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Elogiado por Zuza Homem de Mello, paulista de Rio Claro interpreta canções consagradas de Chico Buarque, Paulinho da Viola, Gilberto Gil e Tom Jobim, entre outros, além de uma parceria dele com Sérgio Natureza
As audições matinais dos sábados aqui no boteco do Barulho d’água Música começaram neste dia 24 com A Roma, de Zé Luiz Mazziotti, mais um lançamento do selo Kuarup e do qual recebemos o exemplar gentilmente nos enviado pelo amigo Moisés Santana, que ao lado de Beto Priviero responde pela agência Tambores Comunicação, na cidade de São Paulo. Somos gratos, mais uma vez, a ambos, e também cumprimentamos Rodolfo Zanke, diretor artístico da Kuarup e equipe, por mais esta valiosa contribuição à divulgação e compartilhamento da boa música e dos cantores, duplas, grupos, compositores e intérpretes brasileiros.
Pernambucano que vem recebendo diversos elogios da crítica pelo trabalho de pesquisa e interpretação da canção popular brasileira lança seu segundo disco, em parceria com o violonista do Sr. Brasil Edmilson Capelupi
A gravadora Kuarup está lançando Um mergulho no nada, segundo álbum do cantor de Recife(PE) Ayrton Montarroyos (Ayrton José Montarroyos de Oliveira Pires), no qual acompanhado pelo violonista Edmilson Capelupi interpreta por meio de um bem elaborado repertório clássicos da MPB e de contemporâneos como Ylana e Yuru Queiroga. E que ninguém se perca pelo nome escolhido por Ayrtinho — como é chamado por familiares como a avó Célia o jovem pernambucano nascido em 1995 – para batizar o álbum gravado em uma única apresentação no glamouroso Teatro Itália em 1º de abril de 2018, na cidade de São Paulo: pare o mundo por meros 35 minutos, menos que um dos dois tempos de pelada, e faça o julgamento apenas após terminar a última das 10 faixas — se é que pelo meio da audição o amigo ou seguidor já não estiver tomado por um “magnetismo inescapável”, como escreveu o crítico e jornalista Lucas Nobilo, que ouviu Um mergulho no nada “quatro vezes de enfiada” e também estamos fazendo desde que o disco chegou à redação, gentilmente cedido ao Barulho d’água Música por Rodolfo Zanke, a quem mais uma vez somos gratos.
Em 1982, nos últimos dias de novembro, a Funarte concluiu a gravação para o Discos Projeto Almirante do álbum Sidney Miller, disponível para audição, com apresentação de Hermínio Bello de Carvalho, no portal Brasil Memória das Artes. De acordo com Bello de Carvalho, o compromisso da Fundação era resgatar algumas das ideias que Miller esboçara antes de cometer suicídio, em 16 de julho de 1980, na cidade onde nasceu, Rio de Janeiro. Miller, filho legítimo do boêmio bairro carioca de Santa Teresa, estudou e publicou os primeiros versos ainda menino, estampando-os na revista da escola, o Colégio Santo Inácio. Prodigioso, com apenas 12 anos, escreveu um romance e o ilustrou com recortes de revista e, irrequieto, já compunha tocando violão “de ouvido”. Ao sair de cena antes do combinado, já contava com três álbuns gravados e planejava, após um breve hiato, lançar Longo Circuito.
Aquele que seria o quarto disco da curta discografia iria para as estantes dos amigos e fãs com selo independente, uma vez que, novamente conforme Bello de Carvalho, “o circuito comercial fizeram-lhe ouvidos moucos”. Para a produção do álbum póstumo, tema deste mês da sérieClássicos do MêsdoBarulho d’água Música, a Funarte convocou parceiros e amigos de MillercomoMaurício Tapajós, a quem confiou o paciente trabalho de recuperação de áudios de apresentações do carioca na Sala Funarte de Brasília e no programa de Bello de Carvalho, Água Viva, na TVE;Paulo Afonso Grisolli, por sua vez, colaborou com fitas que guardavam temas inéditos.
Com este tesouro em mãos, Tapajós montou o que seria um disco-documento. O material, no entanto, foi considerado insuficiente pelos produtores, que, então, escalaram Antonio Adolfo(que produziria o Longo Circuito), encarregando-o de dar corpo à ideia de forma que ficasse bem traçado o retrato de Sidney Miller. “O disco como Sidney o idealizara só ele poderia fazê-lo”, ponderou Bello de Carvalho. “Mas o carinho e obstinação que despejamos neste trabalho é a melhor prova do respeito que guardamos ao seu imenso talento e enorme integridade artística, reservas indestrutíveis que seu desaparecimento não apagou.”
Zezé Gonzaga, Zé Luiz Mazzioti e Alaíde Costa também participaram do tributo da Funarte a Sidney Miller, cujo talento como compositor despontara durante os festivais da década dos anos 1960, caminho comum a outros artistas em busca de consagração à época. Neste período, assim que começou a se destacar em âmbito nacional, muitos o comparavam ao igualmente estreanteChico Buarque, notadamente por conta da timidez de ambos, da escolha por temas urbanos e esmero na construção das letras.
Além destes três fatores, tanto Miller, quanto Buarque, sensibilizaramNara Leão, cantora famosa por revelar novos compositores e que teve grande importância na estreia dos dois – inclusive gravando, em 1967,Vento de Maio, disco no qual dividiam quase todo o repertório: Chico Buarque assinou quatro canções, enquanto Sidney Miller era o autor de outras cinco. Queixa, em parceria com Paulo ThiagoeZé Keti, interpretada porCyro Monteiro (Formigão), tirou o quarto lugar no I Festival de Música Popular Brasileira, promovido pelaTV Excelsior(SP). Queixa não consta em nenhum dos três discos que Miller lançou a partir de 1967, quando pelo selo Elenco, de Aloysio de Oliveira, assinou o primeiro disco, também batizadoSidney Miller e que apresentava temas populares e cantigas de roda comoO Circo, Passa Passa Gavião, Marré-de-Cy eMenina da Agulha. Neste mesmo ano, Sidney Miller juntou-se aThéo de Barros, Caetano VelosoeGilberto Gilpara escrever a trilha sonora da peça Arena contra Tiradentes, de Augusto BoaleGianfrancesco Guarnieri, além de, ao lado de Nara, interpretarA Estrada e o VioleironoIII Festival de Música Popular Brasileirada TV Record (SP), conquistando com esta música que abre o primeiro bolachão o prêmio de melhor letra.
Em1968, também pela Elenco, saiu Do Guarani ao Guaraná, com pegada tropicalista e as participações especiais dePaulinho da Viola, Gal Costa, Nara Leão, MPB-4, Gracinha Leporacee Jards Macalé, entre outros bambas. Pois é, Pra Quê, mais tarde escolhida para o repertório do MPB-4, a joia deste trabalho, levou Miller (que já abandonara a Sociologia e a Economia) a intensificar a carreira na área de produção. Assim, juntamente com Paulo Afonso Grisolli, ele organizou noTeatro Casa Grande (RJ) o espetáculoYes, Nós Temos Braguinha, com o compositorJoão de Barro. E, também com Grisolli, relançou a cantoraMarlene, estrela do concorrido show Carnavália. No ano seguinte, produziu e criou os arranjos de Coisas do Mundo, de Nara Leão, e ainda teve fôlego para, ao lado de Grisolli,Tite de Lemos, Luís Carlos Maciel, Sueli Costa, Marcos Flaksmanne Marlene organizar o espetáculo Alice no País do Divino Maravilhoso, além de compor a trilha sonora do filmeOs Senhores da Terra, do cineasta Paulo Thiago.
Nara Leão ajudou a impulsionar a carreira de Sidney Miller e com ele faturou com a cançãoA Estrada e o Violeiroo prêmio de melhor letra do Festival de 1967
(Também para cinema, Sidney Miller foi o autor da trilha dos filmesVida de Artista (1971) e Ovelha Negra (1974), ambos dirigidos porHaroldo Marinho Barbosa. Importantes peças teatrais contaram com trilhas sonoras assinadas por ele, entre as quaisPor mares nunca dantes navegados(1972), deOrlando Miranda, na qual musicou alguns sonetos deCamões, edo espetáculo aA torre em concurso(1974), deJoaquim Manuel de Macedo.)
O último disco de Sidney Miller, considerado pelos críticos o mais transgressor e com sonoridade que remete ao Clube da Esquina e ao Som Imaginário, coube à Som Livre e se chama Línguas de Fogo. É de 1974. Depois deste trabalho, rompido com as gravadoras, o cantor e compositor protagonizou raras apresentações pois, conforme confidenciava aos mais chegados, tinha aversão aos palcos. Tecia planos para sair do refúgio com o lançamento de Longo Circuito (chegou a entregar a Miltinho, do MPB 4, uma fita com cinco músicas inéditas), mas o encontraram morto em seu apartamento situado no bairro Laranjeiras naquele fatídico mês de julho de 1980. A sala em que trabalhava, na Funarte, no Departamento de Projetos Especiais, passou a se chamarSala Funarte Sidney Millere foi transformada num teatro.
* Parte desta matéria foi produzida a partir de textos sobre Sidney Miller disponíveis na internet escritos por Hermínio Bello de Carvalho e Mara L. Baraúna
Para ouvirSidney Miller, da Funarte (1982), visite: