dos integrantes do trio Conversa Ribeira, diretor da conceituada Orquestra Filarmônica de Violas, de Campinas (SP), e um dos mais respeitados violeiros do país na atualidade, interrompeu um hiato de dez anos sem gravar álbuns autorais e está anunciando para amigos e fãs Aço da Terra, seu novo álbum de carreiro solo, já em preparação para ser lançado. Quando se fala em João Paulo Amaral no universo caipira, um dos primeiros a levar para a universidade o estudo do gênero em âmbito acadêmico, desenvolvendo para a Universidade de Campinas (Unicamp) pesquisa de Mestrado sobre o ícone Tião Carreiro, todos tiram o chapéu. Os aplausos costumam ser longos, e veremos a seguir, merecidos.

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1308 – A identidade lusófona nas dez cordas da viola, por Ivan Vilela (MG)

Em 30 de maio, o compositor, pesquisador e professor de viola caipira Ivan Vilela (Itajubá/MG) concedeu entrevista a José Carlos da Silva, correspondente brasileiro residente em Campinas (SP) do Portal Galego da Língua (PGL), sítio eletrônico que visa a informar acerca da atualidade da língua na Galiza cujo conteúdo abaixo reproduzimos, na íntegra, e formato de perguntas e respostas (ping-pong).

Um dos maiores incentivadores deste Barulho d’água Música, Ivan Vilela é professor na Faculdade de Música e no Programa de Pós-Graduação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP) na área de musicologia e etnomusicologia, onde também leciona na graduação viola brasileira, história da Música Popular Brasileira, Percepção Musical, Rítmica, Música de Câmera e Produção Radiofônica. Doutor em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo, mestre e graduado em Composição Musical pela Universidade de Campinas (Unicamp), suas produções e pesquisas acadêmicas estão voltadas ao estudo das culturas populares e da música popular brasileira e portuguesa. Atua como compositor, arranjador e instrumentista e mantém intensa atividade artística musical e didática no Brasil e no exterior. Atualmente é pesquisador principal do Projeto AtlaS (Atlântico Sensível) e estuda os trânsitos e as relações sociais de instrumentos portugueses, notadamente a viola e o cavaquinho, pelo Atlântico lusófono, projeto acolhido no Instituto de Etnomusicologiada Universidade de Aveiro (Inet-md) no triênio 2018-2021.


Viola caipira, viola sertaneja, viola de dez cordas, viola cabocla, viola de arame, viola de folia, viola nordestina, viola de repente, viola brasileira. Não se assuste leitor, comecei listando tantos nomes, para mostrar o quanto a viola caipira (de 10 cordas) é popular no Brasil, sendo um dos porta-vozes do interior do Brasil.

Mesmo com tanta identidade por todo o Brasil, a origem da viola é lusitana, navegou com os portugueses por todo o Globo, quando o “mar com fim era grego ou romano e, o mar sem fim era português”. “No século XVI (16) vários tipos de viola de mão coexistiam na Península Ibérica”.

O Espaço Brasil entrevistou Ivan Vilela, um dos mais renomados instrumentistas brasileiros, com uma sólida carreira de 18 discos gravados e ainda, Professor Doutor e criador do primeiro curso de viola brasileira em âmbito universitário no mundo, na Universidade de São Paulo (USP) e que agora está na Universidade de Aveiro, Portugal, envolvido no Projeto AtlaS, uma importante pesquisa sobre os instrumentos de corda, em especial o cavaquinho e a viola portuguesa (e a viola caipira, obviamente).

Ivan Vilela além de destacado músico e pesquisador, é o responsável por colocar a Cultura Caipira e a viola em um patamar mais elevado na arte. Sua obra, musical e acadêmica, ocupa lugar de excelência na música mundial.

Apesar de nos remeter ao mundo rural, a viola tem um passado urbano, tanto em Portugal quanto no Brasil.

Desde 2018, você está em Portugal, pesquisando na Universidade de Aveiro. Qual é o objetivo do Projeto “Memória e mediação das práticas e dos instrumentos musicais na circulação entre comunidades interligadas”?

O projeto se chama AtlaS, Atlântico Sensível e pretende estudar as relações sociais e mudanças organológicas alavancadas pelos instrumentos de cordas dedilhadas portugueses no espaço da lusofonia no Atlântico. Mais notadamente as violas e os cavaquinhos, mas também dando atenção ao bandolim.

Tem havido uma revitalização no uso desses instrumentos supracitados bem como uma manifesta mobilidade de seu uso para outros segmentos musicais e funções nas celebrações. Cremos que uma série de fatores internos, em cada país, e externos têm movido esta roda de transformações como um efeito colateral à tentativa de globalização como uniformização dos mercados pela via do consumo. Isto gerou manifestações contrárias, de afirmação das culturas locais em todo o planeta. O próprio mercado fonográfico, percebendo isto, incorporou este fazer de fusões sonoras dando caminho a um novo segmento que foi chamado em meados da década dos anos 1980 de World Music, ou música étnica, música dos povos; quando não apresentadas em seu estado natural, estas manifestações eram fundidas a elementos de uma música porque tem pretensões de universalidade no mercado fonográfico.

Também há a ideia de pensamento ecológico que acabou por valorizar a diversidade cultural e, nisto, as manifestações das culturas populares perceberam um espaço de divulgação de suas naturezas.

No caso do Brasil, uma certa desilusão com o viver numa grande cidade fez as pessoas, impossibilitadas de retornar ao campo ou cidades pequenas, buscarem valores que outrora fizeram parte de suas vidas, muitos ligados aos seus universos de origem, frequentemente um mundo mais ruralizado e onde as relações humanas passavam por um outro crivo, diferente do imposto pelo capitalismo nas cidades mais populosas.

É importante repararmos que todos estes países em foco têm uma realidade de sobreposição de tempos históricos em seus territórios, ou seja, há uma diversidade de valores convivendo contemporaneamente num mesmo país. Como exemplo podemos apontar que há vários Brasis, o Brasil do século XXI das grandes cidades, o Brasil de 1940 dos interiores, o Brasil de 1910 dos interiores mais profundos. O mesmo ocorre em Portugal e em Cabo Verde. Enfim, há uma malha de sobreposição de tempos históricos que de certa forma resulta, também, na sobreposição de valores culturais. E certamente a viola e o cavaquinho protagonizam ações dentro desses diferentes tempos históricos.

A presença de artistas como o Almir Sater em telenovelas, a presença de artistas cabo-verdianos no cenário da música mundial como a Cesária Évora, dentre outros mais jovens, e a revitalização das culturas locais em Portugal também são fatores que muito ajudam na exposição e aceitação desses instrumentos em uma prática mais contemporânea de música e de cultura.

A cabo-verdiana Cesária Évora

Note o fenômeno das quase duas centenas de ensembles de viola (chamados de Orquestras de viola) no Brasil, das orquestras de bandolins e de cordofones dedilhados de Portugal Continental e da Madeira, dos grupos de cavaquinhos (braguinhas e machinhos) na Madeira, dos grupos de violas nos Açores. Há todo um universo de reapropriação destes instrumentos afirmando as suas raízes e agora dando-lhes asas para voar por outras paisagens sonoras.

Enfim, há todo um campo a ser estudado e onde esses instrumentos podem ser vistos agora como agentes de uma expressiva modificação cultural e não apenas como objetos passivos nas mãos dos tocadores e fabricantes.

Os instrumentos de cordas ganharam os mares e o mundo com as navegações portuguesas e foram “alterados” em cada país. Podemos dizer que cada nativo colocou a sua identidade nesses instrumentos?


Sim. Partindo da ideia de que os efeitos específicos das forças globais dependem da maneira como são mediados em esquemas locais, uma ideia afirmada pelo antropólogo estadunidense Marshall Sahlins, é muito claro como cada povo foi criando soluções de adaptação dos instrumentos à sua cultura específica. Haja vista no Brasil as violas feitas de buriti, de lata, de cabaça, de bambu. Os multiformatos dos instrumentos, as adaptações a recursos eletrônicos como os cavaquinhos de Cabo Verde e também as violas do Brasil, algumas de corpo sólido como as utilizadas pelos violeiros que tocam rock’nroll. A criatividade humana se manifesta para que não falte nunca a música em seus ritos, festas e manifestações de louvor à vida, à amizade, ao amor.

Explique qual é a situação atual da viola de Portugal (braguesa, amarantina, beiroa, toeira e campaniça)

Notamos que tem havido uma revitalização no uso destes instrumentos nos países em questão (Brasil, Cabo Verde e Portugal; não conseguimos verba para chegar em São Thomé e Príncipe, na Guiné e em Angola) mas estes processos têm sido diferente em cada país, o que nos motivou a entender quais as razões de tantas diferenças e, no caso do Brasil e de Portugal, um dos fatores esteve ligado a como o chamado Estado Novo – Getúlio Vargas, no Brasil e Salazar, em Portugal – trataram as suas culturas populares a partir dos anos 1930.

Antonio Ferro, um dos idealizadores do projeto cultural salazarista, nas décadas dos anos 1930-40, percebeu que os grupos folclóricos (em Portugal chamados de ranchos folclóricos) poderiam muito bem ser a estampa de manifestação identitária de Portugal diante da Europa e, por conseguinte, do mundo. Desta forma buscou-se algo idílico como uma Portugal do século XIX (19) que ainda estivesse manifesta nesses grupos (difícil imaginar como eram exatamente essas manifestações no século XIX pela própria falta de registros mais detalhados, dada a ausência de recursos fotográficos, videográficos e até iconográficos desta época).

Assim foi ocorrendo um engessamento dessas manifestações no sentido de uniformizá-las e as tornarem mais “artísticas” e performáticas que folclóricas no que tocam às suas coreografias, instrumental e canto. Até encontros lugares onde as pessoas vivenciavam como era viver na idade média, com ritos, vestimentas e comportamentos que ocorreram neste período em questão.

Ora, acabaram por inventar uma nova tradição, por recontarem a história à maneira que imaginariam que ela serviria melhor ao ideário do regime ditatorial de Salazar.

Nesta medida, o que era a manifestação de um conjunto de crenças, de um conteúdo, que chamamos de folclore, passou a ser uma manifestação de uma ideia preconcebida onde a forma, outrora resultante de uma percepção de mundo passasse agora a viver por si própria e pelo ideário político-ideológico que a orientava. No Brasil tratamos estas manifestações pelo nome de parafolclórico, pois as expressões estão desconectadas das cosmologias que as geraram.

Aí, as vestimentas e a maneira de se tocar os instrumentos passaram de uma forma livre e espontânea para uma forma fixa, predeterminada. Ocorreu então uma musealização do folclore enquanto expressão natural e espontaneidade de um povo. A viola acabou entrando nesta circunscrição, o que impediu que ela se desenvolvesse no quesito de tocabilidade, de ser mais afeita a um desenvolvimento performático mais amplo, pois a própria estrutura física (organológica) do instrumento muitas vezes não favorece a essas demandas.

 A viola caipira, no final dos anos 1980, ganhou novos adeptos, formas de tocar e despertou interesse em uma juventude acostumada com música estrangeira, chegando à Universidade de São Paulo como curso de graduação, com centenas de inscritos. O que é preciso para a viola portuguesa alcançar esse patamar?


Ótima pergunta. Um dia numa loja de discos vi uma estante de souvenires musicais como pequenos instrumentos, avulsos e em suas várias formações. Assim, tinha uma pequena orquestra na vitrine. Havia também uma big band, um grupo de fado e instrumentos avulsos. Enquanto manifestação identitária da cultura do país, a guitarra portuguesa, ou guitarra de fado como aqui é chamada, tinha em suas várias formas e formações. Em nenhum momento encontrei nesta vitrine uma viola, nenhum modelo de uma das cinco violas existentes em Portugal. Isso pra mim disse muito de como a viola é vista e sentida de maneira geral pela cultura portuguesa.

É certo também que esta situação vem se modificando desde a criação de um projeto no Alentejo, em Castro Verde, onde um jovem em 2003 aprendeu os toques da viola campaniça com os velhos tocadores e passou a ensiná-los a outros jovens. Pedro Mestre, este notável músico, acabou por protagonizar um movimento de resgate das violas portuguesas que a cada dia se fortalece mais aqui em Portugal. Em Braga, aqui no Norte do país, já se criou a Associação da Viola Braguesa (Avibra) que promove encontros e cursos permanentemente. A viola e o cavaquinho têm entrado

Pedro Mestre protagoniza um movimento de resgate das violas portuguesas que a cada dia se fortalece mais naquele país 

em alguns currículos de ensino público aqui em Portugal continental. Na Madeira, este processo já se encontra bem mais andado e com visíveis resultados musicais de disseminação e apropriação desses instrumentos em questão pelas camadas mais jovens da população. Isto ocorre a partir do trabalho de músicos e professores locais como é o caso da Associação Xarabanda. Nos Açores, a viola também está no ensino da rede pública e há muitos anos é um instrumento presente no ensino musical em conservatórios com cadeira de viola, métodos e bons professores.

Tem ocorrido em diversas cidades aqui de Portugal, Encontros de Cultura Popular onde fabricantes, músicos, pesquisadores e artista de outros segmentos podem trocar impressões entre si e com o público que lota esses espaços. Vários deles com participação de músicos e agentes culturais galegos como Ramón Almuinha e Mauro Sanin, dentre outros. Cidades como Braga, Odemira, Santo Tirso, Vila Real, Caminha e Amarante mantém encontros permanentes de ensino pesquisa e difusão desses instrumentos em questão.

Creio que a viola em Portugal caminha a passos largos para um reconhecimento e aceitação. Este movimento se dá por simpatizantes e também por ações nas Câmaras onde legislações e apoio físico e financeiro são criados a estas manifestações.


Quais serão os desdobramentos dessa pesquisa? Livros, discos, concertos, cursos, palestras etc.

Exatamente. O AtlaS é projeto para uma vida inteira e pretendemos, cada qual em sua universidade, manter uma frente de estudos na pós-graduação com este fim. Estamos trabalhando em videodocumentários, a edição de, pelo menos, dois livros, dos quais um será escrito a partir das indagações levantadas nas entrevistas. Cursos e palestras já começaram a ocorrer desde o ano passado. Também a apresentação acadêmica em congressos nacionais e internacionais. Quanto aos discos temos ideia de fazer um com as vozes dos cantadores entrevistados e também outros para o quais chamaríamos cantores da lusofonia para interpretar músicas tradicionais recolhidas por nós ou já muito presentes nesses cancioneiros.

A viola de Braga, típica da região do Minho, obviamente teve (e ainda deve ter) grandes tocadores galegos. Este projeto pretende incluir a Galiza e suas obras para viola?


Certamente. Esta foi uma das minhas primeiras propostas quando aqui cheguei e curioso que depois comecei a constatar o imenso trânsito cultural que existe entre a Galiza e o Norte de Portugal. Não podemos nos esquecer que as origens de Portugal se dão num território galego, se não me falha a memória histórica. Falam a mesma língua, tem afeições um pela cultura do outro, e universos culturais muito aproximados. Curioso também com a Galiza é a proximidade com alguns povos de regiões do Brasil. Guimarães Rosa explorou muito esta questão em sua literatura.

O pesquisador Ivan Vilela está em pleno desenvolvimento em Aveiro. E o músico Ivan Vilela, com 17 discos gravados, como está aparecendo no continente europeu?


De maneira muito acanhada (risos) e depois desta pandemia então, nem se fala. Embora haja um estímulo do coordenador do AtlaS, o professor Jorge Castro Ribeiro, e da diretora do Instituto de Etnomusicologia da Universidade de Aveiro (Inet), a professora Susana Sardo, onde o projeto está sediado, eu não me sinto muito à vontade de fazer desse tempo de pesquisa, para o qual fui contratado, um período de desenvolvimento pessoal de minha carreira artística.

Minhas saídas foram poucas e rápidas. Em 2019, no Rudolstadt Festival, na cidade de Rudolstadt, Alemanha; também em Berlim, no Sarau Mundi, e em Weimar, na comemoração dos dez anos da criação pela Unesco da Cátedra de Estudos Transculturais na Universidade de Weimar, sob a batuta do antropólogo Tiago de Oliveira Pinto. Por ocasião de uma palestra que fiz na Universidade de Viena, aproveitei para tocar em Viena e em Krems, a convite da professora de línguas românicas Marina Ellend Corrêa.

Em abril eu faria duas apresentações em Paris e em algumas cidades de Portugal com a violeira francesa Fabienne Magnant, mas fomos impedidos pelas condições de confinamento impostas pelos governos em função da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Neste mês de junho iria para a Madeira e possivelmente para os Açores, em outubro, mas tudo ficará suspenso até segunda ordem.

Fiz algumas apresentações em Portugal nesses encontros acima citados e em outras ocasiões de festivais e encontros.

Para conhecer mais a viola caipira, Ivan Vilela é o professor do curso livre e gratuito de viola caipira idealizado pelo Sesc São Paulo, disponível aqui.

Contatos

Facebook = https://www.facebook.com/ivanvilela1

Instagram = @ ivanvilela10cordas

E-mail = contato.ivanvilela@gmail.com

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1297 – Autor de cinco álbuns instrumentais, Rafael Carvalho é referência maior da viola da terra dentro e fora de Portugal

E sobre Ivan Vilela ou conteúdos a ele relacionados

Paisagens

1301 – Daniela Spielmann e Sheila Zagury lançam pela Kuarup tributo a Jacob do Bandolim

Com participações de Soraya Ravenle, Almir Côrtes, Catherine Bent, Clarice Magalhães e Roberta Valente , dentre outros, saxofonista e pianista lançam Entre mil…Você! em formato de físico e digital, provendo eruditismo e liberdade jazzística à riqueza harmônica do choro

Por certo, este CD nos traz um Jacob arejado, de janelas abertas, assim como ele estaria fazendo hoje.” Sérgio Prata (cavaquinista e diretor do Instituto Jacob do Bandolim)

#FiqueEmCasa #MáscaraSalva #Quaretenas #ForaBolsonaro

Amigas de longa data e parceiras musicais há 20 anos, a saxofonista Daniela Spielmann e a pianista Sheila Zagury se debruçaram sobre a extensa obra de Jacob do Bandolim, juntas a um invejável time de músicos, imprimindo frescor e contemporaneidade à obra jacobiana e lançaram pela gravadora Kuarup Entre mil…Você!, já disponível em formato tanto físico, quanto digital (desde 24 de abril, um dia após o Dia Nacional do Choro). O álbum traz as participações especiais de Almir Côrtes (bandolim), Soraya Ravenle (voz), Catherine Bent (violoncelo), Clarice Magalhães (pandeiro, caixa de fósforo), Roberta Valence (pandeiro), Rodrigo Villa (baixo acústico e elétrico) e Xande Figueiredo (bateria). Um exemplar do disco nos foi enviado pela Kuarup, a quem agradecemos em nome do diretor artístico Rodolfo Zanke; no mesmo pacote entregue pelos Correios, vieram os álbuns das irmãs Celia e Celma e de Tuia, temas da atualização 1300 do Barulho d’água Música. Clique na palavra destacada abaixa e ouça o álbum.  

Entre mil… Você! 

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